sábado, 26 de novembro de 2011

A direita e o engodo da “luta contra a corrupção”




A imprensa capitalista e a direita esperavam que no feriado de 12 de outubro se repetissem as manifestações autodenominadas contra a corrupção que se viram no dia da Independência. Mesmo não tendo sido muito grandes, foi o máximo que a direita conseguiu fazer em décadas. Os elogios à manifestação deixaram entrever o que a direita brasileira realmente espera desse movimento. O principal membro da organização católica ultra-reacionária, Opus Dei, Carlos Alberto Di Franco, escreveu em um artigo: “vislumbro nas passeatas da faxina verde-amarela o reencontro do Brasil com a dignidade e esperança”, o que evidentemente se refere às marchas organizadas pela Igreja logo antes do golpe militar de 1964.

Apesar das exortações públicas dos parlamentares do PSDB e da Igreja Católica a que a população se manifestasse contra a corrupção e imoralidade do governo, as manifestações só diminuíram.

No entanto, as manifestações que ocorreram no dia 12 tiveram um caráter político muito mais concreto, evidentemente em apoio a diversas iniciativas da direita, do que os precedentes. Da vaga “luta contra a corrupção” os manifestantes passaram a pedir a aprovação pelo STF da lei Ficha Limpa, o voto distrital e o fim da imunidade parlamentar.

Já era de se esperar. A mobilização feita pela direita começa geralmente com um conceito abstrato, como é o caso da “luta contra a corrupção”. Essa “luta”, apesar de muito aplaudida pela imprensa burguesa, não significa nada de fato. Para começar, ela não é uma reivindicação. O que os manifestantes querem de fato? Se a luta é contra a corrupção, por que é centrada apenas nos parlamentares e da base do governo? E os parlamentares de direita? E os juízes, e os empresários, e a polícia? O fato de o ataque ser dirigido a um espectro tão limitado de pessoas em um mundo tão cheio de corrupção já chama a atenção. As denúncias de corrupção envolvendo o PSDB em São Paulo não são matéria para essas manifestações, nem mesmo a corrupção de vereadores, que são muito mais numerosos do que os deputados e senadores, entra na conta.

É evidente que o pretexto moral abstrato é apenas um pretexto para atacar o governo do PT e servir de mobilização para as fileiras da direita tendo em vista as próximas eleições.

Vale ressaltar que de angelicais defensores da ética, os manifestantes passaram claramente a defender um programa que significa pura e simplesmente a retirada de direitos da população, disfarçada de um controle mais rígido do corrupto Congresso Nacional.

Na realidade, leis como a Ficha Limpa e o fim da imunidade parlamentar, são leis que beiram a ditadura. É preciso entender que não é porque o Congresso é corrupto ou porque alguém cometeu um crime de qualquer natureza que todos os seus direitos estão suspensos. Além disso, fica claro o caráter direitista do programa dado que procuram resolver o problema não pela via popular, ou seja, com maior e real participação dos trabalhadores no Congresso Nacional, controle popular das instituições, novas eleições, liberdade partidária etc. Pelo contrário, a reivindicação vai toda no sentido de limitar a influência da população sobre o Congresso, deixando-o nas mãos dos juízes, dos caciques partidários e da burguesia de modo geral.

No caso da Ficha Limpa isso fica bem claro. O voto será mera formalidade, pois quem decidirá mesmo o resultado das eleições serão os tribunais, que decidirão quem é “corrupto” e quem não é, uma piada. Nas últimas eleições os juízes deram uma pequena mostra da arbitrariedade que é essa lei, ao impugnar uma batelada de candidatos, inclusive da esquerda, sem comprovação e não apenas aprovando a candidatura como anulando a própria condenação criminal dos candidatos que eles queriam que concorressem. O fim da imunidade parlamentar não é diferente. A imunidade existe justamente para que o deputado tenha liberdade para atuar politicamente. Quem duvida que sem a imunidade os parlamentares seriam ainda mais um joguete dos grandes partidos e da burguesia, uma vez que para os poderosos a coisa mais fácil é incriminar um inimigo para tira-lo do caminho? Para quem duvidar, basta ver o modo como o FBI atuou para desarticular os Panteras Negras. Um caso famoso é o de Mumia Abu-Jamal, membro desse partido que está há 30 anos no corredor da morte acusado injustamente de ter matado um policial.

Assim, os manifestantes “contra a corrupção” vão aparecendo cada vez mais eles mesmos como um joguete na mão da direita brasileira, que em nome de uma moral e uma ética que eles são os primeiros a descumprir, procuram preparar o terreno para uma ofensiva contra a população.


