sábado, 28 de setembro de 2013

OPORTUNISMO: SEM PARTIDO, MARINA TERÁ CONVITE PARA VICE DE AÉCIO


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Dilma sobe a 38% e Marina cai para 16% (Aécio já era), diz pesquisa Ibope

Presidente abre vantagem de 22 pontos sobre a ex-senadora, segunda colocada no levantamento

A presidente Dilma Rousseff subiu oito pontos em dois meses e passou de 30% para 38% nas intenções de voto, segundo pesquisa Ibope, em parceria com o jornal O Estado de S. Paulo, divulgada nesta quinta-feira (26). A ex-senadora Marina Silva teve queda de 22% para 16%. Com isso, Dilma abre vantagem de 22 pontos sobre a segunda colocada.
Antonio Cruz/ABr
Dilma recuperou parte do eleitorado perdido após as manifestações, segundo pesquisa
O cenário inclui o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que oscilou de 13% para 11%, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que passou de 5% para 4%. Brancos e nulos somam 15% e 16% não souberam responder. Em um cenário com José Serra, pouco muda para Dilma e o tucano aparece com 12% das intenções de voto.
Em março, a presidente chegou a 58% das intenções de voto e despencou para 30% em julho após as manifestações. Agora, Dilma recupera parte do eleitorado que perdeu.
A pesquisa foi feita entre os dias 12 e 16 de setembro, em todas as regiões o Brasil. Foram entrevistados 2.002 eleitores e a margem de erro máxima é de 2 pontos para mais ou para menos
http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2013-09-26/dilma-sobe-a-38-e-marina-cai-para-16-diz-pesquisa-ibope.html                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Torturados contam como religiões ajudaram ditadura

por Cristina Indio do Brasil
da Agência Brasil

Parte da Igreja Católica e de outras religiões  foi
conivente com a violência do regime militar
O golpe de 1964 no Brasil teve apoio de parcelas importantes das igrejas. Essa foi uma das
 conclusões da segunda série de depoimentos, na terça-feira (17), durante audiência pública
 da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e da Comissão Estadual da Verdade, na sede
 Caixa de Assistência dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro (Caarj), no prédio da
 Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Seccional Rio de Janeiro, no centro da capital 
fluminense. A educadora Letícia Cotrim, o pastor emérito presbiteriano Zwinglio Motta
 e o pastor luterano Mozzart Noronha relatam experiências que vivenciaram durante a 
ditadura militar.

Letícia ficou presa por 14 dias no Destacamento de Operações de Informações 
Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi)   uma semana no quartel da
Polícia Militar no centro do Rio e um mês e três dias em um quartel do Exército
em Petrópolis, na região serrana fluminense. Apesar de ter recebido apoio de
integrantes de destaque da Igreja Católica, como dom Aloísio Lorscheider, ela
disse que parte da igreja ficou omissa.

“Foram pessoas que nos ajudaram em uma hora de sofrimento. Eu tive isso, mas
 não quer dizer que a igreja era homogênea. Houve quem deu e quem não deu
apoio. Foi pedido por mim a dom Eugênio Sales, e dom Eugênio não deu apoio
 para falar com quem tinha me prendido, que eu tinha uma história na igreja. Eu
fui dada como uma pessoa subversiva e que não estava acontecendo nada comigo,
quando na verdade estava”, disse Letícia, que participou desde a adolescência do
 Movimento Ação Católica.

Zwinglio Motta chegou a ser expulso da Igreja Presbiteriana do Brasil por defender
questões contrárias às posições conservadoras da instituição. O pastor disse que foi
preso por ser irmão de Ivan Motta Dias, militante desaparecido político, e, de acordo
 com informações levantadas pela família, foi morto em um dos locais de tortura
 em Petrópolis. "A repressão queria saber onde estava ele. Tentava por todos os meios
 e não conseguia. Descobriu-me, alguém me delatou, e fui preso por isso”, declarou.

Para Zwinglio, o trabalho da comissão em apurar a atuação da igreja no período da
ditadura e no golpe de 1964 é importante para a história política do país. “Recuperar
 a memória é muito importante para que as gerações futuras tenham acesso ao que
 aconteceu para que isso não volte a se repetir”, disse o pastor emérito que depois,
junto com 80 religiosos, fundou a Igreja Presbiteriana Unida.

O pastor luterano Mozzart Noronha, que fez parte de um movimento de resistência
dentro das igrejas protestantes, também falou sobre a falta de apoio da instituição.
Ele disse que recebeu suporte apenas de pessoas envolvidas com o movimento ao
qual pertencia. “A igreja oficial não me deu nenhum apoio, mas aquela
 comprometida, que nós chamamos a do Cristo fora dos muros. Pessoas e
indivíduos, embora membros da igreja, mas não respondiam institucionalmente por
ela, essas pessoas nos deram apoio, não somente no tempo da nossa atuação
clandestina contra a ditadura, mas também fora do país”, declarou o pastor que
 precisou se mudar para a Europa.

O coordenador do Grupo de Trabalho Papel das Igrejas durante a Ditadura, na
Comissão Nacional da Verdade, Anivaldo Padilha, disse que os depoimentos
 confirmam que as igrejas tiveram postura contraditória, algo surpreendente porque
era de se esperar que tivessem uma posição clara contra a violação dos direitos
 humanos, a tortura, assassinatos e desaparecimentos forçados. E isso, segundo
 ele, não ocorreu. “Alguns setores importantes das igrejas apoiaram a ditadura e
 setores minoritários se opuseram à ditadura", destacou.

Para o professor de direitos humanos da Pontifícia Universidade Católica (PUC)
 e membro da Comissão Estadual da Verdade, João Dornelles, a participação
 das igrejas se modificou com o trabalho de integrantes que se opunham aos
 militares e desenvolveram trabalhos com movimentos sociais de atuação mais
política.

