sábado, 4 de janeiro de 2014

Che: a história por trás da fotografia mais famosa do século 20

Che: a história por trás da fotografia mais famosa do século 20




TODO DIA 1º DE JANEIRO COMEMORA-SE O ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO CUBANA. SEJA PARA HOMENAGEAR, SEJA PARA CRITICAR, O CERTO É QUE MUITAS PESSOAS RELEMBRAM A DATA. O QUE NEM TODOS SABEM, CONTUDO, É A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO QUE REGISTRA UM DE SEUS PERSONAGENS PRINCIPAIS: ERNESTO “CHE” GUEVARA.


Alberto Korda
Che Guevara
Foto original
No dia 5 de março de 1960, durante uma cerimônia fúnebre que homenageava vítimas da explosão de um barco em Havana, Cuba, o fotógrafo cubano Alberto Korda registrou uma imagem de Che em um momento de concentração, parado, em pé, com um olhar compenetrado. A foto ganharia, mais tarde, o nome de “Guerrillero Heroico”.

Enquanto Fidel Castro discursava, Korda, que registrava o evento a cargo do jornal Revolución, percebeu Che parando por alguns segundos atrás do palanque e prestando atenção. Antes que ele fosse embora, o cubano clicou duas fotos do revolucionário argentino, uma na horizontal e outra na vertical. Como nenhuma das duas foi usada pelo jornal, o fotógrafo apenas as manteve em seu arquivo pessoal.

Em 1967, enquanto Che combatia o exército boliviano na tentativa de levar os ideais da Revolução Cubana para toda a América Latina, o editor italiano Gianfranco Feltrinelli o contatou em busca de retratos do guerrilheiro. Korda o presenteou com duas cópias da fotografia, que foram editadas e espalhadas em cartazes poucos meses depois, em outubro, quando as autoridades bolivianas anunciaram a morte do combatente.

Um ano mais tarde, em 1968, o artista irlandês Jim Fitzpatrick usou essa foto para criar uma imagem em alto contraste e a registrou em domínio público. O desenho se tornaria, a partir de então, um dos ícones mais famosos e uma das imagens mais reproduzidas do mundo.

Um comunista

Alberto Korda nasceu em Havana, em 1928. Começou a carreira como assistente de fotografia e passou a registrar as habaneras, mulheres de sua cidade natal. Pelo bom trato com elas, acabou se tornando o primeiro fotógrafo de moda de Cuba. Quando a revolução estourou, foi convidado para trabalhar no jornalRevolución, principal publicação do Movimento 26 de Julho (M-26-7), do qual faziam parte Fidel, Che, Raul Castro, Camilo Cienfuegos e os outros “guerrilheiros históricos” de Sierra Maestra.

Comunista convicto, Korda nunca se preocupou com os royalties de sua foto. Apenas em 2000, quando uma empresa de bebidas usou a imagem para vender vodka, o cubano entrou com uma ação legal e saiu vitorioso. Na ocasião, ele disse: “Usar a imagem de Che Guevara para vender vodka é manchar seu nome e sua memória. Ele nunca bebeu, ele não era um bêbado. Como um defensor dos ideais pelos quais Che morreu, eu não sou avesso a sua reprodução por aqueles que desejam propagar sua memória e a causa da justiça social em todo o mundo.”

Fonte: Catraca Livre

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=203350&id_secao=11#.UO9GxOTWLTF

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

As apostas da imprensa para 2014

Por Luciano Martins Costa, noObservatório da Imprensa:

A anedota que encerra o ano é contada por um colunista do jornal O Estado de S. Paulo na edição de terça-feira (31/12). A propósito de produzir uma “retrospectiva” do ano que se está a inaugurar, ele faz uma rápida passagem por indicadores, que, a rigor, podem apontar projeções para cima ou para baixo no desempenho da economia (ver aqui). No final, quase pede desculpas aos leitores por fazer uma análise otimista, “mas não irrealista”.

O texto é interessante não apenas porque exercita com sagacidade a difícil arte da ironia no jornalismo, mas também porque, de certa maneira, coloca em termos mais realistas a suposta capacidade dos especialistas de fazer previsões. O artigo se destaca justamente por fugir do determinismo habitual da mídia especializada, que insiste em fincar postes de concreto no pantanoso terreno das subjetividades. Sua principal qualidade é a de brincar com as “retrospectivas futuristas” que a imprensa costuma publicar nesta época do ano.

A leitura das muitas páginas de adivinhações publicadas nos últimos dias leva à constatação de que o jornalismo no Brasil se apegou tanto a certo olhar sombrio sobre as chances de desenvolvimento do país que já não consegue dissimular uma clara “torcida” para que alguma coisa dê errado. Assim, se o nível de desemprego se mantém entre os mais baixos do mundo, em economias comparáveis, e se a renda do trabalho segue em alta, sem que os lucros das empresas tenham sido afetados, resta cravar na manchete o péssimo desempenho do mercado de ações.

A Bolsa do Brasil teve o segundo pior desempenho entre as instituições do gênero em 2013, mas os analistas projetam uma recuperação de 30% no ano que se inaugura. Essa notícia já havia sido publicada ao longo da semana, mas ganha espaço nas primeiras páginas de terça-feira (31), porque é preciso ressaltar, sempre que possível, os aspectos negativos da complexidade econômica.

É quase um mantra no jornalismo brasileiro, uma espécie de manual de redação comum aos principais veículos de circulação nacional. Como se dizia no programa humorístico Rádio Camanducaia: “Quando não tem notícia, a Camanducaia inventa”.

O mapa astral
Interessante observar o subtexto das reportagens sobre o péssimo desempenho da Bolsa. Quem ler apenas os títulos sai comentando nas redes sociais que o mundo acabou, mas basta um olhar mais cuidadoso para perceber alguns sinais de manipulação na construção de manchetes.

Primeiro, os jornais omitem o fato de que o índice Bovespa reflete a variação média das ações de maior valor de mercado e mais negociadas nos pregões. Convém, então, relativizar os dados, como faz corretamente a Folha de S. Paulo.

O Estado de S. Paulo anuncia no título: “Bovespa cai 15,5% em 2013 e tem pior desempenho entre as principais bolsas”. Mas o texto da reportagem é otimista nas entrelinhas, com os analistas levando em conta a derrocada da OGX, empresa de Eike Batista, que sozinha carregou 40% das perdas do mercado, e projetando para 2014 o início de um período de recuperação do mercado acionário no Brasil.

No infográfico que acompanha a notícia, observa-se que a Bolsa da Argentina liderou os ganhos em todo o mundo, com um crescimento de 88% em 2013, mais de 30 pontos acima do desempenho da Bolsa de Tóquio. Sem explicações.

O Globo, com um título que beira o deboche, destaca: “Na lanterninha global”. Na reportagem interna, as razões para a queda no índice Bovespa incluem fatores variados, entre os quais o risco de o Supremo Tribunal Federal determinar o pagamento das perdas bilionárias provocadas por planos econômicos de duas décadas atrás, o que derrubou o valor de mercado dos grandes bancos. A Bolsa da Argentina simplesmente desaparece do gráfico, e o lucro daqueles que desconfiaram do mercado de ações aparece apenas no fim do texto.

Do material disponível nas principais publicações brasileiras, o grande destaque em termos de objetividade fica para a página dupla no pacote de “apostas” da revista Época desta semana: o mapa astral mostra que o céu é “favorável para os brasileiros na Copa do Mundo”, mas há nuvens negras na política e no clima, ou seja, há possibilidade de novas revelações de corrupção e mais inundações em áreas urbanas.

Conclusão: a informação mais confiável da imprensa está no horóscopo.

1 comentários:


Anônimo disse...

[Sobre mais apostas para o PIGolpista "enterrar" (sic) 2014!]
PARA OS DEMoTUCANOS lerem na PAPUDA "cheirosa"! No máximo, 02 horas por dia! A ‘veja’, ENFIM, NOS BRINDA! Para começar o ano relembrando 'os maiores crimes de corrupção da história da humanidade'! Ah! Todos estes - e outros -, eternamente IMPUNES! AS CAPAS DA REVISTA 'VEJA' DA EDITORA ABRIL! # REELEIÇÃO [de FHC] - a compra de votos no Congresso; # E AGORA, FERNANDO [Henrique Cardoso]? - Qual é a saída para uma inflação de 5.500% ao ano; # FISGADO PELA BOCA - o escândalo das fitas deixa Mendonça de Barros com um pé fora do governo; # A RADIOGRAFIA DO ESCÂNDALO - Chico Lopes tem 1,6 milhões de dólares no exterior e não declarou à Receita Federal do Brasil; extratos bancários mostram que o TUCANO tinha um 'laranja' na Macrométrica; crescem as suspeitas de que a Macrométrica vendia informações do Banco Central do Brasil; # CORRUPÇÃO - O BRASIL DIZ BASTA! Como a propina e a extorsão tomaram conta do país e o que se pode fazer contra essa praga; # A SOMBRA EM FHC - as ligações e os negócios do *ex-assessor que estão fazendo um estrago na imagem do presidente. *Eduardo Jorge Caldas Pereira; # OS BASTIDORES DA CRISE - até que ponto o governo FHC foi atingido pelo caso Eduardo Jorge e quais são as chances de recuperação; # A MÁFIA GRAMPEADA - em 369 telefonemas gravados, a Polícia Federal do Brasil descobriu um esquema de CORRUPÇÃO que arrancou 360 milhões da SUDAM e estava planejado para chegar a 1,5 bilhão de reais; # ELES ENCOLHERAM O CONGRESSO - como o Senado se transformou na 'Casa da Mentira' com Jader, Arruda e ACM; # A HISTÓRIA SECRETA DE UM GOLPE BILIONÁRIO - como o TUCANO Chico Lopes vendia informação do Banco Central; como Salvatore Cacciola grampeou o Esquema e, com as fitas nas mãos, forçou o Banco Central a socorrê-lo; como o escândalo foi abafado; # PROPINA NA PRIVATIZAÇÃO, 15 MILHÕES NA VALE DO RIO DOCE - Ricardo Sérgio de Oliveira, o homem dos fundos de pensão, ex-caixa de campanha do DEMoTUCANATO, e a história dos 15 milhões pedidos ao consórcio que comprou a estatal Vale do Rio Doce. Dois ministros confirmam a história. FONTE: capas da 'veja'! (http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/corrupcao/as-capas-de-veja-na-era-fhc-ou-como-o-pt-e-bom-aluno-de-goebbels/) #### Ufa! E é só um 'tantim' da colossal LADROEIRA DEMoTUCANA! 'o Domínio do Fato': todos os LADRÕES ENVOLVIDOS NESSES MEGAESCÂNDALOS DE CORRUPÇÃO ESTÃO IMPUNES! Literalmente impunes - "e ainda por cima", apontando os dedos sujos para 'assassinar reputações'!... PÊSAMES! PÊSAMES! República da 'Anã' oPÓsição ao Brasil! "O cheiro do PÓ 'cheiroso' - e o dos cavalos - ao do povo!" Fascistas, terroristas, golpistas de meia tigela... CORRUPTOS [impunes!] até a última geração! Bahia, Feira de Santana Messias Franca de Macedo