Fonte: PCO

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A hora e a vez do marxismo


Carlos Pompe *


Protesto em Wall Street contra efeitos do capitalismo

A crise econômica na Eurolândia e nos Estados Unidos trouxe de volta às ruas as populações de vários países em protestos contra a degradação de suas condições de vida. Parodiando James Carville, que escreveu “É a economia, estúpido!” num quadro de avisos da campanha de vitoriosa de Bill Clinton, “É a economia, mas também é a política, gente boa que protesta!”

E por ser a economia e também a política, nada melhor do que a teoria de Karl Marx, economista, político, filósofo – comunista, enfim – para iluminar caminhos. O fundador do comunismo científico alertou nO Capital, que tem o sugestivo subtítulo de “Crítica da economia política”, que os economistas burgueses clássicos, em especial Adam Smith e David Ricardo, buscavam entender o mundo que os cercava, mas que a limitação de suas posições de classe impediam que eles chegassem a uma visão totalizante do sistema capitalista, inclusive da luta de classes entre proprietários dos meios de produção e vendedores da força de trabalho. Marx valorizava, porém, a analise que fizeram: “Acumulação pela acumulação, produção pela produção, é a fórmula com que a economia clássica expressou a vocação histórica do período burguês”, escreveu no volume I dO Capital.

Mas Marx também acusou que, depois de consolidado o sistema burguês, uma nova safra de economistas, que ele chamava vulgares, abandonou a visão científica e passou a fazer a apologia do sistema vigente: “A doce intenção de ver num mundo burguês o melhor dos mundos possíveis substitui, na economia vulgar, o amor à verdade e a paixão pela pesquisa científica”, notou, no volume III dO Capital. Nesse mesmo volume, registrou: “Na realidade, a economia vulgar se limita a interpretar, a sistematizar e a pregar doutrinariamente as ideias dos agentes do capital, prisioneiros das relações de produção burguesa”.

Em novembro de 1969, o marxista norte-americano Paul M. Sweezy escreveu que, para os economistas burgueses, a ordem social existente é um fato definitivo, “o que significa que sanciona, implícita ou explicitamente, a permanência do sistema capitalista”. É o que expõe um dos mais influentes ideólogos capitalistas do Brasil, o ex-ministro Antonio Delfim Netto, que, analisando a atual crise sistêmica, escreveu na Folha de S.Paulo, dia 16 passado: “É preciso reconhecer que o ‘mercado’, como instrumento alocativo eficiente, não encontrou, ainda, nenhum substituto, como mostram o fracasso soviético e o sucesso chinês, e que o seu bom funcionamento não depende do irrestrito movimento internacional de capitais e, muito menos, de mistificações ‘científicas’ de ‘inovações’ financeiras”. Simples assim: neste mundo tudo passa, menos o mercado (capitalista).

No mesmo artigo, Delfim declara: “Para que o sistema de economia de mercado (que é compatível com a liberdade individual) funcione adequadamente, ele precisa de um Estado constitucionalmente limitado que: 1º) seja fiscalmente responsável; 2º) tenha poder para mitigar os seus defeitos (a flutuação que lhe é incitada e a redução das desigualdades que ele produz); 3º) seja capaz de controlar o sistema financeiro. Deixado a si mesmo, este tem a tendência de servir-se do setor real e de controlar o poder incumbente, pondo em risco, ao mesmo tempo, o ‘mercado’ e a ‘urna’".

Tal como expôs Sweezy, para o apólogo burguês considera que, no capitalismo:

“a) Os interesses dos indivíduos, grupos e classes são harmônicos (ou, se não são harmônicos, são pelo menos conciliáveis);

b) existem – e afirmam-se a longo prazo – tendências para o equilíbrio;

c) a mudança realiza-se e continuará a realizar-se sob a forma de uma adaptação gradual”.

Em contraposição, o marxismo aponta no capitalismo, ensina o economista estadunidense, os conflitos de interesse, a tendência para a ruptura, mudanças bruscas e violentas. Por não perceber estas características, a economia burguesa é incompetente e incapaz de dar solução para a crise que atenda às demandas populares. Para tal, voltemos ao marxismo, proletárias e proletários indignados de todo mundo. Unamo-nos por um novo mundo possível, socialista!

Errei, sim, manchei o teu nome...

O camarada Wellington Pinheiro dos Santos, de Jaboatão dos Guararapes/PE, informa que o bispo Robinson Cavalcanti não é da Diocese Anglicana do Recife (informação que obtive na revista Cristianismo Hoje e reproduzi no artigo “O contra-ataque dos igrejeiros”). Segundo o Wellington, ele é bispo da Diocese do Recife, ligada à Província Anglicana do Cone Sul (Argentina, Uruguai e Chile). O camarada afirma que a Diocese Anglicana do Recife “possui valores progressistas e vários de seus membros são militantes de partidos de esquerda”.

