sexta-feira, 16 de novembro de 2012

"Deus seja louvado" na nota do Real


"Deus seja louvado" na nota 

do Real

Por Leonardo Sakamoto, em seublog:

A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão de São Paulo pediu que a Justiça Federal determine que as novas notas de reais a serem impressas venham sem a expressão “Deus seja louvado”.

De acordo com o MPF, oBanco Central (responsável pelo conteúdo das notas) informou que o fundamento legal para a inserção da expressão “Deus seja louvado” nas cédulas é o preâmbulo da Constituição, que afirma que ela foi promulgada “sob a proteção de Deus”. Depois, teria permanecido por uma questão de tradição.

O procurador regional dos Direitos do Cidadão, Jefferson Aparecido Dias, lembrou – em nota divulgada pelo MPF – que não existe lei autorizando a inclusão da expressão nas cédulas. “Quando o Estado ostenta um símbolo religioso ou adota uma expressão verbal em sua moeda, declara sua predileção pela religião que o símbolo ou a frase representam, o que resulta na discriminação das demais religiões professadas no Brasil”.



Um trecho da acão civil pública exemplifica bem isso: “Imaginemos a cédula de real com as seguintes expressões: ‘Alá seja louvado’, ‘Buda seja louvado’, ‘Salve Oxossi’, ‘Salve Lord Ganesha’, ‘Deus Não existe’. Com certeza haveria agitação na sociedade brasileira em razão do constrangimento sofrido pelos cidadãos crentes em Deus”.

A França retirou os símbolos religiosos de sedes de governos, tribunais e escolas públicas no final do século 19. Nossa primeira Constituição republicana já contemplava a separação entre Estado e Igreja, mas estamos 120 anos atrasados em cumprir a promessas dos legisladores de então.

Em janeiro de 2010, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou uma nota em que rejeitou “a criação de ‘mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União’, pois considera que tal medida intolerante pretende ignorar nossas raízes históricas”.

Adoro quando alguém apela para as “raízes históricas” para discutir algo. Como aqui já disse, a escravidão está em nossas raízes históricas. A sociedade patriarcal está em nossas raízes históricas. A desigualdade social estrutural está em nossas raízes históricas. A exploração irracional dos recursos naturais está em nossas raízes históricas. A submissão da mulher como mera reprodutora e objeto sexual está em nossas raízes históricas. As decisões de Estado serem tomadas por meia dúzia de iluminados ignorando a participação popular estão em nossas raízes históricas. Lavar a honra com sangue está em nossas raízes históricas. Caçar índios no mato está em nossas raízes históricas. E isso para falar apenas de Brasil. Até porque queimar pessoas por intolerância de pensamento está nas raízes históricas de muita gente.

Quando o ser humano consegue caminhar a ponto de ver no horizonte a possibilidade de se livrar das amarras de suas “raízes históricas”, obtendo a liberdade para acreditar ou não, fazer ou não fazer, ser o que quiser ser, instituições importantes trazem justificativas para manter tudo como está.

Como foi noticiado neste blog na época, o Ministério Público do Piauí solicitou, em 2009, a retirada de símbolos religiosos dos prédios públicos, atendendo a uma representação feita por entidades da sociedade civil e, no mesmo ano, o presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro mandou recolher os crucifixos que adornavam o prédio e converteu a capela católica em local de culto ecumênico. Algumas dessas ações têm vida curta, mas o que importa é que percebe-se um processo em defesa de um Estado que proteja e acolha todas as religiões, mas não seja atrelado a nenhuma delas.

É necessário que se retirem adornos e referência religiosas de edifícios públicos, como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Não é porque o país tem uma maioria de católicos que espíritas, judeus, muçulmanos, enfim, minorias, precisem aceitar um crucifixo em um espaço do Estado. Ou uma oração em sua moeda.

E, o mais relevante: as denominações cristãs são parte interessada em polêmicas judiciais, como pesquisas com célula-tronco ao direito ao aborto. Se esses elementos estão presentes nos locais onde são tomadas as decisões, como garantir que as decisões serão isentas? O Estado deve garantir que todas as religiões tenham liberdade para exercer seus cultos, tenham seus templos, igrejas e terreiros e ostentem seus símbolos. Mas não pode se envolver, positiva ou negativamente, para promover nenhuma delas.

E não sou eu quem diz isso. Em Mateus, capítulo 22, versículo 21, o livro sagrado do cristianismo deixa bem claro o que o pessoal de hoje quer fazer de conta que não entende: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus”.

Estado é Estado. Religião é religião. Simples assim.

É um debate pequeno? Nem de longe, pois é simbólico. E, portanto, estruturante. De quem somos nós e o que limita nossas liberdades.

Dirceu passará o Natal na cadeia?


Dirceu passará o Natal na cadeia?






























Por Altamiro Borges

A jornalista Mônica Bergamo publica hoje quatro notinhas tenebrosas na “Ilustrada” da Folha:

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Vela apagada

Réus do mensalão já se preparam para passar o Natal na cadeia. Acreditam que o STF (Supremo Tribunal Federal) pode acatar pedido do Ministério Público e determinar a prisão dos condenados.


Vela 2

Advogados dos acusados já disseram a alguns deles que o STF pode fatiar a publicação dos acórdãos, com os textos finais das decisões, a exemplo do que fez com o próprio julgamento.

Divisão

Nem todos os ministros do Supremo concordam com a ideia de prisão imediata dos réus. Preferem esperar a finalização do julgamento, com a determinação da pena de todos os envolvidos no escândalo.

Lenço

José Dirceu "repreende" amigos e familiares que ligam para ele chorando por causa da perspectiva próxima de sua prisão. Diz que estabelecerá uma rotina na cela, fazendo exercícios e estudando, e que está preparado para o pior.

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Gosto de sangue na boca!

A repórter não cita suas fontes, mas indica que os condenados no julgamento do chamado “mensalão do PT” poderão ser presos ainda antes das festas do final do ano. Pode ser mera especulação, tão comum no jornalismo. Mas ela não é totalmente descabida. Afinal, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) estão com gosto de sangue na boca. Eles viraram celebridades neste show midiático e querem colher os frutos das suas interpretações. Joaquim Barbosa, o relator do processo, é o mais excitado de todos.

