sábado, 8 de dezembro de 2012

A Inutilidade da Teologia

 

 

A Inutilidade da Teologia

Richard Dawkins

Do site Ateus.net
 
Um editorial infeliz e ingênuo do jornal britânico Independent recentemente pediu uma reconciliação entre ciência e “teologia”. Dizia que “As pessoas querem saber o tanto quanto possível sobre suas origens”. Com certeza, espero que elas queiram, mas o que diabo faz alguém pensar que a teologia tem algo de útil para dizer sobre esse assunto?
A ciência é responsável pelas seguintes informações sobre nossas origens. Nós sabemos aproximadamente quando o Universo surgiu e porque ele é, em sua maioria, de hidrogênio. Nós sabemos por que as estrelas se formam e o que acontece no interior delas para converter hidrogênio em outros elementos, dando origem à química em um mundo físico. Nós sabemos os princípios fundamentais de como um mundo químico pode se transformar em biologia através do aparecimento de moléculas autorreprodutoras. Nós sabemos como o princípio da autorreprodução deu origem, através da seleção darwiniana, a toda a vida, incluindo os humanos.

Foi a ciência e apenas a ciência que nos ofereceu esse conhecimento e, além disso, o ofereceu em detalhes fascinantes, preponderantes e que se confirmam mutuamente. Em cada um desses aspectos, a teologia tem mantido uma visão que se mostrou definitivamente errônea. A ciência erradicou a varíola, pode imunizar contra a maioria dos vírus e matar a maioria das bactérias que anteriormente eram mortais. A teologia não tem feito nada a não ser falar das doenças como punições para nossos pecados. A ciência pode prever quando um cometa em particular irá reaparecer e, de quebra, quando o próximo eclipse irá ocorrer. A ciência colocou o homem na Lua e lançou foguetes de reconhecimento ao redor de Saturno e Júpiter. A ciência pode lhe dizer qual a idade de um fóssil específico e que o Santo Sudário de Turim é um embuste medieval. A ciência sabe as instruções precisas no DNA de vários vírus e irá, durante a vida de muitos leitores presentes, fazer o mesmo com o genoma humano.
O que a teologia já disse que teve qualquer valor para alguém? Quando a teologia disse algo que foi demonstrado como verdadeiro e que não seja óbvio? Tenho ouvido os teólogos, lido o que escrevem, debatido com eles. Nunca ouvi algum deles dizer algo que tivesse alguma utilidade, qualquer coisa que não fosse trivialmente óbvio ou categoricamente errado. Se todas as realizações dos cientistas forem apagadas do mapa no futuro, não haverá médicos, e sim xamãs; não haverá meio de transporte mais rápido que o cavalo; não haverá computadores, nem livros impressos e, muito menos, agricultura além das culturas de subsistência. Se todas as realizações dos teólogos forem apagadas do mapa no futuro, alguém perceberia a mínima diferença? Até mesmo as realizações negativas dos cientistas, como as bombas e navios baleeiros guiados por sonar funcionam! As realizações dos teólogos não fazem nada, não afetam nada, não significam nada. Afinal, o que faz alguém pensar que “teologia” é um campo do conhecimento?
Richard Dawkins é professor de entendimento público da ciência na Universidade de Oxford, e autor de "O Gene Egoísta", "A Escalada do Monte Improvável" e "Desvendando o Arco-Íris".
 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A genialidade de Niemeyer e sua luta por um mundo novo


A genialidade de Niemeyer e sua luta por um mundo novo


Na noite de quarta-feira, 5 de dezembro, como diria o escritor Guimarães Rosa, uma notícia de grande morte se espalhou pelo Brasil e pelo mundo. As mãos do arquiteto Oscar Niemeyer, sempre irrequietas, em estado de criação sobre a prancheta, quedaram e foram pousadas sobre seu coração que parou de bater aos 104 anos. 

Por Renato Rabelo*


Niemeyer partiu, mas já em vida – num exemplo de rara convergência nacional – havia sido conduzido pelos seus compatriotas à galeria das personalidades mais destacadas da Nação. Chegou ao panteão pela grandeza e beleza de sua arquitetura, mundialmente avaliada como um dos ícones da modernidade, e pela coerência de vida inteira com ideais revolucionários do comunismo que o levaram a selar um compromisso inquebrantável com o Brasil e seu povo.

Sua longa vida de 104 anos se assemelhou a essas frondosas árvores frutíferas de seu país tropical que, mesmo com idade avançada, não param de florir, nem de produzir frutos. Foi um homem desapegado do dinheiro e apegado ao trabalho e de uma solidariedade sem limites a seus companheiros e a todos quantos cruzaram seu destino.

A arquitetura de Niemeyer ganhou espaço e reputação no mundo. Um acervo arquitetônico de formas livres e leves, adversárias do ângulo reto e amantes das curvas. Curvas que – como ele mesmo explicou – foram encontradas “nas montanhas de meu país, na mulher preferida, nas nuvens do céu e nas ondas do mar”. Com obras espalhadas em muitos países, por vários continentes, seu trabalho fez brotar belas criaturas em concreto armado. Vários projetos poderiam retratar essa admiração de diferentes nacionalidades por suas realizações, mas, para efeito simbólico, sua participação destacada no projeto da sede das Nações Unidas, em Nova York, nos EUA, marca o reconhecimento mundial pelo valor de Niemeyer.

O exílio durante a ditadura militar instaurada pelo golpe de 1964 o fez viajar pelo mundo e abrir um escritório em Paris. Declaradamente amou países, como França, Argélia, URSS, Itália, entre outros, mas sua grande paixão foi o Brasil e o povo brasileiro. Como disse o destacado historiador, Eric Hobsbawm: “É impossível imaginar o Brasil do século 20 sem Oscar Niemeyer. É impossível pensar na arquitetura do século 20 sem ele”.

Brasília é a prova maior desse seu amor pelo Brasil. Cidade de substantiva e imperativa beleza. As curvas e as colunas, os vãos, as cúpulas, forçando a engenharia a pospor seus limites e realizar cálculos, aparentemente impossíveis. Tudo para o concreto armado adquirir delicadeza. Certa feita, André Malraux, escritor que foi ministro da Cultura da França, de tanta admiração chegou a dizer: “O elemento arquitetural mais importante, desde as colunas gregas, são as colunas do Palácio Alvorada”.

Mas, esse grande brasileiro, além de ocupar sua longa existência embelezando o planeta com sua arquitetura, simultaneamente engajou-se com paixão e coerência à jornada para libertá-lo das injustiças, das guerras e da exploração capitalista. Desde cedo sua vida vinculou-se à causa do povo e aos ideais libertários do socialismo. Nas suas memórias, ele relata com orgulho seus vínculos com o comunismo e o Partido Comunista, conta, por exemplo, que, depois de conversar com Luiz Carlos Prestes, doou o local onde era seu escritório para ser a sede do Comitê Metropolitano do PCB no Rio de Janeiro: “Prestes, fica com a casa. Sua tarefa é mais importante do que a minha”.

Passaram os tempos e veio o fim da União Soviética que provocou no mundo inteiro descrença e até obscurantismo. Niemeyer, contudo, manteve-se firme em suas convicções. “Passei a considerar que a crise soviética constituía uma fase natural pela luta política, que o ser humano não atingira o nível que a sociedade comunista, solidária, exigia. (...) A Revolução de Outubro foi o início indispensável. O sinal de que o mundo vai mudar, de que o fracasso ocorrido é acidente de percurso, de que a ideia de Marx continua imutável e a luta mais consciente e determinada.”

O Memorial da América Latina, pujante conjunto arquitetônico construído na cidade de São Paulo, revela os laços do arquiteto e do cidadão com os povos latino-americanos. Nesse belo conjunto, há uma escultura, uma grande mão espalmada de concreto com o sangue a escorrer. O arquiteto grafou uma mensagem para explicá-la: “Suor, sangue e pobreza marcaram a história dessa América Latina tão desarticulada e oprimida. Agora, urge reajustá-la, uní-la e transformá-la num monobloco intocável, capaz de fazê-lo independente e feliz”.

Quando da comemoração de seu centenário, em 2007, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Cultura, Gilberto Gil, condecoraram-no com a Ordem do Mérito Cultural. E por iniciativa do senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), o Congresso Nacional aprovou a lei que instituiu 2007 como o “Ano Oscar Niemeyer” e promoveu uma sessão especial no Senado em homenagem ao arquiteto.

