sábado, 9 de junho de 2012

José Saramago: O Fator Deus







José Saramago

Algures na Índia. Uma fila de peças de artilharia em posição. Atado à boca de cada uma delas há um homem. No primeiro plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a mais obtusa das imaginações poderá “ver” cabeças e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados. Os homens eram rebeldes. Algures em Angola. Dois soldados portugueses levantam pelos braços um negro que talvez não esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, desta vez há uma segunda fotografia, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro. Algures em Israel. Enquanto alguns soldados israelitas imobilizam um palestino, outro militar parte-lhe à martelada os ossos da mão direita. O palestino tinha atirado pedras. Estados Unidos da América do Norte, cidade de Nova York. Dois aviões comerciais norte-americanos, sequestrados por terroristas relacionados com o integrismo islâmico lançam-se contra as torres do World Trade Center e deitam-nas abaixo. Pelo mesmo processo um terceiro avião causa danos enormes no edifício do Pentágono, sede do poder bélico dos States. Os mortos, soterrados nos escombros, reduzidos a migalhas, volatilizados, contam-se por milhares.



As fotografias da Índia, de Angola e de Israel atiram-nos com o horror à cara, as vítimas são-nos mostradas no próprio instante da tortura, da agônica expectativa, da morte ignóbil. Em Nova York tudo pareceu irreal ao princípio, episódio repetido e sem novidade de mais uma catástrofe cinematográfica, realmente empolgante pelo grau de ilusão conseguido pelo engenheiro de efeitos especiais, mais limpo de estertores, de jorros de sangue, de carnes esmagadas, de ossos triturados, de merda. O horror, agachado como um animal imundo, esperou que saíssemos da estupefação para nos saltar à garganta. O horror disse pela primeira vez “aqui estou” quando aquelas pessoas saltaram para o vazio como se tivessem acabado de escolher uma morte que fosse sua. Agora o horror aparecerá a cada instante ao remover-se uma pedra, um pedaço de parede, uma chapa de alumínio retorcida, e será uma cabeça irreconhecível, um braço, uma perna, um abdômen desfeito, um tórax espalmado. Mas até mesmo isto é repetitivo e monótono, de certo modo já conhecido pelas imagens que nos chegaram daquele Ruanda-de-um-milhão-de-mortos, daquele Vietnã cozido a napalme, daquelas execuções em estádios cheios de gente, daqueles linchamentos e espancamentos daqueles soldados iraquianos sepultados vivos debaixo de toneladas de areia, daquelas bombas atômicas que arrasaram e calcinaram Hiroshima e Nagasaki, daqueles crematórios nazistas a vomitar cinzas, daqueles caminhões a despejar cadáveres como se de lixo se tratasse. De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus. Já foi dito que as religiões, todas elas, sem exceção, nunca serviram para aproximar e congraçar os homens, que, pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais que constituem um dos mais tenebrosos capítulos da miserável história humana. Ao menos em sinal de respeito pela vida, devíamos ter a coragem de proclamar em todas as circunstâncias esta verdade evidente e demonstrável, mas a maioria dos crentes de qualquer religião não só fingem ignorá-lo, como se levantam iracundos e intolerantes contra aqueles para quem Deus não é mais que um nome, o nome que, por medo de morrer, lhe pusemos um dia e que viria a travar-nos o passo para uma humanização real. Em troca prometeram-nos paraísos e ameaçaram-nos com infernos, tão falsos uns como os outros, insultos descarados a uma inteligência e a um sentido comum que tanto trabalho nos deram a criar. Disse Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não existisse, e eu respondo que precisamente por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o pior, principalmente o mais horrendo e cruel. Durante séculos a Inquisição foi, ela também, como hoje os talebanes, uma organização terrorista que se dedicou a interpretar perversamente textos sagrados que deveriam merecer o respeito de quem neles dizia crer, um monstruoso conúbio pactuado entre a religião e o Estado contra a liberdade de consciência e contra o mais humano dos direitos: o direito a dizer não, o direito à heresia, o direito a escolher outra coisa, que isso só a palavra heresia significa.

E, contudo, Deus está inocente. Inocente como algo que não existe, que não existiu nem existirá nunca, inocente de haver criado um universo inteiro para colocar nele seres capazes de cometer os maiores crimes para logo virem justificar-se dizendo que são celebrações do seu poder e da sua glória, enquanto os mortos se vão acumulando, estes das torres gêmeas de Nova York, e todos os outros que, em nome de um Deus tornado assassino pela vontade e pela ação dos homens, cobriram e teimam em cobrir de terror e sangue as páginas da história. Os deuses, acho eu, só existem no cérebro humano, prosperam ou definham dentro do mesmo universo que os inventou, mas o “fator deus”, esse, está presente na vida como se efetivamente fosse o dono e o senhor dela. Não é um Deus, mas o “fator Deus” o que se exibe nas notas de dólar e se mostra nos cartazes que pedem para a América (a dos Estados Unidos, e não a outra…) a bênção divina. E foi no “fator Deus” em que o Deus islâmico se transformou, que atirou contra as torres do World Trade Center os aviões da revolta contra os desprezos e da vingança contra as humilhações. Dir-se-á que um Deus andou a semear ventos e que outro Deus responde agora com tempestades. É possível, é mesmo certo. Mas não foram eles, pobres Deuses sem culpa, foi o “fator Deus”, esse que é terrivelmente igual em todos os seres humanos onde quer que estejam e seja qual for a religião que professem, esse que tem intoxicado o pensamento e aberto as portas às intolerâncias mais sórdidas, esse que não respeita senão aquilo em que manda crer, esse que depois de presumir ter feito da besta um homem acabou por fazer do homem uma besta.



Ao leitor crente (de qualquer crença…) que tenha conseguido suportar a repugnância que estas palavras provavelmente lhe inspiraram, não peço que se passe ao ateísmo de quem as escreveu. Simplesmente lhe rogo que compreenda, pelo sentimento de não poder ser pela razão, que, se há Deus, há só um Deus, e que, na sua relação com ele, o que menos importa é o nome que lhe ensinaram a dar. E que desconfie do “fator Deus”. Não faltam ao espírito humano inimigos, mas esse é um dos mais pertinazes e corrosivos. Como ficou demonstrado e desgraçadamente continuará a demonstrar-se.



autor: José Saramago

fonte: Folha de São Paulo, 19/09/2001

Tudo por sexo



Tudo por sexo


Geoffrey Miller

O psicólogo evolutivo Geoffrey Miller diz que a cultura humana surgiu da nossa necessidade de atrair parceiros sexuais



O que há em comum no desejo de ganhar um salário maior ou de escrever uma poesia? Para Geoffrey Miller, especialista em psicologia evolutiva e autor do livro A Mente Seletiva (Editora Campus), a resposta está no sexo. Isso mesmo. A necessidade de tornar-se mais atrativo sexualmente seria a chave para compreender até o surgimento da sofisticada cultura humana.



Partindo do princípio de que a reprodução é o instinto básico em todos os seres, Miller acredita que a mente desenvolveu, durante a evolução, diferentes “estratégias reprodutivas”. Se os homens pré-históricos precisavam caçar animais para atrair suas parceiras, os modernos Homo sapiens compram iates ou escrevem sinfonias. A evolução também explicaria, por exemplo, por que os homens seriam mais promíscuos que as mulheres quanto ao sexo. “São diferentes estratégias reprodutivas”, diz Miller. “Enquanto as mulheres normalmente estão mais interessadas na qualidade de seus parceiros (segundo ele, pela necessidade de criar seus filhos), os homens geralmente são menos exigentes na escolha de quem levar para cama.” Antes de ser acusado de usar a ciência em prol do machismo, ele diz que essa situação muda quando o homem escolhe a mãe de seus filhos. “Aí ele se torna tão exigente quanto as mulheres”, diz Miller, que conversou com a Super sobre seu trabalho.







Super — O que é a psicologia evolutiva?