50 verdades sobre Fidel Castro


Por Salim Lamrani, no sítio Opera Mundi:

1. Procedente de uma família de sete filhos, Fidel Castro nasceu no dia 13 de agosto de 1926 em Birán, na atual província de Holguín, da união entre Ángel Castro Argiz, rico proprietário de terras espanhol oriundo da Galícia, e Lina Ruz González, cubana.

2. Aos sete anos, ele se muda para a cidade de Santiago de Cuba e vive na casa de uma professora encarregada de educá-lo. Ela o abandona à própria sorte. “Conheci a fome”, lembraria Fidel Castro e “minha família tinha sido enganada”. Um ano depois, ele entra no colégio religioso dos Irmãos de la Salle, em janeiro de 1935, como interno. Deixa a instituição para ir para o colégio Dolores, aos 11 anos, em janeiro de 1938, depois de se rebelar contra o autoritarismo de um professor. Segue sua escolaridade com os jesuítas no Colégio de Belém em Havana, de 1942 a 1945. Depois de uma graduação brilhante, seu professor, o padre Armando Llorente, escreve no anuário da instituição: “Distinguiu-se em todas as matérias relacionadas às letras. Excepcional e congregante, foi um verdadeiro atleta, defendendo sempre com valor e orgulho a bandeira do colégio. Soube ganhar a admiração e o carinho de todos. Cursará a carreira de Direito e não duvidamos de que encherá de páginas brilhantes o livro de sua vida.”

3. Apesar de se exiliar em Miami, em 1961, por causa das tensões entre o governo revolucionário e a Igreja Católica cubana, o padre Llorente sempre guardou uma lembrança nostálgica de seu antigo aluno. “Me dizem: ‘o senhor sempre fala bem de Fidel’. Eu falo do Fidel que eu conheci. Inclusive, [ele] uma vez salvou a minha vida e essas coisas não podem ser esquecidas nunca”. Fidel Castro se jogou na água para salvar seu professor, levado pela correnteza.

4. Em 1945, Fidel Castro entra na Universidade de Havana, onde cursa a graduação de Direito. Eleito delegado da Faculdade de Direito, participa ativamente das manifestações contra a corrupção do governo do presidente Ramón Grau San Martín. Não vacila, tampouco, em denunciar publicamente gangues vinculadas às autoridades políticas. Max Lesnik, então secretário-geral da Juventude Ortodoxa e colega de Fidel Castro, lembra-se desse episódio: “O comitê 30 de setembro [criado para lutar contra as gangues] fez o acordo de apresentar a denúncia contra o governo e os gângsteres no plenário da Federação Estudantil [Universitária]. No salão, mais de 300 alunos de diversas faculdades se apresentaram para escutar Fidel quando alguém [...] gritou: ‘Aquele que falar o que não deve, falará pela última vez’. Estava claro que a ameaça era contra o orador da vez. Fidel se levantou de sua cadeira e, com passo lento e firme, se encaminhou ao centro do amplo salão, [...] e começou a ler uma lista oficial com os nomes e todos e de cada um dos membros das gangues e dos dirigentes da FEU que haviam sido premiados com suculentas ‘garrafas’ [cargos] nos distintos ministérios da administração pública.”

5. Em 1947, aos 22 anos, Fidel Castro participa, com Juan Bosch, futuro presidente da República Dominicana, de uma tentativa de desembarque da [expedição de] Cayo Confites para derrubar o ditador Rafael Trujilo, então apoiado pelos Estados Unidos.

6. Um anos depois, em 1948, participa do Bogotazo, revolta popular desatada pelo assassinato de Jorge Eliécer Gaitán, líder político progressista, candidato às eleições presidenciais da Colômbia.

7. Graduado em Direito em 1950, Fidel Castro atua como advogado até 1952 e defende as pessoas humildes, antes de se lançar na política.

8. Fidel Castro nunca militou no Partido Socialista Popular (PSP), partido comunista da Cuba pré-revolucionária. Era membro do Partido do Povo Cubano, também chamado Partido Ortodoxo, fundado em 1947 por Eduardo Chibás. O programa do Partido Ortodoxo de Chibás é progressista e se baseia em vários pilares: soberania nacional, independência econômica pela diversificação da produção agrícola, supressão do latifúndio, desenvolvimento da indústria, nacionalização dos serviços públicos, luta contra a corrupção e justiça social por meio da defesa dos trabalhadores. Fidel Castro reivindica seu pertencimento ao pensamento “martiano” (de José Martí), chibasista (de Chibás) e anti-imperialista. Orador de grande talento, se apresenta às eleições parlamentárias como candidato do Partido do Povo Cubano em 1952.

9. No dia 10 de março de 1952, a três meses das eleições presidenciais, o general Fulgencio Batista rompe a ordem constitucional e derruba o governo de Carlos Prío Socarrás. Consegue o apoio imediato dos Estados Unidos, que reconhecem oficialmente a nova ditadura militar.

10. O advogado Fidel Castro apresenta uma denúncia contra Batista por romper a ordem constitucional: “Se existem tribunais, Batista deve ser castigado, e se Batista não é castigado [...], como poderá depois este tribunal julgar um cidadão qualquer por motim ou rebeldia contra esse regime ilegal, produto da traição impune?”. O Tribunal Supremo, sob as ordens do novo regime, recusa a demanda.

11. No dia 26 de julho de 1953, Fidel Castro se coloca à frente de uma expedição de 131 homens e ataca o quartel Moncada na cidade de Santiago, segunda maior fortaleza militar do país, assim como o quartel Carlos Manuel de Céspedes, na cidade de Bayamo. O objetivo era tomar o controle da cidade – berço histórico de todas as revoluções – e lançar um chamado pela rebelião em todo o país para derrubar o ditador Batista.

12. A operação é um fracasso e 55 combatentes são assassinados depois de brutalmente torturados pelos militares. De fato, apenas seis deles morreram em combate. Alguns conseguiram escapar graças ao apoio da população.

13. Fidel Castro, capturado alguns dias depois, deve a vida ao sargento Pedro Sarría, que se negou a seguir as ordens de seus superiores e executar o líder de Moncada. “Não disparem! Não disparem! Não se deve matar as ideias!”, exclamou para seus soldados.

14. Durante sua histórica alegação, intitulada “A História me Absolverá”, Fidel Castro, encarregado de sua própria defesa, denuncia os crimes de Batista e a miséria na qual se encontra o povo cubano, e apresenta seu programa para uma Cuba livre, baseado na soberania nacional, na independência econômica e na justiça social.

15. Condenado a 15 anos de prisão, Fidel Castro é liberado em 1955, depois da anistia que o regime de Batista lhe concedeu. Funda o Movimento 26 de Julho (M 26-7) e declara seu projeto de seguir lutando contra a ditadura antes de se exilar no México.

16. Fidel Castro organiza ali a expedição do Granma com um médico chamado Ernesto Guevara. Não foi muito trabalhoso para Fidel Castro convencer o jovem argentino, que recordava: “O conheci em uma dessas frias noites do México e lembro-me de que nossa primeira discussão foi sobre política internacional. Poucas horas depois, na mesma noite — de madrugada — eu era um de seus futuros expedicionários.”

17. Em agosto de 1955, Fidel Castro publica o Primeiro Manifesto do Movimento 26 de Julho, que retoma os pontos essenciais de “A História me Absolverá”. Trata de reforma agrária, da proibição do latifúndio, de reformas econômicas e sociais a favor dos deserdados, da industrialização da nação, da construção de habitações, da diminuição dos aluguéis, da nacionalização dos serviços públicos de telefone, gás e eletricidade, de educação e da cultura para todos, da reforma fiscal e da reorganização da administração pública para lutar contra a corrupção.

18. Em outubro de 1955, para reunir os fundos necessários para a expedição, Fidel Castro realiza uma turnê pelos Estados Unidos e se reúne com os exilados cubanos. O FBI vigia de perto os clubes patrióticos M 26-7 fundados em diferentes cidades.

19. No dia 2 de dezembro de 1956, Fidel Castro embarca no porto de Tuxpán, no México, a bordo do barco Granma, com capacidade para 25 pessoas. Os revolucionários são 82 no total e navegam rumo a Cuba com o objetivo de desatar um guerra de guerrilhas nas montanhas de Sierra Maestra.

20. A travessia se transforma em pesadelo por causa das condições climáticas. Um expedicionário cai ao mar. Juan Almeida, membro do grupo e futuro comandante da Revolução, lembra-se do episódio: “Fidel nos disse o seguinte: ‘Daqui não nos vamos até que o salvemos’. Isso comoveu as pessoas e animou a combatividade. Pensamos: ‘com esse homem não há abandonados’. O salvamos, correndo o risco de perder a expedição.”

21. Depois de uma travessia de sete dias, em vez dos cinco previstos, no dia 2 de dezembro de 1956 a tropa desembarca “no pior pântano jamais visto”, segundo Raúl Castro. Os tiros da aviação cubana a dispersam e 2 mil soldados de Batista, que esperavam os revolucionários, a perseguem.

22. Alguns dias depois, em Cinco Palmas, Fidel Castro volta a se encontrar com seu irmão Raúl e com outros 10 expedicionários. “Agora sim ganhamos a guerra”, declara o líder do M 26-7 a seus homens. Começa a guerra de guerrilhas que duraria 25 meses.

23. Em fevereiro de 1957, a entrevista com Fidel Castro realizada por Herbert Matthews, do New York Times, permite que a opinião pública estadunidense e mundial descubra a existência de uma guerrilha em Cuba. Batista confessaria mais tarde, em suas memórias, que graças a esse golpe jornalístico, “Castro começava a ser um personagem lendário”. Matthews suavizou, entretanto, a importância de sua entrevista. “Nenhuma publicidade, por mais sensacional que fosse, poderia ter tido efeito se Fidel Castro não fosse precisamente o homem que eu descrevi.”

24. Apesar das declarações oficiais de neutralidade no conflito cubano, os Estados Unidos concedem seu apoio político, econômico e militar a Batista e se opõem a Fidel Castro até os últimos instantes. No dia 23 de dezembro de 1958, a uma semana do triunfo da Revolução, enquanto o Exército de Fulgencio Batista se encontra em plena debandada, apesar de sua superioridade em armas e homens, acontece a 392ª reunião do Conselho de Segurança Nacional [dos Estados Unidos], com a presença do presidente [Dwight D.] Eisenhower. Allen Dulles, então diretor da CIA, expressa claramente a posição dos Estados Unidos. “Temos de impedir a vitória de Castro.”

25. Apesar do apoio dos Estados Unidos, de seus 20 mil soldados e da superioridade material, Batista não pôde vencer uma guerrilha composta de 300 homens armados durante a ofensiva final do verão de 1958, que mobilizou mais de 10 mil pessoas. Essa “vitória estratégica” revela, então, a genialidade militar de Fidel Castro, que havia antecipado e derrotado a operação Fim de Fidel lançada por Batista.

26. No dia 1 de janeiro de 1959, cinco anos, cinco meses e cinco dias depois do ataque ao quartel Moncada, em 26 de julho de 1953, triunfou a Revolução Cubana.

27. Durante a formação do governo revolucionário, em janeiro de 1959, Fidel Castro é nomeado ministro das Forças Armadas. Não ocupa a Presidência, ocupada pelo juiz Manuel Urrutia, nem o posto de primeiro-ministro, entregue ao advogado José Miró Cardona.

28. Em fevereiro de 1959, o primeiro-ministro Cardona, que se opõe às reformas econômicas e sociais que considera demasiadamente radicais (projeto de reforma agrária), apresenta sua demissão. Manuel Urrutia chama Fidel Castro para ocupar o cargo.

29. Em julho de 1959, frente à oposição do presidente Urrutia, que recusa novas reformas, Fidel Castro renuncia a seu cargo de primeiro-ministro. Imensas manifestações populares têm início em Cuba, exigindo a saída de Urrutia e o retorno de Fidel Castro. O novo presidente da República, Osvaldo Dorticós, volta a nomeá-lo primeiro-ministro.

30. Os Estados Unidos se mostram imediatamente hostis à Fidel Castro ao acolher com braços abertos os dignitários do antigo regime, incluindo vários criminosos de guerra que tinham roubado as reservas do Tesouro cubano, levando 424 milhões de dólares.

31. Não obstante, desde o princípio, Fidel Castro declara sua vontade de manter boas relações com Washington. Entretanto, durante sua primeira visita aos Estados Unidos, em abril de 1959, o presidente Eisenhower se nega a recebê-lo e prefere ir jogar golfe. John F. Kennedy lamentaria o ocorrido: “Fidel Castro é parte do legado de Bolívar. Deveríamos ter dado ao fogoso e jovem rebelde uma mais calorosa acolhida em sua hora de triunfo”.

32. A partir de outubro de 1959, pilotos procedentes dos Estados Unidos bombardeiam Cuba e voltam para a Flórida sem serem perturbados pelas autoridades. No dia 21 de outubro de 1959, lançam uma bomba sobre Havana que provoca duas mortes e fere 45 pessoas. O responsável pelo crime, Pedro Luis Díaz Lanza, volta a Miami sem ser perturbado pela justiça e Washington se nega a extraditá-lo para Cuba.

33. Fidel Castro se aproxima de Moscou somente em fevereiro de 1960 e apenas adquire armas soviéticas depois de os Estados Unidos rejeitarem fornecer o arsenal necessário para a sua defesa. Washington também pressiona o Canadá e as nações europeias solicitadas por Cuba com a finalidade de obrigar o país a se dirigir ao bloco socialista e assim justificar sua política hostil em relação a Havana.

34. Em março de 1960, a administração Eisenhower toma a decisão formal de depor Fidel Castro. No total, o líder da Revolução Cubana sofreria nada menos que 637 tentativas de assassinato.

35. Em março de 1960, a sabotagem, comandada pela CIA, do barco francês La Coubre, carregado de armas no porto de Havana, provoca mais de cem mortes. Em seu discurso em homenagem às vítimas, Fidel Castro lança o lema: “Pátria ou morte”, inspirado no [lema] da Revolução Francesa, “Liberdade, igualdade, fraternidade ou morte.”

36. No dia 16 de abril de 1961, depois dos bombardeios dos principais aeroportos do país pela CIA, prelúdio da invasão da Baía dos Porcos, Fidel Castro declara o caráter “socialista” da Revolução.

37. Durante a invasão da Baía dos Porcos por 1400 exilados financiados pela CIA, Fidel Castro faz parte da primeira linha de combate. Infringe uma severa derrota aos Estados Unidos e esmaga os invasores em 66 horas. Sua popularidade chega ao topo em todo o mundo.

38. Durante a crise dos mísseis, em outubro de 1962, o general soviético Alexey Dementiexv estava ao lado de Fidel Castro. Conta suas lembranças: “Passei junto a Fidel Castro os momentos mais impressionantes de minha vida. Estive a maior parte do tempo a seu lado. Houve um instante em que considerávamos próximo o ataque militar dos Estados Unidos e Fidel tomou a decisão de colocar todos os meios em [estado] de alerta. Em poucas horas, o povo estava em posição de combate. Era impressionante a fé de Fidel em seu povo, e de seu povo, e de nós, os soviéticos, nele. Fidel é, sem discussão, um dos gênios políticos e militares deste século.”

39. Em outubro de 1965, cria-se o Partido Comunista de Cuba (PCC), substituindo o Partido Unido da Revolução Socialista (PURS), surgido em 1962 (que substituiu as Organizações Revolucionárias Integradas — ORI —, criadas em 1961). Fidel Castro é nomeado primeiro-secretário.

40. Em 1975, Fidel Castro é eleito pela primeira vez para a Presidência da República depois da adoção da nova Constituição. Seria reeleito até 2006.

41. Em 1988, a mais de 20 mil quilômetros de distância, Fidel Castro dirige de Havana a batalha de Cuito Cuanavale em Angola, na qual as tropas cubanas e angolanas infringem uma retumbante derrota às forças armadas sul-africanas que invadiram Angola e que ocupavam a Namíbia. O historiadora Piero Gleijeses, professor da Universidade John Hopkins, de Washington, escreve a respeito: “Apesar de todos os esforços de Washington [aliado ao regime do apartheid] para impedir-lhe, Cuba mudou o rumo da história da África Austral [...]. A proeza dos cubanos no campo de batalha e seu virtuosismo à mesa de negociações foram decisivos para obrigar a África do Sul a aceitar a independência da Namíbia. Sua exitosa defesa de Cuito foi o prelúdio de uma campanha que obrigou a SADF [Força de Defesa Sul-Africana, as então Forças Armadas oficiais da África do Sul, por sua sigla em inglês] a sair de Angola. Essa vitória repercutiu para além da Namíbia.”

42. Observador lúcido da Perestroika, Fidel Castro declara ao povo em um discurso premonitório do dia 26 de julho de 1989, que, no caso do desaparecimento da União Soviética, Cuba deveria resistir e prosseguir na via do socialismo. “Se amanhã ou qualquer outro dia despertássemos com a notícia de que se criou uma grande guerra civil na URSS, ou até se despertássemos com a notícia de que a URSS se desintegrou [...], Cuba e a Revolução Cubana seguiriam lutando e seguiriam resistindo.”

43. Em 1994, em pleno Período Especial, conhece Hugo Chávez, com quem estabelece uma forte amizade, que duraria até a morte dele, em 2013. Segundo Fidel Castro, o presidente venezuelano foi o “melhor amigo que o povo cubano teve”. Ambos estabelecem uma colaboração estratégica com a criação, em 2005, da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América, que agrupa atualmente oito países da América Latina e do Caribe.

44. Em 1998, Fidel Castro recebe a visita do papa João Paulo II em Havana. Ele pede que “o mundo se abra para Cuba e que Cuba se abra para o mundo”.

45. Em 2002, o ex-presidente dos Estados Unidos James Carter realiza uma visita histórica a Cuba. Faz uma intervenção ao vivo pela televisão: “Não vim aqui interferir nos assuntos internos de Cuba, mas estender uma mão de amizade ao povo cubano e oferecer uma visão de futuro aos nossos países e às Américas. [...] Quero que cheguemos a ser amigos e nos respeitemos uns aos outros [...]. Devido ao fato de os Estados Unidos serem a nação mais poderosa, somos nós que devemos dar o primeiro passo.”

46. Em julho de 2006, depois de uma grave doença intestinal, Fidel Castro renuncia ao poder. Conforme a Constituição, é sucedido pelo vice-presidente, Raúl Castro.

47. Em fevereiro de 2008, Fidel Castro renuncia definitivamente a qualquer mandato executivo. Consagra-se, então, à redação de suas memórias e publica regularmente artigos sob o título “reflexões.”

48. Arthur Schlesinger Jr., historiador e assessor especial do presidente Kennedy, evocou a questão do culto à pessoa [de Fidel] depois de uma permanência em Cuba em 2001. “Fidel Castro não incentiva o culto à [sua] pessoa. É difícil encontrar um cartaz ou até um cartão postal de Castro em qualquer lugar de Havana. O ícone da Revolução de Fidel, visível em todos os lugares, é Che Guevara.”

49. Gabriel García Márquez, escritor colombiano e Prêmio Nobel de literatura, é amigo íntimo de Fidel Castro. Esboçou um retrato dele e ressalta “a confiança absoluta que desperta no contato direto. Seu poder é de sedução. Busca os problemas onde eles estão. Sua paciência é invencível. Sua disciplina é de ferro. A força de sua imaginação o empurra até os limites do imprevisto.”

50. O triunfo da Revolução Cubana no dia 1 de janeiro de 1959, dirigida por Fidel Castro, é o acontecimento mais relevante da História da América Latina do século XX. Fidel Castro continuará sendo uma das figuras mais controversas do século XX. Entretanto, até seus mais ferrenhos detratores reconhecem que fez de Cuba uma nação soberana e independente, respeitada no cenário internacional, com inegáveis conquistas sociais nos campos da educação, saúde, cultura, esporte e solidariedade internacional. Ficará para sempre como o símbolo da dignidade nacional que sempre se colocou do lado do oprimidos e que deu seu apoio a todos os povos que lutavam por sua emancipação.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Ho Chi Minh - O Poeta da Revolução





POEMAS DO CÁRCERE
(CARNET DE PRISON- traduit par Phan Nhuam)

Autor: Ho Chi Minh
Tradução de Coema Simões e Moniz Bandeira
Gráfica Editora Laermmer S.A
Rio de Janeiro – Guanabara
1968

Orelhas

Os Poemas do Cárcere constituem uma peça fundamental para a compreensão do caráter e da psicologia de Ho Chi Minh.

Quem é ele? Como viveu? Que pensa? A personalidade desse homem, que provoca admiração e respeito, tanto nos adversários como nos seguidores, suscita perguntas que todas as respostas conhecidas não satisfazem.

HO Chi Minh, de todos os estadistas do mundo contemporâneo, talvez seja o que menos se revele, o que menos se abra ao contacto da impressa, através de grandes pronunciamentos.

As suas obras só agora chegam ao Brasil.

Daí a importância da publicação dos Poemas do Cárcere, nos quais esse homem resevado e tranqüilo, mas firme e obstinado, exprime a sua intimidade, seus anseios e sentimentos, que, como os de todo líder, refletem os anseios e os sentimentos do povo.

Não se encontram nos seus versos os valores estéticos a que o público ocidental habituou a sua sensibilidade.

Eles encerram, de modo geral, um conteúdo ético e apelam, sobretudo, para a consciência do leitor.

O conteúdo dos Poemas do Cárcere traduz, assim, toda a filosofia de comportamento não só de Ho Chi Minh, mas, do povo vietnamita, que combate e ele simboliza.

A poesia integra o cotidiano do Vietnam.

Ho Chi Minh, freqüentemente, escreve mensagem ou termina seus discursos em versos. A poesia, nele, não representa uma forma de fugir a vida, mas uma forma de enfrenta-la.

Os Poemas do Cárcere mostram que nada é mais precioso para ele do que a independência e a dignidade. E, pela sua voz, fala todo o povo do Vietnam.




HO CHI MINH

A Poesia na Revolução

Magro, rosto amarelado, imberbe, cabelo na testa- este, o aspecto que o jovem Ba apresentava, quando desembarcou no porto do Rio de Janeiro. Trabalhava a bordo de um navio e ficara em terra para tratamento de saúde.

Ba ou, como se notabilizaria mais tarde, Ho Ch Minh habitou uma pensão no bairro de Santa Tereza. Ali passou algum tempo. Talvez três meses, enquanto esperava que outro navio o levasse de volta.

Não se pode precisar exatamente a data. Ba,nos fins de 1911, embarcou, como ajudante de cozieiro, no La Touche Treville, que fazia a linha Haiphong-Marselha. Tinha apenas 21 anos. Conheceu Oram, Dakar, Diego-Suarez, Port Said, Alexandria. E, depois de uma escala em Boston e New York, abandonou a profissão do mar. O mundo estava às portas da guerra. Era 1914.

Há muitas passagens obscuras na sua vida, informações vagas, dados incompletos. Nenhum dos seus biógrafos alude à sua viagem ao Brasil. Mas, evidentemente, foi nesse período que ela se realizou. Ho Chi Minh encontrou, em 1924, Astrogildo Pereira e Rodolfo Coutinho, que buscava o reconhecimento do PCB pela Terceira Internacional. Evocou os seus dias de Rio de Janeiroe revelou que muito impressionara a zona do mangue, o cheiro fétido, o mercado do sexo, subproduto do capitalismo nas condições do atraso semicolonial.

Os três encontraram-se em Moscou. Ba agora se chamava Nguên Ai Quôc e ajudava a articular, na Comitern, a seção do sudeste Asiático. Astrogildo Pereira logo regressou ao Brasil, Rodolfo Coutinho permaneceu e com ele partilhou do mesmo quarto. Esse convívio o levou a aprender a língua portuguesa.

Um ano mais tarde, porem, Nguyên Ai Quôc partiria para a grande jornada. Juntou-se a Hô Tung Mau e Lê Hông Phong, vietnamitas refugiados em Cantão, e criou a Associação da Juventude Revolucionara do Vietnam, que se tornaria a base para a formação do partido Comunista da Indochina, a força-motriz da revolução anticolonial.

Nguyên Ai Quôc, que, anos antes, publicara em Paris, violenta denuncia contra o processo de colonização francesa(1) e colaborara, ativamente no L’Humanité, Lê populaire et Lê Paria, escreveu, em 1929, uma brochura, fixando as diretrizes para a revolução na Indochina, dentro dos princípios do marxismo-leninismo. Intitulava-se O Caminho da Revolução (Lê Chemin de la Revolution) (2) e suas idéias fundamentais se substanciavam nos seguintes pontos:
1. Amplas massas operárias e camponesas ¾ e não um punhado de homens – realizarão a revolução. Daí a organiza-las.
2. Um partido marxista-leninista deve dirigir a revolução.
3. O movimento revolucionário em cada pais deve li8gar-se estreitamente ao proletariado mundial. É preciso fazer de tal forma que a classe operaria e as massas trabalhadoras possam distinguir a Terceira (Comintern) da Segunda Internacional (reformista).

“A burguesia sublevou-se contra o feudalismo, que a oprimia. Esta mesma burguesia tiraniza hoje a classe operaria e o campesinato, que constituem as forças motrizes da revolução” ¾ Dizia Nguyên Ai Quôc. 

Mas, o Partido Comunista do Vietnam (Vietnam cong san dang) só surgiu em 3 de fevereiro de 1930 e, em outubro do mesmo ano, transformou-se em Partido Comunista da Indochina (Dong duong cong san dang). E daí por diante, uma sucessão de combates sem trégua se compõe a vida de Ho Chi Minh. Após o fracasso da sublevação de YenBay, em Tonkin, e dos sovietes de Nghê Tinh, naquele mesmo ano, sobreveio a repressão e o movimento de massa entrou em declínio.

Tran Phu, secretario geral do PCI, Phan Van Dông, futuro presidente do Conselho de Ministros da Republica do Vietnam, Tôn Duc Thang e muitos outros caíram presos. O tribunal de Vinh, em1931, condenou Ho Chi Minh a morte e a Sureté ( apolicia de segurança da França) pediu a sua extradição as autoridades inglesas de Hong-Kong, onde estava encarcerado. E, depois, correra a noticia que ele morrera naquela cidade. De 1938 a 1939, porem, Ho Chi Minh viveu em Moscou, de onde, regulamente, escrevia para o Tim Tuc (As Novidades), órgão do PCI. Retornou a China, em agosto de 1938, e serviu como comissário político da missão do general Ying, doutrinando os soldados de Chang Kai-chek, que refizera a sua aliança com os comunistas, diante do avanço dos japoneses.

Estava cada vez mais próximo do seu objetivo: levantar a Indochina contra o jugo colonial. Aquele homem simples, franzino, que, manifestando indignação e tristeza, denuciou, no congresso sosialista de Tours (28.12.20), “as atrocidades praticadas na Indochina pelos bandidos do capitão”, Jamais perdera de vista o infortúnio de seu povo. A guerra mundial, que conflagrara a Europa e a Ásia, criara as condições para o inicio da jornada da libertação.

Ho Chi Minh retornou a Indochina, em janeiro de 1941, após consolidar a primeira zona libertada, na região de Cão Bang. Ali começava a maior epopéia da história contemporânea: a história de um povo pobre, atrasado, oprimido, que teima em ser livre, resiste a luta, prefere sucumbir nas ruínas, a golpe de napalm, a renunciar à sua independência e demonstra, com toda a eloqüência do seu heroísmo e da sua resolução revolucionaria, a fraqueza da maior maquina de guerra do imperialismo mundial.

A revolução é a poesia da historia, o momento de inspiração dos povos. Experiências acumuladas — frustrações e anseios, sofrimentos e alegrias ¾ transbordam, afloram à consciência, tomam forma, adquirem expressão, irradiam-se e empurram a humanidade para o sonho, puxando o sonho para a humanidade. Se toda a revolução tem a força da poesia, toda poesia, que sobrevive, tem a força da revolução.

A Comuna de Paris, as insurreições de 1905 e 1917, na Rússia, os levantes da Alemanha e da Hungria, em 1919, a grande marcha de Mao TseTung, a guerra da Espanha, a revolução da China, as lutas de libertação da Argélia, o heroísmo de Sierra Maestra, a epopéia do Vietnam e o sacrifício de Guevara ¾ eis alguns episódios da historia contemporânea mais fecundos e mais ricos em poesia do que todos os cantos da Ilíada, da Odisséia, de Jerusalém Libertada, de O Paraíso Perdido ou de Os Lusíadas.

A poesia da realidade manifesta-se com tanto poder de comunicação, que ofusca a realidade da poesia. Cada fato em si, que desponta nas manchetes dos jornais e nas noticias de radio, contem toda carga emocional de um poema, diante de qualquer outra palavra se desvanece. É impossível criar alem da criação. Talvez, por isso mesmo, mingúem tenha posto em verso as epopéias da idade contemporânea. E as epopéias são próprias das idades de transição, em que se constrói na ruína, a morte significa vida e o ocaso se confunde com a aurora.

Marx, Trotsky, karlo Liebknecht, maoo Tse-tung, Lumumba e muitos revolucionários escreveram versos, dedicaram-se à poesia. Todos encontraram na política, posteriormente, uma forma de expressão mais poderosa para sua criatividade. No caso de Ho Chi Minh, porem, se a obra do revolucionário traduz o espírito do poeta, a obra do poeta explica o espírito do revolucionário. Não se pode compreende-lo como combatente sem conhece-lo como artista.

“O Vietnam é um pais onde o presidente envia suas saudações e suas ordens do dia, sob a forma de poema, e, seguidamente, termina seus discursos em versos” ¾ comenta Madeleine Riffaud (3). E observa: “Mais a luta endurece, mais os vietnamitas necessitam de poesia. Necessitam da poesia como de um pouco de arroz”.
Aproxima-se a primavera e componho este poema para meus compatriotas do país inteiro.

Que combatam a agressão americana
E novas vitórias
Como flores desabrochem. (4)

O estadista, que formulou nesta saudação para o Ano Novo de 1967, é o mesmo guerrilheiro que nas florestas de Cao Bang, escrevia:

Vozes das fontes claras: canção longínqua.
A lua penetra a arvore secular.
O vento penetra as flores.
A paisagem noturna desenha-se como um quadro.
O homem dorme.
Ele pensa e repensa em sua pátria, angustiado.
Nosso país atravessa duros momentos.
Precisamos meditar em centenas e milhares de tarefas.
Os negócios de Estados, irmos, apóiam-se sobre vossos esforços,
Esforços maiores ainda.
Maior vitória.

Eu leio e o pássaro das florestas vem gemer diante de minha porta.
Escrevo minhas idéias sobre o livro
E as flores das montanhas miram-se no tinteiro.
Chegam-me noticias de vitórias.
O mensageiro estar para vir.
Recordo-me de você e lhe ofereço estes versos. (5)


Não se pode ler, entretanto, a poesia de Ho Chi Minh com os mesmos olhos que se habituaram aos padrões do Ocidente. Seus poemas, na maioria, são curtos e lembrariam os haicais dos japoneses. Encerram, freqüentemente, uma anedota. Ho Chi Minh, através das contradições que joga em cada verso, imprime-lhe um conteúdo ético. O lirismo do romântico ¾ quiça uma ressonância do seu tempo de França--- funde-se no realismo do revolucionário. A sátira transparece no drama. A esperança toma lugar do desespero. O otimismo aponta na tragédia.

Pela manhã, escalando o muro, o sol 
vem bater à porta. A porta está fechada
e a noite continua no fundo da prisão.

Os poemas de Ho Chi Minh refletem a revolta do combatente na mansidão do estóico. É o sábio que fala pela voz do poeta. 

O palácio de toda a historia
se constrói sobre o povo inteiro. (6)

Não se encontrara, nos seus versos, a fúria da palavra, mas, a sutileza da sabedoria. Não a comunicação pela imagem e sim à imagem pela comunicação.

Os Poemas do Cárcere datam-se do período em que resvalou pelas prisões do Kuomintang. Aprisionara-o a policia de chang Kai-chek, quando ele, em agosto de 1942, atravessou a fronteira da China. Dirigia, na época, o maquis da região de Cão Bang e, como representante da Liga pela independência do Vietnam (Viêt Minh), buscava articular a resistência contra os invasores japoneses.

Iniciou-se o calvário. De T’oung Tchéng a P’íg Mà, de Nân ning a Tsing Si, de Kwei Lin a Lieu Tchèou, coberto de chagas, que lhe ornamentavam o corpo como as vestes de seda dos mandarins, com frio, com fome, caminhando às vezes, 50 quilômetros a pé ou dependurados pelas pernas ao teto de um junco, dormindo junto às latrinas ou amarrados como frango no espeto (assim se chama, na China, o pau-de-arara) ¾ todos os sofrimentos e torturas se abateram sobre aquele homem, mas não lhe quebraram o moral. E até a noticia da sua morte, novamente, ocorreu.

Os Poemas do Cárcere contam esse trajeto de sua vida. Não se trata de uma autoglorificação, de uma elegia à desgraça, mas, de um testemunho e de um protesto, eivado de fé e de humanismo. Escreveu-os no chinês clássico, falando, ao tempo da dinastia dos T’ang, entre os séculos IV E IX. Não usou o idioma do Vietnam, O Quô Ngu, para evitar que descobrissem a sua nacionalidade. Ele se identificou como um jornalista chinês, que vivia na Indochina. E, como dizia Madeleine Rffaud, (7) Ho Chi Minh “maneja tão bem a língua dos como as formas de expressão popular”. 

Homem simples, modesto, refratário ao culto da personalidade, apesar da liderança incontestável, que exerce sobre o seu povo, e do prestigio mundial de que desfruta, Ho Chi Ming sempre se recusou a falar de si próprio, nos raros contactos que manteve com a impressa do ocidente. Phan Nhuan, que traduziu seus poemas e escreveu a apresentação, narra uma passagem bastante significativa. Era junho de 1946, em Paris. “Um homem magro, profundamente marcado pelos sofrimentos e privações, estava sentado diante de um buquê muito simples de rosas encarnadas”. Ao seu redor, uma centena de repórteres e observadores de todos os paises. O presidente Ho Chi Minh chefiava uma delegação do governo do Vietnam que negociaria com os franceses a sua independência. Um jornalista, “jovem e rosado”, perseguiu-o, durante um quarto de hora, com suas perguntas insidiosas e, não contente, insistia:

¾ Presidente o senhor é comunista?
O homem, pacientemente:
¾ Sim.
¾ Fez a resistência?
¾ Sim.
¾ Quanto tempo?
¾ Mais ou menos quarenta anos.
¾ Esteve também na prisão!
E, vendo onde o jornalista queria cegar, descreve Phan Nhuan, Ho Chi Minh novamente respondeu com o monossílabo:
¾ Sim.
¾ Que prisões?
¾ Muitas prisões senhor.
¾ Quanto tempo?
“O homem magro sorriu um certo sorriso, observando o jornalista jovem e rosado” ¾ registrou Phan nhuan. E respondeu:
¾ Quando se estar na prisão o tempo é sempre longo.

Os Poemas do Cárcere constituem, assim, a resposta que o jornalista, “magro e rosado”, Tanto buscou. Vale como um depoimento autobiográfico e um retrato da alma desse homem, que conduz, há quase três décadas, o povo do Vietnam no caminho da libertação.

Há personalidades, que sintetizam as virtudes do seu povo, que representam, qualitativamente, a quantidade e fecundam a historia. Quando se diz Ho Chi Minh, fala-se de todos os revolucionários que lutam e morrem no Vietnam. Ele é como aquele monge incendiado, que se dispõe ao sacrifício, mas com a metralhadora na mão.

MONIZ BANDEIRA

Rio, junho de 1968.


(1) Lê procès de lá colonisation française – reeditado em Hanói, 1962, Editions enlangues étrangères.
(2) Lê Chemin de la Révolution – in Ho Chi Minh, Jean lacouture, Editions du Seuil, Paris, 1967.
(3) Au Nord Vietnam ¾ Juliard, Paris, 1967.
(4) I Au Nord Vietnam
(5) I Au Nord Vietnam
(6) Op. Cit.
(7) Op. Cit.




DIARIO DA PRISÃO

Aqui teu corpo estar preso na cela.
Teu espírito, não ele está livre.
Se queres continuar tua missão,
deves manter elevado o teu moral.



EM PRIMEIRA MÃO

Versos jamais me apaixonaram tanto.
Mas, sem nada a fazer prisioneiro,
distraio os dias, que são longos, rimo
enquanto espero ver a liberdade.



CHEGADA À PRISÃO DE TSÎNG SI (*)

O novo preso, acolhem-no os veteranos.
Nuvem de azul perseguem tempestade.
Livremente no céu as nuvens passam.
Um homem livre, só, resta no cárcere. 
(*) Cidade principal um hsién (espécie de município) do mesmo nome, subordinada à província de Kouàng Si. (nota da edição vietnamita).



CAMINHO DA VIDA

Montes atravessei, venci as alturas.
As planícies são mais difíceis de passar.
Não me fizeram mal os tigres das montanhas,
mas encontrei um homem e ele me prendeu.

O novo Vietnam eu represento
em vista de amizade aos chefes de um país irmão.
É o oceano que contra a terra se arrebenta?
Vejo que me reservaram as honras da cadeia.

Sou um homem honesto e tranqüilo:
imaginam-me um chinês tenebroso.
É sempre difícil o caminha da vida,
Mas viver sua vida ,não é nada fácil.



SARAU


Ao por do sol quando o jantar termina,
ouve-se musica por toda parte.
Sombria e melancólica, Tsíng Si
Parece transforma-se em uma academia.



REFEIÇÃO DE PRISIONEIRO


Uma tigela de arroz vermelho: (*) 
Qualquer refeição.
Nem legumes, nem sal, nem mesmo caldo.
Aquele que possui quem lhe abasteça pode comer 
[na cadeia.
Quem não possui ninguém grita
pai e mãe.



A FLAUTA DO COMPANHEIRO DE PRISÃO


Uma canção de nostalgia
subitamente inunda as celas da cadeia.
O tom, gemido. O ritmo, soluço.
Que sofrimento ver-se do outro lado,
por vales e montanhas,
sombra de uma bandeira
que tristemente espera.



TRONCO (*)

Goela faminta, demônio cruel
Todas as noites
Morde e devora nossas pernas.
A garganta animal tragando o pé direito
Em quanto o pé esquerdo esperneia sozinho.


(*) Instrumento de tortura medieval, formado de um cepo com olhais, onde mete o pé do condenado. (Nota dos tradutores).



O JOGO DE XADREZ


O jogo de xadrez ocupa o tempo.
Lutam sem trégua infantes e cavalos. (*)
Como um raio afastar-se
e atacar como um raio.

A tenção e destreza o avanço guiam.
Como minúcia e largueza de visão,
resoluto e tenaz, acossar sem descanso.
De que serve seus carros se caíste no impasse?
Um peão bem colocado o jogo vence.


O equilíbrio de um lance encurrala o inimigo.
A vitória final se delineia.
Prepara bem teus golpes,
mantém secreto o plano,
que assim se tornaras um grande capitão.
(*) Na china, a terminologia do jogo de xadrez baseia-se na do antigo exercito. O peão chama-se infante ou soldado de infantaria; o rei, capitão ou general: a torre e a dama, carro. (nota da edição vietnamita).



A LUA 


Que fazer ante o encanto da noite e a beleza do
[tempo?
Através das grades o homem contempla a lua.
A lua contempla a lua através das grades.



A RAÇÃO D’ÁGUA


Meia bacia é a ração d’água.
Faz-se o que quer: asseio ou chá.
Você quer se lavar?
Esqueça o chá
Você quer o chá?
Deixe o asseio.



JOGO DE AZAR


Persegue-se lá fora os jogadores.
Mas na prisão campeia livre o jogo.
O que vai preso varias vezes chora
só ter reconhecido o lugar certo.



JOGADORES PRESOS


As prisões não sustentam jogadores
Para regeneraram mais depressa:
vive com nababo (*) o que tem posses
e o que chora e baba aos bordões.

(*) No original: Ngén ¾ gíria de prisão usada para designar uma espécie de caíde, mas, sobretudo em relação à riqueza. (nota da edição vietnamita).



AO CAIR DA NOITE


O pássaro cansado volta ao ninho
Entre as sombras do bosque.
Vagueia a nuvem pelo céu deserto.
Uma jovem na aldeia moe o milho
e o fogo inflama sua luz vermelha.



NOITE EM LONG TS’IUEN


Correm durante o dia os meus cavalos rápidos. (*)
Como um frango no espeto. (**) eu a noite me 
[sinto.
O frio a aproxima-se, os piolhos traiçoeiros.
Mas com o verdelhão por sorte canta o dia (***)


(*) O poeta alude ás suas pernas que, a pé, perfaziam 53quilômetros durante ao dia, para velas-la à noite, metidas em ferros, como frango no espeto ou, mais exatamente: como frango em cinco temperos, versão chinesa do frango no espeto, que consiste em amarrar as pernas e as asas da ave, aromatiza-la e arrumar as coxas artisticamente retorcidas.
(Nota da edição vietnamita).

(**) Espécie de tortura, como pau-de-arara (Nota dos tradutores)

(***) Pássaro cujo macho tem o peito amarelo e as asas negras. As fêmeas são azuis e possuem as asas negras.(Nota dos tradutores).



T’IEN TOUNG


No almoço e no jantar as tigelas de papas.
Virando sem parar, ronca e berra a barriga.
Poe três yuans arroz seco enraivece o estomago.
Ah! o arroz é de perola, o pau de canela! (*)
(*) É uma expressão para indicar a carestia de vida. Na Europa, diz-se: o arroz é de ouro. (Nota da edição vietnamita).



AO CHEGAR Á PRISÕA DE TIEN PAO


Cinqüenta e três quilômetros ao dia,
meias rotas, chapéu, roupas molhadas.
Sem saber o lugar onde dormir
aguarda na latrina o sol nascer.



A MULHER VISITA O MARIDO PRESSO



Ele
detrás das grades
Ela 
diante.
Tão próximos: uma polegada.
E tão distantes: o céu da terra.
O que a boca deve calar
os olhos contam.
Antes da palavra
as lagrimas nas pálpebras.



ORGANIZA-SE A RECEPÇÃO SOLENE DE WILKIE (*)



(A imprensa anuncia)


Como tu, amigo da China. 
Como tu, indo a Tch’oûng King.
Estás sentado no salão.
Eu, prisioneiro.
Como tu, sou também delegado.
Por que a diferença?
Parcialidades dos homens.
As águas sempre correm para o Oriente. (**)
(*) Chefe de uma delegação norte-americana que estava na China em 1942. (Nota da edição vietnamita).
(**) Poucas pessoas observam no mapa geográfico, que todos os rios da China (o rio Amarelo, o Yang Tseù ou o Si Kiang) correm para o leste. Daí o celebre verso que passou a provérbio: “Desde os tempos antigos que as águas correm para o Oriente”. (Nota da edição vietnamita). 



EXTORÇÃO DIRIGIDA A SI PRÓPRIO


Se não houvesse o luto, a morte, o frio do inverno,
quem reconheceria o frio do inverno?
O acaso conduziu-me aos fornos das desgraças
para fazer-me forte e de consciência rija.




RESTAURANTE


Entre sombras, à beira do caminho
numa casa de palha o restaurante.
Pirão frio e sal branco, no menu,
retém o forasteiro alguns momentos.




A PRISÃO EM KOUO TE



Como em família vive essa casa de força.
Azeite, lenha, arroz e sal ¾ todos possuem.
Cada cela parece um lar do prisioneiro:
Todo dia cozinha o arroz e o caldo engrossa.



A TRANSFERENCIA DO PRISIONEIRO PELA
MADRUGADA


Primeiro canto do galo
pela noite de negro ainda.
Como uma escolta de estrelas
a lua emerge dos montes.
O viajante segue a estrela,
rota de grandes viajantes.
Rajadas frias de gelo
o vento de outono sopra.
O seu rosto fustigado.
O clarão que rasga o Oriente
já se transforma em aurora
e varre os restos da noite.
Um bafo de fogo envolve
tanto a terra como o céu.
O viajante sente súbito
a poesia crepitando.




DE LONG NGAN A T’UOONG TCHENG



A região é intensa e a terra tão ingrata.
O homem ama o trabalho e ama a economia.
Parece que não veio a chuva à primavera:
Ceifam-se dois ou três dos dez feixes sonhados.



O CAMINHO


Se levo fortemente atados os meus braços,
ouço os pássaros, sinto o perfume das flores.
Quem me pode impedir essa felicidade
que me faz menos só e a marcha menos triste?



T’OUNG TCHEENG


Na prisão de T’oung Tcheng o mesmo que em
[ Pîng Má.
Simples mingau que deixa a barriga vazia.
Tem-se a água que quer e a luz que se deseja:
Abre-se a porta ao ar duas vezes por dia.


COBERTO DE PAPEL DO COMPANHEIRO DE PRISÃO



Livros novos, papéis velhos são amontoados.
Cobertor de papel é melhor que nenhum.
Abrigados do frio os ricos adormecem
Enquanto na prisão tantos tremem sem sono.



NOITE DE OUTONO


À noite, o corpo e as pernas enroscadas.
Nem colchão nem coberta, insone ao frio.
Sob o gelo da lua, as bananeiras.
A Ursa maior oscila na vigia.



PERNAS E BRAÇOS AMARRADOS



Enrolam-se os dragões nas pernas e nos 
[braços (*).
Terão os generais dragonas mais bonitas?
Em fios de ouro são as dragonas que 
[ostentam.
As minhas ¾ podem ver ¾ são belas cordas 
[grossas.

(*) Os dragões eram atributos dos imperadores chineses e vietnamitas, os emblemas de majestade, por causa de seus ancestrais totêmicos. (Nota da edição vietnamita.)



ADEUS A UM DENTE




Inabalável foste,
a vida de sete fôlegos.
Eras tão diferente de tua irmã mais velha, (*)
flexível, incomensurável. 
Partilhamos juntos o gosto da vida.
E agora nos separam
meu dente inseparável.


(*) trata-se da língua ¾ irmã mais velha do dente ¾ porque o precede na vida. (Nota da edição vietnamita).



A MULHER DO INSUBMISSO (*)



Meu esposo partiu e não retorna.
Fiquei Abandonada ao meu desgosto.
Minha dor comoveu o mandarim
Que me envia à prisão para descanso.


(*) Quando um homem não queria ser soldado, o governo prendia sua mulher e seus filhos. Procedimento bárbaro que o autor desmoraliza. (Nota da edição vietnamita).





ESTORIA PARA RIR



A morada oficial, o arroz do estado,
A guarda se reveza a cada passo.
Horas de ócio, passeio à vontade.
Não acham muita honra para um homem?



ACORRENTADO A CAMINHO DE NÂNG NÎNG



A corda é bem vulgar. Trocam-na por grilhões
que provoca os sons de jade e camafeu.
Suspeito como espião aos olhares dos guardas,
que caminhar de rei, que porte de fidalgo! (*)


(*) quando dignatários e importantes homens de letras achavam-se, outrora, em audiência solene na corte, usavam cinturões enfeitados de pedras preciosas, que produziam singular ruído. ( Nota da edição vietnamita).




NA ESTRADA... OS GUARDAS CARREGAVAM UM PORCO



Carregando um leitão, os guardas me puxavam.
Vai nos braços um porco, um homem na coleira.
Um porco vale mais. É baixo o preço de um homem 
quando não pode usar a sua liberdade.



Entre mil aflições, centenas de infortúnios,
Perder a liberdade é o que pior existe.
Quando cada atitude e cada gesto espreitam,
sois um cavalo, um boi que qualquer um maneja.




NO MEIO DO CAMINHO TOMO O JUNCO
YONG MÎNG (NANG MÎNG)


Deslizo pelas águas para Yong Mîng.
Os pés presos ao teto, torturado. (*)
Os povoados são densos sobre o rio,
Dos pescadores leves as sampanas.



(*) A s autoridades nacionalistas realizavam a transferência dos prisioneiros, pendurando-os, pelos pés, ao teto de um junco. De cabeça para baixo, esse prisioneiro parece não perder a visão otimista do mundo. (Nota da edição vietnamita).







A PRISÃO DE NANG NÎNG




Uma prisão no estilo ultra-moderno.
Farta iluminação a luz elétrica.
Um pirão sem tempero, a refeição:
A barriga vazia ronca e vira.




UM GALO CANTA



És um animal comum
que anuncia o sol.
Ao primeiro canto
um povo emerge do sono.
O trabalho que fazes não é tão desprezível.




UM JOGADOR DETIDO ACABA DE 
“PIFAR” (*)

Ele não era mais que pele sobre os ossos.
Não agüentava a fome, o frio, essa miséria.
Apoiado em meu ombro dormiu à noite, ontem,
E no seio da terra entrou antes da aurora.


(*) No original em gíria. (Nota da edição vietnamita).



MAIS OUTRO...



Yi, Ts’î (*) não comiam arroz dos tiranos Tcheou.
O jogador rejeita a comida do cárcere.
Yi, T’sî morreram de fome nos montes Cheòu
[Yang.

(*) Yi, T’sî são dois personagem semi-histórico e semi-lendários, que existiram no fim do penúltimo milênio antes da era cristã, e se tornaram símbolo de fidelidade a um principio moral. Naquela época, a Flor-Central, sob a suserania nominal dosYin, estava de fato dividida em inúmeros estados-tribos, independentes uns dos outros. Yin T’sî ¾ em nome da ética tribal ¾ desaconselhavam o chefe dos Tcheou ¾ um dos mais fortes principados ¾ a não empreender a guerra de hegemonia que ele preparava. O Tcheou entretanto, conseguiram vencer os Yîn e dominar toda a Planíce Central. A fim de não comer o arroz dos Tcheou, que iria comprometer-los, Yi Ts’î retiraram-se para a floresta, viveram de plantas e morreram de fome. O jogador a que se refere o poeta, não será por acaso um sábio conservador desse principio? (Nota da edição vietnamita).



PRIBIDO FUMAR



É proibido fumar nesse recinto.
O fumo confiscado o guarda usa.
Ele pode fumar quando quiser,
Mas, se fumas, irmão, botam-te algemas.



CREPÚSCULO


No rebolo dos montes a espada dos ventos se afia.
Um frio de lamina atravessa a carne dos maciços.
Soa ao longe um sino... Apressa-te peregrino!
A criança recolhe o búfalo
soprando flauta.



INSÔNIA



Uma noite sem dormir. Duas noites. Três noites.
Impossível dormir! Agito-me, angustiado.
Quarta noite. Quinta noite... Será sonho? Vigília?
Cinco pontas de uma estrela enrolam meus pensamentos. (*)


(*) A bandeira da resistência vietnamita tem uma estrela de cinco pontas sobre um fundo vermelho. (Nota da edição vietnamita).



PENSANDO NUM AMIGO


Pelas margens do rio outrora me seguias.
De te me despedia: até outra colheita.
O arado novamente arranhou a planície
e, longe do pais, me fazem prisioneiro.



A SARNA


Coberto de azul (*) e manchados de chagas.
Que damasco em flor!
Violas sensíveis que todo dia dedilhamos. 
Vestidos em damasco, belos Senhores do Cárcere...
Que concerto de corações!
Que concerto de musica!

(*) O poeta refere- se a cianose, enfermidade produzida por embaraço circulatório e que provoca uma coloração azulada na pele. (Nota da edição vietnamita).


CANTO DO ARROZ DESCASCANDO 


Sofre o arroz o choque do pilão.
Repare que brancura após a prova.
Também um homem para ser um homem
Tem que sentir o golpe do infortúnio. 



“HOTEL PARA VIAJANTES” 



O novo prisioneiro quando chega 
deve deitar perto da latrina.
Mas se queres melhor alojamento
Junte algum dinheiro às escondidas.




CLARA MANHà



Sombras, fumaça, nevoa se dissipam,
quando o sol da manhã entra no cárcere.
Um sopro, que remova, inunda a terra.
Volta o sorriso a cem rostos fechados.







ALERTA NO VIETNAM



Informação da Agencia Tch’é Tão, publicada na impressa de Nân Nîng.


Antes a morte à vida como servo.
Quando as bandeiras livres se desfraldam,
Que desgraça resta numa enxovia
e não poder lançar-me nas batalhas.




PRATO DE CACHORRO EM PÃOHSIANG




Comem em Koùo Te peixe “`la fraîche”. (*)
Em Pão Hsiang fazemjus ao prato de cachorro.
Os guardas de minha repugnante escolta
sabem as vezes viver e comer bem.

(*) Peixe cru: iguaria requintada que se come no Oriente. (Nota dos tradutores)




O COOLE CONSTRUTOR DE GRANDES 
ESTRADAS


Sem trégua, sem repouso, à chuva e vento,
trabalha o coole. Vida de miséria.
Cavalheiros, pedestres, transeunte,
quando se lembrarão de suas dores?




O MEU BASTÃO ROUBADO POR UM 
GUARDA


Sempre foste direito, infatigável, firme.
Fundido à minha mão, andamos pelos anos.
Maldito seja quem nos separou! Patife!
Solitário deixou-te. E a mim, inconsolável.



MARCO DE QUILÔMETROS



Nada de grande, extraordinário,
De imperia ou principesco:
Nada mais que simples bloco de pedra
á beira da estrada.
As pessoas te buscam 
para não se perderem.
Indicas o caminho a cada um
e o tamanho do trajeto.
Isto não é nada, pequena pedra!
Mas ninguém poderá esquecer-te.



O PREÇO DA LUZ



Ao entrar na prisão pagas a luz.
Seis dólares (*) por homem: em Kouáng-Si.
Nesse lugar sombrio ¾ o mais escuro ¾ 
não vale um centavo (**) a luz do dia.


(*) A velha moeda Yuân, chamada comumente dólar chinês, não tem nenhuma relação com o dólar. Seu valor real era mínimo.(Nota da edição vietnamita).
(**) Em francês, liard: antiga moeda de cobre, francesa, equivalente a um quarto de soldo.
(Nota dos tradutores).



A VIDA NA PRISÃO



Um fogareiro cada qual possui.
A marmita ajustada ao seu tamanho.
Para fazer chá, arroz, legumes,
Arde o fogo sagrado todo o dia.



O BOM SENHOR KOÛO



Providencial acaso, encontro formidável!
Como direi? O bom senhor Koûo foi para
mim como em noite fria o fogo de carvão.
Sob os céus, corações assim existem ainda?



MÔ, O CARCEREIRO DE PIN YÂNG



Mo, guarda de Pin Yâng, a fama de bravura,
com seu próprio dinheiro alimenta os detentos.
Liberta-os grilhões para que à noite durmam
Segue seu sentimento e não a autoridade. 




ELE QUERIA FUGIR



Só trazia uma idéia: liberdade!
Do carro se lançou, jogando a vida.
Correu trezentos metros (*) de aventura:
trouxeram-no de volta os mesmos guardas.

(*) Na edição vietnamita, demi-Li, ou seja, meia-Li.
Li: medida chinesa equivalente a 600 metros mais ou menos.
(Nota dos tradutores).


EM LAI PIN 


Passa o dia jogando o chefe da prisão.
O guarda-chefe rouba os presos que transporta.
O hsièn-chefe despachas os papeis no escritório.
Nada muda em Lai Pi: há sempre a Grande 
[Paz (*)

(*) A Grande Paz (T’ing P’ing) é a Pax romana da China Imperial, a paz dos mandarinos.
(Nota da edição vietnamita)


MEIA NOITE


Todos, dormindo, a mesma expressão de inocência.
O despertar divide em bons e maus os homens.
Bom, mau ¾ ninguém assim de natureza nasce. 
A educação depois o seu caráter forma.
QUATRO MESES JÁ



“Um dia encarcerado:
Mil anos lá fora”.
Não é vã palavras 
este provérbio antigo.
Quatro meses na cela
destruíram meu corpo
mais que dez anos de vida.
Quatro meses de fome,
quatro meses de insônia,
sem mudar de roupa
sem poder me lavar.
Abandonou-me um dente,
cabelos branquearam,
negro, magro, faminto,
vestido de sarna e de feridas.
Mas paciente sou,
duro, rijo,
sem recuar um palmo.
Materialmente miserável,
o moral, firme.



CHEGADA A KOUÉ-LIN (*)



Nome impróprio Koué-Lin: nem bosque nem canela,
Somente águas sem fundo e montes sem acesso.
Ao pé de uma figueira, uma triste prisão,
Sem luz durante o dia e de noite sem vozes.


(*) Koué-Lin (Quê-lam em vietnamita) significa bosque das caneleiras ou, mais exatamente, das canifístulas. É o nome de uma localidade em Kouàng-Si. (Nota da edição vietnamita).



DIREITO DE ENTRADA NA PRISÃO



Ao entra na prisão também se paga,
Cinqüenta dólares (*) a preço baixo,.
Se te falta dinheiro para a conta
Um calvário te espera a cada passo.

(*) Dólar chinês. (Nota dos tradutores)



?!


O que tanto sofri durante quarenta dias!
Inútil sofrimento enfrentei tanto tempo.
É preciso fazer o retorno a Leoù Tcheou:
Um homem se entrega e você solta bílis.



ANTE O BIRÔ POLÍTICO DA QUARTA
ZONA DE GUERRA


Arrastão por treze hsién da região de Kouàng-Si.
Detidos em dezoito prisões infectadas.
Que crime terei eu cometido, mandarins veneráveis?
Crime de amar o povo e consagrar-lhe a vida.



IMPRESSÕES DE UM NOITE


Abre-se a rosa
a rosa fenece
em saber o que faz.
Mas se uma rosa-perfume
na prisão se perde
gritam no coração
do confinado
todas as injustiças do mundo.




A EPOCA DO TS’ING MÎNG (*)

A pura claridade de Ts’ing Mîng, a chuva fina.
A alma do prisioneiro as tristezas invadem.
Onde obter aqui liberdade?
Dos mandarins a porta o guarda ao longe aponta.

(*) ts’ing Mîng ou pura claridade é o período do antigo calendário chinês que conresponde, mais ou menos, à primeira quinzena de abril. Se na literatura, o Ts’ing Mîng é a época do ano em que, sob um céu límpido, florescem as pereiras e as paulownias (1), é também a época em que na China do Sul, cai uma chuva fina e desesperante, que provoca um estado de espírito particular. Sob essa forma de spleen (2), conserva-se da dinastia T’âng uma estrofe célebre que o autor adaptou. Para isso, foi suficiente mudar dez caracteres do poema T’âang, de um pessimismo calculado, e transformar a tristeza em humor. (Nota da edição vietnamita)

(1)Paulownia: arvore do Extremo Oriente, com flores aromáticas, gênero das plantas emolientes. Atinge a altura de quinze metros e as folhas medem trinta centímetros.
Plantam-se nos parques e ao longo das ruas. Origem do nome: Ana Pauwona, filha do czar Paulo I. (nota dos tradutores)
(2) Spleen: estado de espirito que se caracteriza por completo aborrecimento de tudo. (Nota dos tradutores).



IMPRESSÕES DO OUTONO



A Ursa Maior nos montes. São dez horas.
Sua alegria o grilo canta. Outono.
Que importa ao preso tanta natureza
Se só um canto escuta: a liberdade.


O outono viu-me livre no outro ano
e eis que me encontra agora prisioneiro.
Sou menos útil ao meu povo amado?
Este outono bem vale o que passou.



PERDER A LIBERDADE 


Que tristeza perder a liberdade!
Triste senhor do céu, sem coração!
Sapatos em frangalhos, pés na lama,
Devo andar sem descanso a qualquer custo.
PENSAR NOS DIAS PASSADOS



Pensaria o céu, em trancar um herói?
Oito meses à morte em ferro e correntes.
Longe do sol, ó preço de uma sombra humana!
Mas quando se abrirão as portas da cadeia? (*)

(*) Esse verso faz parte do celebre apelo aos intelectuais, do patriota Phan Chaâu Trinh, em prol de um concurso trienal no inicio desse século, quando o Vietnam acabava de perder sua independência:

................................................

Truông chu bach niên thoa ma
Bãt tri hà nhât xuât lao lung?

(Ficaremos cem anos curvados sob ultrajes,
mas quando, se abrirão as portas da prisão?)
(Nota da edição vietnamita)


EVOCAÇÕES


Hirsuta, negra, a copa
Arvore desgrenhada,
retrato de Tchang-Fei (*)
O constente Kouan Yù
¾ o sol nascente a minha
lealdade testemunha.
Sem noticias da pátria
Durante todo um ano,
Sempre esperando um eco.


(*) Tchang-Fei e Kouoan Yù soa dois heróis da época dos Três Reinos (séc.III), que, com Lieôu Péi, o futuro rei dos Chou, combateram pela legitimidade Ham, considerada como causa justa. Um romance histórico muito popular ¾ Três Reinos ¾, do século XIV, exalta a fraternidade desses três companheiro de armas, cujas figuras permanece mais viva s no coração dos chineses do que os Três Mosqueteiros no dos franceses.
Kouan Yù, um misto de Marte, Aquiles e Bayard, é venerado após os Song, nos paises de tradição chinesa ¾ no Templo das Virtudes Militares, como símbolo da retidão, Constancia e bravura. Tchang-Fei, representado na estatuaria sob os traços de um personagem hirsuto, escuro é o tipo do guerreiro ardente e fiel.
É interessante observar o processo de associação de idéias do poeta. Ao ver a copa desgranhada das arvores,
Ele pensa em Tchang Fei (negro-força física). Depois de Tchang Fei, evoca Kouan Yù e recorda a terra dos HAN.
O tradutor acrescentou os qualitativos negro, constante. Embora não figure no texto de modo evidente, estão submetidos na idéia que se faz dos personagens. A razão é que a língua chinesa, pobre em certa categoria de termos abstratos, tende a transforma-los através de metáforas.
Assim coração de Kouan-Yù-sin (coração de Kouuan-Yù) significa constância, lealdade. Uma tradução que não leva em conta esse aspecto de língua chinesa dará uma idéia ininteligível. (Nota da edição vietnamita).




AO LER “ANTOLOGIA DOS MIL POETAS”



Flores, neve, lua e vento, montes rios
¾ cantar a natureza era o prazer dos antigos.
É preciso armar de aço os versos de nosso tempo.
Também os poetas devem saber combater.



BELEZA PERMANENTE



Tudo muda ¾ é a lei. 
A roda gira e não para.
Após a chuva, o sol.
O universo , num instante,
troca suas roupas molhadas.
A paisagem estende tapetes
sobre seis quilômetros.
Sol doce, leve brisa,
uma flor sorri.
No topo da arvore,
o galho brilha.
Canta um coro de pássaros.
Homens e animais sentem a ressurreição.
Que de mais natural?
Após a desgraça o jubilo.


LIBERDADE, PREPARO-ME PARA ATRAVESSAR 
AS MONTANHAS


Nuvens e montes. Montes e nuvens.
Cintila o rio em baixo. Nada o mancha.
Palpita o peito, sigo Si-Fong Ling, (*)
O olhar no sul, pensando nos amigos.


(*) Si-Fong Ling ¾ Montes do Oeste, cadeia de montanhas que se vê de Lieoù, onde se encontrava o poeta ao sair da prisão.
Esta estrofe não figura no velho CARNET DE PRISON, de Ho Chi Minh. Ela é, na realidade, uma mensagem de além-tumulo.
Certo dia de 1944, dois anos após o desaparecimento de Ho Chi Minh, morto ¾ e enterrado, ¾ Vo Ngguyen Giap,
Que comandava o grupo de resistentes de Cao Bang, encontrava um exemplar de um jornal de Tch’oung King, com a estrofe acima, na margem, escrita a mão. A caligrafia era a mesma do desaparecido.
Impossível qualquer duvida: o morto estava VIVO.
(Nota da edição vietnamita).