sábado, 21 de setembro de 2013

Na Austrália, Partido do Sexo prega mais liberdade sexual e menos religião


Em entrevista ao Terra, Fiona Patten, presidente da sigla, manda recado ao Brasil: "Nós encorajamos os brasileiros a formarem um Partido do Sexo"

  • Direto de Sydney

As eleições na Austrália terminaram com a vitória do conservador Partido Liberal sobre o Partido Trabalhista, que encerra seis anos de uma administração tumultuada em função das divisões internas, das trocas de primeiro-ministro e das acusações de não-cumprimento das promessas de campanha. Com o resultado, o ex-líder da oposição Tony Abbot assume o poder, para decepção do Partido do Sexo, um nanico que se destacou na campanha eleitoral por defender a liberdade sexual, o casamento gay, a legalização da maconha, o aborto e a eutanásia, entre outras medidas. "Abbott é um católico tradicional que vai adotar uma abordagem muito mais conservadora em relação às questões morais", lamenta a presidente do partido, Fiona Patten.
Fiona Patten é a presidente do Partido do Sexo, na Austrália Foto: Divulgação
Fiona Patten é a presidente do Partido do Sexo, na Austrália
Foto: Divulgação
Criado em 2009, o Partido do Sexo foi fundado com o objetivo de defender os direitos individuais. "Nós somos um partido civil libertário e nossas políticas vão muito além do sexo", explica a presidente da sigla. Fiona admite, no entanto, que a denominação da legenda é usada como uma forma de se destacar no cenário político australiano. “É certamente uma maneira de chamar a atenção e não tenho vergonha disso. Queremos acabar com o tabu em torno do sexo, para que as pessoas possam entender essa palavra com mais bom senso e sem medo”, declara. 
A decisão pelo nome da legenda se baseou em dois fatores principais: o apoio da indústria do sexo e o tratamento das questões de sexualidade na Austrália. “Quando começamos, havia muitos problemas relacionados ao sexo e à sexualidade, como casamento gay, educação sexual, censura de produtos/serviços para adultos, discriminação sexual e abuso sexual na igreja. Os outros partidos não pareciam preocupados com isso; então, fez sentido para nós escolhermos essa denominação”, esclarece a presidente.
Fiona concorda que a indústria do sexo embasou a criação da legenda, mas ressalta: “nascemos de uma associação de pequenas empresas, não de uma organização ativista, mas não estamos aqui para proteger os interesses de um grupo. Muitos dos nossos apoiadores vêm da indústria de adultos, mas não vejo diferença entre defendermos os interesses deles ou dos salões de beleza ou pet shops”, enfatiza.
Camisinha como metáfora de campanha
Assim como o nome do partido, a campanha eleitoral também chamou a atenção. Para arrecadar dinheiro, o Partido do Sexo usou três tipos de camisinhas: “autossatisfação” para o Partido Verde, oferecendo proteção extra para políticas sem penetração; “extremamente grossa e sem sensibilidade” para o Partido Liberal; e a versão “pode não cumprir as promessas de ereção” para o Partido Trabalhista. A propaganda eleitoral do Partido do Sexo também foi destaque na televisão.
No anúncio, a presidente da legenda destacou que “tem muita coisa fodid@ acontecendo na Austrália”. A mensagem de um minuto também apresentava um casal gay, com uma criança no colo, dizendo: “nós estamos fodid@s porque ainda não podemos casar”; um homem reclamando: “estou fodid@ porque fui preso com isso (maconha); uma senhora defendendo a eutanásia: “estou fodid@ porque não posso morrer com dignidade”; e uma garota grávida concluindo: “estou fodid@ porque minha escola não me ensinou como fod@r”. 
Fiona Patten  justificou: “contamos com o voto de protesto dos eleitores. São pessoas que estão revoltadas com os governos lhes dizendo o que fazer. Eles não se sentem conectados com os grandes partidos”. Para ela, a legalização da maconha é um dos exemplos. “Essa guerra às drogas é um grande fracasso. Proibir e aumentar as punições não vai impedir as pessoas de usarem, só vai levar mais gente para a cadeia. Devemos tratar o assunto como saúde pública”, diz.
Maconha liberada, menos religião é mais sexo
A presidente do partido também quer legalizar plantações de maconha no Estado da Tasmânia. “O clima da Tasmânia é perfeito para o crescimento da planta, que serviria para usos médico e recreativo”, afirma. Segundo ela, o investimento injetaria AU$ 100 milhões (mais de R$ 200 milhões) por ano na economia do Estado. “Quando as leis da Austrália mudarem, a Tasmânia precisa estar na vanguarda; senão, vai perder uma grande oportunidade”, conclui.
O Partido do Sexo também deseja acabar com o ensino religioso nas escolas, visando implementar a educação sexual. “Os governos teê medo de abordar esse tema, mas ensinar sexo aos adolescentes reduziria gravidez, homofobia e até violência doméstica”, avalia. O partido também luta pelo estabelecimento de uma legislação nacional de aborto, similar às leis do divórcio. “Isso vai permitir que a gravidez seja terminada legalmente, sem culpas para a mulher”, destaca. 
Em relação ao sexo, Fiona é enfática: “Sexo pode ser extremamente divertido e não há dúvidas sobre isso. É uma parte básica da natureza humana e parte da evolução, porque não estaríamos aqui sem sexo. É fazer algo que deixa você feliz, com a possibilidade de explorar seu corpo e testar seus limites. Sexo seguro não é somente camisinha, mas se sentir confortável para dizer sim ou mesmo dizer não”, analisa.
Recado para o Brasil
Para os brasileiros, a presidente do Partido do Sexo dá um recado: “Nós encorajamos os brasileiros a formarem um Partido do Sexo, para lutar por seus direitos civis. Nossa mensagem é universal, porque os assuntos que abordamos aqui também são relevantes no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo. É difícil lutar contra políticos tradicionais, mas é muito importante defender as liberdades individuais”. 