"Surgiu, a partir da Igreja Católica, uma série de instituições que passou a
 cumprir um papel de denúncia de violação de direitos humanos, e a própria
 CNBB [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil] se posicionando contra
a ditadura, principalmente no decorrer dos anos 1970, na luta pela anistia e libertação dos presos políticos, junto com igrejas presbiterianas e metodistas”, disse.


Leia mais em http://www.paulopes.com.br/2013/09/torturados-contam-como-religioes-ajudaram-ditadura.html#ixzz2fxaFY4bk
Paulopes informa que reprodução deste texto só poderá ser feita com o CRÉDITO e LINK da origem. 

José Saramago: Entra, encontraste a tua casa



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De Saramago para Pepe, Greta e Camões. Os cães de Saramago eram três. E os três, por essa ordem, tocaram um dia à sua porta. Cães que vieram corrigir um medo de infância na memória do escritor. Cães que, na realidade, são um único: o imaginário.



“Entra, encontraste a tua casa”

Por José Saramago


O cão é o melhor amigo do homem, Ensinaram-me isso nos tempos da velha instrução primária, com aulas de manhã e folga às quintas. O professor era um homem alto e calvo, grave na sua posição de diretor, mas amigo dos alunos e nada exagerado na disciplina. Punha muito empenho em questões de formação moral, e o cão era um dos seus grandes temas. Uma vez por mês, no mínimo, havia uma lição sentimental sobre as proezas do povo canino: “pilotos” abandonados que regressavam a casa do dono depois de percorrer centenas de quilómetros, abnegados “guadianas” que se lançavam à água para salvar crianças (“pagai o mal com o bem”) das quais, porventura, tinham recebido alguns maus-tratos. Enfim, ideias educativas de há cem anos.

Não me serviram de muito as lições do meu professor. Os cães que fui conhecendo ao longo da minha existência sempre fizeram gala de uma obstinada animadversão em relação a mim. Ou porque cheiravam o medo, ou porque os irritava a falta de jeito com que tentava dissimulá-lo, sempre houve entre os cães e eu, se não a guerra aberta de que só eu saía a perder, pelo menos uma relação de mútua e desconfiada reserva. Recordo com despeito, por exemplo, aquele chucho castanho que vinha a correr pela ruela estreita e sem proteção, arrastando atrás de si uma trela partida, e que, sem aviso, ou talvez por um qualquer gesto brusco que eu fiz, (“o cão só ataca se for provocado”), se é que não mostrei simplesmente temor (“nunca se deve fugir de um cão, é um animal nobre e não ataca pelas costas”), ferrou-me os dentes quando passou por mim e, depois de me arranhar as canelas, deixando-me a escorrer sangue, seguiu o seu caminho, abanando o rabo de pura alegria. Alguns anos mais tarde, andava eu a vaguear, como era meu hábito, pelos arredores da aldeia, entre árvores e canaviais, quando de repente me dou de caras com um cão. Conhecia-o de vista e da má fama que tinha, um gigante de raça indefinida e caráter avesso que não tolerava intrusos no seu território e se divertia quebrando a espinha em menos tempo do que leva a dizê-lo, qualquer bicho que lhe aparecesse pela frente. ((Tal como o chucho castanho, também ele não tinha estado nas aulas do meu professor). Ora bem, quis o acaso, ou a providência, que eu tivesse comigo uma cana grossa e comprida para me apoiar nas subidas e descidas da caminhada. Quando aquele fantasma me apareceu à frente, só tive tempo de levantar a cana num movimento instintivo, com a ponta a um palmo do focinho do malvado, e ali ficámos os dois durante não sei quanto minutos, o dragão aos saltos, fintando e grunhindo, simulando indiferença para depois voltar à carga, eu a suar de pavor, com a voz embargada na garganta, longe de qualquer socorro, abandonado ao negro destino.
Escapei. Por fim, o bruto cansou-se. Depois de me observar longamente e com minúcia, como se me tomasse as medidas, pareceu-lhe que eu não era digno da sua cólera. Dei meia volta e desapareceu num trompicar curto e desdenhoso, sem olhar para trás. Fui-me afastando devagar, às arrecuas, ainda a tremer, até que cheguei a casa e contei o sucedido a uma tia minha que não acreditou na história. Era tal a reputação do monstro que eu dizer que o tinha vencido com uma simples cana deve ter-lhe parecido a mais descarada das mentiras...

A partir de então, e crendo que assim seria para sempre, perdi a confiança na apregoada bondade dos cães, a tal de que o meu velho professor tinha sido um tão convicto propagandista.
Provavelmente nunca pensou que entre os cães e os homens não há grandes diferenças: uns são bons, outros maus, outros nem uma coisa nem outra. Perguntei-me algumas vezes que lição poderia ele dar-nos a respeito de certos canídeos que andam por aí, bem tratados, com pelo brilhante, pata forte e dente afiado, dotados de um profundo conhecimento da anatomia humana e dos modos mais eficazes de danificá-la. Ele que tanto gostava de nos explicar os complementos-circunstanciais-de-lugar, sem saber em que lides nos ia meter...

Passados muitos muitos anos, noutra terra, debaixo de outro céu, um cão apareceu à minha porta. Tinha fome e sede. Demos-lhe água e comida, e deixámo-lo. Voltou poucas horas depois e olhou para nós. Então dissemos-lhe: “Entra, encontraste a tua casa”. Não foi o único. Outros dois, cada um por seu lado, vieram perguntar se a casa também estava aberta para eles. Dissemos-lhes que sim. Chamam-se, por ordem, Pepe, Greta e Camões. São os nossos cães, e está tudo dito.