Na semana passada, num gesto intempestivo e demagógico, ele solicitou a apreensão dos passaportes dos réus no processo – antes mesmo do julgamento ter sido concluído. Ele também fez questão de dizer que é contra qualquer prisão especial para os condenados e que eles deverão ser enjaulados em celas comuns. Nesta semana, num nítido desrespeito ao Poder Legislativo, Joaquim Barbosa ainda tentou colocar em votação se cabe ao STF definir a perda do mandado dos parlamentares condenados.

Julgamento ou linchamento politico?

A medida afetaria os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP). E também poderia ser aplicada contra o petista José Genoino, caso ele assuma uma vaga na Câmara Federal em janeiro. A proposta, porém, não prosperou e gerou novo bate-boca entre o relator e o revisor do processo, ministro Ricardo Lewandowski. Ela somente não foi a votação porque outros ministros argumentaram que o tema era complexo e não poderia ser resolvido de forma atabalhoada.

Diante destes graves fatos, não causaria surpresa se os condenados passassem o Natal na cadeia. A mídia demotucana, que hoje bajula os ministros, teria material farto para a sua escandalização da política. Dane-se que existam mais de 40 recursos e que, pelas regras do STF, somente após o julgamento destes é que as decisões condenatórias, se confirmadas, passam a ser definitivas – seguindo-se, então, a fase da execução das penas. O julgamento é político e visa apenas promover o linchamento da esquerda. O resto é detalhe!

http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/11/dirceu-passara-no-natal-na-cadeia.html

Dona da Daslu, cadeia e mídia seletiva


Dona da Daslu, cadeia e mídia seletiva

Por Altamiro Borges

Nesta semana, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deu uma declaração desastrada: “Se fosse para cumprir muitos anos numa prisão, eu preferiria morrer”. De imediato, a mídia tucana associou o seu deslize à defesa enrustida dos condenados no julgamento do STF. Além de criticar o ministro, a quem cabe humanizar os presídios, ela aproveitou para exigir a prisão dos petistas. É impressionante a seletividade da mídia. Ela nunca exigiu “cadeia” para ricaços ou torturadores. Basta lembrar o caso da dona da Daslu!


Em 2009, a empresária Eliana Tranchesi, proprietária da famosa butique de luxo dos ricaços, foi condenada a 94 anos e seis meses de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, contrabando, sonegação fiscal e evasão de divisas. Ela foi presa por alguns dias e logo ganhou habeas corpus do STF – o mesmo que hoje é tão implacável, com seus “Batmans” e vingadores. Na ocasião, o grosso da mídia “privada” considerou um absurdo a empresária ter que conviver com marginais nos péssimos presídios brasileiros.

A gritaria contra a curta prisão da dona da Daslu ficou ainda mais estridente quando da sua morte, em fevereiro deste ano, em função de um câncer no pulmão. Boris Casoy, âncora do Jornal da Band, chegou a culpar o ex-presidente Lula pelo seu falecimento. “Eliana foi exposta à execração pública e humilhada, o que deve ter contribuído e muito para o câncer que a matou”, acusou o elitista, o mesmo que já havia esbanjado preconceito contra os garis. Outros “calunistas” da mídia também criticaram o fato dela ter sido presa.

No artigo intitulado “Eliana Tranchesi comove jornalistas”, o repórter Fernando Vives, da CartaCapital, ironizou esta conduta cúmplice. “A extensão da sua ficha criminal causaria esgares de sobrancelhas a bicheiros obscuros de vários arrabaldes brasileiros... Mas houve quem, na mídia, preferiu suavizar, digamos, o jeitinho brasileiro da empresária para lembrá-la como uma espécie de Midas da moda e do comércio de alto luxo no País – mesmo que essas conquistas tenham chegado através de golpes na Receita Federal”.

No caso da dona da Daslu, as provas contra seus crimes eram fartos e inquestionáveis. Eliana Tranchesi era contrabandista, sonegou impostos e desviou grana para o exterior. Para a mídia elitista, porém, ela não deveria ter sido jogada numa cela comum. Merecia um tratamento mais digno, de luxo! Já no caso dos “mensaleiros do PT”, como alardeia a mídia, não há provas concretas e o julgamento foi contagiado pelas eleições municipais e pelo partidarismo de alguns juízes. Mesmo assim, a mídia rosna: “Cadeia, cadeia!”.

http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/11/dona-da-daslu-cadeia-e-midia-seletiva.html?spref=fb

A cobertura da mídia sobre Gaza: nós sabemos!


A cobertura da mídia sobre Gaza: nós sabemos!


Do Portal Vermelho

Em texto manifesto, linguistas denunciam a manipulação do notíciário pela grande imprensa para camuflar o massacre do povo palestino, apelam a jornalistas para que não sirvam de joguetes e para que as pessoas se informem pela mídia independente. Entre os signatários, Noam Chomsky. Confira a íntegra.



Enquanto países na Europa e América do Norte relembravam as baixas militares das guerras presentes e passadas, em 11 de Novembro, Israel estava alvejando civis. Em 12 de novembro, leitores que acordavam para uma nova semana tiveram já no café da manhã o coração dilacerado pelos incontáveis relatos das baixas militares passadas e presentes. Não havia, porém, nenhuma ou quase nenhuma menção ao fato de que a maioria das baixas das guerras modernas de hoje são civis. Era também difícil alguma menção, nessa manhã de 12 de novembro, aos ataques militares à Gaza, que continuaram pelo final de semana. Um exame superficial comprova isso na CBC do Canada, Globe and mail, na Gazette de Montreal e na Toronto Star. A mesma coisa no New York Times e na BBC

De acordo com o relato do Centro Palestino para os Direitos Humanos (PCHR, pela sigla em inglês) de domingo, 11 de Novembro, cinco palestinos, entre eles três crianças, foram assassinados na Faixa de Gaza, nas 72 horas anteriores, além de dois seguranças. Quatro das mortes resultaram das granadas de artilharia disparadas pelos militares israelenses contra jovens que jogavam futebol. Além disso, 52 civis foram feridos, seis dos quais eram mulheres e 12 crianças. (Desde que este texto começou a ser escrito, o número de mortos palestinos subiu, e continua a aumentar.)