No curso das comemorações do seu centenário, ele pôde constatar com alegria e esperança o despertar da América Latina e de seu país. Em entrevista à revista Princípios, deu este depoimento: “Neste momento, estamos bem. O Lula compreende os problemas brasileiros, é um operário, faz jus às suas origens e está ao lado do povo. A América Latina está se organizando e seus povos tomando um caminho mais popular. Tem Hugo Chávez e Fidel Castro que são figuras fantásticas”. E mais uma vez deixou clara a sua posição: “É uma utopia querer consertar o capitalismo, achar que ele pode ser melhorado. Está tudo errado, ele é uma doutrina de miséria, de egoísmo. Não queremos melhorar o capitalismo que representa tudo isso, essa diferença de classes, os pobres sem ter onde morar. Queremos acabar com o capitalismo”.

Seu compromisso e confiança com o ciclo político aberto pela vitória de Lula, em 2002, foram reafirmados na campanha da presidenta Dilma Rousseff, de 2010, quando, mesmo já numa cadeira de rodas, fez questão de participar de um ato de apoio à então candidata Dilma, realizado na cidade do Rio de Janeiro, promovido por intelectuais e artistas.

Oscar Niemeyer deu à sua pátria e a outros povos do mundo, o melhor de si como cidadão e arquiteto. A vastidão e a juventude do Brasil e o caráter criativo e laborioso do povo sempre alimentaram suas esperanças de um presente e futuro melhores.

O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) – com que Oscar Niemeyer manteve uma relação de amizade e cooperação –, junta sua voz à voz do povo, da Nação, para homenagear sua vida de mais de um século e um tesouro de realizações. Sua obra continuará inspirando novas gerações de arquitetos, a se pautarem pela criatividade e pela ousadia, e suas convicções comunistas impulsionarão corações e mentes pela vitória do socialismo no Brasil e no mundo.

*Presidente do Partido Comunista do Brasil-PCdoB



http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=200652&id_secao=1

Oscar Niemeyer, o arquiteto de um tempo futuro


Oscar Niemeyer, o arquiteto de um tempo futuro


O arquiteto comunista brasileiro Oscar Niemeyer morreu às 21h55, em uma quarta-feira dia 5 de dezembro de 2012. Dizem que não queria ver o “acaba mundo” por isso nos deixou antes, no último intervalo saiu à francesa, as vésperas de fazer 105 anos muito bem vividos.

Manoel José de Souza Neto*


Seu espírito superior nos deixa, está agora nas estruturas mais altas. Obviamente como socialista acharia este papo de espírito uma grande besteira. Mas um arquiteto não se pode se furtar da dimensão da obra, só pode ter entendido a plenitude da criação tal qual, músicos,
astrofísicos e filósofos, nas incertezas, ele viu as únicasverdadeiras questões que poderiam ser levadas em conta. Por isso, Niemeyer não calculava, pois a criação permite tudo.

Não foi na arquitetura que achou as soluções para seus projetos. Amava as mulheres, estas sim sua influência maior para curvas arquitetônicas que mudaram o sentido das obras e do uso dos materiais, revolucionando o concreto, bem como as aplicações das formas nos espaços e paisagens.

Dizia: “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país. No curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.”

Provas de que cedeu ao desejo, entendeu o sujeito, colocou sua marca sexual nos espaços, permitiu o prazer, o gozo. Nas curvas femininas de suas obras inventou o Brasil moderno sensual.

A criação, dizem, foi primeiro o verbo, depois o sentido e, do recalque da comunicação com os outros à marca no simbólico que nos perturba enos pergunta algum significado, tal qual a esfinge, “decifra-me ou devoro-te”. A busca pela resposta é a própria armadilha da esfinge,
pois é exatamente o que devora o espectador, não existe quem não fique perplexo diante de suas obras. O “efeito” Niemeyer são suas perguntas, estes edifícios símbolos, criações que instigam a paisagem e viram ícones em suas localidades.

Suas ideias e soluções estéticas foram incorporadas pelo mundo em outros objetos, sendo um pensador ainda mais influente do que é possível ser mapeado apenas em sua arquitetura, mas muito mais por criar traços culturais.

Como comunista, foi filiado por Luiz Carlos Prestes, a quem chamava de comandante. Foi amigo de outros celebres comunistas como Saramago, Neruda, o ex-presidente Salvador Allende, entre outros. Filiado ao Partido Comunista Brasileiro em 1945, emprestou seu escritório para campanha, visitou a União Soviética e tornou-se amigo de diversos líderes socialistas. Fidel Castro disse a respeito dele: "Niemeyer e eu somos os últimos comunistas deste planeta". Uma verdadeira ironia, já que o projeto do prédio da Onu em Nova York faz parte do conjunto de suas obras mais conhecidas, logo nos EUA que tanto prejudicaram Cuba e
atacaram o comunismo. Ele nunca mais voltou na ONU e se tornou um dos homens mais influentes do mundo, sem abrir mão de suas convicções.

Graças ao comunismo recebeu convites na Argélia, França e Rússia, mas deve aos militares brasileiros que ignoraram o respeito ao projetista dos edifícios públicos de Brasília lhe perseguindo sua condição de cidadão e arquiteto do mundo. Pegou a estrada com mais de 60 anos de idade e foi projetar por aí.

Suas obras de caráter inconfundível marcam a paisagem urbana, isso é um fato, mas desculpem-me os arquitetos com suas visões do campo profissional, mas outras palavras são necessárias para o entendimento da repercussão de suas obras. O que Niemeyer fez foi para além da arquitetura, convidando os seres para outras práticas que seus espaços arquitetônicos provocam, exigindo um novo espírito de fraternidade entre os seres humanos.

Falem das mil facetas do arquiteto, mas antes de entenderem suas obras, pensem no Homem, que tentou nos dizer que outra atitude é possível.

Não são os espaços de Niemeyer feitos sem terem sido pensados nas pessoas, como diziam seus críticos invejosos, mas ao contrário, visionários estes espaços pedem novos seres humanos. Edifícios que incitam o sujeito e provoca o sentimento de transcendências, o desejo
de sermos espíritos altivos dignos de frequentar seus templos, que não distinguem, convidam que adentrem, contemplem, sintam.

As obras de Niemeyer são portanto de espírito socialista, irão sobreviver para gerações futuras entendidas no seu contexto de templosnão de culto, mas de libertação, adoração de algo que falta na humanidade atual, símbolos do desejo sincero de esperança do surgimento de um espírito fraterno e harmônico que liberte os homensdo mal estar da civilização.

Darcy Ribeiro uma vez disse: "Oscar Niemeyer é o único brasileiro que será lembrado daqui a mil anos"

Niemeyer deixa um legado arquitetônico, socialista, maior do que muitas obras escritas sobre o tema. Materializam a essência de um novo tempo que nos faz falta, como também fará falta o arquiteto que se fosse Matusalém viveria mil anos e teria tempo de reinventar o mundo.

A lição de Niemeyer para os arquitetos não é um traço, uma técnica, mas uma lição moral de que a arquitetura deve ser humanista/socialista.

Fica o legado e a sensação de que hoje não temos nenhum arquiteto do porte de Niemeyer no mundo, não porque não existam bons arquitetos, mas porque nunca existiu outro arquiteto verdadeiramente revolucionário e socialista.

Adeus camarada.

*Conselheiro Nacional de Políticas Culturais 2010/12


http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=200587&id_secao=11

Postado por Carlos Maia as 10:27


Oscar Niemeyer morre aos 104 anos




Oscar Niemeyer morre aos 104 anos


O arquiteto Oscar Niemeyer morreu na noite desta quarta-feira (5) no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, onde estava internado desde o dia 2 de novembro. O arquiteto completaria 105 anos em 15 de dezembro. Niemeyer deixa a mulher, Vera Lúcia, 67, com quem se casou em 2006. Deixa ainda quatro trinetos, 13 bisnetos e quatro netos, filhos de Anna Maria – sua única filha, morta em junho passado, aos 82 anos – , fruto de seu casamento com Anita Baldo, de quem ficou viúvo em 2004.


Nascido no bairro de Laranjeiras, no Rio, Oscar Niemeyer se formou em arquitetura e engenharia na Escola Nacional de Belas Artes em 1934. Em seguida, trabalhou no escritório dos arquitetos Lúcio Costa e Carlos Leão, onde integrou a equipe do projeto do Ministério da Educação e Saúde.

