quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Saindo do armário: Direita, eu? (Parte 2)


 O cantor Lobão, um dos mais novos jagunços da direita, disse que a ditadura não foi nada de mais e que os "torturadores  "só arrancavam umas unhazinhas", 

    - por André Lux, jornalista e crítico-spam (de esquerda)

Para se identificar alguém de direita é preciso observar o conjunto dos 
atos e o tom do discurso, uma mistura de falsa simulação ideológica 
que inclui a negação das divisões políticas ou, no limite, da própria
 política. Outra saída é dizer que odeia política, que é apolítico (?), 
que político é tudo canalha, que não vai mais dar o voto para ninguém. 
Mentira: vai votar na direita.

.Chega a ser engraçado essa coisa de, no Brasil, ninguém ser de direita. Por aqui, 
alguém só se diz de direita quando quer chocar ou demonstrar certa ferocidade 
política e pessoal do tipo “sou de direita mesmo, vai encarar?”. Coisa de cabo 
eleitoral da TFP e bestas-feras do gênero.

Mas a regra é diferente. Quem é de direita só abre a boca quando percebe 
receptividade no ambiente. Mais ou menos como quem é racista. Normalmente,
 para se identificar alguém de direita é preciso observar o conjunto dos atos e o tom
 do discurso, uma mistura de falsa simulação ideológica que inclui, necessariamente,
 a negação das divisões políticas ou, no limite, a própria negação da política.

Dessa forma, ao ser questionado sobre pendores ideológicos, o indivíduo de direita se
 sai sempre com o clichê da queda do muro de Berlim – embora a maioria apenas 
desconfie, ligeiramente, do verdadeiro significado do evento e do processo que o 
deflagrou. Depois da queda do muro de Berlim, portanto, não tem mais direita nem 
esquerda, é tudo muito relativo. Outra saída é dizer que odeia política, que é apolítico
 (?), que político é tudo canalha, que não vai mais dar o voto para ninguém. 
Mentira: vai votar na direita.

No Brasil, há casos clássicos de políticos e intelectuais que migraram para a direita, 
um pouco pelo desencanto do comunismo, pela perda natural dos ideais que a idade 
provoca, mas muitopela oportunidade de ficar rico ou fazer parte da elite 
nacional que toma uísque escocês e freqüenta balneários de luxo, ainda que 
forma subalterna e humilhante. Não é preciso citar nomes, mas muitos pululam 
pelos parlamentos, partidos políticos e redações de jornais. Pergunte a qualquer 
deputado ou senador se ele é de direita, e não vai aparecer nenhum.

Todo mundo tem uma desculpa para não ser de direita, mesmo os mais conservadores 
e reacionários, mesmo as viúvas da ditadura militar, mesmo os risíveis neodemocratas 
de plantão. Todos vão dizer que esquerda e direita não existem mais. Que depois da 
queda do muro de Berlim, etc,etc,etc.

A verdade é que ninguém quer se admitir de direita porque, no Brasil, ou em 
qualquer outra nação latino-americana que tenha sido submetida a regimes 
neofascistas comandados por generais, ser de direita tem pouco a ver com a 
clássica postura liberal econômica ou com a defesa das leis de mercado. Tem 
a ver é com truculência, violência, racismo, fundamentalismo religioso, 
obscurantismo político, coronelismo, ódio de classe e, é claro, golpismo. 
Por isso há tão poucos direitistas assumidos.

Assim, de cabeça, aliás, não lembro de nenhum. Ah, de repente me lembrei de 
uma confissão antológica do ex-deputado Wigberto Tartuce, o Vigão, parlamentar
do PTB brasiliense, de riquíssimo prontuário policial, temeroso de ser confundido 
na multidão: “Eu sou de direita, mas sou honesto”. Até agora, a única confirmação
 das autoridades policiais é a de que Vigão é mesmo de direita.
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Um comentário:

  1. Eu pensei que o Lobão só babava, mas agora eu vi que ele é mesmo um boçal

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