Ela tenta entender a natureza humana perguntando como nossos ancestrais sobreviveram e se reproduziram. Quanto melhor nós entendermos nossa evolução, melhor nós entenderemos nossos cérebros, nossas mentes e o comportamento moderno. A psicologia evolutiva procura compreender, por exemplo, por que buscamos status, achamos alguém sexualmente atraente, fazemos amigos, fofocamos e outras respostas para perguntas que tradicionalmente foram negligenciadas pela psicologia. O que estamos compreendendo agora é que boa parte do nosso comportamento é produzido por circuitos do cérebro que evoluíram, originalmente, para que os nossos ancestrais se tornassem sexualmente atrativos.







Ou seja, tudo tem uma base sexual?



Os comportamentos humanos evoluíram, sim, devido ao sexo. Mas isso não significa que hoje eles tenham uma conotação sexual. Os pássaros não cantam apenas para o acasalamento, mesmo que essa habilidade tenha tido originalmente essa função. Não deve ser à toa que nos interessamos por música, dança e humor depois da puberdade, no momento exato em que começamos a estar predispostos a atrair parceiros sexuais.







Em seu livro A Mente Seletiva, o senhor também trata das diferenças entre homens e mulheres quanto ao comportamento sexual.



Enfoco as semelhanças entre homens e mulheres, enquanto outros psicólogos evolucionistas normalmente prestam atenção nas diferenças. As diferenças são importantes, mas podem ser exageradas. Homens podem potencialmente ter muitos filhos com muitas mulheres. Mulheres podem somente ter, no máximo, cerca de uma dezena de filhos. Isso faria, portanto, que elas sejam mais interessadas na qualidade dos seus parceiros que na quantidade. Mas apesar de os homens, em geral, serem menos exigentes na escolha de suas parceiras, isso muda quando ele tem que escolher alguém com quem viver por muito tempo. Tornam-se quase tão exigentes quanto as mulheres. Isso não é comum na natureza, onde apenas a fêmea costuma ser exigente e o macho acasala com todas as fêmeas que pode conseguir.







O que torna uma pessoa interessante ou sexualmente atrativa?



Quando se trata de apaixonar-se, há muitas evidências de que nós nos importamos muito com a inteligência, a amabilidade, a criatividade e o senso de humor. Enquanto os animais focam basicamente a aparência física e um ritual de cortejo mais simples, estamos interessados também nos pensamentos e sentimentos dos nossos parceiros. É por isso que a seleção sexual gerou os pensamentos e sentimentos humanos. Preocupa-nos muito, por exemplo, se alguém é interessante para conversar. A maioria do cortejo humano é verbal, e eu calculo que os amantes trocam, em média, cerca de 1 milhão de palavras antes de manter relações sexuais que acabem em gravidez. Isso deu à seleção sexual enorme poder para formar a linguagem humana e qualquer outro meio para expressar emoções.







Além da linguagem, a “seleção sexual” também teria importante papel no desenvolvimento das artes plásticas, da música e da literatura?



Foi por isso que escrevi A Mente Seletiva. Acho que é importante reconhecer que todas essas manifestações do comportamento humano são relacionadas com exibir-se, como formas de conquistar status social e de atrair parceiros. Daí meu argumento de que tudo isso evoluiu, em parte, por conta da seleção sexual. Isso parece razoável porque a maioria das características mais bonitas e impressionantes dos seres vivos — as flores, a cauda do pavão, o som dos rouxinóis — é também fruto da seleção sexual. A teoria da seleção sexual diz que somos atraídos pelos trabalhos artísticos mais difíceis e custosos de fazer, em termos de tempo, energia e capacidade. Acredito que isso define boa parte das nossas preferências estéticas. Nosso senso de belo na arte evoluiu para que pudéssemos escolher os artistas mais talentosos como parceiros sexuais. Há exemplos disso acontecendo em outras espécies. Há pássaros na Austrália que constroem ninhos com pedras e conchas. As fêmeas passam, fazem uma inspeção de cada ninho e acasalam com o macho que construiu o ninho mais bonito. Assim, os genes para construir ninhos bonitos espalharam-se através dessa espécie de pássaros. Meu livro tenta entender como algumas das aptidões que mais valorizamos, como a arte, surgiram de maneira similar.







O que, no comportamento humano, poderia ser determinado pela seleção sexual?



A seleção sexual determinou nossa necessidade de status, prestígio e respeito social. Status não é tão útil para a sobrevivência, mas é muito importante para a reprodução. Quando competimos no local de trabalho, nós estamos buscando status do mesmo jeito que nossos ancestrais tentaram alcançar status sendo bons caçadores ou contadores de histórias. Ou seja: estamos sempre atuando para impressionar e atrair parceiros sexuais. Nossa cultura não está separada da nossa evolução biológica.







O senhor acredita que sua teoria poderia ajudar outras ciências humanas. Para a economia, por exemplo, qual seria a contribuição dela?



Muitos aspectos importantes da economia não são explicados muito bem pelos economistas. Eles não conseguiram explicar, por exemplo, por que compramos artigos de luxo ou por que trabalhamos para ganhar mais do que precisamos para sobreviver. Todos esses fenômenos são resultado da seleção sexual. Em economias modernas, nós não adquirimos status caçando animais ou alegando ter poderes espirituais, mas por meio da ascensão profissional. Isso explica, também, por que os homens são mais ambiciosos financeiramente que as mulheres — afinal, eles são propensos a ter mais parceiras. Nós não somos conscientes de tudo isso, claro, mas a maioria de nós se comporta exatamente de acordo com a teoria de Darwin.







Se sua teoria baseia-se no instinto de reprodução, como o senhor explicaria a homossexualidade?



Eu não tenho uma explicação para a homossexualidade. Ela ainda é um mistério do ponto de vista evolutivo e, até onde eu sei, ninguém tem uma explicação satisfatória.







Geoffrey Miller é professor Assistente de Psicologia Evolutiva da Universidade do Novo México, em Albuquerque, Estados Unidos. Tem 37 anos, é autor do livro A Mente Seletiva, em que propõe que a cultura humana surgiu da necessidade que temos de atrair parceiros sexuais. Quando não está ensinando, gosta de pintar, esquiar e andar de bicicleta.



fonte: SuperInteressante

O Valor da Ignorância




O Valor da Ignorância



Júlio César Burdzinski

Pseudo-conhecimento

“Só sei que nada sei”. Esta talvez seja a mais famosa sentença da História da Filosofia. Quem já não a ouviu? E quantos já não a pronunciaram em alguma ocasião? A sentença é originalmente atribuída a Sócrates, o filósofo seminal da Filosofia clássica grega. Sócrates não registrou em texto seus ensinamentos, mas o mais famoso de seus discípulos, Platão, nos legou uma extensa obra. Esta obra é majoritariamente composta por diálogos. Também majoritariamente, estes diálogos têm em Sócrates seu personagem central. Se os diálogos platônicos estão mais próximos de ser uma exposição literal das palavras de Sócrates, ou uma criação filosófica e literária de Platão, não é importante aqui. O que sim importa é que Sócrates nos aparece como alguém que busca o conhecimento, alguém que questiona os supostos sábios sem se considerar sábio ele mesmo.



É a esse caráter ao mesmo tempo crítico e despretensioso de Sócrates que a sentença “Só sei que nada sei” se refere: crítico em relação ao suposto conhecimento alheio; despretensioso em relação ao que ele próprio conhece. Pois um conhecimento que não se sustenta diante da investigação racional não é de fato um conhecimento. É apenas algo que se parece com o conhecimento sem de fato o ser. É um pseudo-conhecimento. E, como Sócrates não cansa de nos lembrar, nada nos afasta mais do conhecimento do que o pseudo-conhecimento.



Ocorre que não é preciso buscar aquilo que já temos. Assim, se pensamos ter o conhecimento, também pensamos não precisar buscá-lo. Daí porque, se estamos iludidos a esse respeito, essa ilusão é o maior bloqueio para a obtenção do conhecimento. Como já disse alguém, não há melhor prisão do que aquela que não se parece com uma prisão. Para que tentemos nos libertar de nossas amarras, antes devemos nos dar conta de que estamos amarrados. Para que tentemos alcançar o conhecimento, antes devemos nos dar conta de que somos ignorantes. É somente na sequência dessa descoberta, da descoberta de nossa própria ignorância, que podemos nos colocar no caminho da busca do conhecimento. Se estivermos aprisionados, todo adereço acrescentado à prisão servirá apenas para esconder ainda mais a natureza dessa prisão. Nenhum enfeite afixado nas paredes que nos encadeiam servirá para derrubá-las, nenhum ornamento nos libertará. A liberdade precisa começar pelo desnudamento de nossas cadeias, pelo desmascaramento das ilusões que nos confundem, pela denúncia de todo pseudo-conhecimento.