Por indicação de Juscelino Kubitschek (1902-1976), então prefeito de Belo Horizonte, Niemeyer projetou, no início dos anos 1940, o Conjunto da Pampulha, que se tornaria uma de suas obras brasileiras mais conhecidas.

Em 1945, o arquiteto ingressou no Partido Comunista do Brasil (PCB), entrando em contato com Luiz Carlos Prestes e outros dirigentes revolucionários. Ao longo das décadas, travou amizades com diversos líderes socialistas ao redor do planeta, entre eles o comandante da Revolução Cubana, Fidel Castro, viajando constantemente à União Soviética, a Cuba e aos países socialistas do Leste europeu.

Em 1947, Niemeyer fez parte da comissão de arquitetos que definiria o projeto da sede da ONU (Organização das Nações Unidas) em Nova York. A proposta elaborada por Niemeyer com o franco-suíço Le Corbusier serviu de base para a construção do prédio, inaugurado em 1952.
Durante os anos 1950, projetou obras como o edifício Copan e o parque Ibirapuera, ambos em São Paulo, além de comandar o Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Novacap, responsável pela construção de Brasília.

Ao lado de Lúcio Costa, arquitetou Brasília, a nova capital do país, concebendo majestosos edifícios, como o Palácio da Alvorada e o Congresso Nacional.

Inaugurada em abril de 1960, Brasília transformou a paisagem natural do Brasil central em um dos marcos da arquitetura moderna.

Impedido de trabalhar no Brasil pela ditadura militar, Niemeyer se mudou em 1966 para Paris, onde abriu um escritório de arquitetura. Projetou a sede do Partido Comunista Francês, fez o Centro Cultural Le Havre, atualmente Le Volcan, realizou obras na Argélia, na Itália e em Portugal.

Deixou inúmeras obras que modificaram a paiusagem urbana de diversas cidades do mundo. Entre as mais importantes obras do arquiteto destacam-se o conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte; o Edifício Copan, em São Paulo; a construção de Brasília; a Universidade de Constantine e a Mesquita de Argel, na Argélia; a Feira Internacional e Permanente do Líbano; o Centro Cultural de Le Havre-Le Volcan, na França; os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps) e a Passarela do Samba, no Rio de Janeiro; o Memorial da América Latina e o Parque do Ibirapuera, em São Paulo; e o Caminho Niemeyer, em Niterói, Rio de Janeiro; além do Porto da Música, na Argentina.

Após a anistia, retornou ao Brasil, no início dos anos 1980. No Rio, projetou os CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública, apelidados de "brizolões") e o Sambódromo, durante o primeiro governo de Leonel Brizola no estado (1983-1987).

Em 1988, Niemeyer se tornou o primeiro brasileiro vencedor do prêmio Pritzker, o Oscar da arquitetura. Ainda em 1988, Niemeyer elaborou o projeto do Memorial da América Latina, em São Paulo.

Nos anos 1990 e 2000, a produção de Niemeyer continou em alta, com a inauguração do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (RJ), o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e o Auditório Ibirapuera, dentro do parque, em São Paulo.

Em 2003, exibiu sua versão de um pavilhão de exposições na tradicional galeria londrina Serpentine – que todo ano constrói um anexo temporário.

Ao completar 100 anos, em 2007, Oscar Niemeyer recebe diversas condecorações. Entre elas, a medalha ao Mérito Cultural, conferida pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reconhecimento à sua contribuição à cultura brasileira. Na França,o arquiteto é condecorado com o título de comendador da Ordem Nacional da Legião de Honra.

Em 2007, projetou o Centro Cultural de Avilés, sua primeira obra na Espanha. Inaugurado em março de 2011, o Centro Cultural Internacional Oscar Niemeyer foi fechado após nove meses, em meio ao agravamento da crise econômica, desentendimentos entre o governo local e a administração do complexo no dia do aniversário de 104 anos de Niemeyer. Em meados de 2012, no entanto, o centro foi reaberto.

Mais de 60 anos após a realização do Conjunto da Pampulha, o arquiteto voltou a assinar um projeto de grande porte em Minas Gerais em 2010, com a inauguração da Cidade Administrativa do governo do estado, na Grande Belo Horizonte.

Atualmente, em Santos, está em execução o projeto de Niemeyer para o museu Pelé. A previsão é que a obra seja concluída em dezembro de 2012. Niemeyer projetou também o edifício da nova sede da União Nacional dos Estudantes.

Com informações da Folha de S. Paulo on line e Agência Brasil

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=200584&id_secao=1


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Rock revolução: Choke lança novo cd


Choke lança novo cd


Clique aqui para ouvir Latino Revolution, o novo disco do Choke

Neste post, você ouve o novo disco do Choke e conhece um pouco da história da banda.

A banda Choke está na estrada há tempos! Desde a primeira demo tape "Dicktatorshit Holocaust from Third World" até hoje, já são mais de 10 anos.

Com som pesado que mescla hardcore e metal e letras voltadas à temática política-social-cultural da região latino americana, não é a toa que a banda curitibana é uma das bandas brasileiras mais conhecidas em nosso continente.

Em 2001 o Choke lança "Manifest", um split cd com a banda STN (Jethro Songs). Em 2003, lançam pela gravadora MNF Music o disco "Slum Radio", produzido e gravado por João Gordo (Ratos de porão) em São Paulo, no estúdio Mr. Som de Marcelo Pompeu (Korzus).


Disco produzido por JoãoGordo
Esse trabalho, que contou com as participações de Doze (Pavilhão 9) e da bateria dos Fanáticos (torcida do Atlético-PR), abriu definitivamente as portas do mercado nacional e internacional para o Choke. A banda entrou em turnê por todo o Brasil e também por Argentina, Chile, Uruguai, Bolívia e Paraguai, período no qual se tornou a banda brasileira que mais show realizou na América do Sul.

Em 2008, o Choke lança novo disco, "Manifest From Sudamerica", tendo como inspiração a luta e cultura do povo latino americano. O disco foi produzido pela própria banda e lançado pela gravadora Akracia Records no México e pela Tempo do Som no Brasil. Esse disco teve excelente repercussão em países como México, Bolívia, Argentina e Brasil.

Recentemente a banda tem se dividido entre shows na América do Sul e ensaios visando o lançamento do novo disco "Latino Revolution", gravado e produzido em Curitiba por Virgílio Milleo no estúdio Audio Stamp, e que será lançado pelo selo Top Music Brazil.

André Cirino, Fausto Bortollotti, Ottavio Lourenço e Tony Martins
“Latino Revolution” é um disco direto e com muita identidade sonora, com letras em sua maioria em espanhol, divagando sobre o universo Latino Americano, sendo influenciados por nomes como Eduardo Galeano, Andrea Echeverri, Subcomandante Marcos, etc. 

Mas, Curitiba não fica fora dessa mistura, pois as composições também se baseiam em suas experiências locais.  Toda essa "fusão" está bem à mostra em faixas como: "Piá" e "La Mezcla" que têm a participação do grupo Hip Hop Ragga curitibano Mocambo.

Em suma, o Choke é uma das mais representativas bandas curitibanas no Brasil e no mundo e o Bronco Rock News vem mostrar o som dos caras pra quem não conhece.

Veja alguns feitos da banda:

• É a banda brasileira que mais fez turnês por boa parte da AMERICA DO SUL, fazendo shows na Argentina, Chile, Uruguai, Bolívia e Paraguai.
• Em Curitiba e no exterior dividiram o palco com bandas como: Sepultura, Ratos De Porão, Disgorge (U.S.A), Pandemia (C.Republic), Municipal Waste, Korzus, Funeral, Garotos Podres, Inocentes, Cólera, Grito (Colômbia) entre outras.
• Suas músicas foram incluídas em mais de 10 compilações em todo o mundo (Argentina, Uruguay, Equador, Turquia e Japão).

DISCOGRAFIA:
CHOKE/STN – “MANIFEST” split cd (Jethro Songs – 2001)
CHOKE – “SLUM RADIO” (MNF MUSIC – 2003)
CHOKE – “MANIFEST FROM SUDAMERICA” (Akracia Records - 2008)
CHOKE - "LATINO REVOLUTION" (lançamento em 2012)


5 de dezembro de 2012 é a data de lançamento do clipe da música "Represent Action" e do novo disco "Latino Revolution" pelo selo Demencial Records na Bolívia.

