quarta-feira, 9 de março de 2022

EUA e Otan são responsáveis por guerra, diz porta-voz chinês

O governo da China acusou nesta quarta-feira (9) os Estados Unidos e seu braço militar, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), de serem as “responsáveis” pela ocupação da Ucrânia por tropas russas, iniciada em 24 de fevereiro. Zhao Lijian, um dos porta-vozes do Ministério das Relações Exteriores chinês, não poupou críticas em sua entrevista coletiva diária. 


(foto extraída de vídeo)


“A questão ucraniana é muito clara: foram as ações da Otan, guiada pelos EUA, que gradualmente levaram até o conflito Rússia-Ucrânia”, declarou Zhao. “Ignorando as próprias responsabilidades, os EUA acusam a China por conta de sua posição sobre o caso e buscam margens de manobra na tentativa de suprimir a China e a Rússia para manter a própria hegemonia.”

O porta-voz ainda afirmou que os norte-americanos “precisam levar a sério” a China “para evitar minar os seus direitos e interesses na gestão da situação na Ucrânia e na ligação com a Rússia”. Segundo Zhao, Washington divulga “informações falsas e calúnias” contra os chineses e os russos. “Cada vez mais, a comunidade internacional verá claramente os numerosos déficits em sua conta de créditos”, destacou.

O discurso do porta-voz muda a postura chinesa de, desde o início dos conflitos, não se posicionar abertamente sobre a guerra na Ucrânia. Nesta terça-feira (8), por exemplo, o presidente do país, Xi Jinping, disse que defende “a soberania e a integridade territorial de cada país”, mas que entende a preocupação “com a segurança” da Rússia.

Com informações da Ansa Brasil

Como as “sanções” à Rússia prejudicam, na prática, a todos nós

 


A tentativa do Ocidente em geral – e dos Estados Unidos em particular – de asfixiar a economia da Rússia, por meio de “sanções” financeiras, não prejudica apenas a população russa. A disparada na cotação internacional do petróleo – que deve encarecer ainda mais nas próximas semanas – é um exemplo de como todos nós somos afetados tanto pela operação militar na Ucrânia quanto pela reação ocidental.

“Essas sanções que estão sendo impostas são semelhantes a uma declaração de guerra, mas graças a Deus não chegou a isso”, arriscou-se a dizer o presidente Vladimir Putin, no sábado (5). “Não planejamos introduzir nenhum tipo de regime especial em território russo. Hoje, não há necessidade.”

Ainda assim, o jornal britânico Financial Times, em artigo assinado por Derek Brower, lembra um precedente desse desdobramento global para a retaliação liderada pelos EUA: “Soldados russos preparavam-se para invadir mais uma ex-república soviética. A cotação do petróleo disparava. Os países ocidentais imploravam para a Arábia Saudita abrir um pouco mais as torneiras. Foi em 2008, pouco antes de Vladimir Putin enviar tanques russos para a Geórgia. O preço do petróleo acabou atingindo seu maior patamar na história – de quase US$ 150 por barril”.

A lição, porém, não foi assimilada. “Agora, os preços nos Estados Unidos ainda não chegaram a esse nível, girando em torno a US$ 125 por barril nesta segunda-feira, enquanto a cotação do referencial internacional Brent atingiu um teto de US$ 139, antes de recuar para os US$ 128. Ainda assim, as semelhanças com 2008, desde a guerra até os apelos de autoridades internacionais ao governo de Riad, vêm ficando cada vez mais difíceis de ignorar”.

O problema, conforme o jornal, já não se resume somente ao petróleo: “O mercado, até poucos anos atrás convencido de que a revolução do xisto nos EUA havia trazido uma era de abundância sem fim, agora se aflige com a escassez. Esses temores são agravados pela possibilidade de sanções contra as exportações russas do setor – que atendem a cerca de 5% da demanda mundial de petróleo e a 10% do mercado de produtos refinados”.

Em caso de novas sanções financeiras, seguidas do que o FT chama de “êxodo de empresas ocidentais e de tecnologias”, pode haver “danos duradouros à capacidade produtiva da Rússia. Tal cenário deixa os preços do petróleo, que já subiram 25% nas últimas duas semanas, encaminhados a subir ainda mais, segundo alguns analistas”. Para o banco J.P. Morgan, a cotação poderia alcançar a marca de US$ 150 em 2023. Rob West, chefe da firma de análises Thunder Said Energy, é mais pessimista e vislumbra o petróleo a mais de US$ 200 por barril.

De moro irônico, o Financial Times conclui: “Caso este seja seu primeiro choque nos preços do petróleo e você já se contorce ao ver os valores na bomba de gasolina, prepare-se. O mercado acredita que você provavelmente ainda pode tolerar mais sofrimento com os preços”.

O setor financeiro internacional também assiste ao conflito Otan x Rússia com preocupação. Jim O’Neill, ex-presidente da Goldman Sachs Asset Management e ex-ministro do Tesouro do Reino Unido, escreveu a respeito no Project Syndicate.

“Qualquer que seja a resposta da Rússia, a questão agora é o que esses movimentos do Ocidente – e de quase todos os centros financeiros do mundo – significarão para os futuros assuntos monetários e o sistema monetário internacional”, sintetiza O’Neill. Um dos “efeitos imediatos das sanções à Rússia”, diz ele, é que países emergentes se sentirão mais impelidos do que nunca “a reconsiderarem a abordagem dos livros didáticos para construir reservas em moeda estrangeira para se proteger contra crises econômicas”.

Esses países têm, agora, uma razão concreta para “escapar dessa profunda dependência do sistema monetário controlado pelo Ocidente”. Assim, “se renminbi, rublos, rúpias indianas e outras moedas fossem mais conversíveis para outros países, um sistema monetário internacional fundamentalmente diferente poderia emergir – um no qual os tipos de sanções impostas à Rússia não seriam tão eficazes”.

EUA cogitam guerra nuclear para “acabar com a Rússia”, diz chanceler

 

O chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, acusou nesta quinta-feira (3) os Estados Unidos de “demonizarem” o seu país. Em entrevista coletiva, Lavrov afirmou que, embora o Ocidente “pense em uma guerra nuclear”, eventualmente precisará negociar com Moscou. Até lá, prometeu, a Rússia “lutará até o fim”.


3 de março, 2022

“O objetivo (dos Estados Unidos) não era garantir a segurança da Ucrânia com base em um equilíbrio de interesses – mas demonizar e acabar com a Rússia. Lamentavelmente, não há mais dúvidas quanto a isso”, afirmou. Segundo Lavrov, a Rússia não cederá à pressão internacional que enfrenta, com pesadas sanções, classificando-as como uma “taxa sobre a independência”  do seu país. Ele disse que o Ocidente eventualmente precisará negociar:

“O Ocidente está ciente das nossas preocupações, não poderá ignorá-las para sempre”, disse o chanceler, acrescentando que as partes devem “negociar de forma pragmática” a paz. Quando são os EUA a fazerem isso, é justificado, mas, quando somos nós que dissemos que temos uma ameaça, nossas preocupações são ignoradas.”

Lavrov declarou que seu país “está pronto para um diálogo igualitário, levando em consideração os interesses dos outros”. Ele disse esperar que “uma solução para o problema da Ucrânia seja encontrada, as condições da Rússia consistem em expectativas mínimas a esse respeito. A Rússia não pode tolerar e não pode permitir mais ameaças do território ucraniano”.

As declarações aconteceram horas antes da segunda rodada de negociações entre delegações da Rússia e da Ucrânia em busca de um acordo, nesta manhã. O chanceler russo afirmou que, quando o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu para negociar, Putin rapidamente concordou e enviou a delegação. Ele disse que os EUA disseram à Ucrânia para “não se apressarem”.

“Estamos preparados para dialogar sobre essas questões (garantias de segurança pedidas pela Ucrânia), bem como sobre questões relacionadas à estabilidade estratégica. Lamentamos que os nossos colegas em Washington tenham decidido – e anunciado há vários dias – suspender esses contatos”, afirmou, responsabilizando os EUA pela suspensão do diálogo entre Moscou e Washington.

Lavrov também abordou preocupações nucleares de repórteres. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou no domingo colocar as unidades terrestres do país, equipadas com mísseis balísticos intercontinentais, bem como navios das frotas do Norte e do Pacífico, em alerta máximo de combate.

Conforme o chanceler, a medida ocorre após as “sanções ilegítimas” contra Moscou e “declarações agressivas” feitas por funcionários dos EUA. “Uma possível guerra nuclear é o que o Ocidente tem em mente. Esta retórica foi expressa não por nós, mas pela Otan e pela Ucrânia”, afirmou Lavrov. “Não é a Rússia que vai começar uma guerra nuclear.”

Com informações do O Globo