Uma presidenta à altura do cargo


http://latuffcartoons.wordpress.com/
Por Bepe Damasco, em seu blog:

A decisão da presidenta Dilma de cancelar a viagem aos EUA é o tipo de gesto que distingue o estadista do chefe de estado vassalo; o mandatário que não abre mão da soberania do seu país do que curva a espinha diante do primeiro rosnar dos poderosos.

Noves fora a importância política do cancelamento, se levarmos em conta apenas os procedimentos inerentes ao jogo diplomático, a decisão de Dilma é impecável. A regra não escrita da reciprocidade, que rege a relação entre as nações, não só respalda a decisão brasileira como alça o nosso país a um patamar ainda mais alto na cena internacional.

É assim que procede quem almeja de fato uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Essa é a postura de quem cansou de desempenhar um papel subalterno no mundo e vai se firmando como interlocutor de respeito e liderança inconteste entre os países em desenvolvimento.

Vale notar que a resposta dos EUA à cobrança dura feita pelo Itamaraty à chancelaria norte-americana e depois, olho no olho, por Dilma a Obama foi um amontoado de evasivas, com base nos imperativos de segurança e combate ao terrorismo, mantra predileto dos EUA.

Nenhum pedido de desculpas pela espionagem das mensagens entre a presidenta e seus auxiliares, nem pela bisbilhotagem nos sistemas da Petrobras e tampouco pelo monitoramento dos cidadãos e das empresas e embaixadas brasileiras.

Na certa, a arrogância americana concebeu como tática para superar o imbróglio diplomático a tergiversação e a enrolação. O negócio era empurrar o máximo com a barriga que o Brasil cederia. Afinal, sempre foi assim em mais de 500 anos. Ou não teve até ministro de FHC que tirou o sapato para pisar em solo americano ?

Mas a diplomacia de Obama errou feio ao menosprezar a política externa soberana e independente que o Brasil adotou desde o primeiro governo Lula. Apostou suas fichas no cinismo e perdeu feio. O chanceler dos EUA, em visita ao Brasil, chegou a dizer que a arapongagem visava proteger os próprios países bisbilhotados do terrorismo.

Por sua vez, Obama emitiu nítidos sinais de que para os EUA é impossível deixar de espionar pessoas, empresas e governos ao redor do planeta. Está no DNA imperialista deles. É política de Estado, não de governo. Por fim, chegou a culpar, mais uma vez, os que vazaram a informação, responsáveis, segundo o presidente norte-americano, por amplificar e distorcer os fatos.

Embora a direita midiática vá seguir sua sina colonizada e entreguista e criticar a presidenta Dilma por "colocar em risco as relações com os EUA" e "criar embaraços diplomáticos com o nosso principal parceiro comercial",o Brasil só tem a agradecer à presidenta por essa decisão corajosa em defesa da nossa soberania.

Suzana Vieira, eleitora de Aécio, fala mal do nordeste

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Embargos Infringentes:O VOTO DE CELSO DE MELLO

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Unesco reconhece vida e obra de comunista como patrimônio da humanidade


Publicado em 21 de julho de 2013

Ernesto_Che_Guevara_1

O argentino nascido em Rosário, Província de Santa Fé em 14 de Junho de 1928, Ernesto Che Guevara fez de sua vida uma das maiores contribuições para a libertação dos povos da América latina e do mundo. Agora a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, reconhece os escritos do revolucionário como Patrimônio da Humanidade. Os documentos foram incluídos no Programa de Memória do Mundo. Este programa que possui em seu registro 299 documentos e coleções dos cinco continentes agora conta com 431 manuscritos do Che, 567 documentos sobre sua vida e obra, assim como uma seleção de materiais iconográficos, cinematográficos, cartográficos e objetos para museu. Para Juan Antonio Fernández, presidente da Comissão Nacional Cubana da Unesco, esta decisão reconhece a “contribuição do Che ao pensamento revolucionário latino-americano e mundial, que o converteram em símbolo de rebeldia, de liberação e internacionalismo”.
ImagemO exemplo do guerrilheiro heroico ultrapassa as barreiras do tempo e até hoje inspira os revolucionários do mundo. Che, como era carinhosamente chamado entre os guerrilheiros do movimento 26 de Julho, ficou conhecido por utilizar de suas próprias atitudes para demonstrar como deve se comportar um revolucionário frente a diversas situações, seja da vida cotidiana, seja no front de batalha. Ernesto nunca se recusava a uma tarefa e defendia que um revolucionário deve estar onde a revolução necessita. Enquanto Ministro da Indústria foi um grande entusiasta do trabalho voluntário como emulação comunista, ele próprio se dedicou durante anos ao trabalho voluntário na produção, uma vez por semana.
Sobretudo, Che era um internacionalista e ao cumprir com suas tarefas em Cuba, foi construir a revolução no mundo. Passando pela África e por fim voltando à América Latina o guerrilheiro foi assassinado na Bolívia sob orientação e apoio da CIA em 9 de outubro de 1967. Ainda assim, Che vive, nas lutas dos povos do mundo para libertarem-se da opressão. Suas ideias estão mais vivas do que nunca. Seu exemplo arrasta milhões todos os anos para as lutas. Sobre Che, não há melhores palavras do que as de seu amigo e camarada Fidel quando diz, “Se queremos um modelo de homem, um modelo de homem que não pertence a este tempo, um modelo de homem que pertence ao futuro, de coração digo que esse modelo, sem uma mancha em sua conduta, sem uma só mancha em suas atitudes, sem uma só mancha em sua atuação, esse modelo é Che! Se queremos expressar como desejamos que sejam nossos filhos, devemos dizer com todo o coração de veementes revolucionários: queremos que sejam como Che!”
(Esta matéria foi publicada na versão impressa do Jornal A Verdade n°153)