Não, não está tudo dito. Este homem que não se envergonha de confessar que tinha medo dos cães dedicou parte do seu trabalho de escritor a criar, a inventar, a modelar figuras de cão, como se, já que temia os outros, estivesse na sua mão corrigir os erros da natureza. Assim pôs no mundo da literatura o cão Constante de Levantado do chão, o cão do fio de lã azul da Jangada de pedra, o cão das lágrimas do Ensaio sobre a Cegueira. Esse sobre o qual eu disse que, se o que escrevi caísse no esquecimento, ao menos que de mim restasse a memória de ter dado vida a um cão em que palpitava o coração do melhor dos humanos...

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Apoio a Genoino; O dia em que Chico Buarque virou Geni

Do Portal Vermelho

Raras vezes se vê uma notícia perdida neste mundo de sobreinformação causar tamanha perplexidade. A informação da Rede Brasil Atual (RBA) de que o compositor e escritor Chico Buarque aderiu ao abaixo-assinado em defesa do deputado José Genoino, réu da Ação Penal 470, o mensalão, expôs na internet uma enxurrada de sentimentos que falam muito sobre como nós brasileiros enxergamos os políticos e desconfiamos do funcionamento das instituições democráticas – por consequência, da democracia em si.


Entre os quase 300 comentários feitos até quarta-feira (18) apenas em torno da reportagem da RBA, desconsiderando manifestações publicadas em outras páginas, xingamentos dominam, seguidos por elogios à atitude do cantor. Nas manifestações negativas reside o objeto digno de análise. Seria de se imaginar que a postura de Chico Buarque levasse a uma reflexão simples, banal: se ele está apoiando Genoino, não seria bom que eu tentasse entender o porquê?

O propósito da lista organizada por amigos do deputado não é outro que não esse: o de mostrar que, pelo respaldo social de que goza frente às acusações que recebe, o ex-presidente do PT talvez devesse ter recebido do Supremo Tribunal Federal (STF) outro tratamento. Sendo tarde para reverter a condenação, ao menos no todo, trata-se de um desagravo, na visão destes apoiadores, a alguém que recebeu uma pena injusta e que precisa ter sua honra resgatada.

Entre a reflexão e o linchamento, toma-se o caminho fácil das pedras nas mãos.

Os comentários começam com perplexidade: “Isso não é possível.. Um cara com o intelecto do Chico não faria uma bobagem dessa...”

Transformam o compositor em vítima da desinformação: “Ô Chico, até tu entrou nessa. Espero que sua fama de "pé frio" se confirme. Fala sério!”

Partem para a difamação: “Pilantra. O pai fundou o PT, a irmã tinha cargo... entre outras coisas. A falsa esquerda que se deu bem na ditadura.”

Chegam ao melhor “eu já sabia” de que se tem notícia: “Lógico! Ele foi um dos apoiadores dessa corja. Gostava muito do Chico. Hoje não gosto mais.”

Vão à explicação sociológica: “O cara é talentoso, mas com certeza o sangue burguês fala mais alto nessas horas. Nenhuma decepção!”

E apelam à antropologia e à biologia: “Ótimo compositor, mas péssimo ser humano. Eu já conhecia esta faceta quando mostrou-se contra a ditadura na época. Nos livramos da ditadura e ganhamos José Dirceu, Dilma, Lula, Delubio, José Genoino, etc.... Ou seja, trocamos 6 por 15 dúzias”.

Ao observar o comportamento exposto em redes sociais, sempre é bom manter um pé atrás, mas, neste caso, conversas à mesa do bar, no almoço de domingo e nos ônibus da vida estão aí para mostrar que os comentários colocados neste microcosmo não estão isolados neste mundo. Não é de hoje que se debate sobre a tendência de generalizar a política – ou melhor, os políticos, sempre entendidos como aproveitadores profissionais, incapazes de ter contato com a realidade e insensíveis. Embora a visão não seja desprovida de fundamentos, a extrapolação desta visão é que é um problema, com impacto direto em nossa vida democrática.

Não é de se surpreender com o linchamento porque os comentários sobre a posição do compositor nada mais fazem que reproduzir o senso comum acumulado ao longo de décadas, e contemporaneamente tornados públicos de forma instantânea pela internet. É mais fácil andar com a manada do que parar para pensar.

O que Chico fez foi emprestar seu prestígio para promover um convite a seus admiradores: vamos refletir se a chamada “opinião pública” está sendo justa com o deputado? A lista pró-Genoino tem apoios como os do escritor Fernando Morais, do cineasta Toni Venturi, da psicanalista Maria Rita Kehl. Muito à esquerda? Citemos Nelson Jobim, ex-ministro do STF e dos governos FHC e Lula.
A propósito, a carta intitulada "Nós estamos aqui" ultrapassa a casa da 7 mil assinaturas, entre elas as do jornalista Juca Kfouri e da cantora Beth Carvalho.

São chamamentos à reflexão. Não é preciso concordar com os apoiadores do deputado petista, mas não é construtivo, pessoal e socialmente, rasgar o convite sem lê-lo. Dá trabalho, é verdade, formar uma opinião sólida e consistente, e às vezes é preciso perder amizades para defendê-la – Chico que o diga. Mas é melhor para a democracia do que o senso comum. A ojeriza pela vida política, senso comum, é o que facilita o sequestro da mesma por poucos grupos econômicos que conseguem ditar as ordens no país e no mundo.

Isso leva a uma questão maior, que é a vulnerabilidade de nossa democracia. Uma população que acredita piamente em uma história, sem contestá-la, é uma população fácil de dominar. Assim como o admirador de Chico não deve confiar de olhos fechados no que ele está a dizer, tampouco deve ter como verdade inconteste aquilo que é divulgado por uma emissora que apoiou um golpe e uma ditadura, que manipulou uma eleição presidencial e que de lá para cá desestabilizou outras tantas, sem entrar na seara econômica, nas manifestações de junho e nos direitos sociais.

