quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ALCOOLISMO :A cambaleante campanha de Aécio Neves (PSDB)


Altamiro Borges: a cambaleante campanha de Aécio


Do Portal vermelho

O vídeo abaixo causou furor ontem (segunda-feira, 27) à noite nas redes sociais. Os internautas garantem que a cambaleante figura que entra num bar do Rio de Janeiro e dá gorjeta aos garçons é Aécio Neves. 

Por Altamiro Borges




As imagens estão com péssima resolução. Também não se sabe ao certo a data do fato. Mas que parece o tucano mineiro parece. Até agora, a assessoria do senador não se pronunciou sobre a cena constrangedora. A mídia privada, que adora ridicularizar políticos, também não falou nada sobre o caso. Imaginem se fosse um político “inimigo”!

Anselmo Gois e Brasil-247

O jornalista Anselmo Gois, em seu blog hospedado no jornal O Globo, apenas registrou ontem à tarde que “Aécio Neves participou, na madrugada de sexta para sábado, no Cervantes, comitê central da boemia em Copacabana, de uma celebração do PC - Partido... do Chope. Rodeado de amigos, simpático, o senador tucano, segundo testemunhas, por volta de 4h da manhã, socializou sua renda - deu uma nota de R$ 100 para cada um dos dois camaradas garçons que o serviram”.

Já o sítio Brasil-247 não vacila em garantir que a estrela do vídeo é mesmo o presidenciável do PSDB. “É melhor a oposição começar a buscar outros candidatos, se estiver mesmo disposta a se apresentar como um eventual polo de poder no Brasil. Ontem, circularam na internet imagens do senador mineiro Aécio Neves embriagado na madrugada do Rio de Janeiro. Aécio, trocando os passos, dirige-se aos garçons do bar Cervantes, point de fim de noite em Copacabana, com a barriga à mostra, e distribui gordas gorjetas. O vídeo, publicado em primeira mão pelo 247, chegou a ser retirado do ar, mas depois voltou a ser postado”.

O "fogo amigo" no ninho tucano
É certo que ninguém tem nada a ver com as festanças de Aécio Neves, que até faz marketing da sua vida boemia. Desta vez, ao menos, o senador mineiro não estava dirigindo embriagado e nem se recusou a usar o bafômetro, como ocorreu no ano passado, quando foi barrado pela polícia do Rio de Janeiro. Neste caso, ele não colocou em risco a vida de ninguém nem abusou da sua “autoridade”. Mas é certo também o vídeo que circula nas redes sociais deverá abalar ainda mais a sua cambaleante candidatura à presidente em 2014.

No conflagrado ninho tucano, a cena alimentará ainda mais o “fogo amigo”. José Serra, que nunca desistiu do seu sonho presidencial e é famoso pelo jogo sujo, deve ter dado risadas na sua madrugada do notívago. Já o governador Geraldo Alckmin, que recentemente também colocou seu nome à disposição do PSDB, ganha mais alguns pontos na encarniçada disputa interna. O senador mineiro, que já era visto como um político fraco, imaturo, e não contava com a simpatia da seção paulista do partido, deve estar de ressaca!

O tombo do projeto "Aécio 2014"

Nos últimos dias, Aécio Neves até se esforçou para fazer decolar a sua candidatura. Deu a largada na sua campanha num jantar promovido pelas madames do “Cansei”, em Curitiba. Ele também jantou no Rio de Janeiro com três economistas neoliberais do governo FHC: Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Edmar Bacha, ex-secretário de Política Econômica. O jantar visou “construir a agenda com a qual o pré-candidato tucano rodará o país”, informou a Folha tucana.

Ciceroneado por FHC, o senador ainda participou na semana passada, em São Paulo, de conversas com os banqueiros Lázaro Brandão e Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, e Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, do Itaú-Unibanco, segundo a coluna Radar, da Veja. Também esteve com os empresários Joesley Batista, do JBS Friboi, e Paulo Skaf, da Fiesp. Conforme a mídia demotucana, o presidenciável do PSDB estava bem animado com o projeto “Aécio 2014”. Mas será que a sua cambaleante candidatura vai vingar?

Fonte: Blog do Altamiro Borges

http://www.vermelho.org.br/eleicoes_2012/noticia.php?id_noticia=192392&id_secao=318

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Partido Comunista: Nossa militância é decisiva para nosso triunfo


José Reinaldo: Nossa militância é decisiva para nosso triunfo 

“O nosso Partido é um partido de grandes ideias e embates”, afirmou durante entrevista ao programa “Ideias e Debates” da Rádio Vermelho o secretário nacional de Comunicação e editor do Portal Vermelho, José Reinaldo Carvalho, ao falar sobre as discussões na última sexta-feira (24), durante reunião da Comissão Política do Partido.

Joanne Mota, da Rádio Vermelho em São Paulo 
Segundo ele, foram discutidas questões como o crescimento econômico, a atual estrutura do Estado, a investida das forças conservadoras no Brasil, a agressão imperialista e o papel de nossa militância na campanha eleitoral.

Sobre o cenário eleitoral, José Reinaldo destacou que “o Partido está sabendo participar dessa campanha eleitoral, para tanto está trabalhando no sentido de acumular mais forças no plano eleitoral institucional. Isso está refletido no amplo número de candidaturas que o PCdoB lançou nestas eleições”, destacou.

Ele lembra que nestas eleições “está em jogo o rumo das cidades brasileiras, bem como a adoção de políticas públicas que levem a estas cidades se humanizarem. De modo a terem administrações democráticas e transparentes. Além disso, também está em jogo a arrumação da chamada correlação de forças, visando o próximo pleito presidencial e objetivando dar constituição ao processo de mudança inaugurado pelo presidente Lula”.

Reinaldo também falou sobre a conjuntura nacional. “Acho que a força do PCdoB se deve à própria conjuntura nacional. O Brasil está vivendo um momento de aprofundamento e ampliação da democracia e o ambiente democrático, o ambiente de participação popular, favorece a participação do PCdoB. Isso ocorre porque o nosso Partido é um partido de grandes ideias e embates”, enfatizou.

Durante a entrevista, ele frisou o papel fundamental e estratégico da militância nesse processo. Além disso, destacou a importância da campanha nos meios de comunicação. “Com o início da campanha na TV e no rádio, estamos vivendo um momento decisivo e a realização da reunião da Comissão Política foi justamente para preparar nosso coletivo partidário para mais essa batalha. Estamos preparados porque somos um Partido de militância política e ideológica”, externou.

Sobre as questões internacionalistas, o dirigente informou que PCdoB aprovou resoluções em apoio à Síria e à decisão do governo do Equador em conceder asilo político ao australiano Julian Assange.

“O nosso Partido está ligado 24 horas por dia na luta nacional, e agora na luta eleitoral, mas não perde de vista as grandes questões mundiais que ameaçam os povos, a soberania e a paz. Desse modo, o PCdoB não poderia se furtar de olhar para a ampla investida do imperialismo estadunidense e do Estado sionista de Israel à Nação Síria, bem como não veria com bons olhos a tentativa de agressão à embaixada do Equador em Londres, por conta do asilo a Julian Assange. Sendo assim, o PCdoB aprovou por unanimidade resoluções de apoio às nações agredidas e contra a investida imperialista”, informou o dirigente.


http://www.pcdob.org.br/noticia.php?id_noticia=192265&id_secao=327

Aldo Rebelo (PCdoB): 85% dos atletas das Paralímpiadas têm Bolsa-Atleta


Aldo Rebelo (PCdoB): 85% dos atletas das Paralímpiadas têm Bolsa-Atleta


Do portal Vermelho

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, em entrevista a TV NBr nesta quarta-feira (29), em Londres, destacou a participação brasileira nos Jogos Paralímpicos 2012. Aldo ratificou o apoio do governo federal ao paradesporto e elogiou o empenho de atletas, técnicos e do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) na preparação para as Paralímpiadas. A delegação do Brasil, que é formada por 182 atletas, possui 156 integrantes do programa Bolsa-Atleta do Ministério do Esporte.


Além do Bolsa-Atleta, que é o maior programa do mundo de patrocínio direto ao atleta, o Ministério do Esporte firmou diversos convênios e financiou a pré-temporada de parte dos atletas brasileiros em Manchester. 

“O investimento grande para as Paralimpíadas é uma forma de o governo reconhecer o valor desses atletas, que superam dificuldade na vida para se tornarem referência no esporte”, disse Rebelo.

“Nós temos promovido investimentos diretos ao atleta. A perspectiva é de um investimento ainda maior para que não só um maior número de atletas pratiquem o esporte, mas também para que os de alto rendimento possam obter resultados cada vez melhores”, completou.

Sobre a expectativa de medalhas, o ministro espera que o Brasil tenha ainda mais sucesso que teve nos Jogos Paralímpicos de Pequim 2008, quando terminou a competição na nona posição no quadro de medalhas. “Em Pequim nós ficamos em uma boa posição e esperamos ficar novamente entre dos dez”, comentou. Rebelo ainda fez questão de elogiar os brasileiros que estão em Londres. “O esforço dos atletas, dos treinadores e do CPB merece nosso reconhecimento e toda a atenção e investimento”, afirmou.

Pré-temporada em Manchester

Parte da delegação brasileira teve oportunidade de fazer treinos de ambientação em uma espécie de pré-temporada na cidade de Manchester, financiada pelo Ministério do Esporte.

Segundo o secretário Nacional de Alto Rendimento, Ricardo Leyser, é a primeira vez que uma delegação paralímpica realiza esse tipo de preparação. “Inauguramos em 2010 uma nova forma de apoio para a preparação dos atletas brasileiros para os campeonatos mundiais, Jogos Parapan-americanos e Paralímpicos”, explicou. 