10 de dezembro a banda estará no programa Upload da TV Transamerica, as 14:30.

A partir do dia 15 de dezembro a banda lança seu website, onde disponibilizará o áudio, encarte e capa do novo disco para download, além do cd físico para venda.

Ouça o novo disco "Latino Revolution" clicando AQUI

PT e mídia: relato de um impasse


PT e mídia: relato de um impasse

Por Maurício Caleiro, no blog Cinema & Outras Artes:

Preservar, a virtualmente qualquer custo, os altos índices de aprovação da presidente Dilma Rousseff tem sido uma meta prioritária do governo petista, a qual, ao lado da ampliação da hegemonia via expansão das alianças partidárias, facilita sobremaneira a governabilidade. Tal processo, porém, ao impelir o governo a evitar ao máximo situações de desgaste, levando-o eventualmente à inação, à omissão e a recuos estratégicos, acaba adiando, dificultando ou impossibilitando o enfrentamento de demandas urgentes porém polêmicas – como reforma agrária, os direitos civis relativos à homoafetividade e notadamente, a promoção da democratização da comunicação. Tal estratégia, além de exasperar parcelas do eleitorado, tem como efeito colateral, como veremos, a geração de um alto custo para o partido, para a esquerda e para o país.



A criação de uma blindagem em torno da presidência, de forma a mantê-la a salvo do efeito de eventuais crises – notadamente dos casos de corrupção, reais ou não, que a mídia, de forma praticamente ininterrupta na última década, transforma em sucessão de escândalos -, não é uma inovação trazida pela gestão Dilma. Algo similar já ocorrera nos oito anos em que Luiz Inácio Lula da Silva habitou o Palácio do Planalto. O que a atual administração fez foi ampliar o já dilatado arco das alianças partidárias – o que significa avançar mais alguns passos em direção ao conservadorismo e, por conseguinte, ver-se obrigada a uma postura ainda mais conciliatória e menos incisiva em relação a determinados temas potencialmente polêmicos. As questões morais que afetam o comportamento da chamada "bancada religiosa" são um típico exemplo de tal processo – e do quanto ele pode ser danoso à verdadeira democratização dos direitos humanos no Brasil.

A condenação de inocentes
Porém, tanto com Lula como com Dilma, o comportamento do governo em relação aos escândalos político-midiáticos pouco difere. Trata-se, basicamente, de agir com celeridade e, antes que o espetáculo da corrupção ganhe repercussão massiva, demitir o(s) acusado(s), haja ou não indícios de culpabilidade. Em decorrência desse modus operandi, auxiliares do primeiro, segundo e terceiro escalão caíram como pedras de dominó na última década, contribuindo para reforçar o mito midiático de que o governo petista seria mais corrupto do que seus antecessores.

Longe de se tratar de uma medida profilática positiva, como se alardeia, essa prontidão em cortar na própria carne ante a mínima acusação ou suspeita revela, por parte do governo, baixo nível de confiabilidade em seus quadros, pouco apreço pelo princípio da presumibilidade da inocência e, sobretudo, uma tibieza e um temor ante a mídia incompatíveis com um regime verdadeiramente democrático, em que direitos e deveres são inerentes à ação da mídia e do governo, e este não se submete àquela.

Tal distorção se torna ainda mais evidente quando se leva em conta que, a exemplo do que ocorreu com a ex-secretária da Receita Erenice Guerra, com Orlando Silva, ex-ministro dos Esportes, e com o ex-chefe da SECOM, Luiz Gushiken, muitos acusados, neste últimos 10 anos, embora tenham sido execrados pelos meios de comunicação e publicamente demitidos pelo governo, acabaram inocentados pela Justiça por falta de provas. E com um agravante: além de terem suas reputações arruinadas pela mídia de forma irreversível – pois o volume de textos acusatórios, em todos os casos, foi desproporcionalmente maior do que as ínfimas linhas as quais noticiaram sua absolvição, quando o fizeram -, tais cidadãos jamais foram reincorporados ao governo do qual, por razões infundadas, foram alijados.

O PT questionado
Tais flagrantes injustiças tendem a produzir ressentimentos acumulados. E, num cenário em que um dos sustentáculos do crescimento do ativismo político na internet tem sido blogs de grande audiência em que a crítica à mídia ocupa um lugar primordial, fica cada vez mais evidente a falta de diálogo entre uma cúpula partidária que parece empenhada justamente em não mover uma palha contra os meios corporativos de comunicação e uma militância que, mais do que se mostrar convencida da ação nefasta de tais setores, cultiva – no mais das vezes justificadamente - um profundo sentimento anti-mídia, do qual a frequência e a generalização de críticas ao que chamam de PIG (Partido da Imprensa Golpista) são exemplos cabais.

Esse embate surdo parece ter atingido um ponto de saturação com o recuo, patrocinado pela presidência petista, do deputado Odair Cunha (PT/MG) na CPI do Cachoeira, desistindo de apresentar um relatório que indiciava cinco jornalistas – entre eles Policarpo Júnior, editor-chefe da Veja – e de recomendar que a "corregedoria" do MP investigasse o Procurador-Geral, Roberto Gurgel, o que levou a uma reação contrária em massa nas redes sociais e nas caixas de comentário de blogs e publicações virtuais.

O episódio parece ter difundido a certeza de que o PT não só se recusa a dar à mídia um tratamento à altura, mas omitiu-se ante o dever cívico de investigar e indiciar elos entre o crime organizado e revistas semanais. A reação estupefata de muitos, inclusive de petistas históricos, parece indicar que a tolerância para com a inação do governo está em vias de se extinguir. A possibilidade de que o PT venha a legar ao futuro um país bem melhor em termos socioeconômicos, mas com uma arena comunicacional hipertrofiada, extremamente retrógrada e concentrada em pouquíssimas mãos, como sempre foi, avulta-se, hoje, infelizmente, como plausível.

Perguntas incômodas
Em um momento em que figuras como o ex-porta-voz do presidente Lula, Ricardo Kotscho, e Mino Carta, editor do único semanário político a não embarcar no antipetismo hidrófobo, vêm a público cobrar uma autocrítica do partido, talvez seja hora de questionar se efetivamente tem fundamento o medo do governo em enfrentar a mídia e, assim, criar conflitos que arranhem seus ótimos índices de aprovação, e quais seriam os danos efetivos se isso acontecesse.

Em primeiro lugar, analisemos o receio que o governo demonstra ter da reação midiática ante uma eventual resposta petista: o que mais poderia a mídia fazer, após publicar ficha policial falsa da candidata a presidente na capa de jornal; dar voz a um desequilibrado mental para que acusasse o presidente de estuprador de menor; patrocinar "blogueiros" cuja missão primordial é difamar, desqualificar e semear o ódio; insuflar ou criar escândalos de corrupção que sabia de antemão improcedentes; insultar diuturnamente um presidente e recusar-se a reconhecer sequer um dos seus muitos feitos (que boa parte do mundo reconhece); patrocinar ou endossar armações golpistas várias? A mídia corporativa fez, faz e continuará fazendo tudo a seu alcance para enfraquecer e derrubar o governo petista, à revelia deste reagir ou não. Quem teria a perder é ela, se o governo fechasse as torneiras que, via publicidade oficial, abastecem seus cofres.

Por outro lado, será que a manutenção dos índices de popularidade está tão atrelada a ausência de polêmicas desgastantes e é assim tão primordial quanto o governo pensa, ou, como algumas pesquisas qualitativas demonstraram ao longo deste ano, são a manutenção de um quadro econômico com baixo desemprego e poder de consumo bem acima da média das décadas imediatamente anteriores os principais atrativos para um volume significativo de eleitores que nunca morreu de paixão pelo PT, mas que apoia Lula e, sobretudo, Dilma? Não deveria ser levado em conta o risco de que, num eventual agravamento do desempenho da economia que atingisse renda e emprego, essa parcela volúvel, pois descomprometida ideologicamente, do eleitorado viesse a debandar do apoio ao governo, e justamente quando o petismo já não pudesse contar com as parcelas de seu eleitorado fiel, agastadas com sua passividade covarde ante a mídia (ou em relação a temas como a reforma agrária, os direitos civis dos gays, a insensibilidade para com as populações indígenas, etc.)?