Chico paga o preço de ser bem resolvido: ele é feito pra apanhar, ele é bom de cuspir, mas não dá seu prestígio pra qualquer um, maldito Chico. Frente à perplexidade, é mais fácil culpar o outro do que tentar entender se estamos errando ou não. O que preocupa não é essa nossa Geni, calejada pela vida, rica e de reputação – e que não vai morrer por um linchamento de redes sociais. Preocupa saber que todos os dias milhares de Genis sofrem com essa linha de intolerância ao outro, tão natural na sociedade brasileira: ateus, prostitutas, presidiários, gays etc. O caminho em que as pedras ficam no chão é árduo. Mas é melhor para todo mundo.


Por João Peres, na Rede Brasil Atual



http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=224834&id_secao=1

domingo, 22 de setembro de 2013

Ghost fala de satanismo e catolicismo no Rock in Rio

por Jotabê Medeiros/Agência Estado

Surpresa do heavy metal até agora no Rock in Rio, o grupo Ghost B.C., da Suécia, alia um senso de teatralidade com grande conhecimento do rock clássico. Eles são cinco, mas ninguém sabe quem é quem. O líder é o cantor, Papa Emeritus The Second (que se veste como um papa do Além). Os outros músicos, extraordinários, são chamados apenas de “almas penadas sem nome”. Vestem uma fantasia meio bizarra – parecem Darth Vaders de missa satânica.
Divulgação/AEGhost B.C., da Suécia, alia senso de teatralidade com grande conhecimento do rock clássicoGhost B.C., da Suécia, alia senso de teatralidade com grande conhecimento do rock clássico

O Estado conversou com exclusividade com uma dessas almas penadas, no camarim, logo após seu show no Palco Mundo do Rock in Rio. O músico reclamou do extravio de bagagens na turnê, entre Europa e México, que os fez inclusive pensar em cancelar apresentações. Só não o fizeram porque queriam muito vir à América do Sul e todos os promotores da região tinham sido muito legais com a banda. O papa, confidenciou Nameless Ghoul, estava já descansando porque sua rotina tem sido dura (na verdade, pode ter sido o próprio papa a falar, porque eles costumam inverter os papéis, segundo sua empresária).

“Nosso principal inimigo são as religiões lineares. Elas são três, essencialmente: católica, judaica e muçulmana. Mas, como fui criado na Europa, como cristão, sei o peso que tem uma escolha estática religiosa. Não sou judeu, não sou muçulmano, então também essa é a explicação pela qual o alvo é a religião católica. Das três religiões, é a que tem uma tradição muito forte, seus dogmas são claros e bem documentados, assim como as blasfêmias. Mas é preciso lembrar que, no fim das contas, o que fazemos é entretenimento”, disse Nameless Ghoul.


O músico lembrou que, há dois anos, eles estavam dando os primeiros passos no sentido de se estabelecerem como uma banda, e que subitamente o conceito que criaram, de banda sem rosto, ficou mais e mais conhecido. Ele acredita que os passos seguintes poderão levá-los a se aproximar da superfície”, ou seja: abandonar as máscaras. “A gente se expõe todo dia. Todo dia fãs nos reconhecem. Não usamos máscaras porque somos tímidos ou porque não gostamos de falar sobre alguma coisa”, afirmou.
Ele também falou de músicas que contém satanismo, e disse que a banda já sofreu com perseguições de grupos religiosos e da própria igreja católica por sua abordagem.  A TV Estadão exibe amanhã a conversa na íntegra.

Greve nacional dos bancários cresce e mostra força da categoria



Do Blog Bancários Classistas

Bancários Classistas, do núcleo de base do Rio de Janeiro. disposição de luta
Em seu segundo dia, a greve nacional deflagrada pelos bancários, na última quinta-feira (19), continua forte e mobilizada.  Pelo menos 7.282 agências e centros administrativos de bancos públicos e privados permanecem fechados em 26 estados e no Distrito Federal nesta sexta-feira (20).
 
São 1.013 unidades paralisadas a mais que no primeiro dia da greve do ano passado (5.132), um crescimento de 19,73%. Os bancários querem 11,93% de reajuste (inflação mais 5% de aumento real), valorização do piso salarial, PLR maior, mais empregos e fim da rotatividade, melhores condições de saúde e trabalho, mais segurança nas agências e igualdade de oportunidades.
 

Em Chapecó-SC, onde os Bancários Classistas dirigem o sindicato,a greve é de quase 100%
Um estudo do Dieese com base no Relatório Social da Febraban revela que a distribuição do valor adicionado nos bancos entre acionistas, governo (impostos) e trabalhadores vem se alterando, aumentando a fatia do capital e reduzindo a participação do trabalho.

A concentração de renda pode ainda ser medida por outro ângulo. Segundo trabalho do Dieese com base no Censo de 2010, os 10% mais ricos no Brasil têm renda média mensal 39 vezes maior que a dos 10% mais pobres. Ou seja, um brasileiro que está na faixa mais pobre da população teria que reunir tudo o que ganha durante 3,3 anos para chegar à renda média mensal de um integrante do grupo mais rico.
Em Sergipe, sindicato filiado à CTB mobilizando toda a categoria
No sistema financeiro a concentração é ainda maior. No Itaú, por exemplo, os executivos da diretoria recebem em média R$ 9,05 milhões por ano, o que representa 191,82 vezes o que ganha o bancário do piso. No Santander, os diretores embolsam R$ 5,6 milhões, o que significa 119,25 vezes o salário do caixa. E no Bradesco, que paga R$ 5 milhões anuais a seus executivos, a diferença é de 106,09 vezes.