“E, por meio de uma parceria com o CPB, a delegação teve a oportunidade de treinar na Inglaterra como parte da preparação do Brasil. Acreditamos que esse tipo de iniciativa irá impactar nos resultados dos nossos atletas”, disse o secretário ressaltando que todo o cuidado foi tomado, como a disponibilização de cardápio brasileiro.

Fonte: Ministério do Esporte


http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=192441&id_secao=1

“Um Marx desconhecido: A Ideologia alemã”* (I)










27/9/2011, Nicolás González Varela
Do Blog O Empastelador


“Eu próprio não tenho uma compilação de meus trabalhos, que foram escritos em diferentes idiomas e impressos em diferentes lugares. A maioria deles já não se encontram nas livrarias”
(Karl Marx a N. F. Danielson, 7/10/1868).

“Três chefes comunistas alemães, entre os quais o conhecido Marx, estão preparando edição em oito volumes sobre o Comunismo, doutrina, conexões e situação na Alemanha, Suíça, França e Inglaterra. Tudo a partir de documentos. Os outros dois colaboradores são Engels e Hess, comunistas conhecidos”
(Informe secreto da Polícia Prussiana, Paris, 17/2/1846).


Boris Nicolaïevski, grande biógrafo de Marx, reconhecia em 1937 que, de cada mil socialistas, talvez só um tenha lido, de cabo a rabo, algum livro de Marx; e de cada mil antissocialistas, nem um. E o pior, concluía, é que Marx já não estava na moda. 40 anos antes, um grande teórico e militante, falo de Labriola, ao participar não conhecido debate sobre o valor científico da obra de Marx em 1897, (a chamada “primeira crise do marxismo”, e cujos principais interlocutores eram ninguém menos que George Sorel, Eduard Bernstein e Benedetto Croce)[1] perguntava-se ingenuamente se “os escritos de Marx e Engels… foram lidos integralmente por alguém externo ao grupo de amigos e adeptos próximos, isto é, dos seguidores e intérpretes diretos dos próprios autores?... Acrescente-se a isso a raridade de muitos dos referidos escritos, e até a impossibilidade de encontrar alguns deles.” E concluía profético se “este ambiente literário”, esta situação hermenêutica adversa, não seria um dos culpados pela má assimilação, a aparente decadência e crise do pensamento de Marx. Com pessimismo, recapitulava, em frase profética: “Ler todos os escritos dos fundadores do socialismo científico resultou, até agora, em privilégio de iniciados.”[2]

Já o fundador do anarcossindicalismo Georges Sorel, com quem Labriola troca ideias, havia chegado a conclusões semelhantes em balanço parcial da penetração do marxismo sob as condições materiais da Europa não início do século 20. Segundo Sorel e pelo mesmo motivo: “as teses marxistas não foram, em geral, bem compreendidas na França e na Inglaterra pelos escritores que se ocupam das questões sociais”.[3] Parafraseando Frossard, poder-se-ia dizer que a maioria dos marxistas não conhecem os escritos de Marx melhor do que os católicos conhecem a Summa de Santo Tomás de Aquino. Labriola perguntava-se a propósito da “crise” ou decadência de Marx, “como nos pode surpreender (...) que muitos e muitos escritores, sobretudo publicistas, tenham-se sentido tentados a tomar críticas de adversários, ou citações incidentais, ou inferências temerárias baseadas em trechos esparsos, ou vagas lembranças, os elementos necessários para construírem um Marxismo que eles mesmos inventavam a seu modo? (...) O Materialismo Histórico – que em certo sentido é todo o Marxismo – passou (...) por uma infinidade de equívocos, más interpretações, alterações grotescas, disfarces estranhos e invenções gratuitas (...) que teriam de ser obstáculo para quem quisesse construir para si uma cultura socialista.”

Nikolaïevski e Labriola, mas não só eles, estavam convencidos de que Marx teria para sempre o destino de má recepção, que começava na difusão e irradiação de seus escritos. Labriola falava de outro obstáculo, ainda mais profundo e perigoso, do qual nos ocupamos aqui: a raridade dos escritos de Marx e a impossibilidade de encontrarem-se edições confiáveis. De fato, nem só edições confiáveis, mas, mais simplesmente, obras publicadas!

O leitor responsável que se interessasse por Marx sofreria, segundo Labriola, dificuldades mais extremas que as enfrentadas por filólogos e historiadores que tenham de estudar documentos da Antiguidade. E perguntava, por experiência própria: “Haverá muita gente não mundo que tenha suficiente paciência para procurar, por anos a fio, um exemplar de Miséria da Filosofia (...) ou desse livro singular que é A Sagrada Família; gente disposta a suportar, para encontrar um exemplar daNova Gazeta Renana, mas fadigas que as que os filólogos e historiadores enfrentam para ler e estudar documentos do Egito antigo?”[4]
Em resumo: cumprindo a profecia de Labriola, acontece hoje não mundo, com Marx, o que aconteceu com Byron em meados do século 20: só se encontram seus livros em bibliotecas de leitores excêntricos, não especialistas ou antiquados. Para o grande público, incluindo-se a Noblesse d’État do mandarinato acadêmico, o nome de Karl Marx significa hoje bem pouco. Hoje, setembro de 2011, não se encontram não mercado editorial de língua espanhola edições críticas de Marx e Engels, a meritória edição dos Werke a cargo da equipe de Manuel Sacristán ficou incompleta[5] e a única exceção é a edição em andamento (embora hoje interrompida), de parte das Werke, na editora Fondo de Cultura Económica, FCE, do México, graças ao trabalho do falecido Wenceslao Roces.[6]

Mas é lícito perguntar o que permanece vivo e o que morreu Marx, embora a pergunta possa ser puramente retórica ou dispare automaticamente a vulgata do Dia-Mat. A resposta seca e solene do pós-modernismo e da filosofia analítica é amplamente conhecida: o marxismo está decididamente fora de época, é “inatual”, como “grande narrativa” não consegue explicar-se sequer ele mesmo; e é obra fatalmente datada. Não passa de uma filosofia a mais, das que nos deixou o século 20 e, como tal, definitivamente marcada pelo próprio tempo. Sepultar Marx com todas as honras é dever, nem tanto intelectual, mas arqueológico, trabalho de antiquariato. Nada há que valha a pena resgatar nessas páginas infectadas de hegelianismo e providencialismo, como insiste, pela milésima vez, o neopositivista Mario Bunge.[7]


Labriola (e Sorel) constatavam uma dificuldade fática que nasceu com o próprio marxismo, que a carrega como estigma até nossos dias: as enormes dificuldades para estabelecer e editar, com critérios científicos atualizados, as suas obras completas. Labriola reclamava do SPD da época, detentor dos manuscritos (Nachlass), que “seria dever do partido alemão dar edição completa e crítica a todos os escritos de Marx e Engels; quero dizer, edição acompanhada em cada caso de prólogos descritivos e declarativos, índices de referência, notas e remissões (...). E é preciso acrescentar os escritos já publicados em livro ou opúsculos, artigos de jornal, manifestos, circulares, programas e todas as cartas que, por serem de interesse público e geral, tenham importância política ou científica”. E concluía, taxativo: “Não se trata de selecionar: é preciso por ao alcance dos leitores toda a obra científica e política, toda a produção literária dos dois fundadores (...) inclusive os escritos de ocasião. E não se trata tampouco de reunir um Corpus iuris, nem de redigir um Testamentum juxta canonem receptum, mas de recolher os escritos com cuidado e para que os escritos possam falar diretamente a quem tenha ganas de lê-los”. Trata-se simplesmente de Marx poder falar diretamente...

Marx reconhecia que a própria vida o havia impedido de escrever conforme o cânone da arte de faire le livre, razão pela qual sua literatura eram fragmentos de uma ciência e de uma política em eterno devir.

O marxismo, se há algo que se possa chamar assim, era eminentemente um sistema aberto. Labriola destacara com suficiente clareza não só os critérios editoriais de uma política editorial, mas os problemas materiais objetivos que a difusão implicava, tanto da obra exotérica como dos manuscritos de Marx (e Engels).

Um dos erros mais significativos da difusão da obra marxiana e, portanto, de uma das causas que ajudam a explicar os desvios de interpretação foi o deslocamento entre os níveis diacrônicos e sincrônicos dos manuscritos, o que levou a uma desarticulação entre os componentes biográficos, cronológicos e doxográficos, que constituem, desde Teofrasto, o instrumental filológico mínimo necessário para que se alcance compreensão satisfatória de uma obra. Labriola já havia reconhecido a necessidade de, para que se entendam plenamente os textos, ser necessário relacioná-los biograficamente (na biografia, encontrar-se-iam ao mesmo tempo “a pegada e a trilha, o índice e o reflexo” da gênese de Marx). Mas no caso de Marx, essa disrupção anômala entre os dois níveis deveu-se, na maior parte, nem tanto ao seu estilo particular, mas, mais, à constante manipulação política que sofreram seus escritos, por carrascos executores circunstanciais.

O percurso tortuoso, entre errático e movido pelo acaso, que é a história editorial dos escritos de Marx só é comparável à coleção de coincidências afortunadas, fantásticas, triviais e quase inacreditáveis graças às quais se salvaram, para a posteridade, muitos dos escritos de Aristóteles. Como no caso de Marx, seus escritos sofreram as inclemências dos interesses políticos e os caprichos culturais, em cada mudança na forma de atenção. E, como Aristóteles, os manuscritos de Marx guardam uma peculiaridade muito especial: a maior parte são anotações, esboços, notas e memoranda, produto de uma técnica de trabalho intelectual limitada pela extrema pobreza e as repetidas emigrações políticas.