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

STF acolhe recursos da Ação Penal 470; réus terão novo julgamento



O ministro Celso de Mello votou nesta quarta-feira (18) pelo acolhimento dos recursos dos embargos infringentes. O voto do decano do Supremo Tribunal Federal (STF) une-se à opinião dos ministros Ricardo Lewandowski, Luís Roberto Barroso, Teori Zavascki, Rosa Weber e Dias Toffoli que também foram favoráveis ao direito de 12 réus acusados na Ação Penal 470, de recorrerem de suas condenações.


"Tenho para mim que ainda subsistem no âmbito do STF, nas ações penais originárias, os embargos infringentes previstos no regimento", afirmou.

Em seu voto, Celso de Mello ressaltou a necessidade de se assegurar a qualquer réu “todos os meios e recursos de defesa” jurídicos existentes. Em um recado ao presidente da Corte, Joaquim Barbosa, — que concluiu abruptamente a sessão da última quinta-feira (12) — Mello disse que o encerramento da sessão teve “um efeito virtuoso, de permitir aprofundar a minha convicção em torno do que está ora em exame”.

O ministro disse ainda que a Corte não pode “passar por cima do direito de defesa de qualquer cidadão" por conta de pressões da opinião pública. Ele afirmou que nenhum condenado pode ser privado do direito de defesa, ainda que este direito seja divergente do desejo da sociedade e exaltou, neste caso, a “razão desprovida da paixão”.

Na semana passada, os ministros Marco Aurélio de Melo e Luís Roberto Barroso tiveram uma discussão sobre o papel da opinião pública no voto dos ministros. Barroso disse que baseou seu voto na Constituição brasileira, enquanto Marco Aurélio declarou a necessidade de o STF dar uma resposta ao apelo popular pela condenação dos réus.

Ainda na última quinta-feira (12), três ministros – Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Marco Aurélio – se pronunciaram contra o acolhimento dos embargos infringentes. Os ministros Joaquim Barbosa e Luiz Fux já haviam se pronunciado contra os recursos.

Ao defender a existência da apresentação dos embargos infringentes Celso de Mello lembrou que a Câmara dos Deputados rejeitou abolir o recurso em 1998. Na época, o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (FHC), tentou extinguir os embargos infringentes, mas a ideia não passou no Legislativo.

Segundo Mello, o Artigo 333, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, que trata dos embargos infringentes prevalece a menos que a Constituição legisle em contrário. “A mera existência dessa profunda divisão no seio do STF está a recomendar, não fossem todos esses argumentos, recomendaria que admitíssemos a possibilidade dos embargos infringentes", afirmou. "Dou provimento ao presente agravo e admito, em consequência, a utilização dos embargos infringentes, desde que existentes pelo menos quatro votos vencidos".

Com o voto de Celso Mello, 12 dos 25 condenados na Ação Penal 470, que tiveram pelo menos quatro votos pela absolvição deverão ter o direito de um novo julgamento. Entre eles estão: João Paulo Cunha, João Cláudio Genu e Breno Fischberg (no crime de lavagem de dinheiro); José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, Marcos Valério, Kátia Rabello, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz e José Salgado (no de formação de quadrilha); e Simone Vasconcelos (na revisão das penas de lavagem de dinheiro e evasão de divisas). No caso de Simone, a defesa pede que os embargos sejam válidos também para revisar o cálculo das penas, não só as condenações.

Mariana Viel, da redação do Vermelho 
- com informações das agências


http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=224460&id_secao=1

Estudos apontam que países menos religiosos são também menos violentos

Estudos apontam que países menos religiosos são também menos violentos
O Índice Global da Paz (IGP) de 2012 apontou que o mundo ficou mais pacifico nos últimos anos, mas que essa mudança é mais percebida em países menos religiosos. Apesar de a maioria das religiões pregarem a paz, o estudo mostra que são os países menos religiosos que continuam sendo menos violentos.
O índice é desenvolvido pelo Instituto de Economia e Paz, em conjunto com a Unidade Economista de Inteligência, e usa 23 indicadores para classificar as nações do mundo pela sua tranquilidade.
Entre os dados usados para o estudo estão o nível de despesas militares de uma nação às suas relações com os países vizinhos e o nível de respeito aos direitos humanos, incluindo os níveis de democracia e transparência, educação e bem-estar material, segundo informações do site Hype Science.
Os 10 países mais pacíficos do mundo, segundo o estudo, são: Islândia, Dinamarca, Nova Zelândia, Canadá, Japão, Áustria, Irlanda, Eslovênia, Finlândia e Suíça. O Brasil aparece em 83ª posição na lista. Entre esses países, apenas a Irlanda não aparece na lista dos 50 países menos religiosos do mundo.
O IGP aponta que, pela primeira vez desde 2009, o mundo se tornou mais pacífico. De acordo com os indicadores do estudo, todas as regiões do mundo, exceto o Oriente Médio e o Norte da África (que sofrem atualmente as consequências da Primavera Árabe) apresentaram melhorias nos níveis de tranquilidade.
Apesar das mudanças observadas, os dois extremos do ranking dos países mais pacíficos permanecem os mesmos, com a Islândia como país mais pacífico do mundo, pelo segundo ano consecutivo, e a Somália continuando a ser nação menos pacífica do mundo, também pelo segundo ano consecutivo.
Estudos recentes mostram também um aumento no número de ateus e de pessoas que se declaram sem religião, e a Irlanda, apesar de ainda ter um grande número de religiosos, é o país que teve o maior aumento de ateus e não religiosos.
O Oriente Médio e Norte da África são hoje as regiões menos pacíficas, refletindo a turbulência da Primavera Árabe. Entre os 158 países estudados, os menos pacíficos são: Paquistão, Israel, República Centro Africana, Coreia do Norte, Rússia, República Democrática do Congo, Iraque, Sudão, Afeganistão e Somália.
Redação Gospel+