Mas já basta de metáforas. Que tipo de prisão é exatamente essa prisão formada pelo pseudo-conhecimento? É uma prisão mental. É o nosso espírito, são as nossas ideias e o nosso raciocínio que estão neste caso encarcerados. Como se chama essa prisão? Há várias delas, de fato, e muitas nos são familiares. Preconceito, estreiteza de espírito e indolência são alguns de seus nomes. Como podemos escapar de tais prisões? Pela crítica atenta e ativa dos preconceitos, pelo esforço consciente e incessante para ampliarmos os limites de nosso espírito, questionarmos nossas próprias ideias e aguçarmos nosso raciocínio.



E esta tarefa não é fácil nem simples. Muitas vezes ouvi a sentença “Só sei que nada sei” ser empregue como se ela fosse uma espécie de mantra, uma expressão mágica que muito fácil e rapidamente nos permitisse o acesso a um mundo maravilhoso de riquezas e esplendores. De fato, algumas pessoas parecem acreditar que essa expressão proporcione uma experiência parecida com a que acontece naquela história infantil em que as palavras “Abre-te, Sésamo!” automaticamente abrem as portas de uma caverna repleta de tesouros. A diferença seria que, no caso da sentença socrática, os tesouros aos quais ela nos daria acesso seriam tesouros espirituais ao invés de serem riquezas materiais. Porém, tanto num caso quanto noutro, o acesso seria simples e imediato. Algumas palavras seriam pronunciadas e prontamente um universo de maravilhas se descortinaria diante de cada um de nós. Mas, no caso do conhecimento, não é absolutamente assim que acontece.



Pseudo-ignorância

A ignorância — ou, se preferirem, a consciência de nossa própria ignorância — não nos é dada gratuitamente; a ignorância tem um preço. Não a ganhamos, a conquistamos. E com trabalho, com muito trabalho. Como tudo o mais que tem algum valor na vida, também a obtenção da ignorância exige esforço, paciência e dedicação. Pois ocorre que nos é muito mais natural crer do que duvidar. Nossa tendência é crer que as coisas de fato sejam como elas de início nos parecem ser. A dúvida acerca dessa aparência primeira pode surgir de diversos modos, e um desses modos é o modo filosófico. Neste caso, se trata de um esforço deliberado e metódico para colocar em questão as aparências. E este esforço não é fácil nem é simples.



É possível colocar em dúvida mesmo aquelas verdades mais evidentes e aparentemente inegáveis. Pensem, por exemplo, no gênio maligno de René Descartes — na suposição de que poderia existir uma criatura supremamente poderosa e malévola que tivesse por objetivo nos enganar inclusive a respeito daquelas coisas que nos parecem mais obviamente verdadeiras (o supercomputador do filme Matrix pode ser tomado como uma versão contemporânea de tal criatura). Não raro, essa singular hipótese é tomada por uma simples brincadeira filosófica. Mas ela é muito mais do que isso: ela é uma alegoria de certas consequências dos limites e da natureza de nosso conhecimento. Quem comete este equívoco talvez ignore que a invenção de uma tal criatura pretende pavimentar o caminho da dúvida através de uma imagem sugestiva. E isto porque a dúvida, e em particular, a dúvida sobre fatos que nos parecem óbvios — fatos sobre a nossa própria existência, por exemplo —, não é gerada sem que empreendamos um diligente esforço para tanto. E o exercício da dúvida é o instrumento indispensável que nos permite eliminar os fragmentos de pseudo-conhecimento reunidos ao longo dos anos que atulham nossa mente. É o exercício da dúvida que nos permite alcançar a ignorância.



Parte considerável dos esforços dos filósofos, portanto, é dedicada à tarefa de obter essa autêntica ignorância. Pois a fonte do pseudo-conhecimento é a pseudo-ignorância. A pseudo-ignorância é o resultado da tentativa insuficiente e fracassada em eliminar as crenças irracionais que se acumulam em nosso espírito. Diante desse fracasso, continuamos a sustentar ideias infundadas e a guiar nossas ações com base em pontos de vista que, ao fim e ao cabo, não têm sustentação racional. E tudo isto porque desde o início falhamos na tarefa de desmascarar nossa própria ignorância.



Enfim, o valor da ignorância é extraordinário. Defrontar a autêntica ignorância, único terreno sobre o qual o autêntico conhecimento pode ser erigido, é um empreendimento indispensável e virtualmente interminável. O mundo nos oferece constantemente ideias enganosas das quais precisamos nos depurar e essa depuração não é um trabalho do qual possamos dar conta sem esforço e método. Ter constantemente presente a necessidade deste trabalho e lembrar aos demais disto com uma persistência que beire a provocação — como o fazia o próprio Sócrates — pode ser uma boa maneira de se começar a filosofar.



Júlio César Burdzinski é prof. do Depto. de Filosofia e Psicologia da Unijuí (RS)



quinta-feira, 7 de junho de 2012

José Carlos Ruy: O julgamento do “mensalão”










Os ministros do STF marcam data para inicio do julgamento do "Mensalão"


O julgamento do “mensalão”



 
Do Blog Vermelho




O “mensalão” foi uma ferramenta para sangrar o mandato do presidente Lula em 2005 e 2006; agora, com a oposição em dificuldades, aparece como um soro para reanimar a direita e os conservadores.

Por José Carlos Ruy


Há um dito futebolístico segundo o qual time que está mal no jogo comemora até escanteio. A reação da mídia conservadora ante a perspectiva do início do julgamento do chamado “mensalão” enquadra-se nesse figurino: um notório serviçal dos barões da mídia comemorou, na manhã desta quarta feira, não o eventual resultado daquele julgamento - que confessa não imaginar qual será - mas a marcação da data do julgamento! É uma derrota para Lula e José Dirceu, disse o blogueiro da revista Veja Reinaldo Azevedo num comentário publicado nesta manhã.

Ontem (6) o Supremo Tribunal Federal definiu a data para o inicio do julgamento do processo: 1º de agosto. Isso foi possível depois de ter sido definido o rito do julgamento e depois da garantia do ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo, de que entregará seu voto em junho. 

A primeira etapa do julgamento terá sessões nos dias úteis, até 14 de agosto (com exceção do dia 3 de agosto), nas quais serão apresentados o relatório que resume o caso e as alegações do Ministério Público e dos advogados de defesa dos 38 acusados. A segunda fase terá os votos dos ministros; as sessões ocorrerão apenas nas segundas, quartas e quintas, começando às 14 horas mas sem previsão do horário de encerramento pois seguirão o ritmo do voto de cada ministro. Embora não haja previsão de data para o final do julgamento, muitos acreditam que ele irá até o final de setembro. 

O assanhamento da imprensa conservadora e da oposição de direita e neoliberal centrada no PSDB é compreensível. No momento em que o PSDB está sangrando, como reconheceu um importante cacique tucano, o senador paranaense Álvaro Dias, um “escanteio” vem mesmo bem a calhar. Ele abre a perspectiva de um espetáculo midiático para, esperam os tucanos e a oposição conservadora, ajudar a afastar o foco que recai sobre as graves acusações que envolvem destacados políticos de seu campo numa CPI, a do Cachoeira, que pode - ela sim - desvendar e punir vínculos entre criminosos, a mídia conservadora, e dirigentes e mandatários políticos do campo conservador.

O julgamento do chamado “mensalão”, esta farsa montada pelo conluio entre políticos da direita e a imprensa conservadora, poderá dominar a pauta midiática nos próximos meses. O “mensalão” foi, em sua origem, instrumento da “tática do cangaceiro” com que o PSDB e seus comparsas quiseram sangrar até a morte o governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva. Não deu certo. Não provocou - nem podia - o clamor popular que a direita imaginava, como sempre, poder repetir naquele episódio a atuação moralista hipócrita que havia marcado outros momentos da República, como o “mar de lama” que levou ao suicídio de Getúlio Vargas em 1954, ou a campanha contra as reformas de base de João Goulart, que levou ao golpe de estado de 1964. 