Mas no caso de Marx acrescenta-se uma condição a mais: o próprio marxismo (melhor dizer, os marxismos) nasceu, desenvolveu-se e profissionalizou-se em escola (e, em seguida, em ideologia oficial e legitimadora de um estado) quando a obra de Marx ainda não era toda ela acessível e, inclusive, quando partes importantes de seu corpus eram inéditas (e ainda são) ou, mesmo, eram inencontráveis. O êxito (?) do marxismo como ideologia de partido e ortodoxia de estado (como ciência da legitimação do DiaMat) precedeu em décadas a divulgação científica e exaustiva dos escritos completos dos fundadores.

Um dos casos mais extremos (embora não seja o único) é o texto conhecido como Die Deutsche IdeologieA Ideologia alemã, escrito a três mãos por Friedrich Engels, Moritz Hess e Karl Marx entre 1845 e 1846, e onde, para muitos especialistas, pela primeira vez estabelece-se o que se poderia chamar de materialismo histórico coerente e fundamentado.[8] E, embora a marxologia mais prestigiosa geralmente admita a importância desse escrito, inclusive a marxologia acadêmica (a começar por Althusser, Balibar etc.), é obra muito pouco lida em toda sua extensão, mal editada e de péssima difusão.[9] Fora do âmbito da marxologia, reina a indiferença, o desconhecimento total ou, diretamente, o desprezo que brota da ignorância. [10] Como diziam os antigos romanos: Pro captu lectoris habent sua fata libelli (o destino dos livros acontece segundo as capacidades e possibilidades do leitor). Também no caso de um pensador clássico, como Marx.

*****
Para dar-nos uma medida da importância que o próprio autor atribuía a esse trabalho de 1845-1846, é preciso fazer um pequeno desvio para atualizar a história pouco conhecida das primeiras obras escolhidas editadas de Karl Marx. A difusão da obra de Marx já era problema, ainda em vida do autor. As únicas edições em livro, de trabalhos da mesma época em que escreveu A Ideologia alemã, a frutífera década dos 1840, são produto de uma tentativa frustrada de editar ‘obras escolhidas’ primitivas, chamadas pomposamente Gesammelte Aufsätze von Karl Marx, resultado da exaltação editorial de um camarada, o médico e publicista Hermann Heinrich Becker (que Marx apelidou de “Becker, o vermelho” [der rot Becker])[11] aparição fantasmática ocorrida em abril e maio de 1851.[12]

Franz Erdmann Mehring, o historiador e político que pouco adiante fundaria a Liga Espartaco, com Rosa Luxemburg, relatava em seu trabalho biográfico clássico que “Marx pôs-se em comunicação com Hermann Becker para a edição de suas obras completas e, adiante, de uma revista trimestral a aparecer em Lieja; Becker fixara residência em Colônia, onde gerenciava uma pequena empresa editorial.”[13] O projeto de edição, em dois tomos, cada um com cerca de 400 páginas, em 25 cadernos costurados, tinha fundo eminentemente político, ação ligada a uma tática de partido (propagandistische Tätigkeit), ligada estreitamente à propaganda e difusão das ideias da famosa Liga dos Comunistas [Der Bund des Kommunisten], organização que se tratava de reconstruir na Alemanha.

Aquelas primitivas obras escolhidas de Marx tinham o apoio institucional do Comitê Central da Liga em Colônia [Kölner Zentralbehörde], que previa um sistema de assinaturas antes da publicação. No mesmo projeto, Marx concebera o lançamento de uma coleção popular de literatura socialista em pequenos fascículos (plano de difusão de pensadores socialistas que já tentara por em prática em 1845), e incluía obras de Babeuf, Buonarotti, Holbach, Fourier, Owen, Helvetius, Saint-Simon, Cabet, Considérant e Proudhon. No folheto explicativo que acompanhava essas obras escolhidas primitivas de Marx, nos pacotes distribuídos para as livrarias, assinado pelo editor da compilação – o próprio Becker –, lia-se que a obra de Karl Marx estava dispersa em folhetos, panfletos, periódicos já desaparecidos e livros já não encontráveis nas livrarias, motivo pelo qual a edição em livro era importante serviço, ao oferecer aos leitores a produção escrita de Marx na última década: “o primeiro volume recolhe as contribuições de Marx publicadas na revista Anekdota de Ruge, na antigaRheinische Zeitung (inclusive artigos sobre a liberdade de imprensa, leis sobre roubo de madeira, a situação dos camponeses do Mosela, etc.), nos Deutsch-französischen Jahrbüchern, no Westphaelische Dampfboot, emGesellschaftsspiegel, etc. e uma série de monografias publicadas antes da revolução de março de 1848, mas por desgraça (sic!) ainda plenamente atuais.”[14]

O único e primeiro volume, que afinal ficou reduzido a 80 páginas, continha textos de Marx desde dezembro de 1841, o primeiro era Bemerkungen über die neue preußische Zensurinstruktion [Observações sobre as Novas Instruções do Governo Prussiano acerca da Censura], publicado na revista Anekdota zur neuesten deutschen Philosophie und Publicistik[15] dos jovens hegelianos. A inclusão desse artigo é sintomática. Não é acaso que Marx tenha escolhido, não primeira publicação impressa [16], mas seu primeiro escrito como propagandista democrata-revolucionário defendendo a liberdade de imprensa burguesa clássica, contra o reacionário estado prussiano.

Nesse artigo, já criticava o “aparente Liberalismo” (Scheinliberalismus) da forma-estado burguesa, com bagagem filosófica que remetia declaradamente a Spinoza, Kant e Fichte, desmascarando a ilusão política de crer que os defeitos institucionais objetivos (objektiven Fehler, como a tendência a restringir a informação crítica livre) do Estado, na realidade, sua essência, pudessem ser corrigidos apenas mudando os censores.

Nenhuma “boa” lei, nenhuma “boa” intenção subjetiva – diz Marx ali – pode alterar a essência de um estado burguês. Além disso, num extraordinário parágrafo concentrado, Marx descreve em linguajar popular o método dialético de investigação da Verdade (Untersuchung der Wahrheit), que tem de ser, ele mesmo, verdadeiro: Zur Wahrheit gehört nicht nur das Resultat, sondern auch der Weg, “não só o resultado constitui a Verdade, também o caminho.” Destaca que o caráter do objeto (Charakter des Gegenstandes) que se investiga, nesse caso o estado burguês, exerce influência decisiva sobre a própria investigação. A investigação verdadeira “é” a Verdade desmembrada, cujos membros dispersos agrupam-se e condensam o resultado, nada mais, nada menos, que uma versão ainda tosca e primitiva do modo de investigação, oForschungswiese, como aparece explicado no prólogo de O Capital.

O projeto editorial incluía, além dos artigos jornalísticos da etapa radical-liberal nos Anekdota e no diário Rheinische Zeitung, alguns do frustrado projeto parisiense dos Anuários Franco-Alemães; e artigos do “órgão da Democracia” criado por Engels e Marx, a Neue Rheinisches Zeitung. Para o segundo tomo, que não chegou a nascer, estava previsto publicar artigos da revista política que Engels e Moritz Hess editaram, Espelho da Sociedade,[17] e pensou-se em traduzir para o alemão algumas monografias de Marx, como o livro contra Proudhon, Misère de la philosophie[18], e o capítulo IV de A ideologia alemã. Crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas, intitulado “Karl Grün: ‘Die soziale Bewegung in Frankreich und Belgien’ (Darmstadt 1845) oder Die Geschichtschreibung des wahren Sozialismus” ["Karl Grün: ‘O Movimento Social na França e na Bélgica” (New York, 1845) ou a historiografia do socialismo verdadeiro].[19]
Embora a tiragem pensada inicialmente fosse muito ambiciosa (15 mil exemplares), só se imprimiram umas poucas cópias, a repressão contra os comunistas em Colônia, o próprio Becker foi preso em maio de 1851, e o confisco de exemplares pela Polícia fizeram com que poucos livros fossem distribuídos na cidade e arredores. Ainda em meados de 1851, Marx pensava editar uma versão ampliada desses escritos, incluindo um possível terceiro tomo, cada um com 75 páginas, tendo o dirigente Ferdinand Lassalle operado na intermediação.[20]

Além da importância filológica-documental, dada por ‘óbvia’ ou totalmente ignorada pela marxologia tradicional, o projeto político-editorial amadurecido em dezembro de 1850, oferece pistas precisas sobre as ideias filosófico-práticas do Marx maduro.