Não se pode, é verdade, atribuir exclusivamente ao PT a responsabilidade pela leniência da esquerda no trato com a mídia corporativa. Em tal seara, o maior partido de oposição à aliança petista, o PSOL, tem repetidas vezes assumido uma posição não apenas omissa em relação a práticas midiáticas inaceitáveis, mas, de quando em quando, se valido de um oportunismo em que, de mãos dados com a pior direita, endossa verdadeiras armações jornalísticas patrocinadas por um semanário que traficou a credibilidade de outrora por um panfletarismo hidrófobo que em nada se assemelha a jornalismo.

Medidas democratizantes
É importante sublinhar que o que se propõe em relação a tal campo não representa nenhum ato de força, nenhuma ruptura institucional e nem mesmo uma luta aberta do governo contra a mídia. Não se apregoa que o governo deixe de renovar a concessão pública de sinal televisivo à Rede Globo – embora este seja um seu direito constitucional - ou que mande a PF invadir a redação da Veja. Longe disso. A maioria das sugestões de ação governamental concentra-se em três políticas republicanas, concatenadas entre si e historicamente reconhecidas como necessárias ao aprimoramento da democracia brasileira. A saber:

1) Instituir, após debate com a sociedade e em sintonia com o Legislativo e o Judiciário, um marco regulatório para a mídia, o qual estabeleça claramente direitos e deveres e, no caso de transgressões destes, punições, de modo a coibir o assassinato de reputações, a calúnia, as armações jornalísticas, hoje recorrentes e impunes. É urgente reinstituir o direito de resposta, que assegure a rapidez demandada pela era do jornalismo virtual e dê à retratação espaço e destaques equivalentes aos da difamação.

2) Rever o critério de concessão de verbas publicitárias federais a órgãos de comunicação, deixando de se guiar pela chamada "mídia técnica", que as distribui de acordo com os níveis de audiência/vendagem. O atual governo não só tem mantido essa prática literalmente conservadora e continuado a encher as burras da Globo e da Abril, mas, como afirma, em um texto didático, Renato Rovai, editor da Fórum, acena com cortes das verbas anteriormente destinadas a órgãos alternativos.

3) Promover a democratização da comunicação, com o governo valendo-se de seu poder econômico e regulatório para assegurar diversidade e competitividade no campo midiático, com a criação de novos canais radiofônicos e televisivos abertos que multipliquem as ofertas de produtos audiovisuais, de abordagens jornalísticas e de tendências analíticas, além da promoção de uma efetiva democratização do acesso a internet de banda larga.

Resquícios neoliberais
Convenhamos, não é pedir demais. Ainda mais de uma aliança governamental capitaneada por um partido que se soergueu e, em suas primeiras décadas de vida, ganhou projeção nacional empunhando bandeiras bem semelhantes a estas. O problema é que o mesmo governo que, em nome do economicismo que a tudo se sobrepõe, aceitou, após muita relutância, contrariar dogmas econômicos neoliberais como a independência do Banco Central, os juros altos e, ultimamente - aleluia! -, até o superávit primário, tem se recusado, fora do âmbito da economia, a promover um aggionarmento das ideologias orientadoras das políticas culturais e comunicacionais para fora do âmbito do neoliberalismo.

Destarte, tanto a política de produção cultural do país continua atrelada a um modelo de financiamento via renúncia de recursos fiscais a qual, na prática, coloca nas mãos dos diretores de marketing de empresas privadas o direito de determinar o que será e o que não será produzido – e, assim, ditar os rumos de nossa cultura -, quanto a manutenção de verbas em meia dúzia de corporações midiáticas continua sendo sustentada pela passividade de um governo que se resigna a obedecer aos critérios ditados pelo conceito de "mídia técnica", corroborando, na prática, a premissa preconceituosa e intrinsecamente neoliberal de que o Estado deve se limitar à função reguladora em tais áreas – e que assumir uma posição pró-ativa e tomar para si a função de determinar os rumos culturais e comunicacionais do país seria incorrer em "stalinismo cultural". Com uma centro-esquerda dessas, quem precisa de direita?

Danos ao país
Os maiores danos causados pela estratégia de preservação da popularidade presidencial a qualquer custo se fazem sentir é no âmbito do país. Se a década de administração federal petista lega ao Brasil um grande avanço em termos de combate à pobreza, inclusão social e reconfiguração socioeconômica dos estratos populacionais - além de um cenário futuro favorável à Educação, destinatária dos lucros futuros do Pré-Sal -, mostra-se problemática sua contribuição no âmbito do aperfeiçoamento institucional da democracia brasileira. Em relação a este, não apenas não se empenha em uma reforma política que enfrentasse de frente as vicissitudes do sistema – preferindo, ao contrário, aderir ao toma-lá-dá-cá do jogo partidário e, volta e meia, vendo-se envolvido em denúncias de corrupção e de ilegalidades -, mas, como já visto, se recusa a assumir a sua responsabilidade no processo de promoção da democratização da mídia - plutocratizada sob o comando de meia dúzia de famílias -, e, em decorrência, de criação de mecanismos que impeçam que ela siga difamando reputações, difundindo falsas acusações e fabricando escândalos por motivações político-partidárias que não coadunam nem com a ética pública nem com os princípios básicos do exercício do jornalismo.

Em um momento em que tanto países de democracia consolidada, como a Inglaterra, quanto alguns de nossos vizinhos sul-americanos, cuja democracia refloresceu após períodos ditatoriais, mostram-se cientes da necessidade de legislar sobre os limites éticos da mídia, a negligência de tal demanda no Brasil, em nome da manutenção da popularidade presidencial, representa um atraso institucional e uma ameaça permanente ao avanço da democracia no país.

Postado por Carlos Maia as 11:04

Lula, Dilma e o PT: fatiados


Lula, Dilma e o PT: fatiados

http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br/
Por Rodrigo Vianna, no blogEscrevinhador:

Ainda em 2011, recém-iniciado o governo Dilma, ficaram claras as estratégias do governo vitorioso e da oposição derrotada pela terceira vez. Do lado petista, Dilma caminhou (ainda mais) para o centro, numa tentativa de conquistar setores urbanos (da nova e da velha classes médias) que se haviam afastado do PT durante os dois mandatos de Lula. Dilma aceitou a pauta da “faxina moral”, investiu na imagem da “gerente”, e evitou qualquer conflito com a mídia conservadora que é a verdadeira comandante da oposição no Brasil.
A presidente emitiu sinais de que concentraria toda sua energia na mudança de paradigma econômico: reduzir os juros, e abrir espaço para uma nova fase de desenvolvimento sem a hegemonia ostensiva do setor financeiro (o que inclui também as tentativas de reduzir os custos de produção, como no caso da energia). O arranjo adotado durante os dois mandatos de Lula, com juros altos e programas sociais massivos (Bolsa-Família, crediário popular, recuperação do salário mínimo, Pro-Uni), serviu para manter os rentistas e grandes empresários calmos – ao mesmo tempo em que trouxe para o PT imensas massas “descamisadas” que, no passado, não votavam no partido de Lula.

Escrevi, em 2011, que a escolha parecia inteligente: o PT ja tinha os setores de trabalhadores organizados (que votam na aliança de esquerda desde os anos 80) e as grandes massas que o governo Lula tirou da miséria. Dilma conquistaria a classe média, reduzindo ainda mais a margem de manobra da oposição.

O risco, no entanto, era evidente: tudo ficar igual. Se Dilma assume o discurso tucano do “gerenciamento”, afastando-se de qualquer confronto, evitando a “politização”, qual seria a diferença – no fim das contas – de votar num tucano ou num(a) candidato(a) do PT, em 2014?

Fragilizada pela terceira vitória lulista, a oposição midiática e o consórcio PSDB/DEM/PPS aceitaram o jogo, mas com uma nuance matreira: passaram a dividir PT, Lula e Dilma em 3 fatias. Lula seria o “atraso” populista, o PT seria quase uma ”quadrilha”, e Dilma seria a única aceitável nesse tripé – a gerente confiável. Se Dilma tomara a decisão de caminhar para o centro (abandonando a Reforma Agrária, engavetando a “Ley de Medios” que Franklin deixou pronta no fim do governo Lula, jogando no lixo avanços na Cultura da era Gil/Juca, entre outros pontos), a oposição tratou de atraí-la cada vez mais: “venha com a gente, longe de Lula e do PT você será bem tratada…”

A sedução, em parte, parece ter funcionado.