O “mensalão” foi uma ferramenta política contra Lula, os partidos que apoiam seu projeto de mudança, e contra as transformações que o Brasil começava a viver. O apelido publicitário surgiu exatamente há sete cinco anos, quando - em 6 de junho de 2005 - Roberto Jefferson, que era deputado do PTB, cunhou, em entrevista à Folha de S. Paulo, a expressão “mensalão” e acusou o governo Lula de desviar dinheiro público para o pagamento mensal de parlamentares que se alinhassem à base do governo. 

A alegação ganhou força embora nunca tenha sido provada ou demonstrada a existência dos tais pagamentos mensais. 

O que foi demonstrado e provado judicialmente atinge exatamente o campo direitista e neoliberal. Na véspera do anúncio do STF, do início do julgamento do chamado “mensalão”, a Justiça de Brasília proferiu a sentença que condenou (dia 5) a ex-deputada distrital Eurides Brito (PMDB) por improbidade administrativa e a devolver cerca de R$ 3,5 milhões desviados dos cofres públicos. Ela foi denunciada pela operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, que investigou o pagamento de propina a deputados aliados ao então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), no escândalo conhecido como mensalão do DEM. Ela foi condenada por ter recebido, entre 2006 e 2009, 31 parcelas mensais de 20 mil reais para apoiar o então governador tucano, uma mesada. A ex-deputada teve também seus direitos políticos cassados por dez anos.

Outro golpe severo contra a oposição de direita foi a condenação (dia 5), também às vésperas do anúncio pelo STF do início do julgamento do “mensalão”, do ex-prefeito do Rio de Janeiro, o destacado cacique do DEM César Maia, juntamente com ex-diretores Empresa Municipal de Urbanização (Rio Urbe). Todos por improbidade administrativa. Tiveram seus direitos políticos suspensos por cinco anos e foram condenados a devolver o dinheiro empregado ilicitamente. 

A mídia conservadora e a direita neoliberal vão fazer de tudo para transformar o “escanteio” em gol nos meses que antecedem a eleição para prefeitos e vereadores. O “mensalão” serve agora não para sangrar um presidente como tentaram fazer com Lula em 2005 e 2006; serve de soro para um doente combalido que enfrenta o voto popular em condições difíceis.

 
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=185285&id_secao=1

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Bancada religiosa: a mais ausente, inexpressiva e processada





Bancada religiosa: a mais ausente, inexpressiva e processada

 
 
Avaliação e processos em que integrantes da bancada religiosa figuram como réus:
Dados do Transparência Brasil

1) Da bancada evangélica, todos os deputados que a compõe respondem processos judiciais;

2) 95% da referida bancada estão entre os mais faltosos;

3) 87% da referida bancada estão entre os mais inexpressivos do DIAP;

4) Na última década não houve um só projeto de expressão, ou capaz de mudar a realidade do país, encabeçado por um parlamentar evangélico.

Assembleia de Deus

1 Hidekazu Takayama – PSC/PR
TRF-1 (Seção Judiciária do Distrito Federal) – Processo 0031294-51.2004.4.01.3400 – de Ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal. STF – Inquérito nº 2652/ 2007 – Inquérito apura crimes contra a ordem tributária, estelionato e peculato.

2 – Sabino Castelo Branco – PTB/AM
STF – Processo nº 538 – Réu em ação penal movida pelo Ministério Público Federal por peculato.
STF – Inquérito nº 2940 – É alvo de inquérito que apura crimes contra a ordem tributária. TSE –
Processo nº 504786.2010.604.0000 - É alvo de recurso contra expedição de diploma apresentado pelo Ministério Público Eleitoral por abuso de poder econômico e uso indevido de meio de comunicação social.
TSE – Processo nº 874.2011.604.0000 - É alvo de representação movida pelo MPE por captação ou gasto ilícito de recursos financeiros de campanha eleitoral.
TRE-AM – Processo nº 90095.2002.604.0000 - Teve reprovada prestação de contas referente às eleições de 2002.
TRE-AM – Processo nº 424843.2010.604.0000 - Teve reprovada prestação de contas referente às eleições de 2010.
TRE-AM – Processo nº 485034.2010.604.0000 - É alvo de representação movida pelo MPE.TRF-1 Seção Judiciária da Amazônia – Processo nº 0001172-68.2007.4.01.3200 – É alvo de ação de execução fiscal movida pela Fazenda Nacional.
TJ-AM Comarca de Manaus – Processo nº 0039972-21.2002.8.04.0001 – É alvo de ação civil pública movida pelo Ministério Público Estadual.

3 – Ronaldo Nogueira – PTB/RS
TCE-RS (processo 008255-02.00/ 08-2) – Irregularidades na gestão da Câmara de Carazinho.
TCE-RS (processo 001084-02.00/ 01-0) – Idem. TCE-RS (processo 010264-02.00/ 00-4) – Idem.

4 – João Campos de Araújo – PSDB/GO
TRF-1 (Seção Judiciária do Distrito Federal – processo 0031294-51.2004.4.01.3400 – É alvo de ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal.

5 – Costa da Conceição Costa Ferreira – PSC/MA
TRF-1 (Seção Judiciária do Distrito Federal) – processo 0031294-51.2004.4.01.3400 – É alvo de ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal.
É alvo de ações de execução fiscal movidas pelo município de São Luís:
TJ-MA Comarca de São Luís – Processo nº 7092-32.2007.8.10.0001.
TJ-MA Comarca de São Luís – Processo nº 1793-35.2011.8.10.0001

6 – Antônia Luciléia Cruz Ramos Câmara – PSC/AC
TRE-AC – processo 497/ 2002 – Teve reprovada a prestação de contas referente às eleições de 2002. É alvo de ações penais movidas pelo Ministério Público por crimes eleitorais (peculato/captação ilícita de votos ou corrupção eleitoral).
STF – processo 585. STF – Processo nº 587. TRE-AC – processo 177708/ 2010
– É alvo de inquéritos que apuram crimes eleitorais e contra a administração em geral:
STF – inquérito 3083, TRE-AC – Inquérito 245, STF – Inquérito nº 3133.
É alvo de ações de investigação judicial eleitoral por abuso de poder econômico:
TRE-AC – processo 142143/ 2010, TRE-AC – processo 178782/ 2010, TRE-AC – processo 142835/2010 . É alvo de representações movidas pelo MPE por captação ilícita de sufrágio e/ ou captação ou gasto ilícito de recursos financeiros de campanha eleitoral: TRE-AC – processo 180081/ 2010, TRE-AC – processo 194625/ 2010 e TRE-AC – processo 142058/ 2010

7 – Cleber Verde Cordeiro Mendes – PRB/MA
STF – processo 497/2008 – É alvo de ação penal movida pelo Ministério Público Federal por crimes praticados contra a administração em geral (inserção de dados falsos em sistema de informações).
TRE-MA – processo 603979.2010.610.0000 - É alvo de ação de investigação judicial movida pelo Ministério Público Eleitoral por uso de poder político e conduta vedada a agentes públicos.

8 – Nilton Baldino (Capixaba) – PTB/RO
STF – Processo nº 644 – Acusado de envolvimento com a máfia das ambulâncias, é réu em ação penal movida pelo Ministério Público Federal por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
TRF-1 Seção Judiciária do Distrito Federal – Processo nº 0031294-51.2004.4.01.3400 – É alvo de ação civil pública movida pelo MPF.
TRF-1 Subseção Judiciária de Ji-Paraná – Processo nº 0000432-26.2007.4.01.4101 – É alvo de ação de improbidade administrativa movida pelo MPF por envolvimento com a máfia das ambulâncias.