Artigos que relatam os assassinatos destacam esmagadoramente a morte de seguranças palestinos. Por exemplo, um artigo da Associated Press publicado no CBC em 13 de novembro, intitulado "Israel estuda retomada dos assassinatos de militantes de Gaza", não menciona absolutamente nada de civis mortos e feridos. Ele retrata as mortes como alvos "assassinados". O fato de que as mortes têm sido, na imensa maioria, de civis, mostra que Israel não está tão engajado em "alvos" quanto em assassinatos "coletivos". Assim, mais uma vez, comete o crime de punição coletiva.

Outra notícia de AP na CBC de 12 de novembro diz que os foguetes de Gaza aumentam a pressão sobre o governo de Israel. Traz a foto de uma mulher israelense olhando um buraco no teto de sua sala. Novamente, não há imagens, nem menção às numerosas vítimas sangrando ou cadáveres em Gaza. Na mesma linha, a manchete da BBC diz que Israel é atingido por rajadas de foguetes vindos de Gaza. A mesma tendência pode ser vista nos grandes jornais da Europa.

A maioria esmagadora das noiticias enfatizam que os foguetes foram lançados de Gaza, nenhum dos quais causaram vítimas humanas. O que não está em foco são os bombardeios sobre Gaza, que resultaram em numerosas vítimas graves e fatais. Não é preciso ser um especialista em ciências da mídia para entender que estamos, na melhor das hipóteses, diante de relatos distorcidos e de má qualidade e, na pior, de manipulação propositadamente desonesta.

Além disso, os artigos que se referem à vítimas palestinas em Gaza relatam consistentemente que as operações israelenses se dão em resposta ao lançamento de foguetes a partir de Gaza e à lesão de soldados israelenses. No entanto, a cronologia dos eventos do recente surto começou em 5 de novembro, quando um inocente, aparentemente mentalmente incapaz, homem de 20 anos, Ahmad al-Nabaheen, foi baleado quando passeava perto da fronteira. Os médicos tiveram que esperar seis horas até serem autorizados a buscá-lo. Eles suspeitam que o homem pode ter morrido por causa desse atraso. Depois, em 08 de novembro, um menino de 13 anos que jogava futebol em frente de sua casa foi morto por fogo do IOF, que chegou ao território de Gaza em tanques e helicópteros. O ferimento de quatro soldados israelenses na fronteira em 10 de novembro, portanto, já era parte de uma cadeia de eventos que começou quando os civis de Gaza foram mortos.

Nós, os signatários, voltamos recentemente de uma visita à Faixa de Gaza. Alguns de nós estamos agora conectados aos palestinos que vivem em Gaza através de mídias sociais. Por duas noites seguidas, palestinos em Gaza foram impedidos de dormir pela movimentação contínua de drones, F16, e bombardeios indiscriminados sobre vários alvos na densamente povoada Faixa de Gaza . A intenção clara é de aterrorizar a população, e com sucesso, como podemos verificar a partir de relatos dos nossos amigos. Se não fosse pelas postagens no Facebook, não estaríamos conscientes do grau de terror sentido pelos simples civis palestinos em Gaza. Isto contrasta totalmente com a consciência mundial sobre cidadãos israelenses chocados e aterrorizados.

O trecho de um relato enviado por um médico canadense que esteva em Gaza, servindo no hospital Shifa ER no final de semana, diz: " os feridos eram todos civis, com várias perfurações por estilhaços: lesões cerebrais, lesões no pescoço, hemo-Pneumo tórax, tamponamento cardíaco, ruptura do baço, perfurações intestinais, membros estraçalhados, amputações traumáticas. Tudo isso sem monitores, poucos estetoscópios, uma máquina de ultra-som. .... Muitas pessoas com ferimentos graves, mas sem a vida ameaçada foram mandadas para casa para ser reavaliadas na parte da manhã, devido ao grande volume de baixas. Os ferimentos por estilhaços penetrantes eram assustadores. Pequenas feridas com grandes ferimentos internos. Havia muito pouca Morfina para analgesia."

Aparentemente, tais cenas não são interessantes para o New York Times, a CBC, ou a BBC.

Preconceito e desonestidade com relação à opressão dos palestinos não é nada novo na mídia ocidental e tem sido amplamente documentado. No entanto, Israel continua seus crimes contra a humanidade com a anuência plena e apoio financeiro, militar e moral de nossos governos, os EUA, o Canadá e a União Europeia. Netanyahu está ganhando apoio diplomático ocidental para operações adicionais em Gaza, que nos fazem temer que outra operação Cast Lead esteja no horizonte. Na verdade, os novos acontecimentos são a confirmação de que tal escalada já começou, como a contabilização das mortes de hoje que aumenta.

A falta generalizada de indignação pública a estes crimes é uma conseqüência direta do modo sistemático em que os fatos são retidos ou da maneira distorcida que esses crimes são retratados.

Queremos expressar nossa indignação com a cobertura repreensível desses atos pela mainstream mídia (grande imprensa corporativa). Apelamos aos jornalistas de todo o mundo que trabalham nessas mídias que se recusem a servir de instrumentos dessa política sistemática de camuflagem. Apelamos aos cidadãos para que se informem através de meios de comunicação independentes, e exprimam a sua consciência por qualquer meio que lhes seja acessível.

Hagit Borer, linguist, Queen Mary University of London (UK)

Antoine Bustros, composer and writer, Montreal (Canada)

Noam Chomsky, linguist, Massachussetts Institute of Technology, US

David Heap, linguist, University of Western Ontario (Canada)

Stephanie Kelly, linguist, University of Western Ontario (Canada)

Máire Noonan, linguist, McGill University (Canada)

Philippe Prévost, linguist, University of Tours (France)

Verena Stresing, biochemist, University of Nantes (France)

Laurie Tuller, linguist, University of Tours (France)

Foto: Morre uma criança de 7 anos durante o bombardeio israelense a Gaza

Fonte: Ciranda da Informação Independentehttp://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=6&id_noticia=198986



Movimento que integra a Conam ocupa prédio no centro de São Paulo


Movimento que integra a Conam ocupa prédio no centro de São Paulo


Cerca de 200 pessoas ligadas Movimento de Moradia (MDM) ocuparam na madrugada desta quinta-feira (15), juntamente com outra organização, o Movimento Moradia para Todos (MMPT), um prédio de dez andares na Rua Sete de Abril, 355, região central de São Paulo. Após entrarem no prédio, a Polícia Militar cercou o local e tentou retirar os ocupantes usando gás de pimenta. Mesmo assim, o movimento resistiu e permanece no prédio.

Por Deborah Moreira, da Redação do Vermelho




Imagem da fachada do imóvel ocupado na madrugada de quinta (15)

A polícia deixou o local por volta das 9 horas da manhã. Até o momento do fechamento da matéria os ocupantes permaneciam no local, mas estavam em alerta. Para a grande maioria presente na ação, que aconteceu por volta das 1h30 e durou cerca de 40 minutos, foi a primeira participação em uma ocupação de imóvel promovida por movimentos sociais.

“As primeiras 48 horas após uma ocupação são cruciais. A polícia pode agir em flagrante nas primeiras 24 horas, mas há interpretações diferentes da lei que podem se estender por mais tempo. Por isso ficamos em alerta mais tempo. Já conversamos com um dos proprietários, são sete donos do imóvel, que pediu para retirar seus pertences e já avisou que entrará com reintegração de posse”, declarou Denis Veiga Júnior, advogado do MDM, que faz parte da Confederação Nacional de Associações de Moradores (Conam).

Vermelho conversou por telefone com o proprietário mencionado que se identificou como Eduardo e confirmou a informação. Ele disse, ainda, que o imóvel já havia sido considerado pelo município como Habitação de Interesse Social em 2010 e foi desapropriado. Questionado sobre o porquê de o imóvel estar fechado, sem ocupar espaços, ele contestou: "Temos quatro comércios funcionando na sobreloja e os outros andares precisam de reforma. Temos no quarto e no quinto andares um escritório. Não sei porquê ocupar agora se o imóvel já está nessa situação de desapropriação". 

O movimento encontrou no prédio algumas mesas, cadeiras e papéis de escritório, que deverão ser entregues para o proprietário assim que ele disponibilizar caixas de papelão para serem embalados. Mas, a maior parte da área do prédio está sem utilidade. "Isso caracteriza abandono. Não sabemos há quanto tempo, mas pelo menos há uns 3 anos está desta forma. O proprietário até nos confidenciou que pretendia vender a um grande empreendimento, antes de ser desapropriado. Imóvel vazio, no centro, tem muito mais valor", explicou Denis.

Quando perguntado sobre a venda a especuladores, Eduardo desconversou e pediu para encerrar a conversa. Ele também não respondeu há quanto tempo o imóvel estaria vazio.

Concentrando para ocupar


Eram 22 horas quando as primeiras famílias que iriam participar da ocupação começaram a chegar. O ponto de encontro era o número 176 da Rua Sete de Abril, prédio de 11 andares ocupado pelos movimentos desde o dia 26 de outubro, por cerca de 300 pessoas. Homens, mulheres, idosos e crianças. Mas a maioria é formada por mulheres de todas as idades, casadas, solteiras, com e sem filho, grávidas.

A diarista Maria Regina Miguel, 46 anos, é uma delas. Moradora da zona sul, Maria Regina nunca havia participado de algo semelhante. Ao relatar sua situação, se emociona: “Moro de favor com uma conhecida minha. Mas ela me deu prazo para desocupar a casa. Por isso estou aqui, para eu ter o que é meu, ter o meu canto e não ficar de favor na casa dos outros. Tenho filhos casados, mas moram de aluguel e não podem me ajudar. E ainda tenho dois filhos menores de 10 e 14 anos e uma filha de 18 anos com um neto meu de nove meses. Tenho que confiar que vai dar tudo certo”, disse a faxineira que não tem renda fixa e está movimento há cerca de quatro meses.

Duas mulheres também estavam à frente da operação, organizando as pessoas e explicando a estratégia da ocupação a todos. Somente mochilas leves nas costas eram permitidas de serem levadas. Mochilas e pertences muito volumosos eram deixados (posteriormente eles serão entregues aos donos no novo endereço). 

Uma delas é Nilda Neves, coordenadora geral do MDM. “Não esquenta. Depois todo mundo vai se misturar. Isso aqui é uma ação rápida, sem a gente ver quem é amigo, parente, quem é pai. Agora é ocupar. Depois a gente resolve”, falou Nilda a uma mulher que procurava por conhecidos em meio a ação. Enquanto Nilda dava orientações, a outra mulher fazia a contagem e triagem de quem iria. Pessoas mais idosas e mulheres com crianças pequenas foram mantidas no número 176.

Todos foram organizados em uma espécie de fila nas escadarias para deixar o local juntos, em grupo, no momento da ocupação. Encostada na parede, em pé em um dos degraus da escada que dá acesso aos andares, uma mulher visivelmente apreensiva, de olhos arregalados, esticava o pescoço para alcançar a vista mais adiante. “Estou muito nervosa. É a primeira vez que participo. Mas otimista”, declarou Evanir, 36 anos, que mora no Ipiranga com a família e preferiu não dar detalhes sobre sua situação.

“Pessoal, vamos ocupar um imóvel aqui na rua mesmo. Eu vou ficar na porta, quando falar corre, todo mundo corre atrás de mim. Vamos ver quem corre mais. Não pode correr aqui dentro para não atropelar ninguém, tem criança e gente idosa aqui e tem que ter cuidado nas escadas”, exclamou Nilda, instantes antes da mobilização.

Concorrência
O objetivo inicial do Movimento de Moradia e do MMPT era protagonizar seis ocupações em uma ação seguida da outra, numa só noite, madrugada adentro. No entanto, o mais inesperado fato nesse tipo de mobilização aconteceu: outro movimento social escolheu as mesmas data, horário e região para realizar ocupações. 