A vida e a militância de Clara Charf





CLARA CHARF VIVEU DUAS DITADURAS E FICOU CLANDESTINA POR QUASE 20 ANOS, AO LADO DO GUERRILHEIRO CARLOS MARIGHELLA, MORTO EM 1969. ELA FOI PRESA, FICOU VIÚVA, MOROU EM CUBA. AOS 87 ANOS, EM MEIO ÀS HOMENAGENS AO MARIDO, NÃO LARGA O SORRISO DO ROSTO NEM A VONTADE DE CONTINUAR LUTANDO PARA TRANSFORMAR O PAÍS.

POR NINA LEMOS, NA TPM 


Alex Batista
Clara Charf
Clara e sua emblemática risada em seu apartamento, no Bom Retiro, em São Paulo: “Na época da ditadura o Marighella me proibiu de sorrir, porque seria facilmente reconhecida”
Clara Charf ainda estava no colégio, em Recife, quando um amigo da família foi preso. “Ele é ladrão?”, perguntou ao pai, comerciante. “Não”, respondeu ele. E não deu mais explicações. Um dia, ela encontrou o tal moço (Jacob, pai do fotógrafo Bob Wolfenson), já em liberdade, e lançou: “Por que você foi preso?”. Ele disse: “É que sou comunista”. “E o que é ser comunista?”, retrucou Clara. “No comunismo não tem dinheiro, você troca uma coisa por outra que precisa”, explicou. “Achei aquilo lindo e disse: ‘Então também sou comunista’.”

Clara gargalha ao contar essa história. Mas a verdade é que, desde então, ela nunca deixou de ser comunista. A senhora elegante que recebe a reportagem da Tpm com café, bolinho e gentilezas é a eterna companheira de Carlos Marighella, comandante da ALN (Ação Libertadora Nacional), guerrilheiro e o homem mais procurado do país durante a ditadura militar. Foi assassinado em 1969.

Mas essa senhora de 87 anos também é militante feminista até hoje e amiga de políticos como Luiza Erundina (para quem trabalhou durante seu mandato na prefeitura paulistana), Lula (que exigiu que ela fosse atendida no hospital das Forças Armadas quando se acidentou em Brasília em 2010) e a atual presidenta do Brasil, Dilma Rousseff.

Uma mulher leal

Clara tem a biografia "Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo", de Mário Magalhães, lançada em novembro passado, na mesa do apartamento alugado no Bom Retiro, centro de São Paulo. E comemora, com seu característico sorriso, este momento em que Marighella é homenageado. “Esperava por isso havia muito tempo. A história precisava ser recuperada. Você viu o filme, que maravilhoso?” Ela fala de "Marighella", documentário dirigido pela sobrinha dele, Isa Grinspum, que estreou em 2012 nos cinemas.

O filme tem trilha sonora dos Racionais MCs, que compuseram a música “Mil faces de um homem leal”. No clipe, eles encenam o episódio da invasão da rádio Nacional (quando Marighella e seu grupo leram uma mensagem para o povo brasileiro). O filme inspirou Caetano Veloso, que lança no seu próximo disco a faixa “O comunista”, uma ode de oito minutos ao guerrilheiro, em que cita Clara e suas irmãs Sara e Iara. “Ainda não ouvi”, diz, com ansiedade de menina.

Mas o que mais emociona Clara (em vários momentos ela cai em lágrimas) é o fato de Marighella ter recebido “anistia pós-morte”, decretada em novembro no Diário Oficial. “Por muito tempo achamos que isso nunca iria acontecer.”

“Passei anos sem sorrir”

Militante do Partido Comunista desde os 20 anos, Clara conheceu Marighella na década de 1940, quando era aeromoça e, ao mesmo tempo, fazia trabalhos para o “Partidão”. “Nos encontramos na porta do Partido Comunista no Rio de Janeiro. Ele me olhou e eu também. Depois me disseram que ele era o Carlos Marighella, então deputado do PC.” 

Meses depois, começaram a namorar. Clara largou a carreira de aeromoça e passou a trabalhar na Câmara dos Deputados, numa espécie de gabinete do partido. “Vivemos poucos momentos como pessoas comuns. Logo o partido foi considerado ilegal e passamos a viver na ilegalidade”, conta.

O que significava ter nome e profissão falsos, mudar toda hora de casa, não ver os amigos. Mesmo assim, Clara tem saudade da rotina do casal. “Dividíamos as tarefas de casa, mas uma vez o Marighella chegou e eu estava passando roupa. Ele não se conformou: ‘Você fica passando roupa sozinha no silêncio, não pode. Vou ler para você enquanto isso’.” Clara chora muito ao contar essa história.

Depois da morte do marido, Clara foi para Cuba, onde viveu por mais de uma década – e guarda ótimas lembranças. Dos amigos e do trabalho como tradutora simultânea. Mas não podia contar sua história nem soltar sua farta risada em fotos – tinha medo de que a descobrissem. Além disso, acreditava que a revolução era possível e que poderia voltar ao Brasil para lutar. “Logo que fomos perseguidos, Marighella disse: ‘Seu sorriso é muito característico, Clara, vão te reconhecer nas ruas’”, lembra. “Passei anos sem sorrir. Imagina o que foi voltar ao Brasil e tirar fotos sorrindo”, diz, com a voz embargada.