9 – Silas Câmara – PSC/AM
STF – inquérito 2005/2003 – É alvo de inquérito que apura peculato e improbidade administrativa.
STF – inquérito 3269 e STF – inquérito 3092 – É alvo de inquéritos que apuram crimes eleitorais.
TRF-1 Seção Judiciária da Amazônia – processo 0004121-02.2006.4.01.3200 – É alvo de ação de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Federal.
É alvo de representação e ações de investigação judicial movidas pelo Ministério Público Eleitoral por captação ilícita de sufrágio e abuso de poder econômico:
TRE-AC – processo 180081.2010.601.0000,
TRE-AC – processo 142835.2010.601.0000,
TRE-AC – processo 178782.2010.601.0000,
TRE-AM – processo 73203919.2005.604.0000
- O PTB teve reprovada a prestação de contas referente ao exercício financeiro de 2004, quando o parlamentar era ordenador de despesas do partido em nível estadual.

10 – José Vieira Lins (Zé Vieira) – PR/MA
É alvo de inquéritos que apuram crimes de responsabilidade, peculato e sonegação de contribuição previdenciária:
STF – inquérito 3051, STF – inquérito 3078, STF – inquérito 2945, STF – inquérito 2943, STF – Inquérito 3047.
É alvo de ações civis públicas, inclusive de improbidade administrativa, movidas pelo Ministério Público e pelo município de Bacabal:
TRF-1 Seção Judiciária do Maranhão – processo 0005980-37.2008.4.01.3700, TJ-MA Comarca de Bacabal – processo 378-16.2009.8.10.0024, TJ-MA Comarca de Bacabal – processo 1771-15.2005.8.10.0024, TJ-MA Comarca de Bacabal – processo 279-56.2003.8.10.0024.
É alvo de ações de execução movidas pela Fazenda Nacional — por exemplo: TRF-1 Subseção Judiciária de Bacabal – processo 0000629-69.2011.4.01.3703, TRF-1 Subseção Judiciária de Bacabal – processo 693-79.2011.4.01.3703, TRF-1 Subseção Judiciária de Bacabal – processo 0000908-55.2011.4.01.3703, TJ-MA Comarca de São Luís – Processo 6007-40.2009.8.10.0001.
Foi responsabilizado por irregularidades em convênios e aplicação de recursos e teve contas reprovadas: TCU – Acórdão 5659/ 2010, TCU – Acórdão 3577/2009, TCU – Acórdão 3282/2010, TCU – Acórdão 2679/2010, TCU – Acórdão 749/2010, TCU – Acórdão 1918/ 2008 (teve o nome incluído no TCU – Cadastro de responsáveis com contas julgadas irregulares). TCU – Acórdão 801/ 2008 (teve o nome incluído no TCU – Cadastro de responsáveis com contas julgadas irregulares). TCE-MA – processo 2600/1999 e TCE-MA – processo 3276/2005.

11 – Marcelo Theodoro de Aguiar – PSC/SP
TRE-SP – Processo 1077244.2010.626.0000 – Teve reprovada prestação de contas referente às eleições de 2010.

Igreja Presbiteriana

1 – Leonardo Lemos Barros Quintão – PMDB/MG
STF – Inquérito nº 2792 - É alvo de inquérito que apura crimes eleitorais.
TJ-MG Comarca de Belo Horizonte – Processo nº 5034047-88.2009.8.13.0024
– É alvo de ação de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Estadual.

2 – Edmar de Souza Arruda – PSC/PR
STF – inquérito 3307 – É alvo de inquérito que apura crimes contra o meio ambiente e o patrimônio genético.

3 – Edson Edinho Coelho Araújo (Edinho Araújo) – PMDB/SP
STF – Inquérito nº 3137 – É alvo de inquérito que apura crimes previstos na lei de licitações.
TJ-SP Comarca de São José do Rio Preto – Processo 576.01.2009.043791-5 – É alvo de ação de execução fiscal movida pela Fazenda estadual. É alvo de ações de improbidade administrativa movidas pelo Ministério Público Estadual: TJ-SP (segunda instância) – processo 9035424-43.2006.8.26.0000, TJ-SP (Comarca de São José do Rio Preto) – Processo nº 576.01.2010.062759-8. O TCE-SP julgou irregulares processos licitatórios e contratos firmados pela prefeitura de São José do Rio Preto: TCE-SP – processo 2832/008/04, TCE-SP – processo 313/008/02, TCE-SP – processo 2432/008/07

4 – Benedita Souza da Silva Sampaio – PT/RJ
TRF-1 Seção Judiciária do Distrito Federal – Processo 0031294-51.2004.4.01.3400 - É alvo de ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal.
É alvo de ações de improbidade administrativa: TJ-RJ (Comarca do Rio de Janeiro) – processo 0040421-83.2007.8.19.0001, TJ-RJ (Comarca do Rio de Janeiro) – processo 0050419-80.2004.8.19.0001 e TJ-RJ (Comarca do Rio de Janeiro) – processo 0372416-70.2009.8.19.0001.

5 – Anthony William Garotinho Matheus De Oliveira (Anthony Garotinho) – PR/RJ
É alvo de inquéritos que apuram crimes eleitorais:
STF – Inquérito 2601/2007,
STF – inquérito 2704/2008,
TRF-2 (Seção Judiciária do Rio de Janeiro – Processo nº 2008.51.01.815397-2
– É réu em ação penal referente à máfia dos caça-níqueis e movida pelo Ministério Público Federal por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, corrupção e crimes contra a administração pública. Chegou a ser condenado a dois anos meio de prisão. A pena foi convertida em prestação de serviços e suspensão de direitos.
É alvo de ações de improbidade administrativa:
TJ-RJ Comarca de Nova Iguaçu – processo 0026769-53.2005.8.19.0038,
TJ-RJ Comarca de São Fidelis – processo º 0000249-07.2011.8.19.0051,
TJ-RJ Comarca do Rio de Janeiro – processo 0050419-80.2004.8.19.0001,
TJ-RJ Comarca de Campos dos Goytacazes – processo 0011729-64.2009.8.19.0014,
TJ-RJ Comarca do Rio de Janeiro – processo 0040380-19.2007.8.19.0001,
TJ-RJ Comarca do Rio de Janeiro – processo 0040412-24.2007.8.19.0001, TJ-RJ Comarca do Rio de Janeiro – processo 0039456-08.2007.8.19.0001,
TJ-RJ Comarca do Rio de Janeiro – processo 0064717-67.2010.8.19.0001,
TJ-RJ Comarca do Rio de Janeiro – processo 0183480-95.2008.8.19.0001,
TRE-RJ – processo 764689.2008.619.3802
- Em ação judicial eleitoral, foi condenado por abuso de poder econômico e uso indevido de veículo de comunicação social. A Justiça decretou inelegibilidade.

Igreja Universal do Reino de Deus

1 – José Heleno da Silva – PRB/SE
É alvo de ações de improbidade administrativa movidas pelo Ministério Público Federal:
TRF-5 Seção Judiciária de Sergipe – processo 0005364-36.2010.4.05.8500,
TRF-5 Seção Judiciária de Sergipe – processo 0005511-67.2007.4.05.8500 (Acusado de envolvimento com a máfia das ambulâncias),
TRF-1 Seção Judiciária de Mato Grosso – processo 0015233-58.2008.4.01.3600
– É alvo de medidas investigatórias referentes à máfia das ambulâncias e conduzidas pelo Ministério Público Federal.
O TRE reprovou as prestações de contas do PL referentes aos exercícios financeiros de 2003 e de 2005, quando o parlamentar era dirigente do partido em nível regional:
TRE-SE – processo 34792.2004.625.0000,
TRE-SE – processo 438664.2006.625.0000

2 – Vitor Paulo Araújo dos Santos – PRB/RJ
STF – processo 592 – É réu em ação penal movida pelo Ministério Público por crimes eleitorais.

3 – Antonio Carlos Martins de Bulhões – PRB/SP
STF – inquérito 2930/ 2010 – É alvo de inquérito que apura peculato.
TRF-3 Seção Judiciária de São Paulo – Processo 0044601-82.2002.4.03.6182 – É alvo de ação de execução fiscal movida pela Fazenda Nacional.
TRF-3 Seção Judiciária de São Paulo – Inquérito 0005062-78.2003.4.03.6181 – É alvo de inquérito que apura apropriação indébita e crimes contra o patrimônio.