Caminhemos, entre erros e acertos, também no twitter: @Carlopo

* Jornalista e curioso do mundo.

domingo, 20 de novembro de 2011

Essa eu já sabia: pesquisa indica que homofóbicos sentem excitação por homossexuais


Em pesquisa realizada, maioria dos homofóbicos sentiram-se excitados ao confrontados com cenas homossexuais. O mesmo não ocorreu com os não-homofóbicos

- Contardo Calligaris

No fundo, no fundo, ele gosta!
Desde o fim do ano passado, em São Paulo, assistimos a uma série de ataques brutais contra homossexuais ou homens que seriam homossexuais aos olhos de seus agressores.

No fim de 2010, por decreto da Presidência da República, foi estabelecida a finalidade do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (parte da Secretaria de Direitos Humanos).

Mais recentemente, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a união entre pessoas do mesmo sexo como unidade familiar. Não me surpreende que uma explosão de homofobia aconteça logo agora, pois, em geral, o ódio discriminatório aumenta de maneira diretamente proporcional aos avanços da tolerância.

Funciona assim: quanto mais sou forçado a aceitar o outro como igual a mim, tanto mais, num âmago que mal reprimo, eu o odeio e quero acabar com ele. Mas por que eu preferiria que o outro se mantivesse diferente de mim? Por que não quero reconhecê-lo como igual? O termo de homofobia, inventado no fim dos 1960, designa, mais que um preconceito, uma reação emocional à presença de homossexuais (ou presumidos homossexuais), num leque que vai do desconforto à ansiedade, ao medo e, por fim, à raiva e à agressão.

Numa entrevista na "Trip" de outubro (http://migre.me/6563w), apresentei a explicação clássica da homofobia do ponto de vista da psicanálise: "Quando as minhas reações são excessivas, deslocadas e difíceis de serem justificadas é porque emanam de um conflito interno. Por que afinal me incomodaria meu vizinho ser homossexual e beijar outro homem na boca? De forma simples, o que acontece é: 'Estou com dificuldades de conter a minha própria homossexualidade, então acho mais fácil tentar reprimir a homossexualidade dos outros, ou seja, condená-la, persegui-la e reprimi-la, se possível até fisicamente, porque isso me ajuda a conter a minha'".

Exemplo: se eu sinto (e não quero sentir) atração por um colega de classe do mesmo sexo, o jeito, para me convencer que não sinto atração alguma, é chamar esse colega de veado, juntar um grupo que, como eu, odeie homossexuais e esperar o colega na saída da escola para enchê-lo de porradas.

Um amigo me perguntou se essa interpretação da homofobia não era sobretudo uma forma de vingança: você gosta de agredir homossexuais pelas ruas da cidade? Olhe o que isso significa: você mesmo é homossexual. Gostou? O amigo continuou: "Isso não é bonito demais para ser verdade?".

Pois bem, anos atrás, pesquisadores da Universidade da Georgia selecionaram 64 homens que (na escala Kinsey) se apresentavam como sendo exclusivamente heterossexuais. Todos foram testados por uma entrevista (clássica, o IHP) que estabelece o índice de homofobia, de 0 a 100. Com isso, foram compostos dois grupos: os não homofóbicos (IHP de 0 a 50) e os homofóbicos (IHP de 50 a 100).

Nota: chama-se pletismógrafo um instrumento com o qual se registram as modificações de tamanho de uma parte do corpo. Pois bem, todos vestiram um pletismógrafo peniano, graças ao qual qualquer ereção, até incipiente e mínima, seria medida e registrada. Depois disso, todos os 64 foram expostos a vídeos pornográficos de quatro minutos mostrando atividade sexual consensual entre adultos heterossexuais, homossexuais masculinos e homossexuais femininos.

À diferença do que aconteceu com o grupo de controle (ou seja, com os não homofóbicos), a maioria dos homofóbicos teve tumescência e ereção significativas diante dos vídeos de sexo entre homossexuais masculinos. Confirmando a interpretação da psicologia dinâmica: indivíduos homofóbicos demonstram excitação sexual diante de estímulos homossexuais.

Existe a possibilidade de que a excitação manifestada pelos homofóbicos seja efeito, por exemplo, de sua vontade de quebrar a cabeça dos protagonistas dos vídeos -existe, mas é remota (porque os 64 indivíduos da amostra passaram todos por um questionário que mede a agressividade, e ninguém se mostrou especialmente agressivo).

Para quem quiser conferir, a pesquisa, de Henry E. Adams e outros, foi publicada no "Journal of Abnormal Psychology" (1996, vol. 105, n.3), com o título "Is Homophobia Associated with Homosexual Arousal?" (a homofobia é associada à excitação homossexual?) e é acessível na internet.