Hoje, Clara é militante do PT, preside a Associação Mulheres pela Paz, acompanha todas as atividades que homenageiam o marido e não pensa em parar de lutar. “Sem justiça não há paz”, dizem os Racionais na música que homenageia Carlos Marighella. Clara segue a mesma máxima.

“As pessoas agora estão percebendo a importância do Marighella”

Tpm: A vida do Marighella virou filme, livro e música dos Racionais MCs e do Caetano Veloso. Como está sendo para você esse reconhecimento?
Clara Charf: Eu nem esperava mais [risos]. Quantos anos se passaram, meu Deus! E agora o Ministério da Justiça deu a anistia a ele, que maravilha. Quando me ligaram de Brasília e falaram que isso iria acontecer, quase caí para trás. Desde o governo Lula as coisas começaram a melhorar muito. As pessoas agora estão percebendo a importância do Marighella. Você viu o filme, que maravilhoso? Adorei. A música do Caetano ainda não ouvi. Me disseram que vai ter. Estou esperando [sorrindo].

Como você virou comunista?
 
Eu morava em Recife. Éramos uma família de judeus russos pobres. O pai do [fotógrafo] Bob Wolfenson, o Jacob, era filho de um amigo do meu pai. Lembro que uma noite o meu pai chegou em casa e falou: “O filho do seu Davi está preso”. Fiquei escandalizada. Perguntei: “Ele é ladrão?”. E meu pai: “De jeito nenhum”. E não explicou mais nada. Logo que foi solto chamaram a gente para um chá na casa deles, para comemorar. Perguntei para o Jacob: “Por que você foi preso?”. Ele me chamou em um canto e disse: “Porque sou comunista. Mas não posso falar agora. Depois vou na sua casa e te explico”.

Ele foi?
 
Foi. E ele foi responsável pela minha politização [risos]. Falo isso para o Bob: “A culpa é do seu pai”. O Jacob falou [Clara começa a chorar]: “Um dia vai ter uma sociedade em que todos serão iguais, e aí não vai ter dinheiro, vai ser tudo troca”. E eu: “Mas como assim?”. Ele: “Ah, se você precisa de um sapato, a gente troca de acordo com a necessidade”. Eu disse: “Ué, então também sou comunista!” [risos]. Depois, quando fui trabalhar em um banco como datilógrafa, me chamavam para reuniões de mulheres que trabalhavam em fábricas, reuniões de luta por melhores salários. Aí entrei na história, queria participar daquela luta.

Como foi a sua infância? 
Meu pai era mascate. Minha mãe fazia tudo em casa. Lembro dela cozinhando naquele fogão a lenha, ao mesmo tempo abanando com a mão para que a casa não ficasse tomada pela fumaça. Meu pai não era religioso. Nunca seguimos as tradições judaicas, minha formação era democrática. Você tinha que ser sincero, honesto, tinha que trabalhar. Minha mãe queria que eu fosse pianista, então, alugaram um piano para que eu pudesse estudar, já que não podiam comprar. Ia um professor lá em casa e me ensinava. Fiz o primário e o ginásio em escola pública. Era um ambiente que tinha meninos e meninas. Tive ótimos professores, tanto que foi lá que aprendi inglês, e tradutora acabou sendo uma das minhas profissões.

Você também trabalhou como aeromoça
Eu queria ser aviadora. Como não podia, porque não existiam aviadoras naquela época, decidi ser aeromoça. Agora, imagina isso na cabeça do meu pai. Minha mãe morreu com 40 anos, meu pai me queria perto dele. Mas eu já estava começando a me envolver com atividades políticas. Aquelas histórias de que a filha do [Luiz Carlos] Prestes nasceu no campo de concentração, todas essas notícias começaram a mexer muito com a gente. Peguei uma pneumonia e tive que sair do trabalho, aí decidi mudar para o Rio de Janeiro para tentar ser aeromoça. Meu pai só falava: “Não se meta em política”. E eu fui me metendo cada vez mais [risos].

Foi quando você conheceu o Marighella? Conheci o Marighella na sede do Partido Comunista. Meu pai não sabia de nada, claro. Eu trabalhava como aeromoça em uma companhia chamada Aerovias Brasil. Como já era do partido, quando tinha viagem, ia e perguntava: “Tô indo para o Ceará, querem que leve alguma coisa?”. Fiz isso durante muito tempo. Em uma das vezes, fui pegar o material [documentos], entrei fardada e vi aquele cara parado na porta do elevador. Eu olhei. Ele olhou. Me chamou a atenção aquele preto enorme. E disse para um companheiro: “Vi um cara alto lá embaixo!”. E ele disse: “Ah, deve ser o Marighella”. Foi a primeira vez que escutei esse nome. Nem sabia que ele existia. E ele fez a mesma coisa quando subiu, perguntou quem era “aquela” moça.

E ele convidou você para sair? 
Convidou nada! Continuei sendo aeromoça. E fui convocada para a inauguração de um voo que ia para Miami. Nesse voo, o comandante era integralista e ele não me suportava. Eu era a única mulher no voo e falava sobre liberdade, igualdade. Ele tentou me dar uma cantada, e eu, nada. Você sabe que naquela época algumas aeromoças saíam à noite com a tripulação, né? Hoje não é mais assim. Ele tentou, não conseguiu, ficou com ódio. O avião voltou quase vazio e combinei com meus colegas: “Um de vocês dorme, eu fico com outro, depois a gente troca”. Acharam ótima ideia. Quando ele me viu deitada, ficou louco. Escreveu em um relatório que eu era relapsa. Todos os garotos me defenderam, mas não teve jeito. Pensei: “Não vou ficar nessa profissão lidando com esse homem fascista”.