Confira abaixo um balanço parcial da greve:

Em Campinas, interior de SP, foram fechadas 158 agências. Em torno de 77 agências de bancos públicos e privados na área central e bairros; em 28 cidades da base do Sindicato, 81 agências de bancos públicos (Banco do Brasil e Caixa Federal, mais uma agência do Santander em Cabreúva). Em relação ao primeiro dia, quando fecharam 142 agências em Campinas e 24 cidades da base, houve adesão de mais 16 unidades de trabalho e mais quatro cidades.

Para o presidente do Sindicato dos Bancários de Campinas, Jeferson Boava, a greve começou forte e vai expandir ainda mais. "A adesão em dois dias sinaliza que a greve tende a crescer ainda mais na próxima semana. Uma tendência verificada em todo o país. A resposta da categoria está à altura da provocação da Fenaban, que propôs apenas a reposição da inflação (6,1%), seu aumento real, e não valorizou a PLR, o piso e não aceitou melhorar as condições de trabalho, que permanecem gerando insatisfação diante da cobrança de metas abusivas e assédio moral", salienta Jeferson.
Bancários Classistas do Ceará garantem a força da greve, em bancos públicos e privados
Em Marília, também em SP, a greve que alcançou 70% de adesão, contou com ao apoio da população. “Eu acho que eles estão certo de realizar greve. Já que não são valorizados como profissional precisam ir em busca de seus direitos. A população pode utilizar os serviços dos caixas eletrônicos sem nenhum problema”, afirmou a auxiliar de serviços gerais, Mara Lúcia dos Santos, 48, que não sentiu problemas na hora que precisou dos serviços bancários. Ela utilizou o caixa eletrônico. A cidade conta com 40 agências bancárias que reúnem 600 funcionários.

No Rio de Janeiro, a greve dos bancários não ficou restrita às agências da capital fluminense. Ela também parou as atividades bancárias de outras cidades fluminenses. De acordo com um levantamento da Federação dos Bancários do Rio de Janeiro cerca de mil agências, das regiões metropolitana, serrana, dos Lagos, norte e da Baixada Fluminense não abriram.

Em Rondônia, o segundo dia de greve nacional dos bancários em Rondônia, a exemplo do que vem ocorrendo em todo o país, foi marcado pelo fortalecimento do movimento com mais agências fechadas. Se no primeiro dia 82 das 130 agências no Estado estavam fechadas, agora nesta sexta-feira, 20, o número pulou para 94.

No Espírito Santo, o número de agências fechadas subiu de 170 para 198. Dessas, 66 são de municípios do interior. Em Vitória, 34 agências da Caixa e sete departamentos estão paralisados. No Banco do Brasil, a quantidade de agências fechadas é a mesma, além do prédio da Pio XII, onde funcionam três agências e departamentos da instituição financeira. No interior, o total de agências da Caixa fechadas é 28.

Em Chapecó, paralisaram as agências do Banco do Brasil: Centro, Catedral, 25 de agosto e São Cristóvão. Da Caixa Econômica Federal: agências Chapecó, Desbravador, Industrial, Condá, PABs e Gidur, Geret e Super. O Banco do Brasil de São Lourenço também paralisou no primeiro dia. 

Aderiram à greve desde o primeiro dia os sindicatos de Chapecó, São Miguel do Oeste, Joaçaba, Florianópolis, Criciúma, Balneário Camboriu, Brusque, Itajaí, Base de Joinville – Jaraguá do Sul, Rio Negrinho e São Bento do Sul.
Na Bahia, o sindicato filiado à CTB garante mobilização e ampliação da greve
Os bancários de Concórdia e Blumenau aderem à greve a partir da próxima segunda-feira, dia 23. Estão em estado de greve e realizam novas assembleias dia 23 para deliberar sobre a adesão os sindicatos de Caçador, Joinville, Lages, e Tubarão. O sindicato de Rio do Sul fará assembleia dia 24 e o de Canoinhas, dia 25. 

Em Sergipe, a paralisação atingiu 148 agências bancárias estatais e privadas. O presidente do Sindicato dos Bancários de Sergipe (Seeb/SE), José Souza festeja o resultado. “Este ano, com mais de 90% das agências fechadas na capital sergipana, conseguimos uma maior adesão dos bancários logo no primeiro dia da greve, dia 19”, contabiliza José Souza. 

Souza destaca que Sergipe seguiu o percentual da adesão nacional à greve, com cerca de 20% a mais do que a de 2012. "No País, no primeiro dia de greve deste ano, foram paralisadas 6.145 unidades. Uma adesão de 1.013 agências a mais do que no primeiro dia da greve do ano passado (5.132 agências): um crescimento de 19,73%”, afirma.

Na Bahia, 613 agências bancárias foram fechadas. Da base do Sindicato da Bahia, 292 unidades amanheceram de portas fechadas. Das 295 agências de Salvador, 240 não abriram. Os funcionários dos bancos privados, foram responsáveis pelo fechamento de 148 agências. No Itaú, 49 unidades pararam. Em seguida surgem Bradesco (48), Santander (32), HSBC (12), Citibank (3) e Safra (2). Mercantil e Banrisul fecharam uma, cada. Os bancos estatais se destacam e ajudam a aumentar a lista de unidades sem atendimento, ao todo 144. BB lidera com 70 agências fechadas. Caixa e BNB têm 56 e 17, respectivamente.

Em Vitória da Conquista, a adesão ao movimento foi de 100% nas 21 agências da região. Nas 46 cidades da base territorial,53 agências estiveram paralisadas, com 865 bancários de braços cruzadosaté que uma proposta decente seja apresentada. "O primeiro dia de greve começou com força na Bahia Em 2012, 380 foram fechadas na abertura da greve. Neste ano, bancários de 543 agências responderam que querem ser tratados com respeito”, explica o presidente do Sindicato, Delson Coêlho.