4 – Jhonatan Pereira de Jesus – PRB/RR
TRE-RR – processo 229176.2010.623.0000 - Teve reprovada a prestação de contas referente às eleições de 2010.

Igreja Do Evangelho Quadrangular

1 – Jefferson Alves de Campos – PSB/SP
TRF-1 Seção Judiciária do Distrito Federal – processo 0031294-51.2004.4.01.3400 – É alvo de ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal.
É alvo de ações de improbidade administrativa movidas pelo MPF por envolvimento com a máfia das ambulâncias:
TRF-3 Seção Judiciária de São Paulo – processo 0004928-22.2011.4.03.6100, TRF-3 Subseção Judiciária de Santos – processo 0000249-06.2007.4.03.6104

2 – Mário de Oliveira – PSC/MG
TRE-MG – Processo 60069.2011.613.0000 - É alvo de inquérito que apura crime eleitoral.
STF – inquérito 2727 – É alvo de inquérito que apura crimes de responsabilidade, contra a ordem tributária e previstos na lei de licitações, além de formação de quadrilha, falsidade ideológica, estelionato e lavagem ou ocultação de bens, direitos ou valores.

3 – Josué Bengtson – PTB/PA
TRF-1 Seção Judiciária do Pará – rocesso 3733-02.2007.4.01.3900 – É alvo de ação de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Federal.
TRF-1 Seção Judiciária de Mato Grosso – processo 0004032-69.2008.4.01.3600 – Acusado de envolvimento com a máfia das ambulâncias, é alvo de medidas investigatórias conduzidas pelo MPF por crimes previstos na lei de licitações.

Igreja Internacional da Graça

1- Rodrigo Moreira Ladeira Grilo – PSL/MG

2 – Jorge Tadeu Mudalen – DEM/SP
TRF-1 Seção Judiciária do Distrito Federal – Processo 0031294-51.2004.4.01.3400 – É alvo de ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal.

Igreja Mundial do Poder de Deus

1 – José Olímpio Silveira Moraes (missionário José Olímpio) – PP/SP
TJ-SP Comarca de São Paulo – Processo 0424086-16.1997.8.26.0053 – É alvo de ação civil pública movida pelo Ministério Público Estadual.
TJ-SP Comarca de Itu – processo 286.01.2009.514728-4 – É alvo de ação de execução fiscal movida pelo município de Itu.

2 – Francisco Floriano de Souza Silva – PR/RJ
TJ-RJ Comarca do Rio de Janeiro – processo 0139394-68.2010.8.19.0001 – É réu em ação penal movida pelo Ministério Público Estadual por lesão corporal decorrente de violência doméstica.

Igreja Metodista

1 – Walney Da Rocha Carvalho – PTB/RJ
STF – Processo 627 - É alvo de ação penal movida pelo Ministério Público Federal por corrupção passiva.
TRE-RJ – Processo nº 197118.2002.619.0000 - Teve reprovada prestação de contas referente às eleições de 2002.
É alvo de ações de execução fiscal movidas pelo município de Nova Iguaçu e pela Fazenda Nacional — por exemplo: TRF-2 Seção Judiciária do Rio de Janeiro – processo 0000562-61.2010.4.02.5110, TJ-RJ Comarca de Nova Iguaçu – processo 0112599-45.2009.8.19.0038, TJ-RJ Comarca de Nova Iguaçu – processo 0083231-88.2009.8.19.0038

2 – Áureo Lidio Moreira Ribeiro – PRTB/RJ
É alvo de ações de execução fiscal movidas pela Fazenda Nacional e pelo município de Duque de Caxias:
TRF-2 Seção Judiciária do Rio de Janeiro – processo 0000153-61.2005.4.02.5110,
TJ-RJ Comarca de Duque de Caxias – Processo nº 0005413-58.2002.8.19.0021.

Igreja Nova Vida

1 – Washington Reis de Oliveira – PMDB/RJ
STF – processo 618 – É alvo de ação penal movida pelo Ministério Público Federal por crimes contra o meio ambiente e o patrimônio genético e formação de quadrilha.
STF – inquérito 3192 – É alvo de inquérito que apura crimes eleitorais. É alvo de ações civis públicas, inclusive de improbidade administrativa, movidas pelo Ministério Público:
TRF-2 Seção Judiciária do Rio de Janeiro – Processo 0007523-23.2007.4.02.5110, TRF-2 Seção Judiciária do Rio de Janeiro – processo 0008324-65.2009.4.02.5110, TRF-2 Seção Judiciária do Rio de Janeiro – Processo 0003813-92.2007.4.02.5110 (Foi condenado por improbidade administrativa, pois não houve divulgação de recursos recebidos pela prefeitura de Duque de Caxias. A Justiça determinou a suspensão dos direitos políticos, a proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios/ incentivos fiscais ou creditícios e o pagamento de multa).
É alvo de ações de execução fiscal movidas pela Fazenda Nacional e pelo município de Duque de Caxias — por exemplo:TRF-2 Seção Judiciária do Rio de Janeiro – processo 0004113-83.2009.4.02.5110, TRF-2 Seção Judiciária do Rio de Janeiro – processo 0004857-78.2009.4.02.5110, TJ-RJ Comarca de Duque de Caxias – processo 0223580-32.2008.8.19.0021, TJ-RJ Comarca de Duque de Caxias – processo 0223582-02.2008.8.19.0021, TRE-RJ – processo 386718.2010.619.0000
– É alvo de ação de investigação judicial movida pelo Ministério Público Eleitoral por abuso de poder econômico. TRE-RJ – processo 772.2011.619.0000
- É alvo de representação movida pelo MPE por captação ou gasto ilícito de recursos financeiros de campanha eleitoral. TRE-RJ – Processo 674343.2010.619.0000
- É alvo de representação movida pelo MPE por conduta vedada a agente público. TCE-RJ detectou irregularidades e emitiu pareceres contrários à aprovação das contas referentes à administração financeira da prefeitura de Duque de Caxias: TCE-RJ – Processo 203.163-8/10. TCE-RJ – processo 206.291.7/09

Igreja Cristã Evangélica

1 – Iris de Araújo Resende Machado – PMDB/GO
TRE-GO – Processo nº 999423170.2006.609.0000 – Teve rejeitada prestação de contas referente às eleições de 2006.

Congregação Cristã no Brasil

1 – Bruna Dias Furlan – PSDB/SP
É alvo de representações movidas pelo Ministério Público Eleitoral por conduta vedada a agentes públicos: TRE-SP – processo 15170.2010.626.0199, TRE-SP – processo 1949115.2010.626.0000

Igreja Sara Nossa Terra

1 – Eduardo Cosentino da Cunha - PMDB/RJ
STF – inquérito 2984/ 2010 – É alvo de inquérito que apura uso de documento falso. STF – inquérito 3056
– É alvo de inquérito que apura crimes contra a ordem tributária. TRF-1 Seção Judiciária do Distrito Federal – processo 0031294-51.2004.4.01.3400
– É alvo de ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal. TJ-RJ Comarca do Rio de Janeiro – processo 0026321-60.2006.8.19.0001
- É alvo de ação de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Estadual. TRE-RJ – processo 59664.2011.619.0000
– Alvo de representação movida pelo Ministério Público Eleitoral por captação ilícita de sufrágio. TRE-RJ – processo 9488.2010.619.0153
– Alvo de ação de investigação judicial eleitoral movida pelo MPE por abuso de poder econômico. TSE – processo 707/2007
– Alvo de recurso contra expedição de diploma apresentado pelo MPE por captação ilícita de sufrágio.

Leia em Pdf:
Bancada religiosa: a mais ausente, inexpressiva e processada (Blog Luis Nanssif - 28/05/2012)
Fonte: Agência Patrícia Galvão

terça-feira, 5 de junho de 2012

A luta pela regulação da mídia



A luta pela regulação da mídia

Por André Cintra, no sítio da Fundação Maurício Grabois:

Se há consenso de que o conjunto dos partidos políticos e dos movimentos sociais ainda não abraçou de fato a bandeira da democratização da mídia, o seminário “Desafios da Liberdade de Expressão” surpreendeu. Promovido nesta sexta-feira (04/05), no Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, o evento do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) reuniu quase 200 militantes de legendas e fundações partidárias, entidades sociais e outras organizações da sociedade civil.