O que você foi fazer?
Voltei para o Rio e tinham montado a fração parlamentar. Era uma espécie de escritório que decidia e redigia todas as propostas, discursos e ações dos parlamentares do Partido Comunista. Os deputados só podiam levar para a Câmara o material que fosse aprovado lá. Foi um trabalho maravilhoso. E o Marighella, que fez parte da primeira bancada de comunistas do Brasil, era responsável pela fração. Foi lá que começamos a namorar e que fiquei amiga do Jorge Amado. Mas isso durou dois anos e passamos para a clandestinidade [nos anos 1940, na ditadura de Getúlio Vargas, que durou de 1937 a 45] .Começamos a ser perseguidos e fomos morar juntos. Mas nosso plano antes era casar de papel passado. A partir daí, ficamos entrando e saindo da legalidade. Essa era a nossa vida.

Como seu pai lidou com o fato de você virar companheira do Marighella? 
Ficou desesperado [risos]. Falava que o Marighella era “preto, cristão e comunista” e que tinha me criado para casar. E ele foi até o Rio me pegar à força. Aí, fugi, ajudada por uma amiga, a Adalgisa. O pessoal do partido me mandou uma passagem e fui para a casa de uma comunista alemã no Rio. Daí me mudei com o Marighella e fizemos uma vida juntos.

Como era viver na ilegalidade, dava para ter rotina? 
Não era normal. Você não podia dar o seu nome, inventava uma profissão. O seu companheiro, no meu caso, saía sempre à noite, trabalhava de madrugada, porque era procurado e não podia ser visto durante o dia. Eu era a cidadã pacata, que fazia as compras. Saía com a cestinha, comprava verdura, era simpática com todo mundo.

Onde moravam nessa época? 
Morávamos no Ipiranga [zona sul de São Paulo], eram casas simples. Me chamava Vera. Não podíamos fazer amizade com os vizinhos. Tinha uma vizinha italiana que se sentia muito sozinha e tinha um neto, que vivia com ela. Eu não podia me aproximar deles. Passava o dia ouvindo a rádio Gazeta bem alto. Usava o rádio para disfarçar e falava para todo mundo que meu marido era viajante. Um dia, estou em casa e toca a campainha. Era a senhora italiana: “Dona Vera, a senhora sabe dar injeção?”. Fiquei sem saber o que falar. Eu sabia. Ela tanto insistiu que dei. Virei santa para ela. Quando saía para atividades políticas e ficava dias fora, ela molhava minhas plantas.

Como você ficava sabendo dos trabalhos que tinha que fazer pelo partido? 
O próprio Marighella me transmitia as missões. Em uma delas, peguei uma pneumonia, parecia que ia morrer de febre. Ele ficou desesperado, não podia ligar para um médico. Falou com um companheiro farmacêutico que disse: “Vou parar meu carro na esquina, de madrugada, você enrola a Clara em cobertores e traz ela”. Fui carregada, ardendo em febre, e esse companheiro ficou comigo na casa dele. Conseguiu que médicos simpatizantes do partido fossem lá. Tínhamos toda uma rede. Fiquei três meses nessa casa, me trataram como se eu fosse uma neta. Eles eram mais velhos e tinham três filhos. Os pais não diziam nem para os filhos quem eu era, porque eles podiam falar sem querer na rua. Inventaram que eu era uma parente. Lá eu me chamava... olha, tive tantos nomes que nem lembro [risos].

Como sabiam qual era a hora de mudar de casa, de nome? 
O Marighella era secretário-geral do partido, então ele mesmo sabia quando vinha a ordem de mudar. Quando estávamos havia muito tempo num lugar, começávamos a nos olhar e a gente falava: “Está na hora de largar esse aparelho”. Só podíamos levar uma mala pequena. Não levávamos móveis. Não levava roupa de cama, nada. Só o básico.

Você era vaidosa?
 
Claro que não, menina. Ninguém podia ser vaidoso. Não tinha tempo para isso, imagina. Você tinha que andar limpa, arrumada. Não podia andar com uma roupa rasgada, tinha que ser discreta. Mas vaidade? Ninguém tinha tempo para isso.

O que era mais difícil na vida ilegal? 
Era muito difícil viver com a polícia atrás de você. Ainda mais sabendo que você não tinha feito nada. Pelo contrário, você estava ajudando o seu país. O que facilitava é que eu vivia com o Marighella, que era uma pessoa maravilhosa, humanista. Dividíamos todas as tarefas da casa. Logo ficou combinado que ele ficaria com as coisas mais pesadas. Ele adorava mexer com água, então, lavava o chão, lavava roupa. E eu passava. Até que um dia ele saiu e, quando voltou, eu estava passando roupa. Ele olhou, deu uma volta e falou: “Vamos combinar uma coisa. Não passe enquanto eu não estiver em casa”. Eu disse: “Por que, se você não sabe passar?”. Ele respondeu: “É que, quando você for passar, vou ficar ao lado, lendo para você” [começa a chorar e pede desculpas]. É que essas coisas mexem muito comigo.

O que ele lia para você?Lia o que interessasse: poemas, discursos, notícias importantes do Brasil... Imagina se a essa altura do campeonato vou lembrar exatamente!

Quando saía, você tinha que se disfarçar?
 
Fui uma das primeiras a perder o direito de cidadã. O meu nome estava na primeira lista de pessoas que perderam seus direitos civis, quase no topo. Aí, o Marighella falou: “Clara, você não pode sorrir nas ruas, senão vão te reconhecer”. E parei de sorrir. Depois fui para Cuba, e lá também não podia sorrir nem tirar foto, por medo de que nos descobrissem e tivéssemos que voltar ao Brasil. Então, você imagina como foi quando voltei e todo mundo queria tirar foto comigo sorrindo. Achei que isso nunca fosse acontecer [chora].

Seu pai nunca chegou a conhecer o Marighella? 
Quando o JK [Juscelino Kubitschek] era presidente, a gente tinha uma vida legal, morava no Rio de Janeiro, no Catete, e um dia meu pai foi conhecer o Marighella. Imagina, se apaixonaram. Ele acordava e ia comprar as frutas para o meu pai no café da manhã. Meu pai se deu conta da grande figura que ele era. Tanto ele como a minha irmã, do segundo casamento do meu pai, a Iara, ficaram lá em casa e próximos de nós. Mas logo veio a repressão e acabou com tudo.

Vocês foram ilegais na ditadura do Vargas, mas voltaram a viver na legalidade nos anos JK. Como foi? 
Na década de 1950, fomos legais, o Carlinhos [Carlos Augusto Marighella], filho do primeiro casamento do Marighella, morava com a gente no Rio. Adoro ele, temos uma relação de muito carinho um pelo outro. Ele ficava no colégio Batista e passava o fim de semana com a gente. Tínhamos uma vida normal. O Marighella achava que você precisava ter vigor físico, que tinha que estar sempre em forma para o caso de alguma coisa acontecer. E também era muito estudioso. Mas a pronúncia dele para idioma estrangeiro, vixe Maria, era péssima. Um dia ele chegou em casa e trouxe um aparelho de madeira, como se fosse um remo. Ele sentava para fazer exercício com aquilo. Achei ótimo. Mas, ao mesmo tempo, para não perder tempo, ele queria estudar inglês [risos]. Ele colocava um aparelho no ouvido, como se fosse um rádio, e ouvia, repetia as palavras e fazia os exercícios. O Carlinhos chegou em casa e morreu de rir.

O Marighella era comandante da ALN (Ação Libertadora Nacional) e praticava a luta armada. Você andava armada?
 
Sabia de tudo, claro, mas não participava das ações armadas. Nunca tive arma nem aprendi a atirar. Era uma organização. E, dentro da organização, o papel do Marighella era um, o meu, outro. Eu fazia o trabalho de apoio tático. Cada um tinha sua função. Mas acho engraçado chamarem a gente de terrorista. Terroristas eram os militares. Eles que começaram a prender as pessoas, a torturar. Eles começaram uma guerra. 

A gente apenas se defendeu. Se eles não tivessem começado a matar os companheiros como mataram, nunca teria havido da parte da resistência uma ação armada. É isso: eles começaram. Nós só tentamos nos defender e melhorar o país, lutar pela democracia.

Você sabia de tudo o que ele fazia, mesmo das ações mais sigilosas? 
Não. O Marighella não falava abertamente. Um dia ele chegou em casa e disse: “Preciso estudar inglês porque vou viajar”. Eu não perguntei para onde.

Como conseguiu não perguntar? 
Minha filha, porque não existia a possibilidade de fazer essa pergunta. Era uma norma. Era melhor não saber, porque senão você podia ser presa e acabar entregando na tortura. A única coisa que ele me disse foi que precisava aprender inglês em um mês. Então, ficamos um mês conversando em inglês [Clara teve bons professores na escola e tinha facilidade para a língua] e ele aprendeu um pouco. Ele viajou e eu fui presa.

Como aconteceu?
 
A direção do partido achou que eu poderia ser professora de um curso para ferroviários em Campinas. Falaram que eu seria recebida pelos companheiros em Campinas. Aceitei. Estava com problema de vista e precisei comprar óculos. Quando experimentei, perguntaram o meu nome e saiu Marta Santos. Nem pensei. Fui para Campinas e levei o recibo no bolso. Fui com uma sacola cheia de livros. Livros marxistas, claro. Quando cheguei, o companheiro disse que estava sendo procurado pela polícia. Olha a loucura que eles fizeram! Ele me levou para a casa de uma companheira e, chegando lá, ela não queria que eu ficasse. Ele foi procurar outra casa. Chegamos lá, a casa estava fechada. A essa altura, a polícia da cidade começou a achar a movimentação esquisita. E ele com mandado de prisão. A polícia o reconheceu, ele conseguiu fugir. Eu fiquei, fui presa e comecei a gritar: “Abaixo a ditadura de Getúlio Vargas”. Fiquei com ódio. Na delegacia, não tinha preso político, só ladras, prostitutas etc. O guarda entrou, me olhou e perguntou meu nome. Falei Marta Santos, e disse que tinha ido fazer tratamento de saúde em Campinas. Ele percebeu que era tudo mentira, né?

Como foi sua vida na cadeia? 
Fiquei uns quatro meses presa [na ditadura de Getúlio Vargas, entre 1937-45]. Me levaram para a única cela disponível para mulheres. E o delegado disse para as outras: “Não falem com essa mulher que ela é comunista” [risos]. Uma chegou para mim e perguntou: “O que é comunismo?”. Eu disse: “Comunismo é dividir as coisas que você tem com as outras pessoas. Por exemplo, se eu tenho dois rádios, posso te dar um, porque só preciso de um”. E ela respondeu: “Então sou comunista. Fui presa porque tinha dois rádios na casa onde eu trabalhava e roubei um” [risos]. Fiquei queridíssima pelas presas. Daí me tiraram da cela com medo de eu fazer uma revolução com elas. Me levaram para uma cela sozinha. Ficava deitada em um colchão podre, sem casaco, sem nada. Começaram a trazer delegados de São Paulo para tentar me reconhecer, e nada. Perguntavam meu nome e eu dizia: “Marta Santos”. Um delegado falou: “Sua comunistinha de merda. Se você não falar a verdade, vamos acabar com você”. Se eu falasse, ia ter que contar tudo, que eu era a Clara Charf. Seria uma tragédia.