Em primeiro lugar, que, para as tarefas políticas-revolucionárias pendentes na Alemanha pós-1848, o próprio Marx identificou, de sua obra anterior, tanto teórica como de publicista, quais os textos que eram e quais não eram pertinentes. Em segundo lugar, é evidente que se o próprio Marx pretendia publicar, com o consenso da própria Liga dos Comunistas, textos aparentemente “defasados” de sua etapa de liberal de esquerda, aí está uma evidência de uma (talvez) profunda continuidade (apesar das sucessivas rupturas teóricas) na autoconsciência de Marx entre seu pensamento esquerdo-hegeliano (logo feuerbachiano) e o Comunismo reflexivo da década dos 1850s. As ideias marxianas entre 1841 e 1844 continuavam atuais, e continuavam plenamente operativas e funcionais associadas à nova dimensão da Kritik. Não se deve esquecer que, nessa altura, Marx já escrevera não só “Lohnarbeit und Kapital” [Trabalho Assalariado e Capital] [21] no diário democrático-revolucionario Neue Rheinisches Zeitung, mas também já publicara, com Engels, o Manifesto Comunista. E, nessa continuidade em sua filosofia prática, Marx reconhecia o valor autônomo e de consolidação teórica deA Ideologia alemã de 1845-1846.
“Durante o verão (de 1845)” – recorda Jenny Westphalen, esposa, corretora e copista de Marx – “Engels elaborou com Karl uma crítica à filosofia alemã. O estímulo externo foi o surgimento de Der Einzige und sein Eigentum [aprox. “O ego e o seu próprio” (NTs)] (de Max Stirner). Acabou sendo obra volumosa e seria publicada na Westfalia.”[22] Numa autointerpretação do Marx maduro, o famoso Vorwort à Zur Kritik der Politischen Ökonomie [Prefácio à Crítica da Economia Política] de 1859, fica clara a enorme importância atribuída ao passo teórico dado entre 1844-1846 e em especial o papel que aí desempenhava A Ideologia Alemã:

“Comecei em Paris a investigação [da anatomia da sociedade civil], prosseguindo em Bruxelas, para onde havia emigrado como consequência da ordem de expulsão do Sr. Guizot. O resultado geral que obtive e que, uma vez obtido, serviu de fio condutor dos meus estudos, pode ser assim formulado brevemente. Na produção social de sua existência, os homens estabelecem determinadas relações, necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção (Produktionsverhältnisse) que correspondem a um determinado estado evolutivo de suas forças (...). O modo de produção da vida material determina (bedingen) o processo social, político e intelectual da vida em geral. (...) Com Friedrich Engels, com quem tenho mantido constante intercâmbio epistolar de ideias (...) e também quando se estabeleceu em Bruxelas na primavera de 1845, resolvemos elaborar conjuntamente a oposição de nossos pontos de vista contra o ponto de vista ideológico da filosofia alemã, ou, de fato, acertar contas com nossa antiga consciência filosófica. Este propósito levou-se a cabo na forma de uma crítica à filosofia pós-hegeliana. O manuscrito, dois grossos volumes in-octavo, já havia chegado havia muito tempo ao local onde devia ser editado, na Westfalia, quando recebemos a notícia de que uma mudança de condições não permitia a impressão. Deixamos o manuscrito entregue à roedora crítica dos ratos, ainda de melhor grado porque já alcançáramos nosso objetivo principal: compreendermos, nós mesmos (Selbstverständigung), a questão.”[23]

Resulta claro e evidente que esta ruptura, esta nova Ansicht [visão], este revolucionário ponto de vista, só pode ser entendido em sua magnitude, se compreendermos o significado de A Ideologia alemã. Em suma: si voltamos ao “futuro anterior” do próprio Marx. [Continua]

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NOTAS

[1] A conhecida como “primeira crise do marxismo”, hoje quase completamente esquecida, foi iniciada por um artigo do advogado G. Masaryk nos números 177-179 do jornal vienense Die Zeit, no qual o autor simplesmente constatava as diferenças teórico-práticas internas na social-democracia alemã e austríaca, em especial entre os pais fundadores e seus epígonos, concluindo que tais diferenças deviam-se ao caráter eclético do próprio marxismo, sistema sincrético; e que Das Kapital não passava de mera transcrição, em termos econômicos, do Fausto de Göethe. Da crise “no” marxismo da social-democracia de língua alemã, reformistas como Bernstein et altri, sem mais nem menos, extraíram uma crise “do” marxismo.

[2] LABRIOLA, Antonio. Discorrendo di socialismo e di filosofia, carta II (esp.) “Socialismo y Filosofía”, Madrid: Alianza editorial, 1969, p. 41, com tradução e prólogo de Manuel Sacristán.

[3] SOREL, Georges. “Préface” in LABRIOLA, Antonio. Essais sur la conception matérialiste de l'histoire, Paris: V. Giard & E. Brière, libraires-éditeurs, 1897, pp. 1-20.

[4] LABRIOLA, Antonio, ibidem, p. 41.

[5] Em 1975, Sacristán projetou uma edição crítica em espanhol da obra escolhida de Marx e Engels em 68 volumes, com o título de Obras completas de Marx e Engels (OME), sob o selo de Editorial Grijalbo. Desse projeto, só 11 volumes viram a luz, dentre os quais as traduções de Sacristán de O Capital, livros 1 e 2 e o Anti-Duhring. Sacristán dizia com razão, sobre publicar o Marx desconhecido que “quando me encarregaram de começar a traduzir as obras de Marx e Engels (que por certo foram suspensas, porque já não há mercado suficiente) era justo que me pedissem um Capital, porque, se traduziam obras completas, claro que também editariam O Capital. Mas o que, na minha opinião, estava errado, era entenderem que a primeira coisa a publicar, imediatamente, teria de ser O Capital. Entendo que, antes, teriam de publicar a parte inédita, a saber, o epistolário completo. Não me atrevo a dizer que eles, que são comerciantes, não tenham razão, mas a situação é absurda.” (In ARNAL, López, S.; DE LA FUENTE, P. Acerca de Manuel Sacristán, Barcelona: Destino, 1996, p. 168. Sobre a figura decisiva de Sacristán, ver ARNAL, López, S., “Aristas esenciales de un pensador poliédrico (I). Manuel Sacristán (1925-1985), a los 25 años de su fallecimiento”. In: Papeles de relaciones ecosociales e cambio global, n. 109, 2010, pp. 23-44.

[6] Tradução de uma seleção da edição de MARX, K.; ENGELS, F., Werke, editada por Dietz Verlag de Berlin-DDR, segundo a versão de 1958; em palavras de Roces: “Esta edição, que não é das obras completas (MEGA), mas das Obras Fundamentais (Werke), constará de vinte e tantos volumes. Já se publicaram dois, da juventude de Marx e de Engels; publicaram-se os três tomos das Teorias da Mais-valia. Agora aparecerão O Capital e os escritos econômicos menores e também a nova edição dos Grundrisse.” Sobre a figura de Roces: RIVAYA, Benjamín, “Comunismo e compromiso intelectual: Wenceslao Roces”. In Papeles de la FIM, n. 14, Fundación de Investigaciones Marxistas, Madrid, 2000. Roces foi pioneiro, ao fundar e dirigir uma empresa de difusão marxista ainda na IIa. República espanhola, a “Biblioteca Carlos Marx” da Editorial Cenit, da qual chegaram a publicar-se dez volumes grandes, entre os quais o primeiro tomo de O Capital em dois volumes e o Anti-Dühring de Engels.

[7] Remetemos o leitor à nossa crítica à centésima milésima tentativa de tratar Marx e Engels como cachorro morto, do físico Mario Bunge: “O Dr. Bunge sobre Engels. Los escombros ideológicos do Neopositivismo”, on-line em Rebelión:http://www.rebelion.org/noticia.php?id=98168

[8] ESSBACH, Wolfgang. Die Bedeutung Max Stirners für die Genese des historischen Materialismus (1978) , u.d.T. Gegenzüge, Materialis, Frankfurt am Main, 1982.

[9] Balibar, por exemplo, assinala, rápida e erradamente, que “em 1845, Marx, refugiado em Bruxelas, trabalhava em colaboração com Engels na elaboração de uma concepção filosófica materialista da istória, da qual quer fazer a base de um socialismo proletário autônomo (“Tesis sobre Feuerbach, A Ideologia Alemana, manuscritos publicados tras a muerte de Marx e Engels”)”. In: BALIBAR, Étienne. Cinco Ensayos de Materialismo Histórico, Barcelona: Editorial Laia, 1976, p. 20. Malgré lui: não só se equivoca ao considerá-las obra independentes, mas também no momento em que foram publicadas, muito antes da morte de Engels e Marx. Em momento algum Engels ou Marx utilizan, nesses anos, nem o termo “concepção filosófica materialista da História”, nem “socialismo proletário autônomo”.

[10] O caso do célebre filósofo liberal britânico Isaiah Berlin, o qual, em livro de encomenda sobre Marx, escreve, sobre A Ideologia Alemã, o seguinte: “Stirner é demoradamente discutido. Sob o título de ‘São Max”, é perseguido ao longo de 500 páginas de sarcasmo grosseiro e insultos”. In: Karl Marx: His Life and Environment, Thornton Butterworth, London, 1939, Chapter VI, “Historical Materialism”, p. 143. Berlin erra até no ano da composição: “A exposição mais extensa da teoria acontece num trabalho que compôs com Engels em 1846, intitulado Ideologia Alemã” (ibidem, p. 118).

[11] DOHM, Bernhard; TAUBERT, Inge. “Engels über den roten Becker. Ein unbekannter Brief von Friedrich Engels”, In:Beiträge zur Geschichte der Arbeiterbewegung. 1973, Heft 5, pp. 807-814.

[12] MARX, Karl. Gesammelte Aufsatze von Karl Marx, herausgegeben von Hermann Becker. I. Heft, Koln, 1851. O conteúdo dessa primeira edição de escritos de Marx encontra-se em MARX, Karl; ENGELS, Friedrich, Werke, Artikel, Entwrfe Juli 1849 bis Juni 1851, Abt. 1: Werke, Artikel, Entwürfe, Bd. 10, Akademie Verlag, Berlin, 1977, pp. 493-497. Tratava-se do primeiro volume projetado; o segundo nunca foi publicado, porque Becker foi preso dia 19/6/ 1851, acusado de ser comunista e conspirar contra o estado; foi julgado no famoso processo dos comunistas (Kölner Kommunistenprozess), em 1852, e condenado a cinco anos de cárcere. Vide carta de Becker a Marx de dezembro de 1850. In: AA.VV. Der Bund der Kommunisten. Dokumente und Materialen. Band 2, Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1982, Dokumente 570, pp. 357-358.

[13] MEHRING, E., Franz. Karl Marx: Die Geschichte seines Lebens, 1918, p. 209. Esp. Carlos Marx. Historia de su Vida, México: Editorial Grijalbo, 1957, p. 227-228.

[14] Textual: “Marx's Arbeiten sind theils in besonderen Flugschriften, theils in periodischen Schriften erschienen, jetzt aber meistens gar nicht mehr zu bekommen, wenigstens im Buchhandel ganz vergriffen. Der Herausgeber glaubt deßhalb, dem Publikum einen Dienst zu erweisen, wenn er mit Bewilligung des Verfassers diese Arbeiten, welche gerade ein Decennium umfassen, zusammenstellt und wieder zugänglich macht. [...] Der erste Band wird Marx's Beiträge zu den ‘Anekdota’ von Ruge, der (alten) ‘Rheinischen Zeitung’ (namentlich über Preßfreiheit, Holzdiebstahlsgesetz, Lage der Moselbauern usw.), den ‘deutsch-französischen Jahrbüchern’, dem ‘Westf. Dampfboote’, dem ‘Gesellschaftsspiegel’ usw. und eine Reihe von Monographien enthalten, die vor der Märzrevolution erschienen, aber leider noch heute passen.” In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich, ibidem, p. 496.

[15] É o segundo artigo público conhecido de Marx, escrito entre janeiro e fevereiro de 1842, aparecido anonimamente (“De um renano”) como artigo nos Anekdota…, tomo I, ano 1843. A revista era órgão puro da esquerda hegeliana, sob a direção de Arnold Ruge. Agora, em MARX, Karl; ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1976. pp. 3-25. Esp. MARX, Karl, Escritos de Juventud, FCE, México, 1982, pp. 149-169.

[16] Quer dizer, o artigo “Luther als Schiedsrichter zwischen Strauß und Feuerbach” (“Lutero, árbitro entre Strauss e Feuerbach”), escrito em janeiro de 1842 e publicado anonimamente (“Alguém que não é berlinense”) nos Anekdota…, tomo II, 1843. Agora em en: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1976, pp. 26-27. Esp. MARX, Karl, Escritos de Juventud, FCE, México, 1982, pp. 147-148.

[17] Gesellschaftsspiegel. Organ zur Vertretung der besitzlosen Volksklassen und zur Beleuchtung der gesellschaftlichen Zustände der Gegenwart era revosta de tendência (wahrsozialistischen) político-teórica de intervenção nas classes trabalhadoras e de coinvestigação da questão social. Foi editada entre 1845-1846 na região natal de Engels, Elberfeld. Vide SILBERNER, Edmund, “Der ‘Kommunistenrabbi’ und der ‘Gesellschaftsspiegel’”. In Archiv für Sozialgeschichte, (1963), Band 3, pp. 87-102. Marx contribuiu com um artigo sobre o suicídio no capitalismo, em 1846: “Peuchet: Vom Selbstmord”. In Gesellschaftsspiegel; zweiter Band, Heft VII, Elberfeld, Januar 1846, pp. 14-26. Agora em MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx-Engels Gesamtausgabe, MEGA, I Abt., Band 3, Moskau-Berlin, 1932, pp. 391-407. Em esp. Marx, Karl; Sobre o Suicidio, ed. e tradução a cargo de Nicolás González Varela, Montesinos, Mataró (no prelo). Sobre o artigo de Marx, nos permitimos remeter o leitor a nosso artigo on-line: “Karl Marx en Bruselas (1845-1848): suicidio e cuestión femenina en o Capitalismo” (http://www.rebelion.org/noticias/2006/10/38534.pdf).

[18] Escrito en francês entre dezembro de 1846 e abril de 1847: Misère de la philosophie. Réponse à la philosophie de la misère de M. Proudhon, C.G. Vogler, Brüssel-A. Frank, Paris, 1847. (...) A melhor tradução ao espanhol ainda é Miseria de la Filosofía, Buenos Aires: Editorial Signos, 1970.

[19] In: ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1976, pp. 5–530.

[20] Vide carta de Lassalle a Marx de 26/6/1851 e suas conversas com o editor Scheller, de Düsseldorf.

[21] ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1971, pp. 397-423. Esp. Trabajo Asalariado y Capital, Barcelona: Ed. Nova Terra, 1970.

[22] Westhpalen, Jenny; “Kurze Umrisse eines bewegten Lebens”. In: AA. VV. Mohr und General. Erinnerungen an Marx und Engels, Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1964, p. 192.

[23] ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1971, p. 8 e 10. Esp. MARX, Karl.Contribución al a Crítica de la Economia Política, México: Siglo XXI, 1980, p. 4 e 6.

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* Em português do Brasil: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich, A ideologia alemã. Crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas. [1845-1846] Trad.: Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano. Prefácio: Emir Sader. São Paulo: Boitempo Editorial. 2007, 616 p.
** Nesse endereço, vê-se imagem do folheto para as livrarias das primeiras obras completas de Karl Marx, redigido pelo editor Hermann Becker, Colônia, 1851.
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Ideologia AlemãChega às livrarias a aguardada edição integral de A ideologia alemã, de Karl Marx e Friedrich Engels. Traduzida diretamente do alemão para o português por Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Martorano, com texto final de Rubens Enderle, a edição da Boitempo tem introdução escrita por Emir Sader e supervisão editorial de Leandro Konder, um dos maiores estudiosos do marxismo no Brasil. Além disso, será a versão mais fiel aos originais deixados pelos autores, pois a primeira no mundo traduzida a partir da inovadora Mega-2.
Essa nova edição cuidadosa, que se tornará referência para todos os interessados nos escritos de Marx e Engels, foi feita dentro da tradição de rigor com os livros desses autores estabelecida pela Boitempo. A editora já lançou cinco das obras dos dois filósofos, todas traduzidas do original e sob a supervisão de reconhecidos especialistas.
A ideologia alemã é considerada por muitos estudiosos a obra de filosofia mais importante de Marx e Engels. Escrita entre os anos 1845-1846, representa a primeira exposição estruturada da concepção materialista da história e é o texto central dos autores acerca da religião. Nela eles concluem um acerto de contas com a filosofia de seu tempo – tanto com a obra de Hegel como com os chamados “hegelianos de esquerda”, entre os quais Ludwig Feuerbach. Esse ajuste passou antes pelos Manuscritos econômico-filosóficos, por A sagrada família, por A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, para alcançar em A Ideologia alemã sua primeira formulação articulada como método próprio de análise.
A crítica – quase toda em tom sarcástico – dos dois filósofos ridiculariza o idealismo alemão e articula as categorias essenciais da dialética marxista (como trabalho, modo de produção, forças produtivas, alienação, consciência), constituindo assim um novo corpo teórico. A tradução dos capítulos I e II, respectivamente dedicados à polêmica com Feuerbach e Bruno Bauer, baseia-se na edição da Mega-2 (Marx-Engels Gesamtausgabe), texto que foi antecipado no Marx-Engels Jahrbuch. Nessa nova edição, os manuscritos de Marx e Engels aparecem em sete seções, ordenadas cronologicamente, e são reproduzidos tal como foram deixados pelos autores. A nova organização do volume revoluciona a forma como até então A ideologia alemã foi lida e interpretada, principalmente no que diz respeito a seu primeiro capítulo, que Marx e Engels deixaram inacabado.
Fora da Alemanha, é a primeira vez que as sete partes do manuscrito de Marx e Engels sobre Feuerbach são apresentadas ao leitor como textos independentes, em sua fragmentação originária, sem sofrer as montagens mais ou menos arbitrárias que os diversos editores (desde a edição de Riazanov, em 1926) imputaram à obra.
Esse tratamento editorial esmerado levou à descoberta de que Marx e Engels, até o fim de 1845, não haviam concebido o plano de escrever A ideologia alemã, pelo menos não com esse título. Foi a partir de um artigo de Marx intitulado “Contra Bruno Bauer” que, em novembro de 1845, nasceram os manuscritos que, meses mais tarde, dariam corpo ao projeto inacabado de A ideologia alemã. Esse artigo, inédito no Brasil, compõe a nova edição da Boitempo Editorial, assim como uma série de anexos (apêndice, índices, cronologia, notas filológicas) preparados especialmente para esta publicação e atualizados com base nos mais recentes estudos sobre essa fundamental obra.
 
Ficha técnica do livroTítulo: A ideologia alemã
Título original: Die Deutsche Ideologie
Tradução: Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Martorano
Texto final: Rubens Enderle
Introdução: Emir Sader
Orelha e supervisão editorial: Leandro Konder
Ilustração de capa: Loredano
ISBN: 978-85-7559-073-7
Páginas: 616
Formato: 16X 23cm
Preço: 69,00
Editora: Boitempo

Raiva do PT ou a dor da inveja...




