sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Datena desiste da eleição. Qual o preço?


Por Altamiro Borges

Após ganhar os holofotes da mídia e ser assediado por muita gente graúda, o apresentador José Luiz Datena, que comanda o programa sensacionalista "Brasil Urgente" na Band, anunciou nesta semana que desistiu de se candidatar à prefeitura de São Paulo. Posando de desinformado e puro, ele alegou que desconhecia as denúncias de corrupção contra o partido, PP, que lhe cedeu a vaga para a disputa sucessória deste ano. Em seu programa na rádio Bradesco Esportes, que também pertence ao Grupo Bandeirantes, a figura teatral disse que deixará a sigla, a qual se filiou no ano passado. "Não posso permanecer em um partido que tomou mais de R$ 300 milhões da Petrobras". É um santo!

Curiosamente, na semana anterior ele foi procurado pelo tucano Geraldo Alckmin, que o aconselhou a abandonar suas pretensões políticas. A cena foi descrita pelo colunista Ancelmo Gois, do jornal O Globo: "O governador paulista procurou chamar a atenção para os percalços da vida política. Contou a história de um lojista do interior, muito querido na cidade porque no Natal distribuía brinquedos às crianças pobres. Sua vida virou um inferno depois que se aventurou a ser candidato a prefeito da sua cidade: 'Foi chamado de ladrão, sonegador e até de corno, por ter casado com uma mulher bem mais nova'. Datena entendeu o recado".

Será que foi esta historinha que convenceu o apresentador da Band a desistir da candidatura? Famoso por seus comentários reacionários na tevê, José Luiz Datena conhece bem as baixarias nas disputas eleitorais - ele inclusive ajuda sempre a difundi-las. Ou foram as denúncias de corrupção contra o PP que o fizeram recuar do sonho de ser prefeito da maior cidade do país? Esta desculpa também não convence ninguém. Afinal, a legenda criada por Paulo Maluf há muito é acusada de malfeitos. No caso das propinas na Petrobras, o PP é investigado pela midiática Operação Lava-Jato desde o ano passado - antes da filiação do "puro" e "indignado" José Luiz Datena.    

A dúvida, portanto, permanece: qual foi o preço para a desistência da sua candidatura? No comando do programa sensacionalista "Brasil Urgente" - que parece ter uma obsessão doentia contra o prefeito Fernando Haddad (PT) -, o apresentador da Band terá influência na definição dos votos de milhões de paulistanos. Ao anunciar que abandonaria o páreo, José Luiz Datena acrescentou; "A situação está tão triste que nem dinheiro para roubar tem mais. Se não tem para roubar, não tem dinheiro para fazer nada. Roubaram tanto que o orçamento da Prefeitura está quebrado". Emblemático!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O que significa Kim Kataguiri na Folha


Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

E então a Folha anuncia a contratação de Kim Kataguiri como colunista semanal de seu site.

Como se o site do grupo - UOL mais Folha - estivesse desguarnecido de antipetistas. Você tem Josias de Souza, por exemplo. Ou Leandro Mazzini, que noticiou há mais de um ano um novo câncer em Lula que, se fosse verdadeiro, já o teria matado faz tempo. (Era no pâncreas, o mais rapidamente letal dos cânceres. Previsivelmente, nada aconteceu com Mazzini em relação a seu emprego no UOL, e ele sequer se desculpou pela espetacular barrigada.)

Bem, Kataguiri vem se juntar à Folha. Ele é tão sem noção que afirmou que sua contratação é um esforço da Folha para parecer “mais idônea”.

É uma oportunidade para refletir sobre o nível da direita no Brasil.

Kataguiri está escrevendo também para o site HuffPost Brasil, do qual a Abril é um dos sócios.

Li o artigo de estreia dele no HP. Ali ele diz bobagens e mentiras que são a marca da direita brasileira, cujos propagandistas no passado eram gente da estatura intelectual de Roberto Campos e Mario Henrique Simonsen.

Kataguiri diz que o pai de Lênin era um “poderoso funcionário” do czar.

Ora, ora, ora.

De onde ele tirou essa estupidez? O pai de Lênin era um simples diretor de universidade, e não mais que isso. Tivesse algum poder e ele não teria enfrentado a tragédia de ver o filho Alexandre, irmão mais velho de Lênin, ser executado pelo governo czarista. (Foi um episódio vital na trajetória de Lênin.)