Motivação para o debate não faltava. O governo promete apresentar, em breve, a consulta pública do marco regulatório da comunicação, com 50 questões sobre a área. A expetativa do FNDC é lançar uma campanha nas ruas para aproveitar esse processo, mobilizar a sociedade e acumular forças para a construção do novo marco regulatório.

“Das mudanças estruturais que a sociedade precisa encampar, a reforma da mídia é uma das mais necessárias. Não há possibilidade de avançar no processo democrático brasileiro sem a democratização do acesso aos meios de comunicação”, afirma Leocir Costa Rosa, o Léo, diretor Administrativo e Financeiro da Fundação Maurício Grabois, participante do seminário.

Segundo ele, “não dá mais para continuar nesse sistema de concentração de poder através do domínio da mídia”. É preciso “quebrar o monopólio e enfrentar a propriedade cruzada dos meios de comunicação. Léo sustenta que, em qualquer iniciativa para democratizar a mídia, “é fundamental envolver a sociedade, o povo, as entidades sociais”.

O diretor da Grabois propõe que fundações dos partidos de esquerda, como PDT, PT, PSB e PCdoB, se unam por uma agenda unitária na luta pelo marco regulatório da mídia. “Houve uma experiência interessante em 2011, quando as fundações, em parceria com os movimentos, criaram um fórum para construir a plataforma comum de uma reforma política democrática.”

O papel dos movimentos

O seminário também apostou na unidade. “O caráter suprapartidário e a amplitude são referências para nós”, disse Rosane Bertotti, coordenadora do FNDC. “Ou os movimentos assumem um papel estratégico para intervir na estrutura de comunicação do País, ou não mudaremos essa estrutura.”

Rosane opinou que, nos governos do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff, o tema das comunicações ficou “estagnado”. Mas houve um “marco relevante” em 2009 – a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). “Quando vemos os novos meandros da nossa luta, como o papel da ‘Veja’, fica claro que a Conferência estava no caminho certo.”

Para Altamiro Borges, o Miro, secretário de Questões da Mídia do PCdoB, o governo vive “seu melhor momento político” e deveria apresentar agora a consulta pública do marco regulatório. Mas o protagonismo dessa luta será da sociedade. “Se o governo lança a consulta, o quadro se altera. Mas não nos cabe esperar o governo. Cabe fazer pressão”, diz Miro, que é membro do Conselho Curador da Fundação Maurício Grabois.

Como adversidade, ele aponta que “a causa da comunicação ainda não está na força centrípeta dos movimentos. Se está na agenda, não é prioridade.” Em contrapartida, o dirigente acredita que os partidos se posicionam mais. “É o caso do PSOL, do PCdoB, do PSB, do PDT e do PT.” Segundo Miro, os movimentos também acertam ao pôr a liberdade de expressão como foco da campanha do FNDC. “Precisamos ir ao debate nos estados e tirar essa bandeira da mão da direita. Eles querem a liberdade do monopólio.”

Deputados presentes

A abertura do seminário do FNDC contou com a participação de três deputados federais – Ivan Valente (SP), presidente do PSOL; André Vargas (RS), secretário de Comunicação do PT; e Luiza Erundina (SP), presidente da FrentCom (Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e Direito à Comunicação com Participação Popular). Eles reiteraram a importância da mobilização popular na luta pela democratização da mídia.

“Temos de confiar na organização da sociedade civil. Não há nada que mude sem pressão social. É fundamental que este seminário parta para a ofensiva, leve o debate às ruas e para dentro do Congresso”, disse Ivan Valente. “Mas a luta é difícil. Faltam condições para fazermos uma pressão organizada mais ampla contra esta grande indústria que é a mídia. Vamos remar contra a corrente”, agregou.

Também para André Vargas, “a sociedade tem de chamar para si o debate das comunicações”. O parlamentar prevê que a consulta pública do governo se inicie neste semestre. “Estamos à espera. O PT tem cobrado o governo – e tem pressionado no limite que achamos adequado. Vamos estar no centro dessa campanha, debatendo a consulta pública.”

Erundina atacou a falta de “ação efetiva” para alterar a “estrutura do poder” no Brasil. “Devemos ao povo as bases estruturais para a Nação construir os direitos humanos, como o acesso à comunicação.” Para regular a mídia, a deputada sugeriu um projeto de lei de iniciativa popular. “Precisamos ter nossas próprias iniciativas. Vamos atrás de 2 milhões de assinaturas para construir um projeto estruturante e forçar o governo a se mobilizar.”

O seminário “Desafios da Liberdade de Expressão” debateu, ainda, propostas para a campanha do FNDC, com a contribuição de especialistas como o jornalista Rodrigo Vianna, do blog “Escrevinhador”, e o publicitário Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto Data Popular.

O dedo do Lula e o ódio de classe


O dedo do Lula e o ódio de classe

Por Emir Sader, no sítio Carta Maior:

A sociedade brasileira teve sempre a discriminação como um dos seus pilares. A escravidão, que desqualificava, ao mesmo tempo, os negros e o trabalho – atividade de uma raça considerada inferior – foi constitutiva do Brasil, como economia, como estratificação social e como ideologia.


Uma sociedade que nunca foi majoritariamente branca, teve sempre como ideologia dominante a da elite branca, Sempre presidiram o país, ocuparam os cargos mais importantes nas FFAA, nos bancos, nos ministérios, na direção das grandes empresas, na mídia, na direção dos clubes – em todos os lugares em que se concentra o poder na sociedade, estiveram sempre os brancos.

A elite paulista representa melhor do que qualquer outro setor, esse ranço racista. Nunca assimilaram a Revolução de 30, menos ainda o governo do Getúlio. Foram derrotados sistematicamente pelo Getulio e pelos candidatos que ele apoiou. Atribuíam essa derrota aos “marmiteiros”- expressão depreciativa que a direita tinha para os trabalhadores, uma forma explicita de preconceito de classe.

A ideologia separatista de 1932 – que considerava São Paulo “a locomotiva da nação”, o setor dinâmico e trabalhador, que arrastava os vagões preguiçosos e atrasados dos outros estados – nunca deixou de ser o sentimento dominante da elite paulista em relação ao resto do Brasil. Os trabalhadores imigrantes, que construíram a riqueza de Sao Paulo, eram todos “baianos” ou “cabeças chatas”, trabalhadores que sobreviviam morando nas construções – como o personagem que comia gilete, da música do Vinicius e do Carlos Lira, cantada pelo Ari Toledo, com o sugestivo nome de pau-de-arara, outra denominação para os imigrantes nordestinos em Sao Paulo.

A elite paulista foi protagonista essencial nas marchas das senhoras com a igreja e a mídia, que prepararam o clima para o golpe militar e o apoiaram, incluindo o mesmo tipo de campanha de 1932, com doações de joias e outros bens para a “salvação do Brasil”- de que os militares da ditadura eram os agentes salvadores.

Terminada a ditadura, tiveram que conviver com o Lula como líder popular e o Partido dos Trabalhadores, para o qual canalizaram seu ódio de classe e seu racismo. Lula é o personagem preferencial desses sentimentos, porque sintetiza os aspectos que a elite paulista mais detesta: nordestino, não branco, operário, esquerdista, líder popular.

Não bastasse sua imagem de nordestino, de trabalhador, sua linguagem, seu caráter, está sua mão: Lula perdeu um dedo não em um jet-sky, mas na máquina, como operário metalúrgico, em um dos tantos acidentes de trabalho cotidianos, produto da super exploração dos trabalhadores. O dedo de uma mão de operário, acostumado a produzir, a trabalhar na máquina, a viver do seu próprio trabalho, a lutar, a resistir, a organizar os trabalhadores, a batalhar por seus interesses. Está inscrito no corpo do Lula, nos seus gestos, nas suas mãos, sua origem de classe. É insuportável para o racismo da elite paulista.

Essa elite racista teve que conviver com o sucesso dos governos Lula, depois do fracasso do seu queridinho – FHC, que saiu enxotado da presidência – e da sua sucessora, a Dilma. Tem que conviver com a ascensão social dos trabalhadores, dos nordestinos, dos não brancos, da vitória da esquerda, do PT, do Lula, do povo.