Os Meios e os Fins

Marcos Coimbra
Há os que desgostam do PT, dos petistas e de tudo que fazem com tal intensidade que qualquer explicação é desnecessária. Apenas têm aversão profunda pelo que o partido representa.
Alguns a desenvolveram por preferir outros partidos e outras ideias. Mas são a minoria. Os mais sinceros anti-petistas são os que somente sentem ojeriza pelo PT. Veem um petista e ficam arrepiados.
Sequer sabem a razão de tanta implicância.
Detestavam o PT quando era oposição - dizendo que era intransigente - e o detestam agora que está no governo pela razão oposta - acham que é tolerante demais. Odiavam os petistas quando vestiam camiseta e discursavam na porta das fábricas. Hoje, os abominam porque usam terno e gravata e a fazem pronunciamentos no Congresso.
Um dos argumentos que invocam para justificar a birra é capcioso: o mito da “infância dourada” do PT, quando ele teria sido virginal e puro. O invocam com o intuito exclusivo de ressaltar que teria perdido algo que, em seu tempo, não admitiam que tivesse.
O PT abstrato e irreal que criaram é uma figura retórica para denunciar o PT que existe de fato - que não é nem menos, nem mais real que os outros partidos que temos no Brasil e no mundo.
Além desse anti-petismo figadal e baseado em pouco mais que um atávico conservadorismo, há outro. Que pretende ser mais sóbrio.
Nestes tempos de julgamento do “mensalão”, é fácil encontrá-lo.
Seus expoentes são mais racionais e menos folclóricos. Usam uma lógica que parece sólida.
O que mais os caracteriza é dizer que não discutem os fins e sim os meios do PT. Que não são anti-petistas por definição, mas que repudiam aquilo que os líderes petistas fizeram para chegar ao Planalto - e passaram a fazer depois que o partido lá se instalou.
Ou seja, sua oposição não questionaria o projeto petista, mas sua tática. Não haveria problema no fato de o PT querer estar - e estar - no poder. Mas em o partido ter usado meios inaceitáveis para lá chegar e permanecer.
Parece uma conversa bonita. E nada mais é que isso.
No fundo, esse anti-petismo é igual ao outro. Sua aparente sofisticação apenas dá nova roupagem aos mesmos sentimentos.
O que o anti-petismo não perdoa em José Dirceu - e outras lideranças que estão sendo julgadas - não é ter usado “meios moralmente errados” para alcançar “fins politicamente aceitáveis”. Salvo os mal informados, seus expoentes sabem que o que o ex-ministro fez é o mesmo que, na essência, fariam seus adversários se estivessem em seu lugar - sem tirar, nem por.
Quem duvidar, que pesquise quem foi e como atuava Sérgio Motta, o popular “Serjão”, “trator” nas campanhas e governos tucanos.
(Com ele, não havia meias palavras: estava em campo para garantir - seja a que preço fosse -, 20 anos de hegemonia para o PSDB - e que ninguém viesse a ele com a cantilena da “alternância de poder”. Não foi por falta de seu empenho que o projeto gorou.)
O pecado de José Dirceu é ter tido sucesso no alcance dos fins a que se propôs - um sucesso, aliás, notável.
Sem sua participação, é pouco provável que tivéssemos o “lulopetismo” - um dos mais importantes fenômenos políticos de nossa história, gostem ou não seus adversários. Sem ele, o Brasil não seria o que é.
Isso é muito mais do que se pode dizer de quase todos os contemporâneos.
Mas é essa a realidade. Enquanto José Dirceu vive sua ansiedade, Sérgio Motta é nome de ponte em Mato Grosso, anfiteatro em Fortaleza, centro cultural em São Paulo, praça no Rio de Janeiro, edifício em Brasília, avenida em Teresina, usina hidroelétrica no interior de São Paulo e rua na longínqua Garrafão do Norte, nos rincões do Pará.
E de um instituto em sua memória, patrocinado pelo governo federal, que distribui importante prêmio de arte e tecnologia.
Gente fina é outra coisa.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Jornalismo de esgoto da Veja é mostrado pela Carta Capital






Jornalismo de esgoto da Veja é mostrado pela Carta Capital

Por Davis Sena Filho - editor do Portal do Blog da Dilma — Blog Palavra Livre
A revista Carta Capital publica nesta sexta-feira matéria em que esclarece o envolvimento do diretor da revista Veja, a revista porcaria, Policarpo Jr. com a quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira, que no momento se encontra preso. Como se sabe nos quatro cantos da terra, o jornalismo investigativo da Veja não passava, na verdade, de um jornalismo bandido, que visava desestabilizar o Governo Federal, o que aconteceu quando ministros foram exonerados pela presidenta Dilma Rousseff.
Além disso, o governador do DF, Agnelo Queiroz, foi vítima da quadrilha da qual participava, segundo a Polícia Federal, o diretor da Veja, o jornalista Policarpo Jr. Outro jornalista de mando também está a ser investigado. Eumano Silva, diretor de Época, a revista sem leitor, também aparece nas investigações da PF. A verdade é que programas das Organizações(?) Globo como O Fantástico, o Bom (Mau) Dia Brasil e oJornal Nacional sempre repercutiram as "matérias", o jornalismo "investigativo" de revistas como a Veja e a Época. Não é preciso dizer mais nada...
Ao contrário de Veja que não demitiu o Policarpo, empregado da revista que oferece aos leitores incautos o verdadeiro jornalismo de esgoto, Época, a revista do patrão esperto, demitiu Eumano Silva, porque todo mundo sabe que a família Marinho não dá ponto sem nó e jamais reconhece a sua vocação para a prática do golpe e do linchamento moral e político daqueles que, porventura, não atendem à pauta e à agenda dos barões da imprensa, que eles querem impor ao Brasil e ao povo brasileiro, a fim de concretizar seus negócios, bem como os dos trustes internacionais de petróleo e dos banqueiros a quem representam.
Carta Capital põe o dedo na ferida e mostra ao leitor até que ponto pode chegar uma empresa privada para defender seus interesses políticos e empresariais. Veja chafurda na lama do submundo do crime e seu dono, Roberto Civita, tem de ser convocado pela CPMI do Cachoeira-Globo-Abril para dar satisfações à sociedade brasileira e às autoridades competentes. O sistema midiático privado boicotou governos, combateu programas sociais, derrubou autoridades, desestabilizou a governabilidade, além do moer reputações, mentir, manipular, distorcer os fatos e as realidades que se apresentaram principalmente na última década.
Os leitores de Veja, de Época e também dos jornalões conservadores impressos e televisivos deveriam entrar com processos no Judiciário por perdas e danos, trapaças e mentiras, falsidade ideológica e calúnia, injúria e difamação. A imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?) prejudica o desenvolvimento social e econômico do Brasil, porque não permite que a nossa sociedade viva em paz para trabalhar.
Os barões da imprensa, os empresários da mídia cartelizada e monopolista são contra o Brasil. Eles fazem oposição a todo aquele que por ideal, ideologia, politicamente e filosoficamente defende os interesses do Brasil. Para combater ideias e sentimentos nacionalistas esses empresários e seus empregados de confiança apostam na baixa estima do cidadão e a apresentam em forma de notícias previamente pautadas e sistematicamente com um enfoque negativo em todos os setores de atividade humana, de forma que o brasileiro passe a ter um conceito péssimo de seu próprio País e, consequentemente, da sociedade com a qual ele convive.
Agora, estamos a ver esses barões e seus jornalistas que se comportam como sabujos a penar para não irem depor na CPMI do Cachoeira. Acontece que suas vísceras estão expostas, e o leitor que comprava e acreditava em suas manipulações e baixarias deve estar a se achar com cara de trouxa, afinal foi enganado durante anos e por todo esse tempo buscou informações sobre os governos, a ser muitas delas, como se comprova agora, montadas de forma criminosa por aqueles que deveriam zelar pela profissão de jornalista e por um jornalismo informativo e realizado por intermédio da verdade.

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CartaCapital No. 710

O triste fim de Policarpo
A relação do diretor da sucursal de Veja com a quadrilha do bicheiro Carlos Cachoeira era bem mais profunda do que se pensava, revelam gravações da PF

Na próxima terça-feira 14, o deputado Dr. Rosinha, do PT do Paraná, irá ao plenário da CPI do Cachoeira para fazer o que ninguém teve coragem até agora: enfrentar a mídia. Com base em um documento preparado a partir de todo o material enviado à comissão pela Polícia Federal, o parlamentar vai apresentar um requerimento de convocação do jornalista Policarpo Jr., diretor da revista Veja em Brasília. Não será um pedido qualquer. O parlamentar tem em mãos um quadro completo das ligações escusasdo jornalista e da semanal da Editora Abril com a quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Um relicário de quase uma centena de interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal nas operações Vegas, de 2009, e Monte Carlo, realizada em 29 de fevereiro deste ano.

A conclusão é devastadora.
Da encomenda de um grampo ilegal contra um deputado federal à subordinação da sucursal de Veja ao esquema criminoso de Cachoeira, as informações repassadas à CPI revelam uma ligação pessoal ostensiva entre o repórter e o bicheiro.

A avaliação de mais de cem páginas preparada para o deputado, à qual CartaCapital teve acesso, demonstra como Cachoeira fornecia fotos, vídeos, grampos e informações privilegiadas do mundo político e empresarial ao jornalista. O bicheiro usava, sem nenhum escrúpulo, a relação íntima que mantinha com Policarpo Jr. para plantar notícias contra inimigos. Em contrapartida, a revista protegia políticos ligados a ele e deixava, simplesmente, de publicar denúncias que poderiam prejudiciar os interesse da quadrilha.
As interceptações da PF porvam o que a revista nega desde o primeiro momento em que teve seu nome ligado ao do bicheiro.

Não se trata simplesmente do ecumênico trabalho jornalístico em busca da notícia que obriga repórteres a se relacionarem com anjos e bandidos, gregos e troianos. É algo muito mais profundo, uma ligação na qual os interesses “comerciais” do contraventor estavam umbilicalmente ligados aos interesses políticos da revista, a ponto de estimular uma cobertura seletiva e levar a publicação a promover ostensivamente um político, o senador Demóstenes Torres, que colocou seu mandato a serviço da bandidagem.
Cachoeira costumava escalar a dupla de arapongas Jairo Martins e Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, para levantar informações e negociá-las com a revista Veja. O jornalista, por sua vez, mantinha encontros periódicos com o bicheiro e alguns de seus capangas, a fim de confirmar, encomendar e reunir informações para reportagens da revista.