Assim, terminamos 2012 com a estratégia do “fatiamento” em pleno vapor: o PT recebe o carimbo de “quadrilha” no STF (o que não impediu que o partido conquistasse mais Prefeituras, incluindo a gigantesca São Paulo; mas foi suficiente para evitar uma vitória ainda mais consagradora para a sigla de Lula, que teve recuos inesperados em Salvador e Fortaleza, e resultados apenas razoáveis em cidades médias de todo o país), Lula vira o alvo no caso Rosemary (que, por outro lado, mostra o mergulho de parte do petismo na inaceitável tradição de velhacarias e patrimonialismo brasileiros).

E Dilma? Os geniais condutores da estratégia de comunicação da presidenta acham que ela se salvará sozinha dos ataques. Acreditam – ou fingem acreditar – no canto de sereia da velha mídia conservadora… Gostam de ver Dilma apontada como a condutora de um “novo PT”.

Não é preciso ser muito esperto para perceber que não há “novo” ou “velho” PT. O que existe é o PT – com sua história de erros e acertos. O velho e o novo ganham juntos, ou naufragam juntos. A arena da oposição é o “gerenciamento” e o “moralismo” udenista. A arena da centro-esquerda é a política, a defesa do Estado, das reformas democráticas e dos programas sociais. Dilma parece ter-se esquecido disso. Ou achou que seria possível manter isso tudo em banho-maria, enquanto se concentrava no rearranjo da economia?

Agora, em 2013, veremos iniciar-se a terceira etapa do “fatiamento” – que não foi concebido por Joaquim Barbosa, mas por Mervais e outros quetais. Enfraquecida a imagem de Lula e do PT (atenção, não estou dizendo que a imagem esteja irremediavelmente abalada; as pesquisas mostram que tanto Lula como o PT seguem como referência de defesa dos interesses populares, mas o partido está claramente na defensiva nos últimos meses), veremos se Dilma terá força para reagir aos ataques.

E eles já começaram. ”Mequetrefe”, diz um colunista sobre a presidenta. Outro comemora o “ano perdido” (2012) na economia. Inicia-se, no noticiário, um giro cuidadoso para incluir Dilma – ao lado de Lula e do PT – na mira dos ataques.

PT/Lula/Dilma juntos são fortíssimos. Quase imbatíveis. Sozinha, Dilma ainda é forte. Mas o jogo fica embolado. O povo teria que escolher entre uma “gerente” petista ou um “gerente” tucano. O PSDB já percebeu que há espaço pra avançar agora. FHC lançou Aécio. Nas pesquisas, ele está muito atrás de Dilma. Mas pesquisa a essa altura não diz muito. O que importa é o arranjo político.

Se o PSDB abandona o discurso raivoso da era Serra, e adota um tom mais centrista, a massa de eleitores pode se perguntar: vamos eleger pela quarta vez um(a) presidente(a) petista? Mesmo com tantos escândalos? Se PSDB e PT ficam parecidos, será que não é melhor apostar dessa vez naquele partido que – na mídia – não está carimbado como “quadrilha”? A avenida por onde os tucanos podem avançar é essa: ganhar dos eleitores o benefício da dúvida, o mesmo que o STF deixou de lado em 2012…

Ah, mas os tucanos tem outro carimbo – governam para os ricos, são privatistas e só pensam em agradar os empresários. Lula e o PT, não – esses governam para o povo. Mas quem está falando de Lula e do PT? Dilma não se afastou dos dois, ao traçar sua estratégia inicial há 2 anos?

Isso tudo, e mais o crescimento medíocre da economia pelo segundo ano seguido (a “gerente” não gerenciou?) permitem que a oposição – que respirava por aparelhos – ganhe ao menos o benefício de deixar o eleitor em dúvida. PT de novo? Será que não vale a pena mudar?

Se a eleição de 2014 for acirrada - como imagino que será – Dilma vai enfim perceber o erro que foi ter-se afastado das bases e das bandeiras históricas de Lula e do PT. Sacar na última hora o discurso de que “tucano é privatista” pode não colar – tantos anos depois de FHC ter saído do poder.

A oposição conseguiu fatiar PT, Dilma e Lula. Eles conseguirão se reagrupar - no imaginário popular – em 2014? Tempo para isso existe, de sobra. Mas o lulismo precisa sair da defensiva. Trocar “gerenciamento” por política.

Os tucanos querem Aécio para ganhar, apostando num “pós-Lula”. Mas não existe “pós-Lula”. O que está em curso é uma tentativa de derrotar o lulismo. No presente e na história. A ideia é afogar Lula e o PT num “mar de lama” tão intenso quanto aquele que levou Vargas ao suicídio em 1954 . Dilma acha mesmo que pode sair “limpinha” dessa batalha? Não vai funcionar…

Postado por Carlos Maia as 10:53

O saco de gatos partidário


O saco de gatos partidário

Por Luiz Carlos Azenha, no blogViomundo:

Um colega me procura para se dizer impressionado com o crescente saco de gatos da política brasileira que, registre-se, não é de hoje. Fala da possível indicação de Guilherme Afif Domingos para um ministério do governo Dilma, selando a adesão do PSD de Gilberto Kassab à coalizão liderada pelo PT.

O colega é eleitor petista. Provavelmente frustrado com o fato de que está cada vez mais difícil traduzir seu voto ideológico em políticas que o representem, observa: “A oposição está morta. Tá na hora de fundar um novo partido ou de derrotar a atual coalizão federal para mudar um pouco as coisas”. Confesso que nunca vi um eleitor torcendo contra o partido no qual costuma votar, mas entendo a frustração. Ele vota num dos gatos, mas acaba representado por outro.

Em outras palavras, o poder do PT se diluiu dentro da coalizão comandada pelo partido, de tal forma que a administração de um condomínio tão vasto de interesses fica no mero gerenciamento de vontades. E tome “gestores”, “técnicos” e “facilitadores”, que funcionam como meras correias de transmissão das lideranças da coalizão. É preciso executar apenas os projetos que atendam ao conjunto de acordos negociados nos bastidores de Brasília.

Elimine-se, portanto, os eleitores, consultados apenas em período eleitoral para decidir qual é a melhor das superproduções de marketing.

Dá para entender perfeitamente a lógica do PT ao buscar a adesão do PSD: fortalecer a possibilidade de reeleição de Dilma Rousseff e enfraquecer Geraldo Alckmin na disputa pelo governo estadual paulista, em 2014. Só então, controlando a maior parte do orçamento nacional, o partido poderia de fato governar com maior independência dos parceiros de coalizão. O risco é de, até lá, o PT se tornar indistinguível dos parceiros, gestor do mesmo neoliberalismo light que afundou, por exemplo, o PSOE espanhol.

Há quem garanta que isso já aconteceu.

PS do Viomundo: Quando falo em “facilitadores” me refiro às Rosemaries, aos que colocam graxa nas engrenagens para permitir que o privado tire proveito do público, ainda que em tese cumpram funções justamente para evitar isso.

Os tucanos e o cheiro de naftalina


Os tucanos e o cheiro de naftalina


O lançamento burocrático do nome de Aécio à sucessão de Dilma Roussef, feito por apressados tucanos nesta segunda-feira, exala o odor da naftalina entranhada nas peças do vestuário preteridas no guarda-roupa. Quando finalmente ascendem à luz, já perderam a sintonia com o manequim e a estação.

Ungido no vácuo, Aécio ainda gaguejou assombrado: 'antes de candidatura, a legenda precisa de agenda'

Não sem razão. O credo do PSDB transformou-se num pé de chumbo histórico. Hoje ele pisoteia o que restou do Estado do Bem Estar Social europeu superpondo o arrocho ortodoxo ao colapso neoliberal. Apaga incêndio com gasolina

As labaredas atingiram a classe média europeia da qual o tucanato um dia considerou-se uma espécie de prefiguração tropical culta, rica, bela e cheirosa.

19 milhões de desempregados, quase 120 milhões na ante-sala da pobreza, revestem a zona do euro das cores de uma tragédia histórica feita de despejos, suicídios, fome e pobreza, em escala e virulência desconhecidas desde a Segunda Guerra.