Kataguiri e outros do gênero repetem constantemente outra falácia sobre Lênin, uma segundo a qual ele teria instruído seus seguidores a fazerem aquilo que acusam os inimigos de fazer.

Você pode achar Lênin um monstro moral, mas ele era um intelectual brilhante e jamais diria uma coisa tão rasa e idiota como aquela.

Este tipo de coisa é frequente entre os conservadores brasileiros: a falta de compromisso com os fatos, algo decorrente da pouca leitura que os marca.

No obituário que escreveu sobre Margaret Thatcher, Reinaldo Azevedo afirmou que ela morreu “pobre”.

Não sei qual é o conceito de pobreza de Azevedo, mas Thatcher tinha ao morrer, entre outros bens, uma casa na região mais cara de Londres, Mayfair, avaliada em 40 milhões de reais.

A imprensa brasileira vem abrigando direitistas desse quilate em seus quadros. Não surpreende que a mídia venha perdendo eleições há tanto tempo.

Como influenciar as pessoas com um nível tão baixo de propagandistas?

Kim Kataguiri na Folha é mais numa longa lista de nulidades.

Porta-voz do golpe vira colunista da Folha

Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual:

Para o jornalista Fernando Morais e para Venício Lima, sociólogo e professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB), não há nada de surpreendente na opção do jornal Folha de S. Paulo de “adquirir o passe” do ativista de direita Kim Kataguiri para seu time de colunistas, embora o espaço dado ao ativista do Movimento Brasil Livre (MBL) nas páginas do jornal tenha sido recebido por muitos com surpresa.

“O rol de colunistas da Folha está muito mais para lá do que para cá”, ironiza Morais. “Não me espanta. Quando tem Reinaldo Azevedo, (o filósofo) Luiz Felipe Pondé, é natural que chamem um cara como ele (Kataguiri). Não me espanta como não me espantaria se eles chamassem o (também filósofo) Olavo de Carvalho para escrever lá”, diz.

“Não me surpreende nem um pouco, num jornal que tem Reinaldo Azevedo e outros. A Folha é o que é e não vai deixar de ser. Não me surpreende absolutamente que um porta-voz do golpe seja colunista, como outros que também têm espaço na Folha. O próprio Aécio escreve lá”, lembra Lima.

Em sua coluna de estreia, publicada hoje (19) e intitulada “Passe livre para o terrorismo”, Kataguiri usa o trocadilho para atacar as manifestações do Movimento Passe Livre (MPL) e usa esse pretexto para defender a lei antiterrorismo que tramita no Congresso e “é duramente combatida pelas esquerdas”. “Dá para entender por quê. Querem continuar a jogar coquetel molotov em estação do metrô ‘em nome de um outro mundo possível’, diz o ativista do MBL. Segundo ele, “não há espaço para eufemismo quando tratamos desse tipo de criminoso.”

Para Venício Lima, o jornal da família Frias reflete (assim como outros veículos da chamada “grande imprensa” brasileira) a ausência de pluralidade do sistema de mídia como um todo e também incorpora a falta de pluralidade em suas páginas. "Na história da imprensa escrita, antigamente havia um jornal que defendia uma posição, outro que defendia outra posição. A pluralidade pode ser também adotada internamente num veículo, na cobertura ou na composição de seus colunistas, com uma multiplicidade democrática de opiniões. Mas o que acontece no Brasil é que nós sabemos que isso não ocorre, nossa imprensa é partidária. Não é plural, nem de uma forma nem de outra”, diz.

Para ele, a Folha às vezes contempla um colunista progressista ou uma matéria com aparente pluralidade. “Mas na sua posição editorial, na ênfase com que cobre determinados assuntos, e omite outros, ela é um veículo partidário como são todos os principais da nossa mídia.”

Na opinião de Fernando Morais, essa realidade é inerente ao sistema. “Fazer imprensa em sociedade capitalista é isso. O jornal é deles, por mais que os jornalistas conscientes tenham noção de que jornal, mesmo sendo propriedade privada, tem um papel social. Mas eu, pessoalmente, não leio Pondé, não leio esses caras, ou esses economistas como Alexandre Schwartsman.”