As informações da PF com o histórico de textos publicados pelo semanário demonstram que Policarpo Jr. tinha conhecimento do funcionamento da quadrilha e usufruía dos metódos ilegais de captação de informações.
O objetivo básico dessa relação era manter o fluxo de informações para a revista contra alvos específicos. Em troca, Policarpo Jr. informava o grupo de Cachoeira sobre o que seria publicado, uma sinergia viciante iniciada em 2004 e, ao longo dos últimos oito anos, transformada numa relação de dependência mútua sem a qual esse inédito esquema de crime organizado não teria se concretizado. Nem Cachoeira teria o poder que chegou a ter nem Veja teria as informações, quase nunca embasadas em provas reais, para produzir escândalos.
Há um momento crucial em que a participação de Policarpo Jr. no esquema criminoso tornou-se inquestionável, impossível de ser interpretada como mera relação entre um jornalista e sua fonte. Em 26 de julho de 2011, uma terça-feira, uma interceptação telefônica flagrou uma conversa entre o repórter e o bicheiro. Sem mais delongas, o jornalista pede ao contraventor para grampear um parlamentar da base governista.
Policarpo Junior: É o seguinte, não, eu queria te pedir uma dica, você pode falar?
Carlinhos Cachoeira: Pode falar.
PJ: Como é que eu levanto umas ligações aí do Jovair Arantes, deputado?
CC: Vamos ver, uai. Pra quando, que dia?
PJ: De imediato, com a turma da Conab.
Em suma, o diretor da sucursal de Veja queria saber com quem o deputado Jovair Arantes, do PTB de Goiás, andava conversando ao telefone entre os dirigentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ligada ao Ministério da Agricultura. Para tal missão, segundo a íntegra do áudio, Cachoeira avisou que iria destacar “Neguinho”, apelido do delegado da Polícia Federal Deuselino Valadares, informante da quadrilha preso durante a Operação Monte Carlo. Ou seja, Policarpo Jr. não apenas sabia das atividades de arapongagem clandestina do bicheiro como fazia encomendas específicas para alimentar o noticiário de Veja.
Três dias depois, em 29 de julho de 2011, outro grampo detectou uma conversa entre um certo “Paulo Abreu” e Jairo Martins. Como jamais apareceu em outra interceptação, “Paulo”deve ser Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta Construções no Centro-Oeste. No áudio, o araponga avisa a Abreu que, naquela semana, a revista da Abril iria sair com uma reportagem sobre a Conab. Diz ainda que Veja iria “bater” em seis diretores do órgão. Informação realmente de primeira: no mesmo dia, a revista estampou uma entrevista com Oscar Jucá Neto, o Jucazinho, irmão do senador Romero Jucá (PMDB-RR), então líder do governo no Senado.
Ex-diretor-fiananceiro da Conab, Jucá Neto havia sido demitido na semana anterior por supostamente ter autorizado o pagamento de 8 milhões de reais a uma empresa fantasma, segundo denúncia veiculada pela própria Veja. Na nova edição da revista, Jucazinho destilou fel contra a Conab e acusou o então ministro da Agricultura, Wagner Rossi, do PMDB, de comandar um esquema de corrupção na pasta. Rossi seria demitido um mês depois.
Só no meio da reportagem é possível compreender o interesse de Policarpo Jr. no deputado Jovair Arantes, então líder do PTB na Câmara. O parlamentar aparece como beneficiário de dinheiro de campanha doado pela Caramuru, de Goiás, uma das maiores empresas de armazenagem de grãos do País. A companhia estaria negociando o recebimento irregular de uma dívida de 20 milhões de reais por parte da Conab, em troca de distribuir 5 milhões de reais em propinas entre os diretores do órgão, segundo Jucazinho. A reportagem da revista não trouxe, porém, uma única prova para sustentar as declarações do ex-diretor da Conab, muito menos para incluir Arantes como parte das supostas negociações de propina com a Caramuru. Ao que parece, ou a encomenda de Poliucarpo Jr. não foi entregue a tempo ou o delegado Deuselino Valadares não fez o dever de casa. O deputado do PTB goiano acabou envolvido na Operação Monte Carlo por outro caminho. Arantes foi flagrado em grampos da PF quando negociava dinheiro de campanha com Cachoeira em troca de apoio ao projeto de legalização do jogo no Brasil.
O marco inicial da relação do bicheiro e do jornalista, a quem Cachoeira e alguns capangas chamavam eventualmente de “Poli”, “PJ” ou “Junior”, pode ser determinado em 22 de fevereiro de 2005. Naquela data, Policarpo Jr. foi depor de forma voluntária no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e defendeu Cachoeira. O depoimento serviu para vitimizar e inocentar o bicheiro de suas ligações espúrias com o Congresso Nacional. À época, o contraventor alegou ter sido chantageado pelo ex-deputado André Luiz (PMDB-RJ). O parlamentar teria exigido propina para não incluí-lo no relatório final da CPI da Loterj, a conturbada estatal de loterias do Rio de Janeiro.
Segundo Cachoeira, André Luiz havia pedido 4 milhões de reais, mas queria um adiantamento de 200 mil para pagar dívidas de campanha de um filho. O bicheiro gravou a conversa, pegou um laudo do perito paulista Ricardo Molina e deu para Policarpo Jr. produzir uma reportagem. A reportagem de Veja, intitulada “Vende-se uma CPI” foi publicada em 27 de outubro de 2004.
No depoimento que deu à Comissão de Ëtica da Câmara, Policarpo Jr. afirmou ter sido procurado por Cachoeira porque este, segundo ele, tinha interesse em conversar com um veículo “independente” e com um jornalista de “boas referências”.
A gratidão do bicheiro não tardaria a se manifestar. Em maio de 2005, por meio de um trabalho de arapongagem de Jairo Martins, então diretor dos Correios indicado pelo PTB, recebia propina para facilitar licitações na estatal. A denúncia levaria o deputado Roberto Jefferson a denunciar a existência do chamado “mensalão”.
Em 22 de março deste ano, em entrevista à mídia, o ex-prefeito de Anápolis (GO) Ernani de Paula jogou um pouco de luz nessa trama. Segundo ele, em 2003, Demóstenes Torres, senador cassado recentemente, era cotado para ssumir a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça. Para tal, precisaria migrar do DEM para o PMDB, partido da base aliada. O movimento iria permitir ainda que a ex-mulher de Ernani de Paula, suplente de Torres, ganhasse um mandato no Senado. O ex-prefeito diz ter convicção de que o flagrante a Marinho nos Correios foi armado por Cachoeira e Demóstenes para atingir o então ministro José Dirceu.
Hoje se sabe que os planos de Cachoeira dependiam da construção da imagem de Demóstenes, preposto da quadrilha no Senado, como paladino da moralidade pública. A partir desse personagem, falso como uma nota de 3 reais, o bicheiro conseguiu agregar apoio na mídia. A participação de Veja foi fundamental. “Não há dúvidas de que o mito de Demóstenes foi construído na Veja e replicado pelo resto da mídia”, avalia Dr. Rosinha.
Aos poucos, foi possível a PF mapear, desde 2009, por meio da Operação Vegas, como se construiu a curiosa disputa entre Cachoeira e Demóstenes pela atenção e a amizade de Policarpo Jr. Estrategicamente, a revista cuidou de consolidar a relação com o bicheiro por meio de reportagens laudatórias sobre o senador do DEM.
A mais marcante foi publicada em 4 de julho de 2007. Intitulada “Os mosqueteiros da ética”, trazia uma série de parlamentares que supostamente representariam a defesa dos valores republicanos e democráticos no Congresso contra as torpezas e a corrupção. Demóstenes era um dos destaques. O ex-senador ainda iria brilhar em uma entrevista nas páginas amarelas da revista, na qual foi vendido como o escolhido do povo brasileiro na luta contra a corrupção.
As informações passadas à CPI demonstram que Cachoeira e Demóstenes eram consultados antes de notícias serem publicadas, não se sabe se com ou sem a autorização da redação de Veja em São Paulo. Também atuavam para impedir a publicação de notícias consideradas prejudiciais à quadrilha.
Em uma conversa gravada em 13 de maio de 2009, Demóstenes pede a Cachoeira para convencer Plicarpo Jr. a entrevistar o delegado Aredes Correia Pires, então coregedor-geral de Segurança Pública de Goiás no governo de Marconi Perillo, do PSDB. Pires havia sido subordinado do ex-senador do DEM na Secretaria de segurança Pública. “Ele (Policarpo) é de confiança, você sabe que ele nunca furou com a gente”, inisite Demóstenes. O bicheiro promete tentar resolver o problema.
Em outro grampo, de 19 de maio de 2009, Demóstenes se desespera com a possiblidade de Policarpo Jr., por ter sido desprezado pelo Delegado, se voltar contra a quadrilha. “Poli me ligou dizendo que vai estourar o diretor-geral aí (o corregedro-geral Aredes Pires)”, choraminga o ex-senador a Cachoeira. Em seguida, pede para o bicheiro conseguir “umas fotos”para calar a boca do jornalista. “Mas pelo menos as fotos vê se consegue, senão (Policarpo) acaba arrancando a cabeça do Aredes, e fica a pior situação do mundo”. A PF não identificou de quais fotos o ex-senador e o bicheiro falavam, mas a estratégia deu certo. Veja nunca publicou qualquer denúncia contra o delegado Pires, mais tarde apontado pela Monte Carlo como informante da quadrilha.