O ódio a Lula é um ódio de classe, vem do profundo da burguesia paulista e de setores de classe média que assumem os valores dessa burguesia. O anti-petismo é expressão disso. Os tucanos são sua representação política.

Da discriminação, do racismo, do pânico diante das ascensão das classes populares, do seu desalojo da direção do Estado, que sempre tinham exercido sem contrapontos. Os Cansei, a mídia paulista, os moradores dos Jardins, os adeptos do FHC, do Serra, do Gilmar, dos otavinhos – derrotados, desesperados, racistas, decadentes.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Ódio : Luana Piovani diz ter vontade de bater em Lula



Luana Piovani diz ter vontade de bater em Lula


  Do R7




Conhecida por declarações polêmicas que publica em seus perfis de redes sociais, a atriz Luana Piovani disse nesta segunda-feira (4), em sua conta no Twitter, que a recente polêmica que envolve o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma suposta tentativa de interferir no julgamento do mensalão a deixa com vontade de bater no político.

— cada vez q (que) vejo o bafafa q (que) o lula gerou pedindo p (para) atrasar o julgamento do me da vontade d (de) enfiar a mao (mão) na cara dele. oooodioo (ódio) [sic]

Na última semana, Lula foi acusado pelo ministro do STF, Gilmar Mendes (Aquele que deus habeas corpus para o médico que estuprou 37 mulheres , Abdelmassih e para o banqueiro corrupto Daniel  Dantas), de tentar persuadi-lo para que trabalhasse em prol do adiamento do julgamento do mensalão.A Em troca, o ex-presidente teria oferecido a Mendes blindagem na CPI do Cachoeira, que investiga a ligação do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresário
http://noticias.r7.com/brasil/noticias/luana-piovani-diz-ter-vontade-de-bater-em-lula-20120604.html

Jovens alemães interrompem desfile fascista


Jovens alemães interrompem desfile fascista

REUTERS/Fabian Bimmer




 Militantes de organizações populares da Alemanha ergueram barricadas para impedir desfile fascista
Neste sábado, 2 de junho, cerca de 3500 pessoas se reuniram em Hamburgo, no norte da Alemanha, para impedir um desfile convocado por grupos de extrema-direita que atuam no país.
Os jovens antifascistas ergueram barricadas e atearam fogo em objetos nas ruas onde passaria o desfile. Pedras e garrafas foram atiradas contra os neonazistas que, segundo os manifestantes, são responsáveis por dezenas de casos de agressões contra negros e imigrantes que vivem na Alemanha.
Os antifascistas, além de enfrentar os grupos de direita, também entraram em choque com a polícia, que interviu com mais de mil agentes, canhões d’água e um helicóptero. 700 pessoas foram detidas. Cerca de 38 policiais ficaram feridos.
Segundo a Associated Press, em outro ponto da cidade, mais 10 mil pessoas participaram de uma marcha contra o movimento neonazista.

domingo, 3 de junho de 2012

FARC: 48 anos de luta revolucionária





FARC: 48 anos de luta revolucionária - por Miguel Urbano Rodrigues - 


Não há precedente na história da América Latina para uma saga revolucionária comparável à das FARC. Fundada há quase meio século, a guerrilha das FARC luta contra o mais poderoso exército do Sul do Hemisfério, armado e financiado pelo imperialismo estado-unidense. 


Sucessivos governos anunciaram ao longo dos anos em Bogotá o seu fim iminente. Mas não há calúnia nem discurso dos presidentes e generais da oligarquia colombiana que possa esconder o óbvio: as FARC-EP – guerrilha-partido marxista-leninista – prosseguem a luta por uma Colômbia independente, democrática e progressista.


As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército Popular (FARC) comemoraram 48 anos no dia 27 de Maio.


O acontecimento foi festejado nas selvas e montanhas do país pelos milhares de combatentes que se batem por uma Colômbia independente, democrática e progressista.


Não há precedente na história da América Latina para uma saga revolucionária comparável. Fundada há quase meio século, a guerrilha das FARC luta contra o mais poderoso exército do Sul do Hemisfério (300 mil homens), armado e financiado pelo imperialismo estadounidense.


Cedendo a pressões de Washington, as FARC foram colocadas pela ONU e pela União Europeia na lista das organizações terroristas e os membros do seu Estado-maior Central têm a cabeça a prémio por milhões de dólares.


Uma campanha de âmbito mundial, montada pelo Pentágono e a CIA, colou às FARC o rótulo infamante de "narcoguerrilha". Sucessivos governos anunciaram ao longo dos anos em Bogotá o seu fim iminente. Mas não há calúnia nem discurso dos presidentes e generais da oligarquia que possa esconder o óbvio: as FARC-EP, que se assumem como uma guerrilha-partido marxista-leninista, prosseguem a luta em múltiplas Frentes rumo à conquista distante do poder, e todos os meses os comunicados do secretariado do seu Estado-maior Central tornam públicas acções de combate em que são infligidas pesadas baixas ao exército.


O actual presidente colombiano, Juan Manuel Santos, usando outro discurso, prossegue, no fundamental, a política neofascista de Álvaro Uribe. A sua estratégia de "Segurança Nacional" dá continuidade a uma política de repressão e terror; o Plano "Prosperidade para Todos" é um slogan de humor negro forjado para aumentar a desigualdade social em benefício da classe dominante. A adesão da Colômbia ao Tratado de Livre Comercio com os EUA contribuiu para reforçar a situação de semi-colónia do país.


Oito novas bases militares dos EUA foram instaladas no país, que é, depois de Israel, o aliado que recebe de Washington a mais volumosa "ajuda" financeira. Não surpreende que os grandes media norte americanos definam hoje a Colômbia como uma "democracia modelo", atraente para os investidores, e identifiquem nela um exemplo para a América Latina.


O presidente Obama voltou, aliás, na Cimeira de Cartagena de Índias a elogiar "a política de pacificação" e de "abertura ao diálogo" de Juan Manuel Santos. Sabe que mente. Na repressão desencadeada contra participantes na Marcha Patriótica pela Paz – 100 mil pessoas vindas de todo o país – ficou transparente a política de violência do regime.


A desindustrialização avança, a miséria alastra, as máfias do narcotráfico actuam impunes, em alianças subterrâneas com o paramilitarismo e altas patentes das Forças Armadas.


Como era de esperar, a imagem que os porta-vozes do Governo português transmitem da Colômbia é a da "democracia modelo", a grande aliada dos EUA na América Latina. Em meados de Junho, o primeiro-ministro visitará Bogotá acompanhado de uma comitiva de empresários, esperançados em grandes negócios.


Passos Coelho e Juan Manuel Santos vão certamente entender-se maravilhosamente. Falam a mesma linguagem, têm o mesmo desprezo pelo povo. São frutos da mesma árvore.


A Colômbia que respeito e admiro é outra, incompativel com a da oligarquia financeira e dos terratenientes, financiada e colonizada pelo imperialismo.


A minha Colômbia é a sonhada por Bolívar, aquela cujos filhos se bateram em Boyacá e Ayacucho pela liberdade e pela independência, a Colômbia que aprendi a conhecer e amar no convívio dos guerrilheiros das FARC-EP, num acampamento de Raul Reyes, algures nas selvas do Caquetá.


Já escrevi e repito que foi para mim um privilégio ter conhecido revolucionários com a têmpera dos comandantes Manuel Marulanda, Raul Reyes (assassinado no Equador em operação pirata, com a cumplicidade do Pentágono, da CIA e da Mossad), Alfonso Cano, Jorge Briceño (assassinados em bombardeamentos criminosos), Simon Trinidad (sequestrado em Quito e extraditado para os EUA).


No 48º aniversário das FARC-EP, comunistas como eles inspiram-me comovida admiração. Encarnam bem a coragem, a esperança, a tenacidade e o espírito de luta dos povos da América Latina, oprimidos e humilhados pelo imperialismo estado-unidense, hoje o grande inimigo da humanidade.


Vila Nova de Gaia, 30/Maio/2012

O original encontra-se em http://www.odiario.info/?p=2502

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .