sábado, 16 de maio de 2015

Lênin, Organizador e Chefe do Partido Comunista da Rússia

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J. V. Stálin

23 de Abril de 1920


Primeira Edição: "Pravda" ("A Verdade"), nº 86, 23 de abril de 1920.
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 4º vol., Editorial Vitória, 1954 – traduzida da edição italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni Rinascita, Roma, 1949.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
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 Fernando A. S. Araújo, setembro 2006.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.


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Existem dois grupos de marxistas. Ambos trabalham sob a bandeira do marxismo e consideram-se "verdadeiros" marxistas. Contudo, estão bem longe de ser idênticos. Pelo contrário, um abismo os separa, uma vez que seus métodos de trabalho são diametralmente opostos.
O primeiro grupo limita-se habitualmente ao reconhecimento exterior do marxismo, à sua solene proclamação. Não sabendo ou não querendo penetrar a substância do marxismo, não sabendo ou não querendo aplicá-lo na prática, esse grupo transforma as teses vivas e revolucionárias do marxismo em fórmulas mortas que não dizem nada. Esse grupo não baseia sua atividade na experiência, nos ensinamentos do trabalho prático, mas nas citações tomadas de Marx. Tira indicações e diretivas, não da análise da realidade viva, mas das analogias e dos paralelos históricos. A discordância entre as palavras e os atos: eis a doença principal desse grupo. Daí, as desilusões e a perpétua insatisfação com o destino, que contínua e regularmente o trai, e zomba dele. O nome desse grupo é menchevismo (na Rússia), e oportunismo (na Europa). No Congresso de Londres[N93] o camarada Tyszko(Jogiches) deu uma definição bastante precisa desse grupo, dizendo que ele não parte do ponto de vista do marxismo mas repousa sobre este.
O segundo grupo, pelo contrário, transfere o centro de gravidade da questão, do reconhecimento exterior do marxismo para a sua realização, para a sua aplicação prática. A indicação, de conformidade com a situação. dos caminhos e meios para a realização do marxismo, a modificação desses caminhos e desses meios quando a situação muda: eis os pontos para os quais esse grupo volta sua atenção. Ele extrai diretivas e ensinamentos, não das analogias e dos paralelos históricos, mas do estudo das circunstâncias. Em sua atividade, não se baseia nas citações e nas sentenças, mas na experiência prática; verifica todos os seus passos com a experiência; extrai ensinamentos dos próprios erros e ensina aos outros a construção de uma nova vida. Isso precisamente explica por que na atividade desse grupo a palavra não diverge da ação e a doutrina de Marx conserva inteiramente a sua viva força revolucionária. A esse grupo se aplicam plenamente as palavras de Marx, segundo as quais os marxistas não podem limitar-se a explicar o mundo, mas devem seguir além, a fim de transformá-lo[N94]. O nome desse grupo é bolchevismo, comunismo. O organizador e chefe desse grupo é V. I. Lênin.

1. Lênin, Organizador do Partido Comunista da Rússia

A formação do partido proletário na Rússia deu-se em condições particulares, diferentes das existentes no Ocidente no momento em que lá se organizava o partido operário. Ao passo que no Ocidente, na França, na Alemanha, o partido operário surgiu dos sindicatos, quando os sindicatos e os partidos existiam legalmente, na situação criada após a revolução burguesa, quando existia o parlamento burguês e a burguesia, tendo chegado ao poder, se encontrava frente a frente com o proletariado, na Rússia, pelo contrário, a formação do partido proletário deu-se sob o mais feroz absolutismo, na expectativa da revolução democrático-burguesa, quando por um lado as organizações partidárias regurgitavam de elementos burgueses "marxistas legais", ávidos por utilizar a classe operária para os fins da revolução burguesa e, por outro, os gendarmes tzaristas arrancavam das fileiras do Partido os seus melhores militantes, no momento em que o desenvolvimento do movimento revolucionário espontâneo exigia a presença de um núcleo combativo de revolucionários, sólido, coeso e suficientemente clandestino, capaz de dirigir o movimento no sentido de abater o absolutismo.
A tarefa consistia em separar o trigo do joio, em nos afastarmos dos elementos estranhos, em organizar na base quadros de revolucionários experimentados, em dar-lhes um programa claro e uma tática firme e, enfim, em reunir esses quadros numa única organização combativa de revolucionários profissionais suficientemente clandestina para resistir aos golpes dos gendarmes, mas ao mesmo tempo ligada às massas para conduzi-las à luta quando chegasse o momento.
Os mencheviques, aqueles mesmos que "repousam" sobre o ponto de vista do marxismo, resolviam a questão de maneira muito simples: como no Ocidente o partido operário surgira dos sindicatos sem partido, que lutavam pela melhoria das condições econômicas da classe operária, também na Rússia se devia, na medida do possível, proceder da mesma maneira, isto é, limitar-se, por enquanto, às "lutas econômicas dos operários contra os patrões e o governo" em escala local, sem criar uma organização de luta em escala nacional, e depois. . . depois, se nesse ínterim não surgissem sindicatos, convocar um congresso operário apartidista e proclamar partido o próprio congresso.
Que esse "plano" "marxista" dos mencheviques, utópico dadas as condições da Rússia, pressupusesse não obstante um amplo trabalho de agitação no sentido de aviltar o conceito de partido, de destruir os quadros do Partido, de deixar o proletariado sem o seu Partido e de abandonar a classe operária nas mãos dos liberais, então os mencheviques, e talvez também muitos bolcheviques, provavelmente não o imaginavam sequer.
O maior mérito de Lênin diante do proletariado russo e do seu Partido é o de haver revelado todo o perigo do "plano" organizativo dos mencheviques, desde o momento em que o "plano" mal tinha sido concebido e os seus próprios autores entreviam-lhe com dificuldades os contornos. E denunciando esse perigo, Lênin iniciou um violento ataque contra a frouxidão organizativa dos mencheviques, concentrando toda a atenção dos ativistas nesse problema. Tratava-se, de fato, da existência do Partido, da sua vida e da sua morte.
Criar um jornal político para toda a Rússia, como centro de agrupamento das forças do Partido, organizar na base sólidos quadros partidários como "formações regulares" do Partido, cimentar esses quadros através do jornal e fundi-los todos num partido de luta para toda a Rússia, com limites nitidamente determinados, um programa claro, uma tática firme, uma vontade única: eis o plano que Lênin desenvolveu, nos seus célebres livros: Que Fazer? e Um Passo Adiante, Dois Passos Atrás. Esse plano tinha o mérito de corresponder plenamente à realidade russa e de generalizar de maneira magistral a experiência organizativa dos melhores ativistas. Na luta por esse plano a maioria dos ativistas russos seguiu decididamente Lênin, sem se deter diante da cisão. A vitória desse plano lançou as bases daquele Partido Comunista, coeso e temperado, que não tem igual no mundo.
Não poucas vezes os nossos camaradas (e não só os mencheviques!) acusavam Lênin de ser demasiado propenso à polêmica e à cisão, de combater com intransigência os conciliadores, etc. Indubitavelmente, uma e outra coisa tiveram lugar a seu tempo. Mas não é difícil de compreender que o nosso Partido não teria podido nem desembaraçar-se da debilidade interna e do amorfismo, nem atingir a força e a solidez que lhe são próprias, se não houvesse expulso do seu seio os elementos não proletários e oportunistas. Na época da dominação burguesa, o Partido proletário pode desenvolver-se e reforçar-se só na medida em que luta, no próprio seio e na classe operária, contra os elementos oportunistas, hostis à revolução, ao Partido. Lassalle tinha razão quando dizia: "Depurando-se, um partido se fortalece."[N95]
Os acusadores reportavam-se de costume ao partido alemão, no qual florescia então a "unidade". Mas, em primeiro lugar, nem toda unidade é indício de força, e, em segundo lugar, basta olhar hoje o velho partido alemão, dividido em três partidos[N96], para compreender quão falsa e ilusória é a "unidade" de Scheidemann e de Noske com Liebknecht e Luxemburgo. E como saber se não teria sido melhor para o proletariado alemão que os elementos revolucionários do partido alemão tivessem se separado a tempo dos elementos anti-revolucionários ?. . . Sim, Lênin tinha mil vezes razão quando guiava o Partido no caminho da luta intransigente contra os elementos hostis ao Partido e à revolução. Graças somente a essa política organizativa, pôde nosso Partido atingir efetivamente aquela unidade interna e aquela extraordinária coesão que lhe permitiram sair incólume da crise de julho sob Kerenski, sustentar a insurreição de Outubro, atravessar sem abalos a crise do período de Brest-Litovsk, organizar a vitória sobre a Entente e, enfim, atingir aquela incomparável ductilidade, graças à qual consegue em qualquer momento reorganizar suas fileiras e concentrar centenas de milhares dos seus membros para qualquer grande trabalho que seja, sem produzir perturbação no próprio conjunto.

2. Lênin, Chefe do Partido Comunista da Rússia

Mas as qualidades organizativas do Partido Comunista da Rússia não são senão um aspecto daquela questão. O Partido não teria podido desenvolver-se e reforçar-se tão rapidamente se o conteúdo político do seu trabalho, se o seu programa e a sua tática não correspondessem à realidade russa, se as suas palavras de ordem não tivessem inflamado as massas operárias e não tivessem impelido para a frente o movimento revolucionário. Passaremos agora a esse aspecto da questão.
A revolução democrático-burguesa russa (de 1905) desenvolveu-se em condições diferentes das existentes no Ocidente, durante as comoções revolucionárias na França e na Alemanha, por exemplo. Ao passo que a revolução no Ocidente se desenvolveu no período da manufatura, quando a luta de classes ainda não estava desenvolvida e o proletariado, débil e pouco numeroso, não possuía um partido próprio que pudesse formular suas reivindicações, e a burguesia era bastante revolucionária para inspirar confiança aos operários e aos camponeses e conduzi-los à luta contra a aristocracia, na Rússia, pelo contrário, a revolução começou (em 1905) no período do capitalismo industrial, quando a luta de classes já estava desenvolvida, quando o proletariado russo, relativamente numeroso e tornado coeso pelo capitalismo, já havia sustentado uma série de lutas contra a burguesia, possuía o seu Partido, mais coeso que o partido burguês, possuía as suas reivindicações de classe, e a burguesia russa, que, de resto, vivia dos pedidos de mercadorias feitos pelo governo, estava tão amedrontada com o espírito revolucionário do proletariado que procurava aliar-se com o governo e os latifundiários contra os operários e os camponeses. O fato de que a revolução russa estalou em seguida às derrotas militares nos campos da Manchúria, esse fato somente forçou os acontecimentos, mas não lhes mudou em absoluto a substância.
A situação exigia que o proletariado se colocasse à testa da revolução, reunisse em torno de si os camponeses revolucionários e conduzisse uma luta decisiva simultaneamente contra o tzarismo e contra a burguesia em nome da completa democratização do país e da salvaguarda dos próprios interesses de classe.
Mas os mencheviques, aqueles mesmos que "repousam" sobre o ponto de vista do marxismo, decidiram a questão a seu modo: uma vez que a revolução russa é uma revolução burguesa, e as revoluções burguesas são dirigidas pelos representantes da burguesia (vide a "história" das revoluções francesa e alemã), o proletariado não pode ter a hegemonia na revolução russa, a direção deve ser confiada à burguesia russa (aquela mesma que trai a revolução); os camponeses também devem ser confiados à tutela da burguesia, e o proletariado deve manter-se na oposição de extrema esquerda.
E esses banais refrães próprios de liberais de fancaria eram apresentados pelos mencheviques como a última palavra do "verdadeiro" marxismo!
O maior mérito de Lênin com relação à revolução russa é o de ter posto a nu, até às raízes, a inconsistência dos paralelos históricos dos mencheviques e todo o perigo do "esquema da revolução" menchevique, que abandonava a causa operária à mercê da burguesia. A ditadura democrático-revolucionária do proletariado e do campesinato, em vez da ditadura da burguesia; o boicote da Duma de Bulíguin[N97] e a insurreição armada, em vez da participação na Duma e do trabalho orgânico no seio dela; a idéia do "bloco de esquerda" depois que aDuma, apesar de tudo, se reunira e a utilização da tribuna da Duma para a luta fora da Duma, em vez do ministério cadete e da "salvaguarda" reacionária da Duma; a luta contra o partido dos cadetes, como força contra-revolucionáría, em vez do bloco com ele: eis o plano tático desenvolvido por Lênin nos seus célebres folhetos: Duas Táticas da Social-Democracía na Revolução Democrática e A Vitória dos Cadetes e as Tarefas do Partido Operário.
O mérito desse plano consistia no fato de que ele, formulando decidida e claramente as reivindicações de classe do proletariado no período da revolução democrático-burguesa na Rússia, facilitava a passagem para a revolução socialista, trazia consigo em embrião a idéia da ditadura do proletariado. Na luta por esse plano tático, a maioria dos ativistas russos seguiu decidida e resolutamente Lênin. A vitória desse plano lançou as bases da tática revolucionária, graças à qual hoje o nosso Partido abala os alicerces do imperialismo mundial.
O desenvolvimento ulterior dos acontecimentos, os quatro anos da guerra imperialista e o fato de que toda a economia nacional se achava em desordem; a revolução de fevereiro e a famosa dualidade do poder: de um lado o governo provisório como foco da contra-revolução burguesa, do outro lado o Soviet de Petrogrado como forma embrionária da ditadura proletária; a Revolução de Outubro e a dissolução da Constituinte; a abolição do parlamentarismo burguês e a proclamação da República dos Soviets; a transformação da guerra imperialista em guerra civil; a intervenção do imperialismo mundial, de cambulhada com os "marxistas" de boca, contra a revolução proletária; e, enfim, a situação lamentável dos mencheviques, agarrados à Assembléia Constituinte, jogados no mar pelo proletariado e tangidos pelas vagas da revolução para as praias do capitalismo, tudo isso confirmou plenamente que os princípios da tática revolucionária formulada por Lênin nas Duas Táticas eram justos. O partido que possuía tal herança podia navegar ousadamente, sem temer os escolhos submarinos.
Em nossa época, que é a época da revolução proletária, em que toda palavra de ordem do Partido e toda frase do chefe é submetida à prova dos fatos, o proletariado exige que os seus dirigentes tenham capacidade especial. A história conhece chefes proletários, chefes dos tempos de borrasca, chefes práticos, de grande coragem e de grande abnegação, mas fracos em teoria. As massas não se esquecem tão cedo dos nomes de semelhantes chefes. Tais são, por exemplo, Lassalle na Alemanha, Blanqui na França. Mas o movimento no seu conjunto não pode viver só de recordações: ele precisa de um objetivo claro (programa) e de uma linha firme (tática).
Existem também chefes de outro gênero, chefes dos tempos de paz, fortes em teoria, mas fracos em organizacão e no trabalho prático. Tais chefes são populares só entre as camadas superiores do proletariado e só até um determinado momento; quando tem início uma época revolucionária, quando se exigem dos chefes palavras de ordem práticas revolucionárias, os teóricos abandonam a cena, cedendo o lugar a gente nova. Chefes desse tipo são, por exemplo, Plekhanov na Rússia e Kautsky na Alemanha.
Para manter-se no posto de chefe da revolução proletária e do partido proletário é necessário unir em si a força da teoria e a experiência prática organizativa do movimento proletário. P. Axelrod, quando era marxista, escrevia acerca de Lênin que este "reunia felizmente em si a experiência de um bom prático ao preparo teórico e a um vasto horizonte político" (veja-se o prefácio de P. Axelrod ao folheto de Lênin: Às Tarefas dos Social-Democratas Russos[N98] ). Não é difícil adivinhar o que diria Lênin o senhor Axelrod, ideólogo do capitalismo "civilizado". Mas para nós que conhecemos Lênin de perto e podemos examinar objetivamente a coisa, é indubitável que esses velhos dotes se conservaram totalmente em Lênin. E aqui, entre outras coisas, é preciso procurar a explicação do fato de que Lênin, e precisamente ele, é hoje o chefe do partido proletário mais forte e mais temperado do mundo.

Notas de fim de tomo:
[N93] O V Congresso do P.O.S.D.R. realizou-se em Londres, de 30 de abril a 19 de maio de 1907. (retornar ao texto)
[N94] Vide C. Marx: Teses sobre Feuerbach, XI (em F. Engels, Ludovico Feuerbach e il punto d'approdo della filosofia classica tedesca [Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã], Edições Rinascita, Roma, 1950, p. 80). (retornar ao texto)
[N95] Essas palavras de Lassalle, contidas na carta a Marx, de 24 de junho de 1852, são citadas por Lênin na página de rosto de ed. cit. (retornar ao texto)
[N96] Da desagregação do velho Partido Social-Democrata alemão surgiram três partidos: o Partido Social-Democrata, o Partido Social-Democrata Independente e o Partido Comunista. (retornar ao texto)
[N97] Em 1905, Bulíguin, então ministro do interior, elaborou um projeto de lei para a convocação de um organismo representativo com funções consultivas, chamada Duma de Bulíguin. Os bolcheviques boicotaram o projeto, e os acontecimentos revolucionários daquele ano obrigaram o governo tzarista a renunciar à sua realização na prática e a promulgar uma nova lei eleitoral ". . . a Duma de Bulíguin nunca foi convocada. O furacão revolucionário varreu-a antes que fosse convocada" (vide Informe sobre a Revolução de 1905, em Lênin, La Revoluzione del 1905, Edições Rinascita, Roma, 1949, vol. I, p. 22). (retornar ao texto)
[N98] O folheto “As Tarefas dos Social-Democratas Russos” foi escrito por Lênin no exílio, em fins de 1897. A primeira edição do folheto, com um prefácio de P. Axelrod, foi publicada em 1898, em Genebra, pela "União dos Social-Democratas Russos" (vide Lênin, em dois volumes, Edições em línguas estrangeiras, Moscou, 1949, vol. I, págs. 123-137). (retornar ao texto)

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