Venício Lima também diz que, em seu caso, a Folha publicar ou não colunistas como Kataguiri, é indiferente. “No âmbito pessoal, para mim não altera nada, porque não vou ler.”

Mas, para ele, a hegemonia dos grupos de mídia que controlam a informação no Brasil poderia ter sido minimizada, se os governos populares de Lula e Dilma tivessem atuado para corrigir essa grave distorção do sistema de comunicações no país. “Temos que conviver com essa realidade e tentar construir uma mídia alternativa a essa, o que os governos populares não conseguiram fazer. Nem a regulação mínima da área foi feita. Ou então vai ser sempre isso aí”, afirma.

O sociólogo também aponta uma espécie de dependência injustificável, por parte de setores progressistas, das informações partidarizadas da grande imprensa. “Eu acho um erro grave, há muitos anos, que o campo popular, e os progressistas continuem prestando atenção na grande mídia. É um equívoco. Na época em que trabalhei numa instância de governo, eu me revoltava diariamente porque as pessoas não faziam nada sem primeiro fazer o clipping do que estava no Globo, na Folha e no Estadão”, conta Venício Lima, que foi consultor da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculado ao Ministério da Educação, e assessor de parlamentares no Congresso.

Kim Kataguiri e o rabo preso da ‘Folha’

Por Altamiro Borges

A estreia na 'Folha' tucana do fascista mirim Kim Kataguiri - também já apelidado carinhosamente de "Kimta Katiguria" - gerou uma onda de indignação na internet. Mas, de fato, não há porque estranhar a nova aquisição do jornalismo nativo. Afinal, o líder do sinistro Movimento Brasil Livre (MBL) e a famiglia Frias têm vários pontos de convergência. Ambos são partidários do receituário neoliberal do desmonte do Estado, da nação e do trabalho. Ambos são golpistas. A Folha apoiou o golpe de 1964, a sanguinária ditadura - batizada por ela de "ditabranda" - e até hoje está metida em conspiratas contra a democracia. Já o "colunista" Kim Kataguiri, famoso por sua vasta obra intelectual, tornou-se o ídolo dos fascistas, velhacos e fedelhos, saudosos das torturas e assassinatos do regime militar.

Ao anunciar o passe do líder do MBL, o jornal tucano foi só elogios. "A Folha passa a contar em seu site com a coluna semanal de Kim Kataguiri, 19 anos, um dos organizadores das manifestações pró-impeachment. O próximo ato pela saída de Dilma está marcado para 13 de março", relatou de forma "imparcial". Já o pirralho fascista bajulou a "pluralidade" do diário da famiglia Frias. "A Folha sabe que terá como colunista alguém que vai criticar o jornal constantemente". Haja cinismo. Neste pacto mafioso o difícil é saber quem tem o rabo mais preso com o golpismo e as teses neoliberais. 

Em sua primeira coluna, nesta terça-feira (19), Kim Kataguiri escreveu um artigo hidrófobo contra o "terrorismo" do Movimento Passe Livre e aproveitou para defender a chamada "lei antiterror", em debate no parlamento. "A Constituição brasileira repudia o terror em dois artigos, no 4º e no 5º, mas este é um dos poucos países do mundo que não dispõem de uma lei para punir os atos terroristas. A que tramita no Congresso é duramente combatida pelas esquerdas. Dá para entender por quê. Querem continuar a jogar coquetel molotov em estação do metrô 'em nome de um outro mundo possível'". De forma discreta, o fascista mirim também elogiou a ação da PM de Geraldo Alckmin - afinal, vários integrantes do seu grupelho deverão ser candidatos nas eleições deste ano com o apoio dos tucanos.

Já que está tão preocupado com o terrorismo, Kim Kataguiri poderia ter aproveitado a sua coluna de estreia para explicar a presença de pessoas armadas no acampamento liderado pelo MBL em Brasília, no final do ano passado. A polícia local chegou a apreender um carro com um arsenal de guerra. Já na Marcha das Mulheres Negras, tiros foram disparados por dois participantes do ato pelo impeachment da presidenta Dilma. O acampamento "terrorista", que foi autorizado por Eduardo Cunha, o ex-aliado carnal do MBL, só foi dissolvido após estas manifestações de violência. Na ocasião, o jovem fascista "Kimta Katiguria" afirmou que os vândalos detidos pela polícia eram "infiltrados". Será?