Isso fez com que, instantes antes de mobilizar a todos, integrantes saíssem para uma espécie de reunião de emergência para definir novos locais e estratégias. Depois de rodar pelas ruas e avenidas do centro, em dois carros de passeio, o grupo parou e chegou a conclusão que dois locais seriam alvos: o da Sete de Abril e um segundo nas imediações da Avenida São João, cujas pessoas que ocupariam seria transportadas em três carros, fazendo duas viagens cada um, totalizando 24 ocupantes, a maioria homens.

“Não é necessário um grupo maior que isso. É um prédio pequeno, mas pelo jeito teremos muito trabalho porque está em péssimo estado de conservação, não sabemos o que podemos encontrar lá dentro”, declarou um dos integrantes da coordenação do MDM.

Posteriormente, esse segundo prédio acabou não sendo ocupado por conta da grande movimentação feita pelo outro grupo que agiu no mesmo momento, em um prédio próximo ao local, o que acabou chamando a atenção de policiais que patrulhavam o bairro. 

Na hora agá a Polícia
De volta ao 176 da Sete de Abril, todos já estavam sendo organizados para a ocupação do número 355 da mesma rua. No momento em que estavam todos concentrados, prestes a ocupar, um grupo de cerca de 15 pessoas entra no prédio para uma outra reunião rápida para preparar a segunda ocupação. 

Neste instante, enquanto os que chegavam e subiam para os andares superiores, causando tumulto no pequeno hall de entrada do prédio e no início das escadas estreitas, onde muitos se aglomeravam numa fila, dois carros da Polícia Militar estacionaram em frente ao local, o que acabou mudando os planos da equipe temporariamente. 

“Agora ferrou-se. Por causa do outro movimento [que também estava ocupando prédios], eles fizeram muito barulho. Ferrou-se tudo, a polícia está aqui em frente. Tá aqui no prédio e pedindo pra abrir o portão. Tem uma de nós lá conversando com eles pra ver se despista”, disse Nilda ao telefone com outro integrante.

Rapidamente todos que lotavam a portaria, carregados de mochilas, são orientados a subir em silêncio pelas escadas. Tudo para não chamar a atenção. Depois de cerca de 20 minutos, os policiais foram embora e toda a dinâmica para a ação foi restabelecida. Começou efetivamente a ocupação.

Moradia com sustentabilidade
Para a Conam não basta um espaço físico para morar, é preciso ocupar e reaproveitar os espaços que já existem e estão abandonados. A Conam defende a moradia sustentável, que ofereça infraestrutura local como escolas, hospitais, saneamento básico e que contemple a questão da mobilidade urbana. 

“A ocupação é uma oportunidade para muitos conquistarem moradia. Essa é a forma que nós temos para pressionar por esse direito. É preciso proporcionar condições em imóveis como esse abandonado, que devem IPTU, e que pode ser aplicado o IPTU progressivo, previsto pelo estatuto da cidade. Então pra quê construir casa na periferia, longe dos equipamentos sociais, sem infraestrutura adequada, se podemos aproveitar o que já está construído em uma área que tem mais condições”, declarou Bartíria Lima da Costa, presidenta da Conam, presente na ocupação da Sete de Abril, 176, instantes antes da ação.

Bartíria, que também é membro do Conselho Nacional das Cidades, comentou que a eleição de Fernando Haddad (PT) para a Prefeitura da cidade deverá representar um avanço na habitação popular. “Com o governo mais democrático, acredito que terá um olhar mais social. Mas, não é por isso que o movimento está ocupando. Sempre ocupou. Nos últimos anos, temos tido uma repressão muito grande, uma reintegração de posse muito acelerada e muitas das vezes os movimentos são criminalizados, principalmente no estado de são Paulo”, comentou a liderança.

Ela completou lembrando que “não há moradia para famílias com até três salários mínimos porque não dá lucro esperado pelos especuladores”, por isso as construtoras e empresários do setor atendem a demanda acima desse teto. Essa faixa de renda é uma das contempladas pelo programa do governo federal Minha Casa MInha Vida, que beneficiou mais de um milhão de famílias na primeira fase. Agora, o governo pretende ampliar para dois milhões.

Capacitação técnica
Bartíria lembrou que o atual programa habitacional do governo é resultado de uma luta de oito anos que começou com o crédito solidário e com o Fundo Nacional de Habitação e Interesse Social (Finis). “Discutimos todos os critérios com o Ministério das Cidades que vem sendo aperfeiçoado. A expectativa é que se aperfeiçoe, seja mais flexível, para que os movimentos possam acessar os recursos para construções para essas famílias de zero a três salários mínimos”, disse a presidenta da Conam. “Defendemos que elas devem pagar pela moradia, mas pagar um valor justo.”

Para tanto, será necessário que se aperfeiçoe os mecanismos de repasse para sanar as deficiências técnicas. “As entidades não estão tecnicamente preparadas. É uma coisa nova. A autogestão era feita em pequena escala. Com o Minha Casa Minha Vida passamos a ter uma escala maior, é preciso um processo de profissionalização e aprimoramento do processo. Nosso gargalo, além de não termos quem queira construir para quem possui renda de zero a três salários [mínimos], é a falta de terreno em áreas mais centrais. Normalmente os terrenos são afastados e concorremos de igual para igual com as grandes construtoras”, expôs Bartíria.

Um estudo feito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), divulgado no primeiro semestre de 2012, revelou que 62% das famílias paulistanas não têm condições de comprar uma casa ou apartamento próprio por conta dos valores altos, incompatíveis com a renda, muitas vezes difícil de ser comprovada, altas taxas de juros e escassez de imóveis para a população de baixa renda.

Segundo o levantamento, 33% das famílias brasileiras são sem-teto ou não têm moradia adequada – sem título de propriedade, com paredes feitas de material frágil como papelão, piso de terra e falta de redes de água tratada e esgoto. Já o Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indica que 43% das moradias brasileiras são consideradas inadequadas.