Com esse balanço, a categoria bancária mostra porque é uma das mais organizadas do movimento sindical. O número de adesão, bastante superior ao do ano passado, confirma que a categoria não está de brincadeira e entende que a paralisação por tempo indeterminado é a última instância para sensibilizar os bancários.
 
Na avaliação do presidente da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe, Emanoel Souza: "a greve neste ano está mais sólida do que a de 2012. Com isto, pretendemos pressionar os banqueiros a apresentarem uma proposta digna". A expectativa é que mobilização aumente a cada dia.

Na última rodada de negociação, os bancos ofereceram apenas 6,1% de reajuste salarial, índice que não repõe nem a inflação do período de 6,6%. A proposta da Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) não inclui aumento real e valorização do piso, além de não responder as reivindicações sobre emprego, saúde e condições de trabalho, segurança e igualdade de oportunidades.

Os bancários reivindicam:

Reajuste salarial de 11,93% (5% de aumento real além da inflação)

PLR: três salários mais R$ 5.553,15.

Piso: R$ 2.860,21 (salário mínimo do Dieese).

Auxílios alimentação, refeição, 13ª cesta e auxílio-creche/babá: R$ 678 ao mês para cada (salário mínimo nacional).

Melhores condições de trabalho, com o fim das metas abusivas e do assédio moral que adoece os bancários.

Emprego: fim das demissões, mais contratações, aumento da inclusão bancária, combate às terceirizações, especialmente ao PL 4330 que precariza as condições de trabalho, além da aplicação da Convenção 158 da OIT, que proíbe as dispensas imotivadas.

Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) para todos os bancários.

Auxílio-educação: pagamento para graduação e pós-graduação.

Prevenção contra assaltos e sequestros, com o fim da guarda das chaves de cofres e agências por bancários.

Igualdade de oportunidades para bancários e bancárias, com a contratação de pelo menos 20% de negros e negras.

Dirceu foi condenado sem provas, diz Ives Gandra

Dirceu foi condenado sem provas, diz Ives Gandra 
 
MÔNICA BERGAMO

COLUNISTA DA FOLHA 

O ex-ministro José Dirceu foi condenado sem provas. A teoria do domínio do fato foi adotada de forma inédita pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para condená-lo. 

Sua adoção traz uma insegurança jurídica "monumental": a partir de agora, mesmo um inocente pode ser condenado com base apenas em presunções e indícios. 

Quem diz isso não é um petista fiel ao principal réu do mensalão. E sim o jurista Ives Gandra Martins, 78, que se situa no polo oposto do espectro político e divergiu "sempre e muito" de Dirceu. 

Com 56 anos de advocacia e dezenas de livros publicados, inclusive em parceria com alguns ministros do STF, Gandra, professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra, diz que o julgamento do escândalo do mensalão tem dois lados. 
Um deles é positivo: abre a expectativa de "um novo país" em que políticos corruptos seriam punidos. 

O outro é ruim e perigoso pois a corte teria abandonado o princípio fundamental de que a dúvida deve sempre favorecer o réu. 

* 

Folha - O senhor já falou que o julgamento teve um lado bom e um lado ruim. Vamos começar pelo primeiro.

Ives Gandra Martins - O povo tem um desconforto enorme. Acha que todos os políticos são corruptos e que a impunidade reina em todas as esferas de governo. O mensalão como que abriu uma janela em um ambiente fechado para entrar o ar novo, em um novo país em que haveria a punição dos que praticam crimes. Esse é o lado indiscutivelmente positivo. Do ponto de vista jurídico, eu não aceito a teoria do domínio do fato. 

Por quê?

Com ela, eu passo a trabalhar com indícios e presunções. Eu não busco a verdade material. Você tem pessoas que trabalham com você. Uma delas comete um crime e o atribui a você. E você não sabe de nada. Não há nenhuma prova senão o depoimento dela -e basta um só depoimento. Como você é a chefe dela, pela teoria do domínio do fato, está condenada, você deveria saber. Todos os executivos brasileiros correm agora esse risco. É uma insegurança jurídica monumental. Como um velho advogado, com 56 anos de advocacia, isso me preocupa. A teoria que sempre prevaleceu no Supremo foi a do "in dubio pro reo" [a dúvida favorece o réu]. 

Houve uma mudança nesse julgamento?

O domínio do fato é novidade absoluta no Supremo. Nunca houve essa teoria. Foi inventada, tiraram de um autor alemão, mas também na Alemanha ela não é aplicada. E foi com base nela que condenaram José Dirceu como chefe de quadrilha [do mensalão]. Aliás, pela teoria do domínio do fato, o maior beneficiário era o presidente Lula, o que vale dizer que se trouxe a teoria pela metade. 

O domínio do fato e o "in dubio pro reo" são excludentes?
Não há possibilidade de convivência. Se eu tiver a prova material do crime, eu não preciso da teoria do domínio do fato [para condenar]. 

E no caso do mensalão?

Eu li todo o processo sobre o José Dirceu, ele me mandou. Nós nos conhecemos desde os tempos em que debatíamos no programa do Ferreira Netto na TV [na década de 1980]. Eu me dou bem com o Zé, apesar de termos divergido sempre e muito. Não há provas contra ele. Nos embargos infringentes, o Dirceu dificilmente vai ser condenado pelo crime de quadrilha. 

O "in dubio pro reo" não serviu historicamente para justificar a impunidade?

Facilita a impunidade se você não conseguir provar, indiscutivelmente. O Ministério Público e a polícia têm que ter solidez na acusação. É mais difícil. Mas eles têm instrumentos para isso. Agora, num regime democrático, evita muitas injustiças diante do poder. A Constituição assegura a ampla defesa -ampla é adjetivo de uma densidade impressionante. Todos pensam que o processo penal é a defesa da sociedade. Não. Ele objetiva fundamentalmente a defesa do acusado. 

E a sociedade?