Entre os dias 9 e 16 de maio de 2011, a PF flagrou outro conjunto de conversas que revelam a articulação de Cachoeira e Abreu para evitar a publicação de reportagens sobre a suposta ligação da Delta com o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, do PT. Obviamente, para preservar a empreiteira de Fernando Cavendish. Como pode ser verificado na interceptação de 9 de maio, Abreu conta a Cachoeira que Cavendish “já tem um discurso” para resolver a crise e revela que estão todos satisfeitos com a atuação de Demóstenes no Senado. O bicheiro avisa que vai encontrar o diretor de Veja em “20 minutinhos” no prédio da empreiteira para resolver a questão.
Em um grampo de 10 de maio de 2011, Cachoeira conversa com Abreu sobre um almoço que teve com Policarpo Jr. para tratar de um suposto encontro, em Itajubá (MG), de José Dirceu com Cavendish. O encontro teria sido intermediado pelo ex-governador do DF José Roberto Arruda, defenestrado do cargo por denúncia de corrupção.
Cachoeira diz a Abreu que a fonte é “furada” e garante que o assunto vai morrer na revista. “O Plicarpo confia muito em mim”, diz o bicheiro. “Vou te mostrar a mensagem que ele passou para mim antes, 10 horas da manhã, pra eu me encontrar com ele aqui em Brasília”. A confiança de Policarpo Jr., neste caso, mostrou-se mesmo inabalável. Nada saiu a respeito do suposto encontro.
Em conversa interceptada em 16 de maio de 2011, Demóstenes comemora aliviado o recuo de Policarpo Jr. em relação ao tema. “Morreu o assunto, né? Tranquilo. Então, beleza, isso aí resolveu, então, 100% resolvido”, diz a Cachoeira. O bicheiro esclarece: “Foi a conversa que eu o Cláudio (Abreu) tivemos lá com o Policarpo. Foi bom demais, valeu”.
Em outra conversa, ainda em 10 de maio de 2011, Cachoeira conta a Abreu, em linguagem chula, como fez para convencer o jornalista a não publicar nada contra a Delta. “Enfiei tudo no rabo do Pagot! Aquela hora, Policarpo estava na minha frente”. Em seguida, dá a dica definitiva ao diretor da Delta de como se comportar nesses casos: “Você me fala, então, depois, porque por fora eu posso ajudar demais plantando em cima dele (Policarpo), igual plantei do Pagot naquela hora. Ele anotou tudo, viu? Uma beleza. Pagot tá fodido com ele”.
E estava mesmo. Luiz Antonio Pagot, ex-diretor geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), do Ministério dos Transportes, foi demitido dois meses depois da conversa entre o bicheiro e o repórter. Exatos 26 dias após o almoço, Veja denunciaria um suposto esquema de cobrança de propinas para beneficiar o Partido da República (PR) nos contratos do Dnit.
A partir da Monte Carlo e das revelações nos diálogos entre Cachoeira e Policarpo Jr. foi possível descobrir o que realmente ocorreu. Pagot pode até não ser um beato, mas sua queda tem mais a ver com o fato de ele ter contrariado interesses da Delta e da quadrilha. O ex-diretor cometeu o erro de criar problemas para a construtora em licitações. Em uma delas, por exemplo, a Delta foi investigada pelo Dnit por ter subcontratado uma empresa para obras de recuperação de um trecho de 18 quilômetros da BR-116, no Ceará, sem autorização para tal.
Em uma conversa captada pela PF em 20 de março de 2011, Cachoeira revela a Demóstenes que Policarpo jr. teria censurado uma entrevista feita em setembro de 2010, véspera das eleições, por Diego Escosteguy, então repórter da sucursal. Na entrevista, Arruda, o ex-governador cassado por corrupção, envolvia figurões nacionais do DEM e do PSDB no esquema de propinas no Distrito Federal. A entrevista só seria publicada em 18 de março de 2011, mas pela concorrente Época, para onde Escosteguy se transferira.
Ainda assim, o diretor de Veja tentou dar uma rasteira no ex-subordinado. Na quinta-feira anterior à publicação da entrevista em Época, Policarpo Jr. vazou diversos trechos da entrevista para o site da semanal da Abril na internet. Uma tentativa pueril de atingir a concorrência e, principalmente, de tentar camuflar a censura anterior. “O Policarpo ajudou também, viu? Ia foder todo mundo. Mas você viu que ele ficou com medo e recuou. Tenho certeza que recuou por causa do seu nome”, revelou o bicheiro, para a satisfação do ex-senador do DEM.
Dono da situação, Cachoeira passou a pautar todo tipo de reportagem, a fim de favorecer os negócios da Delta. Em um grampo de 29 de junho de 2011, o bicheiro conversa sobre uma notícia encomendada a Veja por Abreu. Tratava-se de uma reunião de 70 construtoras da Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (Aneor) para encaminhar a licitação de uma obra na BR-280, em Santa Catarina. A reunião, marcada para acontecer em Curitiba, segundo Cachoeira, seria em 1˚ de julho de 2011.
O evento era um prato cheio. Naquela mesma semana, a sucursal de Brasília preparava uma reportagem sobre supostos esquemas de corrupção no Ministério dos Transportes. Os alvos eram o então titular da pasta, Alfredo Nascimento, presidente do PR, e Pagot. Em uma conversa captada pela PF, Cachoeira e Abreu combinam a infiltração de alguém da revista na reunião e a retirada estratégica dos representantes da Delta do evento. O bicheiro e o diretor da empreiteira mal conseguem se segurar de tanta excitação:
Carlinhos Cachoeira: Teve com Policarpo?
Claúdio Abreu: Cara, show de bola, achei que ele ia beijar a minha boca!
Em seguida, traçam a estratégia de infiltração de um repórter, de preferência Policarpo Junior:
Abreu: Já mandei o pessoal da Delta sair, né? Que nós não vamos participar da obra. Então falei para eles não ir (sic) lá. Ele (Policarpo) vai lá. Falou: “Tem jeito de entrar?”. Falei: “Tem, cara, você infiltra lá e grava a conversa, o sorteio, vão sortear duas obras”. Ele tem de falar que é de uma empreiteira. Talvez dar caução.
Cachoeira: Ele vai fazer o trem? Vai tá lá?
Abreu: Falou que ia mandar gente.
No dia seguinte, 30 de junho, Cachoeira se apressa em ligar para Demóstenes para contar sobre a reunião da Aneor, em Curitiba. “Passei um trem para Policarpo aí hoje, que ele vai bumburrar, viu?”, conta o bicheiro ao ex-senador do DEM. “Só guarde para nós aí, que ele vai infiltrar lá”. Demóstenes não se contém: “Show de bola, show de bola! Aí vai ser um show mesmo, aí é supercraque, hein? Aí vai ser de derrubar”. Cachoeira dá os últimos detalhes e pede sigilo sobre a operação. “Não comenta com ninguém não, ele vai com filmadora e tudo”.
A reportagem “O mensalão do PR” gerou uma crise imediata na cúpula do Ministério dos Transportes, mas não conseguiu derrubar o Ministro Alfredo Nascimento. Um dia depois, em 2 de julho de 2011, Cachoeira voltou a conversar com Abreu para falar da repercussão.
Abreu: Rapaz, o (Policarpo) Junior, o amigo nosso de Brasília, é mais forte que Aldrin 40 (agrotóxico inseticida). Você chegou a ler a matéria dele hoje, não é?
Cachoeira: Não. O que ele falou? Foi boa?
Abreu: Agora, às 15 horas e 12 minutos, a presidente Dilma Rousseff convoca o Ministro dos Transportes e manda afastar todos os citados na reportagem de Veja”. Entra no site do UOL que você vai ver. A matéria ficou boa pra caralho, ele citou a reunião (da Aneor, em Curitiba), cara.
Cachoeira: Você é forte também, hein, Cláudio!
Abreu: Você é que é forte, amigo. Ainda bem que sou seu amigo. Eu já mandei uma mensagem para ele (Policarpo), manda uma pra ele. Ele tem um Viber (aplicativo de mensagens para celular), manda um Viber pra ele. Eu botei assim: “Sua matéria já deu repercussão, você é mais forte que Aldrin 40”. Ele respondeu: “Já? Já teve repercussão?”Falei: “Veja o site do UOL”. Falou: “Vou ver. Abraço”.
Um dia após a saída de Nascimento, dos Transportes, em 7 de julho de 2011, Cachoeira falava como se fosse chefe de Policarpo Jr. Naquele dia, o bicheiro iniciou um forte lobby para promover um apadrinhado político instalado no governo de Perillo, o secretário estadual de Educação, Thiago Peixoto. Em mais uma conversa interceptada pela PF, Cachoeira diz a Abreu: “Você está com Policarpo Junior? Fala pra ele fazer uma reportagem aí. O Thiago tá fazendo uma revolução na educação aqui. Manda ele designar um repórter pra cobrir”
Havia um interesse comercial. Em uma conversa de 9 de junho de 2011, Cachoeira fala com um comparsa da quadrilha, Gleyb Ferreira da Cruz, sobre um projeto de construção de escolas de baixo custo em Goiás. “Comenta com ninguém não, mas o Thiago (Peixoto, secretário de Educação) passou o modelo pra nós, tá? Vai alugar várias escolas no estado, entendeu? E vamos construir, porque na hora que sair (a licitação), tá pronta, é só oferecer”, diz o bicheiro. Em dezembro do mesmo ano, a capa de Veja seria inspirada em um projeto de educação “de qualidade e baixo custo” na China.
Não foi surpresa nenhuma para a PF e para a CPI, portanto, quando há 15 dias a mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, tentou chantagear o juiz federal Alderico Rocha Santos com um dossiê, segundo ela produzido por Veja. Andressa teria dito, contou o juiz: “O senhor conhece Policarpo Junior? O Carlos (Cachoeira) contratou o Policarpo para fazer um dossiê contra o senhor. Se o senhor soltar o Carlos, não vamos soltar o dossiê”.
O bicheiro continua preso e Andressa teve de pagar uma fiança de 100 mil reais para não acabar no xadrez.
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