“O que rege o setor é a especulação imobiliária. Com isso, somado à falta de terrenos para construção na cidade, acaba encarecendo as unidades habitacionais. Portanto, as construções horizontais são a alternativa mais utilizada, sempre aproveitando ao máximo os espaços e voltado a famílias com poder aquisitivo maior”, lamentou Bartíria.

Segundo dados de 2009, do Sindicato da Construção Civil, o estado de São Paulo é o que tem maior déficit estadual absoluto, de 1,127 milhão de moradias.


http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=198982&id_secao=8

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Vídeo:Flagrante de mais uma canalhice do Joaquim Nulidade Barbosa


E-mail

Flagrante de mais uma canalhice do Joaquim Nulidade Barbosa


Do Blog Outro Lado da Notícia

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18º Congresso do PCCh é bússola para os próximos 5 anos


Reinaldo: 18º Congresso do PCCh é bússola para os próximos 5 anos


Do portal Vermelho

Teve início na última quinta-feira (8), em Pequim, o 18º Congresso Nacional do Partido Comunista da China (PCCh). Dentre os assuntos que foram abordados no Congresso está a teoria de Deng Xiaoping, projetista geral da Reforma e Abertura da China, o pensamento da "Tríplice Representatividade" e conceito de desenvolvimento científico, na tentativa de elaborar políticas que correspondam à atual era e à vontade do povo e de promover a modernização do país. 


O 18º Congresso Nacional do Partido Comunista da China é considerado o evento político mais importante do país.

Em entrevista à Rádio Internacional da China, José Reinaldo de Carvalho, secretário nacional de Comunicação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e editor do Portal Vermelho, falou sobre a importância do evento e as expectativas que o mesmo desperta em todo o mundo.

Segundo o dirigente brasileiro, "o 18° Congresso é um evento de grande magnitude para os interesses do povo chinês e de toda a humanidade. Então o povo chinês terá, a partir das resoluções do 18° Congresso, a bússola para trilhar os caminhos do desenvolvimento nos próximos 5 anos".

Ouça a entrevista na íntergra direto da Rádio Internacional da China


http://www.pcdob.org.br/noticia.php?id_noticia=198641&id_secao=9

Comunistas venezuelanos aprofundam debate socialista


Comunistas venezuelanos aprofundam debate socialista

 

 Do site Vermelho

Nesta segunda-feira (12), o Partido Comunista da Venezuela (PCV) pronunciou-se a favor de aprofundar o debate das doutrinas, em apoio as propostas que apontam a fomentar uma ampla discussão dos planos socialistas.


Oscar Figueras (PCV)
  Secretário-Geral do Partido Comunista Venezuelano, Oscar Figueras
Em declarações para a imprensa, o Secretário-Geral do PCV, Oscar Figueras, indicou que a organização soma-se a iniciativa que busca uma ampla participação do povo nas análises. “Trata-se de conformar um projeto de país e um programa da pátria, no qual consideramos correto o intercambio no mais amplo sentido”

A importância está em assumir este desafio “com a disposição e o compromisso de resgatar elementos que nutram o projeto e permitam ao presidente Hugo Chávez, elaborar um projeto para entregar ao parlamento no começo de 2013”, disse

Figueras indicou que o órgão legislativo submeterá a discussão de propostas e considerarão as alternativas que surjam do debate, que inaugurará um novo momento no processo político venezuelano. "Por este motivo, acompanhamos esta opção com toda a força e os compromissos dos comunistas venezuelanos”, agregou. 

O intercambio a nível nacional é parte do chamando Processo Constituinte para a elaboração coletiva do segundo Plano Socialista da Nação (2013-2019). As autoridades lembraram que esta ferramenta se sustenta em cinco objetivos históricos, entre eles defender, expandir e consolidar a independência nacional, assim como, converter a Venezuela em um país potência no campo social, econômico e político, contribuir com o desenvolvimento de uma nova geopolítica internacional, a preservação da vida no planeta e salvar a espécie humana. 

Fonte: Prensa Latina



http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=198681&id_secao=7

Não morri de tédio











Menalton Braff

Crônica do Menalton

12.11.2012 14:03

Não morri de tédio


Eu disse que me ia embora para o interior, e todos, entre incrédulos e surpresos, pararam para me examinar com mais atenção. O fim do ano estava próximo, eu estava cansado, os colegas ficaram atônitos. Estávamos na sala dos professores de uma faculdade em São Paulo, e, para descansar, jogávamos conversa fora durante o intervalo entre as aulas.

Uma colega me olhou penalizada como se eu fosse merecedor de sua misericórdia. Ah, não, não faça isso. Então nos contou que já tivera sua experiência de fuga para o interior. Foram cinco anos, ela repetia com alguns traços de histeria na voz distorcida na medida em que desenvolvia seu pensamento. Contou-nos que nas duas primeiras semanas sentiu-se encantada com a vida simples e livre do interior. Nas duas e apenas nas duas primeiras semanas. Fora disso, ela me ameaçou, fora disso foram cinco anos de um tédio insuportável. A vida era uma estrada de terra com vento levantando poeira.Suportei o silêncio e os olhares pesados. Em volta da imensa mesa no meio da sala, todos me olhavam um pouco abismados porque eu havia dito que com tanta correria a vida acabava passando sem ser notada. Eu queria mais tempo para mim, para fazer um monte de coisas ou apenas para não fazer nada, mas um tempo que fosse meu, porque o tempo, segundo filósofos menos aparelhados que Bérgson para falar do assunto, o tempo é a medida da vida. De onde posso concluir que na verdade era uma parte maior de minha própria vida que eu reivindicava.
A cigarra, no corredor, interrompeu a discussão, e fui ainda alvo de comentários que me advertiam ou me consolavam. A sala esvaziou-se, e as últimas aulas me viram distraído, sem muita convicção de que tomava o caminho certo.
A cena acima me veio à memória hoje de manhã, quando levantei pensando que teria o dia todo disponível para não fazer nada. Isso não me acontecia há vários meses, em que andei de agenda lotada todos os dias. Depois do café, entrei no Outlook, não fosse algum maluco ter enviado um emeil em plena madrugada. Não é frequente, mas acontece, porque tenho alguns amigos que de vez em quando são atacados pela insônia. Como estivesse com umas fotos recentes sobre a bancada, resolvi escanear duas ou três, que me pareceram merecer uma viagem eletrônica.
Só então voltei ao Saramago que estivera lendo até a meia-noite. Em companhia da senhora morte, com seus problemas insolúveis, como a necessidade de matar um violoncelista, fiquei até perto do almoço. Almoçado, resolvi ouvir novamente um oratório de Bach, cujo quarto movimento é uma das páginas mais tristes e mais belas de toda a música universal. Ach, bleibe doch, mein liebstes leben. Sem aquelas maiúsculas deles, que usam para substantivos, mas se não sei alemão, como saber quais são os substantivos?
Estou no interior há vinte e cinco anos e não morri de tédio. Gostaria de saber como estão vivendo meus colegas, a quem tanta lástima causou meu destino de trânsfuga. Ah, sim, e uma reflexão final: morre-se de tédio em qualquer lugar, porque ele não está fora, mas dentro de cada um.