A sociedade já está se defendendo tendo todo o seu aparelho para condenar. O que nós temos que ter no processo democrático é o direito do acusado de se defender. Ou a sociedade faria justiça pelas próprias mãos. 

Discutiu-se muito nos últimos dias sobre o clamor popular e a pressão da mídia sobre o STF. O que pensa disso?
O ministro Marco Aurélio [Mello] deu a entender, no voto dele [contra os embargos infringentes], que houve essa pressão. Mas o próprio Marco Aurélio nunca deu atenção à mídia. O [ministro] Gilmar Mendes nunca deu atenção à mídia, sempre votou como quis. 

Eles estão preocupados, na verdade, com a reação da sociedade. Nesse caso se discute pela primeira vez no Brasil, em profundidade, se os políticos desonestos devem ou não ser punidos. O fato de ter juntado 40 réus e se transformado num caso político tornou o julgamento paradigmático: vamos ou não entrar em uma nova era? E o Supremo sentiu o peso da decisão. Tudo isso influenciou para a adoção da teoria do domínio do fato. 

Algum ministro pode ter votado pressionado?

Normalmente, eles não deveriam. Eu não saberia dizer. Teria que perguntar a cada um. É possível. Eu diria que indiscutivelmente, graças à televisão, o Supremo foi colocado numa posição de muitas vezes representar tudo o que a sociedade quer ou o que ela não quer. Eles estão na verdade é na berlinda. A televisão põe o Supremo na berlinda. Mas eu creio que cada um deles decidiu de acordo com as suas convicções pessoais, em que pode ter entrado inclusive convicções também de natureza política. 

Foi um julgamento político?

Pode ter alguma conotação política. Aliás o Marco Aurélio deu bem essa conotação. E o Gilmar também. Disse que esse é um caso que abala a estrutura da política. Os tribunais do mundo inteiro são cortes políticas também, no sentido de manter a estabilidade das instituições. A função da Suprema Corte é menos fazer justiça e mais dar essa estabilidade. Todos os ministros têm suas posições, políticas inclusive. 

Isso conta na hora em que eles vão julgar?

Conta. Como nos EUA conta. Mas, na prática, os ministros estão sempre acobertados pelo direito. São todos grandes juristas. 
Como o senhor vê a atuação do ministro Ricardo Lewandowski, relator do caso?

Ele ficou exatamente no direito e foi sacrificado por isso na população. Mas foi mantendo a postura, com tranquilidade e integridade. Na comunidade jurídica, continua bem visto, como um homem com a coragem de ter enfrentado tudo sozinho. 
E Joaquim Barbosa?

É extremamente culto. No tribunal, é duro e às vezes indelicado com os colegas. Até o governo Lula, os ministros tinham debates duros, mas extremamente respeitosos. Agora, não. Mudou um pouco o estilo. Houve uma mudança de perfil. 

Em que sentido?

Sempre houve, em outros governos, um intervalo de três a quatro anos entre a nomeação dos ministros. Os novos se adaptavam à tradição do Supremo. Na era Lula, nove se aposentaram e foram substituídos. A mudança foi rápida. O Supremo tinha uma tradição que era seguida. Agora, são 11 unidades decidindo individualmente. 

E que tradição foi quebrada?

A tradição, por exemplo, de nunca invadir as competências [de outro poder] não existe mais. O STF virou um legislador ativo. Pelo artigo 49, inciso 11, da Constituição, Congresso pode anular decisões do Supremo. E, se houver um conflito entre os poderes, o Congresso pode chamar as Forças Armadas. É um risco que tem que ser evitado. Pela tradição, num julgamento como o do mensalão, eles julgariam em função do "in dubio pro reo". Pode ser que reflua e que o Supremo volte a ser como era antigamente. É possível que, para outros [julgamentos], voltem a adotar a teoria do "in dubio pro reo". 

Por que o senhor acha isso?

Porque a teoria do domínio do fato traz insegurança para todo mundo.


MÔNICA BERGAMO  COLUNISTA DA FOLHA 


O ex-ministro José Dirceu foi condenado sem provas. A teoria do domínio do fato foi adotada de forma inédita pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para condená-lo.

Sua adoção traz uma insegurança jurídica "monumental": a partir de agora, mesmo um inocente pode ser condenado com base apenas em presunções e indícios.

Quem diz isso não é um petista fiel ao principal réu do mensalão. E sim o jurista Ives Gandra Martins, 78, que se situa no polo oposto do espectro político e divergiu "sempre e muito" de Dirceu.

Com 56 anos de advocacia e dezenas de livros publicados, inclusive em parceria com alguns ministros do STF, Gandra, professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra, diz que o julgamento do escândalo do mensalão tem dois lados.
Um deles é positivo: abre a expectativa de "um novo país" em que políticos corruptos seriam punidos.

O outro é ruim e perigoso pois a corte teria abandonado o princípio fundamental de que a dúvida deve sempre favorecer o réu.

*

Folha - O senhor já falou que o julgamento teve um lado bom e um lado ruim. Vamos começar pelo primeiro.

Ives Gandra Martins - O povo tem um desconforto enorme. Acha que todos os políticos são corruptos e que a impunidade reina em todas as esferas de governo. O mensalão como que abriu uma janela em um ambiente fechado para entrar o ar novo, em um novo país em que haveria a punição dos que praticam crimes. Esse é o lado indiscutivelmente positivo. Do ponto de vista jurídico, eu não aceito a teoria do domínio do fato.

Por quê?

Com ela, eu passo a trabalhar com indícios e presunções. Eu não busco a verdade material. Você tem pessoas que trabalham com você. Uma delas comete um crime e o atribui a você. E você não sabe de nada. Não há nenhuma prova senão o depoimento dela -e basta um só depoimento. Como você é a chefe dela, pela teoria do domínio do fato, está condenada, você deveria saber. Todos os executivos brasileiros correm agora esse risco. É uma insegurança jurídica monumental. Como um velho advogado, com 56 anos de advocacia, isso me preocupa. A teoria que sempre prevaleceu no Supremo foi a do "in dubio pro reo" [a dúvida favorece o réu].