A candidatura Aécio é isso: o choque de gestão de Alckmin algemado ao descrédito planetário da bandeira dos mercados autorreguláveis. Queira ou não, sua candidatura vestirá o que lhe resta --a camisa conservadora impregnada da naftalina udenista.

O único plano de voo tucano é a aposta no acuamento político do PT e do governo Dilma.

Depende muito de como o outro lado reagir.

A inexistência de um contraponto estruturado de mídia progressista, por exemplo --ontem e ainda hoje menosprezado pelo governo Dilma-- amplifica o alcance dessa ressurgência udenista, cuja chance de volta ao poder pressupõe nada menos que a destruição de Lula e o engessamento de sua sucessora.

Não é único flanco de um viés de complacência cada vez mais temerário.

O PT de certa forma foi uma costela emancipada da efervescência cristã-progressista semeada pela Teologia da Libertação nas periferias metropolitanas. A ela associou-se a energia sindical amadurecida nos levantes metalúrgicos do ABC paulista, nos anos 70 e 80.

Dessa simbiose de forte capilaridade emergiram lideranças e quadros que iriam catalisar segmentos egressos da luta armada, intelectuais de esquerda,cristão progressistas e democratas em geral, na construção de um novo partido socialista, libertário e ecumênico.

O êxito eleitoral fulminante associado ao revés simultâneo da ala progressista da igreja católica contribuiria para o duplo desmonte da enraizamento original pela base.

O jogo eleitoral absorvente impôs a sua lógica absolutista na vida interna do partido; o golpe conservador dentro da Igreja Católica reproduziria o mesmo vácuo nas periferias crescentemente colonizadas pela individualização evangélica.

A vitória de Fernando Haddad em São Paulo reabre essa página da história.

A partir de São Paulo o PT pode - se quiser - renovar o arsenal de políticas públicas, ao mesmo tempo em que regenera a capacidade de organização pela base.

Seria uma demonstração de discernimento histórico da nova gestão petista, por exemplo, criar uma Secretaria de Participação Cidadã.

Sua missão democrática seria reativar a nucleação suprapartidária da cidadania em torno de questões cruciais que atormentam o cotidiano dos bairros de classe média, dos conjuntos populares e das periferias distantes.

O renascimento da participação comunitária impulsionado pelo recorte ecumênico, pavimentaria a realização de grandes conferencias municipais temáticas. Nelas, delegados de classe média e de cinturões populares pactuariam suas prioridades para São Paulo.

O processo ganharia difusão através de uma rede de mídia alternativa capaz de amplificar a mais significativa virada cultural na gestão de uma metrópole no século XXI: o protagonismo democrático de seus habitantes.

A vitalidade participativa em uma das cinco maiores manchas urbanas do planeta sacudiria a vida política do país e a letargia interna do PT.

Faria mais que isso:fomentaria um anteparo de discernimento popular com densidade capaz de resistir ao golpismo conservador que, queira ou não Aécio, deve cavalgar a sua candidatura a 2014 - se e até quando ela sobreviver à liquefação neoliberal.

Aécio confirma divisão dos tucanos


Aécio confirma divisão dos tucanos

Por José Dirceu, em seublog:

A reação de Aécio Neves após ser “lançado” por Fernando Henrique Cardoso e Sérgio Guerra à Presidência em 2014 confirma o óbvio: os tucanos continuam divididos. FHC e Guerra querem que ele assuma já a candidatura. Mas Aécio, mineiro e conhecendo bem o tucanato, se fez de rogado.

Para ele, o lançamento da candidatura tem que se ser de “forma natural” e não existe ninguém que se autoproclame líder. FHC bem que tentou reavivar os tempos do Império ao dizer que ele próprio estava proclamando Aécio líder. Claro que não colou.

Aécio adiou a definição e diz que vai priorizar a agenda nacional, a gestão, a federação etc. E por aí foi saindo de fininho, deixando os czares do tucanato falando sozinhos.

Começou mal a caminhada dos tucanos rumo a 2014. Melhor fez o Serra, que foi passear com os netos na Disney.

FHC

Essas últimas manifestações de FHC mostram que, na prática, ele assumiu a presidência do PSDB ou o papel de líder do partido. Isso só comprova a hipocrisia dos que criticam o ex-presidente Lula por exercer sua liderança no PT e no país.

É um detalhe que vale por mil discursos e comprova a falta absoluta de lideranças na oposição: um se recusa a ser candidato já, e o outro toma de assalto a direção do partido. Democracia partidária mesmo só nos discursos. Depois, não sabem por que perdem tantas eleições...

Pesquisas

O desespero tucano em lançar desde já a candidatura para 2014 tem explicações óbvias. Entre elas, está o desgaste provocado pela desastrosa gestão da Segurança Pública no Estado de São Paulo. O que já rendeu queda substancial de popularidade para Geraldo Alckmin.

Além disso, recente pesquisa Ibope mostra que apenas três nomes presidenciáveis da oposição superam o traço e passam de 1% da preferência do eleitorado na pesquisa espontânea: Serra (4%), Aécio (3%) e Marina Silva (2%). Na frente, muito na frente, estão a presidenta Dilma Rousseff (26%) e o ex-presidente Lula (19%).

A liberdade na internet está em jogo


A liberdade na internet está em jogo

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

A conferência da União Internacional das Telecomunicações (UIT), que se realiza em Dubai, nos Emirados Árabes, está mexendo até mesmo com a mídia internacional. A preocupação geral é com a possibilidade de o órgão da ONU se considerar no papel de regular o funcionamento da internet.

O assunto veio à tona no momento em que alguns países, como o Brasil, discutem a criação de um “marco regulatório” para a internet. Na verdade, a rede mundial de computadores entra nas discussões da UIT como parte do processo de reorganização das frequências de rádio e bandas para telefonia, necessidade criada pelas novas tecnologias de comunicação.

Mas o que está em jogo é a verdadeira liberdade de informação.

Retenção das atenções

Os representantes de 193 membros do organismo das Nações Unidas dizem que o objetivo do encontro é utilizar o potencial tecnológico para levar a internet e as telecomunicações às populações excluídas, expandindo o acesso às redes digitais. Mas entre os mais de 700 pesquisadores acadêmicos e enviados de empresas privadas presentes ao evento cresce a preocupação com o risco de um surto regulatório por parte de burocratas da ONU.

Por outro lado, gigantes dos novos negócios digitais, como o Google, acompanham os debates para observar os movimentos das empresas de mídia tradicional, que se sentem ameaçadas pela universalização da rede.

A transformação de todo tipo de conteúdo escrito, sonoro ou visual em algoritmos criou uma nova linguagem universal e, como no mito da Torre de Babel, acaba produzindo confusão onde deveria haver consensos. A aplicação dessa linguagem a aparelhos móveis estimula a expansão de redes informais de informação e interação, o que coloca em xeque o domínio das comunicações humanas pelos grandes conglomerados que exploram o setor desde a invenção do telefone.

Essas redes sociais digitais já alcançam grandes proporções das populações nos países onde a internet funciona sem restrição, alterando hábitos de consumo, reestruturando relações sociais, ampliando a participação política e transformando as economias. É natural, portanto, que sistemas hegemônicos tentem colocar obstáculos à sua expansão, na esperança de retardar o crescimento de novos negócios concorrentes.

A rigor, o que está em jogo é a atenção do público.

Sistemas autoritários e centralizadores, como o da mídia tradicional e das grandes empresas de telecomunicações, precisam se adaptar ao novo ambiente no qual a atenção das pessoas está mais fragmentada e não precisa ficar presa a uma agenda preestabelecida. O tempo se transformou no ativo mais importante do mundo e a experiência humana passa a funcionar como uma commodity semelhante ao petróleo.

Ainda é possível direcionar o interesse de milhões de pessoas ao mesmo tempo para um mesmo objeto, como acontece nos grandes eventos esportivos – ou, no Brasil, quando é transmitido o último capítulo de uma telenovela de sucesso. Mas já não é possível assegurar a retenção dessas atenções por muito tempo, nem prender os sentidos num único meio: no Brasil, por exemplo, o total de pessoas com acesso à internet já chega próximo aos 100 milhões.

Além disso, uma proporção enorme de pessoas com acesso à internet costuma assistir televisão e acessar a rede ao mesmo tempo. Por outro lado, existem no país 260 milhões de linhas de telefonia móvel em operação, 80% dos quais funcionam pelo sistema pré-pago, uma invenção nacional.

Caminho da sobrevivência

Para se ter uma ideia de como o sistema de negócios tradicional interfere na democratização da comunicação, basta observar que a grande maioria desses aparelhos ainda não oferece acesso à internet e apenas 25% deles têm recursos do tipo smartphone.

Isso acontece porque as empresas do setor preferem continuar empurrando para os consumidores aparelhos obsoletos, como acontecia com a indústria automobilística até o início dos anos 1990. A célebre frase do ex-presidente Fernando Collor de Mello sobre as “carroças” que os brasileiros eram obrigados a comprar pode ser aplicada ao mercado de telecomunicações.

Isso é apenas parte do jogo. Quando o número de celulares com acesso à internet ultrapassar o total de aparelhos comuns – o que está previsto para 2015 –, a grande maioria dos brasileiros passará a ter muito mais escolhas em termos de comunicação e serviços. Essa possibilidade abre novos campos de negócios, mas obriga alguns setores a ter que mudar para sobreviver.

STF e o risco de banalizar o mal


STF e o risco de banalizar o mal

Por Paulo Moreira Leite, na coluna Vamos combinar:

Estou espantado diante da naturalidade com que se debate a possibilidade do Supremo cassar os mandatos de 3 deputados cassados pelo mensalão. Parece a coisa mais natural do mundo. Parece uma questão de opinião.

José Genoíno, um suplente de mais de 90 000 votos, também pode perder seus direitos. Como os demais, seu mandato vai até 2014.

Não é natural. Nem é uma questão de opinião.



Está lá, no artigo 55 da Constituição que, após ampla defesa, por maioria absoluta, cabe ao Congresso decidir o que acontece com o mandato dos parlamentares. A Câmara resolve, no caso dos deputados. O Senado, quando se trata de senadores.

É tão claro como o artigo que define o voto direto para presidente ou o caráter federativo da República.

É ainda mais curioso que se queira também queimar uma outra etapa, cassando os deputados antes mesmo que os recursos tenham sido julgados. Aliás: as sentenças sequer foram escritas nem publicadas.

Isso não é uma formalidade. Na hora de redigir uma sentença, pode-se descobrir uma incongruência e mesmo uma incorreção. Uma coisa é a frase oral. Outra, o texto escrito.

É uma garantia da acusação, de que terá seus motivos bem explicados e compreendidos.

Também é uma garantia para a defesa, que pode ter motivos claros e bem definidos para enfrentar.

Por fim, e mais importante: é uma garantia para a democracia, pois assegura a transparência da Justiça. Qualquer cidadão, a qualquer momento, pode saber exatamente por que uma pessoa foi condenada e outra, absolvida.

O procurador Roberto Gurgel voltou a insistir para que o Supremo decrete a prisão imediata dos condenados. Gurgel já havia recolhido seus passaportes e colocado seus nomes na lista de pessoas que não podem deixar o país.

Referindo-se ao plano de prisão imediata, o constitucionalista Pedro Serrano, professor da PUC de São Paulo, afirma: “É um absurdo.” O professor lembra a necessidade de se cumprir um ritual indispensável: “Ninguém pode ser preso sem que todos os recursos sejam julgados e respondidos.”

O risco é habituar o país a golpes — mesmo pequenos — contra a democracia. Fatos que deveriam ser vistos como estranhos e até escandalosos passam a ser vistos como naturais A ideia é aceitar que nem sempre os direitos do cidadão precisam ser respeitados e que a Justiça é a principal garantia que ele possui.

O nome disso, ensinou Anna Harendt, é banalização do mal.

Ela se obtém quando as consciências foram anestesiadas.

Estamos assistindo a banalização de ataques contra cidadãos que, lamentavelmente ou não, receberam o voto popular em 2010.

Aplicar a palavra “poderosos” no caso específico destes réus é um esforço retórico. Num país horrorizado com a impunidade e a corrupção, que são problemas reais, a ser enfrentados e combatidos, este discurso ajuda a alimentar a ira, a dar um conteúdo “exemplar”, “redentor”, “simbólico” ao julgamento São palavras que ajudam a encobrir fatos reais e questionáveis. Você fica debatendo o “significado” do fato e esquece do próprio fato.

Falar em poderoso, concretamente, é uma falsificação.

Estamos falando de pessoas que foram despossuídas do direito a uma ampla defesa. Não foram condenadas por provas robustas nem individualizadas. Os ministros assumiram, explicitamente, a perspectiva de flexibilizar garantias oferecidas aos réus. A forma do julgamento, fatiado, já colocou a defesa em desvantagem, o que é uma situação estranha, num universo que deve funcionar como uma balança — e cega.

Mas há uma questão democrática essencial aqui.

Candidatos apontados como réus no mensalão, a espera de julgamento, receberam o voto de milhares de brasileiros. O voto dessas pessoas não tem valor?

Não deve ser pesado, julgado, examinado, pelos representantes do povo? Eu acho que sim. E foi por esse motivo que o constituinte de 1988 não deixou a decisão para a Justiça. Trouxe para o Congresso. É o que está escrito.

Tá vendo como é bom ter leis escritas?

A corrupção acobertada no governo FHC


A corrupção acobertada no governo FHC

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Ontem (3), o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou publicamente que “A corrupção não está mais debaixo do tapete” e que, “hoje, há mais autonomia dos órgãos de fiscalização e controle como o Ministério Público, a Controladoria Geral da União (CGU) e a Polícia Federal”.


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de pronto, rebateu a afirmação de Carvalho. À noite, no Jornal Nacional, a reportagem mostrou parte das declarações do ministro e do ex-presidente sobre o assunto. FHC, visivelmente alterado, qualificou como “leviandade” a declaração do adversário político.

Vejamos, pois, quanto de motivos teve o ex-presidente para se irritar assim com a declaração do ministro de Dilma.

FHC, quando governou, foi beneficiário da cumplicidade da mídia, que ajudou a acobertar descaradamente a corrupção ao sonegar ao público notícias sobre escândalos que dispensariam o bom e velho “domínio do fato” devido à vastidão de provas que havia.

Nesse ponto, há que fazer jus ao jornal Folha de São Paulo, o único grande veículo que denunciou adequadamente a compra de votos para a reeleição de FHC, quando deputados da base aliada de seu governo foram grampeados declarando, ipsis-litteris, que haviam sido pagos pelo então ministro (hoje falecido) das Comunicações, Sérgio Motta, para votarem a favor da emenda constitucional que permitiu ao tucano obter um segundo mandato em 1998.

Além de FHC ter mudado as regras de jogo com ele em andamento ao propor ao Congresso a emenda da reeleição – o que Lula não se permitiu fazer apesar de ser tratado pela mídia tucana como se tivesse tentado e não conseguido –, ainda teve uma denúncia muito bem fundamentada, com provas materiais, de que deputados foram pagos para apoiá-lo.

Além da Folha de São Paulo, nenhum veículo de peso deu destaque ao escândalo. E o procurador-geral da República de então, que o presidente tucano manteve no cargo por oito anos – Lula, nesse período, nomeou QUATRO procuradores-gerais –, não esboçou a menor reação.

Observação: essa foi a principal razão de o ex-PGR Geraldo Brindeiro ter sido alcunhado como “engavetador-geral da República”.

Controladoria Geral da União? No governo FHC chamava-se Corregedoria, em vez de Controladoria, e jamais incomodou o governo, enquanto que a CGU de Lula e Dilma tem sido uma pedra no sapato deles, pedra colocada por eles mesmos no âmbito do esforço hercúleo que fizeram para dar transparência ao que o antecessor tucano escondia.

Polícia Federal? Essa só serviu mesmo para ajudar o governo, ou melhor, o candidato do governo FHC à própria sucessão. Ou alguém esqueceu que a PF só incomodou políticos da oposição durante a era tucana e que seu maior feito foi em 2002, quando destruiu a candidatura de Roseana Sarney para ajudar o candidato governista, José Serra?

FHC esbofeteou a nação ao comparar a omissão criminosa dos órgãos de controle de seu governo (no que tangia a investigá-lo) com a atuação deles hoje. E esse crime foi cometido com o concurso de praticamente toda a grande imprensa, que não só fechou os olhos para a corrupção da era tucana como levantou escândalos só contra a oposição petista.