http://www.cartacapital.com.br/cultura/nao-morri-de-tedio/

domingo, 11 de novembro de 2012

Danilo Gentili, do CQC, explica que ser racista é legal.


Danilo Gentili, do CQC, explica que ser racista é legal.


Do Blog O Amortecedor


Só não façam piadas sobre idiotas que aí eu me ofendo.
Só não façam piadas sobre idiotas que aí eu me ofendo.
Danilo Gentili é descendente de italianos, branco, classe-média, famoso, profissionalmente bem sucedido. Ele provavelmente não teve oportunidade de ser vítima de preconceito, ao longo de sua vida. Por ser humorista, ele acha que o riso deve estar acima de qualquer coisa. O mesmo que acham os jornalistas da liberdade de expressão, os publicitários da de criação etc. Pra fazer rir, vale tudo. Até ser racista. Ele escreveu um texto ironizando a questão racial no Brasil, um assunto que eu, e tanta gente mais séria que ele, achamos fundamental. Pior: foi previsível, como geralmente são os racistas que bradam contra o que eles chamam de “patrulha do politicamente correto”. Porque agora, dizem os racistas, o legal é ser politicamente incorreto, falar o que quiser, ofender as minorias, fazer pouco dos oprimidos. Com as palavras, como se as palavras não machucassem, como se fossem inofensivas. Ora bolas, nós que lidamos com palavras, sabemos o poder que elas têm. Para o bem e para o mal. Já o Danilo Gentili acha que o humor dele é mais importante que tudo, que fazer piada sobre a condição do negro não é reproduzir o preconceito ancestral contra essas pessoas. É só ser engraçado. E ser engraçado é o que há. Porque se é piada, tá valendo, não é sério mesmo.
Lá no textinho, o humorista, além de demonstrar toda sua ingenuidade, desfila aqueles velhos argumentos que nós já estamos cansados de rebater:
1) que não existem raças, logo classificar as pessoas por raças é racismo
(e o incrível desdobramento disso: negros não deviam se ofender quando comparados a macacos).
Eu já disse isso. Biologicamente não existem raças. Socialmente, ou seja, no mundo real em que eu e vc vivemos, existem, e são classificadas em escalas hierárquicas, em que o negro está quase sempre subordinado ao branco. Ignorar essa hierarquia e essa desigualdade é justamente o que pretende o “racismo à brasileira”: se negar para se perpetuar. Somos todos humanos, dizem seus ideólogos, não existem raças, quem fala de raça, quem se entende parte de uma (no nosso caso, a negra) é racista. (diz Gentili: Se você me disser que é da raça negra preciso dizer que você tambem é racista) Esse discurso pretende tornar a questão da raça uma não-questão e botar a culpa do problema na vítima. E nós, que não gostamos de nos calar, somos vistos como  racistas, por sempre trazermos à tona esses problemas. Como hoje em dia é feio parecer racista, usa-se o humor para perpetuar a ideia de que, ora bolas, essa galera que fica aí acusando preconceito, se fazendo de vítima, reclamando de racismo, são eles os próprios racistas. Porque todo mundo sabe que chamar um negro de macaco é pejorativo, remetemo-nos ao tempo em que se negava condição humana ao negro, que assemelhavam-no a um “ser inferior”. Mas o Gentili não, quer pagar de legal, de politicamente incorreto, e fica fazendo piadinha dizendo que, SE FOSSE COM ELE, adoraria ser chamado de macaco. Mas, oi, não é com vc. Sorte sua. Você provavelmente não teve que lidar com problemas de auto-estima por causa da cor da sua pele, e de seus traços físicos. Problemas que não decorrem necessariamente da cor e dos traços em si, mas do julgamento que o mundo faz deles. Porque, alô, traços negróides tão num nível inferior na escala estética ocidental. São quase os mesmos traços do macaco, segundo o senso comum. E é muito daí que vem a comparação entre os negros e os símios. Ignorar isso é desonestidade intelectual, ou falta de intelecto, não sei o que é pior.
2) não há problema em chamar um preto de preto.
É feio se fazer de desentendido. É claro, óbvio e evidente que existe uma diferença abissal entre as palavras preto e negro. Uma rápida consulta à gramática mais próxima sobre sentidos conotativo e denotativo talvez resolva o problema. Preto foi, é, e pelo visto, sempre será usado num sentido pejorativo, em geral com vistas a ofender ou demonstrar uma valoração inferior ao que tá em volta da palavra. “Preto safado”, “coisa de preto”, “preto de merda” etc reforçam a ideia. Negro não, é mais neutro, não traz consigo a carga ofensiva que seu sinônimo carrega. Ora porra, não é um problema com as palavras em si, mas em como elas foram e são usadas ao longo da história. A escolha de preto ou negro nos diz muito sobre o sentido que o falante quis empregar no enunciado. E eu me sinto um idiota explicando isso a um brasileiro, a alguém que convive com essas palavras desde sempre, que sabe, com toda a clareza que elas são muito mamuito diferentes, que dizem coisas diferentes. E que não são apenas palavras, como piadas não são apenas piadas. Tudo isso tá carregado de conteúdo simbólico, muitas vezes preconceitos que, travestidos do riso e de “simples palavras” se reproduzem e não são questionados.
3) ser politicamente correto é ser imbecil e superficial.
E eu acho que devem ser questionados sim, evitados e combatidos. Eu acho que as palavras e atitudes nossas devem sim ser politicamente corretas. E por que não seriam? Pensar sobre as palavras que usamos e deixar de usá-las se não forem adequadas é louvável, é hábito que devemos cultivar. Se rimos da piada racista, homofóbica e discriminatória é porque carregamos em nós um pouco desse conteúdo nefasto. Conscientemente é difícil perceber isso, principalmente se fazemos parte do outro lado, dos que não sofrem com o preconceito na pele. E aí “politicamente correto” vira coisa de maluco, de gente preciosista que não tem nada o que fazer e fica enchendo o saco. Mas da feita que nos colocamos no lugar do outro, no lugar do ofendido, passamos a perceber a carga destruidora que uma simples piada pode ter na vida de alguém. Porque é feio ficar fazendo piadinha com o sofrimento alheio.
Por fim, a observação do seu Gentili no final do post racista:
Antes que diga “Não devemos fazer piadas com negros, nem com gordos, nem com gays, nem com ninguém” Te digo: “Pode colocar meu nome aí nas páginas brancas da sua lista negra, mas te acho chato pra caralho”.
Claro, porque fazer piada com negros, gordos e gays é só uma brincadeira inofensiva né? Quem não gosta disso é só “chato pra caralho”. Quem vive da reprodução do preconceito é que é legal, porque se furta ao debate e ainda fica repetindo asneiras em rede nacional e recebendo aplausos. Impunemente. Que tal perguntar pros negros, pros gordos e pros gays o que eles acham das piadas? Não né? Na plateia do circo nunca estão os parentes do elefante que se equilibra ridicularmente nas tábuas e esferas. Engraçados são os outros.
http://amortecedor.wordpress.com/2009/08/06/danilo-gentili-do-cqc-explica-que-ser-racista-e-legal/