Houve uma mudança nesse julgamento?

O domínio do fato é novidade absoluta no Supremo. Nunca houve essa teoria. Foi inventada, tiraram de um autor alemão, mas também na Alemanha ela não é aplicada. E foi com base nela que condenaram José Dirceu como chefe de quadrilha [do mensalão]. Aliás, pela teoria do domínio do fato, o maior beneficiário era o presidente Lula, o que vale dizer que se trouxe a teoria pela metade.

O domínio do fato e o "in dubio pro reo" são excludentes?
Não há possibilidade de convivência. Se eu tiver a prova material do crime, eu não preciso da teoria do domínio do fato [para condenar].

E no caso do mensalão?

Eu li todo o processo sobre o José Dirceu, ele me mandou. Nós nos conhecemos desde os tempos em que debatíamos no programa do Ferreira Netto na TV [na década de 1980]. Eu me dou bem com o Zé, apesar de termos divergido sempre e muito. Não há provas contra ele. Nos embargos infringentes, o Dirceu dificilmente vai ser condenado pelo crime de quadrilha.

O "in dubio pro reo" não serviu historicamente para justificar a impunidade?

Facilita a impunidade se você não conseguir provar, indiscutivelmente. O Ministério Público e a polícia têm que ter solidez na acusação. É mais difícil. Mas eles têm instrumentos para isso. Agora, num regime democrático, evita muitas injustiças diante do poder. A Constituição assegura a ampla defesa -ampla é adjetivo de uma densidade impressionante. Todos pensam que o processo penal é a defesa da sociedade. Não. Ele objetiva fundamentalmente a defesa do acusado.

E a sociedade?

A sociedade já está se defendendo tendo todo o seu aparelho para condenar. O que nós temos que ter no processo democrático é o direito do acusado de se defender. Ou a sociedade faria justiça pelas próprias mãos.

Discutiu-se muito nos últimos dias sobre o clamor popular e a pressão da mídia sobre o STF. O que pensa disso?
O ministro Marco Aurélio [Mello] deu a entender, no voto dele [contra os embargos infringentes], que houve essa pressão. Mas o próprio Marco Aurélio nunca deu atenção à mídia. O [ministro] Gilmar Mendes nunca deu atenção à mídia, sempre votou como quis.

Eles estão preocupados, na verdade, com a reação da sociedade. Nesse caso se discute pela primeira vez no Brasil, em profundidade, se os políticos desonestos devem ou não ser punidos. O fato de ter juntado 40 réus e se transformado num caso político tornou o julgamento paradigmático: vamos ou não entrar em uma nova era? E o Supremo sentiu o peso da decisão. Tudo isso influenciou para a adoção da teoria do domínio do fato.

Algum ministro pode ter votado pressionado?

Normalmente, eles não deveriam. Eu não saberia dizer. Teria que perguntar a cada um. É possível. Eu diria que indiscutivelmente, graças à televisão, o Supremo foi colocado numa posição de muitas vezes representar tudo o que a sociedade quer ou o que ela não quer. Eles estão na verdade é na berlinda. A televisão põe o Supremo na berlinda. Mas eu creio que cada um deles decidiu de acordo com as suas convicções pessoais, em que pode ter entrado inclusive convicções também de natureza política.

Foi um julgamento político?

Pode ter alguma conotação política. Aliás o Marco Aurélio deu bem essa conotação. E o Gilmar também. Disse que esse é um caso que abala a estrutura da política. Os tribunais do mundo inteiro são cortes políticas também, no sentido de manter a estabilidade das instituições. A função da Suprema Corte é menos fazer justiça e mais dar essa estabilidade. Todos os ministros têm suas posições, políticas inclusive.

Isso conta na hora em que eles vão julgar?

Conta. Como nos EUA conta. Mas, na prática, os ministros estão sempre acobertados pelo direito. São todos grandes juristas.
Como o senhor vê a atuação do ministro Ricardo Lewandowski, relator do caso?

Ele ficou exatamente no direito e foi sacrificado por isso na população. Mas foi mantendo a postura, com tranquilidade e integridade. Na comunidade jurídica, continua bem visto, como um homem com a coragem de ter enfrentado tudo sozinho.
E Joaquim Barbosa?

É extremamente culto. No tribunal, é duro e às vezes indelicado com os colegas. Até o governo Lula, os ministros tinham debates duros, mas extremamente respeitosos. Agora, não. Mudou um pouco o estilo. Houve uma mudança de perfil.

Em que sentido?

Sempre houve, em outros governos, um intervalo de três a quatro anos entre a nomeação dos ministros. Os novos se adaptavam à tradição do Supremo. Na era Lula, nove se aposentaram e foram substituídos. A mudança foi rápida. O Supremo tinha uma tradição que era seguida. Agora, são 11 unidades decidindo individualmente.

E que tradição foi quebrada?

A tradição, por exemplo, de nunca invadir as competências [de outro poder] não existe mais. O STF virou um legislador ativo. Pelo artigo 49, inciso 11, da Constituição, Congresso pode anular decisões do Supremo. E, se houver um conflito entre os poderes, o Congresso pode chamar as Forças Armadas. É um risco que tem que ser evitado. Pela tradição, num julgamento como o do mensalão, eles julgariam em função do "in dubio pro reo". Pode ser que reflua e que o Supremo volte a ser como era antigamente. É possível que, para outros [julgamentos], voltem a adotar a teoria do "in dubio pro reo".

Por que o senhor acha isso?

Porque a teoria do domínio do fato traz insegurança para todo mundo.