Os comediantes reacionários




Os comediantes reacionários

Por alfeu
Do Diário do Centro do Mundo
Paulo Nogueira
À falta de graça eles aliam um reacionarismo que os isola da voz das ruas
O Brasil, conforme constatou agudamente um leitor do Diário, tem uma esquisitice humorística: os comediantes são reacionários. Não vou entrar no fato de que são essencialmente sem graça. Me atenho apenas ao conservadorismo. Comediantes, como artistas em geral, costumam, em todo o mundo, ser progressistas. Eles quase sempre têm uma forte consciência social que os leva a criticar situações de grande desigualdade e a ser antiestablishment.
Os comediantes brasileiros fogem da regra, e esta é uma das razões pelas quais são tão sem graça. Marcelo Madureira é um caso extremo de conservadorismo petrificado e completo alinhamento com o chamado “1%”. Marcelo Tas é outro caso. De Londres, não o acompanhei, mas ao passar algumas semanas no Brasil, agora, pude ver – sem sequer assistir a um episódio de seu programa – o quanto ele é mentalmente velho.
O que o CQC fez a Genoíno em nome da piada oscila entre o patético, o ridículo e o grotesco. Não me refiro apenas ao episódio em si de explorar o drama de Genoíno. Também a sequência foi pavorosa. Vi no YouTube Tas ter uma disenteria verbal ao falar de Genoíno. Corajosamente, aspas, chamou-o repetidas vezes, aos gritos, de “mequetrefe”.
Não sou petista.
Jamais votei uma única vez em Genoíno.
Mas Tas tem condições morais — e conhecimento, pura e simplesmente — para julgar e condenar Genoíno? Várias vezes ele diz que Genoíno foi condenado pela justiça. E daí? Quem acredita na infabilidade da justiça brasileira acredita em tudo, como disse Wellington.
O que me levou a procurar Tas no YouTube foi uma mensagem pessoal que recebi de Ana Carvalho. Ela estava no local em que houve a confusão entre o humorista Oscar Filho e amigos de Genoíno. Ana acabou sendo citada num texto que OF escreveu, e ficou tão indignada que decidiu escrever sua versão dos fatos numa carta aberta que ela, cerimoniosamente, me pediu que lesse. Li. Primeiro, ela esclarece: ao contrário do que OF escreveu, ela não é militante do PT. Estava apenas votando, com a família, no lugar do tumulto, e tentou ajudar a serenar os ânimos, como boa samaritana.
Ana relata o que ouviu, na refrega, do produtor do CQC e de Genoíno. Do produtor, berros que diziam que os “mensaleiros filhos da puta” iam ser punidos: em vez de um minuto, o programa falaria horas do caso. De Genoíno, ela ouviu: “Calma, calma, sem bater, sem bater”. Mas quem publicaria o que ela ouviu? Essa pergunta Ana fez a si mesma, e é um pequeno retrato da maneira distorcida com que a grande mídia trata assuntos de política no Brasil. A resposta é: ninguém. Nem Folha e nem Estadão e nem Veja e nem Globo publicariam o relato de Ana – embora ela fosse testemunha privilegiada da confusão.
Há formas e formas de violência. O que o pessoal do CQC fez foi uma violência mental, uma tortura. Não faz muito tempo, o mundo soube que presos nos Estados Unidos tinham sido torturados com sessões de música ininterrupta da série Vila Sésamo. Vinte e quatro horas, sete dias por semana. (O autor ficou perplexo com o uso dado a sua canções tão inocentes.)
O que o CQC fez tem um nome: tortura moral. Humor não é isso. Citei, em outro artigo, os repórteres do Pânico que invadiram o funeral de Amy Winehouse para fazer piada. Tivessem sido pilhados, terminariam na cadeia – e teriam formidável dificuldade para convencer a justiça londrina de que a liberdade de expressão, aspas, os autorizava a fazer o que fizeram.
Humor sem graça, como o feito no Brasil, é um horror. Mas consegue ficar ainda pior quando à falta de espírito se junta um reacionarismo patológico, uma completa desconexão com o povo brasileiro, e este é o caso de Marcelo Tas e seu CQC.