E como saiu?
O partido me mandou um recado de que eu teria que dizer meu nome. E começaram a se mobilizar para me tirar. Um dia, quando não aguentava mais, disse: “Falo meu nome, mas na frente do juiz”. Um dia depois, apareceu um juiz. Pensei: “E agora? Vou ter que falar!”. Nunca esqueci a cara dele. Senti um ódio quando vi aquele juiz do lado de fora e eu presa naquele lugar horrível. Tive um ataque na cela, joguei tudo no chão. Avisei o advogado que só falaria fora da prisão. Me levaram para o Tribunal de Justiça e quando disse que era Clara Charf foi um escândalo.

E aí? 
Voltei para a cadeia e saí semanas depois. Fiquei com medo e disse que só sairia na companhia do responsável pela associação de imprensa de Campinas. Não sei por que falei isso. Mas, no dia seguinte, apareceu o cidadão e me tirou de lá. Me levou para a casa dele [começa a chorar]. Imagina, tinham preparado uma cama maravilhosa para mim, banho quente, comida quente. Que pessoas maravilhosas. Me deram a cama deles para eu dormir [chorando]. Ele me levou até o Rio de carro, avisou o Partidão. E foi lá que reencontrei o Marighella, que estava na China quando eu estava presa.

Por que deixaram a senhora livre? Nem eu sei ao certo, só sei que o advogado conseguiu um habeas corpus.

Como foi o reencontro? 
Ele só chegou uns dias depois da soltura. Antes de dar um abraço nele, perguntei: “Escuta, você pode me dizer onde é que você estava?”. E ele: “Na China”. E eu: “Na China? Mas como você falou inglês com os chineses?”. E ele: “Ué, eles também não sabiam falar [risos]”. Ele se entendia desenhando. Morri de rir com as histórias dele. Ele era um grande desenhista. E a partir daí passei a ser conhecida, isso nos anos 1950.

Como era a vida de vocês na legalidade? 
Tivemos um momento de muita felicidade e alívio com a eleição do João Goulart [em 1961]. Comecei a trabalhar na liga feminina, mas isso durou pouco. Logo veio o golpe. Invadiram nosso apartamento. O Marighella pressentiu tudo. Disse: “Vamos descer pela escada”. Eles subiram pelo elevador. Quando saímos, fomos para a casa de um trabalhador conhecido nosso. Marighella foi encontrar a zeladora para pegar umas roupas e levou um tiro. E foi preso. Só fui saber no dia seguinte, quando um companheiro me deu a notícia. Fiquei na agonia. Quando ele foi solto, fomos para um sítio, onde ele escreveu o livro "Por que resisti à prisão". Ele foi preso muitas vezes. E sempre foi conhecido por ser muito corajoso. Nunca falou nada na tortura.

Essa última ditadura que você viveu, após o Golpe de 64, foi a pior? Toda repressão é horrível. Mas ali era um caso de vida ou morte. O golpe endureceu e Marighella passou a ser o homem mais procurado do Brasil. Nossa vida era muito perigosa. No dia em que ele foi assassinado, ele saiu para fazer uns contatos. Alguns deles eram com padres, para tentar tirar gente do Brasil pela fronteira da Argentina. Ele não sabia que os padres já tinham sido presos, torturadíssimos e que acabaram entregando ele. Eles mataram o Marighella como se fosse um troféu. Era o inimigo número um da causa deles.

Como soube da morte? 
Estava em casa, à noite, esperando o Marighella voltar. Aí um companheiro chegou e falou: “Vamos sair daqui correndo. Você sabe o que aconteceu?”. E me contou [começa a chorar e para de falar]. “Ele foi morto, não é?” “Foi. Assassinado.” Me levaram para a casa de uma companheira maravilhosa, depois para várias casas. Até que montaram um esquema e consegui ir para Cuba. Fui com a roupa do corpo e carregando um retrato do Marighella, que foi a única coisa que sobrou do nosso apartamento [no dia da entrevista, Clara não encontrou a foto]. O resto todo foi queimado. Fui abraçada com essa foto para Cuba. Não a largava por nada.

Como foi a sua vida em Cuba? 
Em Cuba eles eram maravilhosos. Colocaram a gente numa casa. Como era meu nome lá mesmo? Era Claudia Gonzales. Tinha amigos, mas não podia falar muito sobre a minha vida. Fui tradutora de cabine. Aprendi espanhol. Foi uma experiência profissional maravilhosa. Fiquei mais de dez anos sem ver muitos conhecidos. Minha família não podia nem pensar em me visitar.

Você só voltou ao Brasil em 1979, com a anistia...
 
Minha vinda foi uma epopeia. Ficamos sabendo da anistia, mas não existia consulado em Cuba. Tive que vir pelo Panamá e, chegando lá, não queriam me dar o passaporte. Fiquei semanas indo na embaixada, e eles diziam que não tinham autorização para emitir meu passaporte. Acabei vindo com uma declaração de viagem escrita em um papel. Mas consegui chegar. Aí foi aquela loucura. Imagina o chororô da família.

Foi difícil se readaptar? 
Quando voltei a procurar emprego, olha, vou te contar... Ia toda arrumadinha. Minha irmã comprou um vestido para mim, pintei o cabelo. Fiquei agoniada atrás de emprego. Até que me falaram que o Sérgio Motta [empresário e ministro da Comunicação de Fernando Henrique Cardoso, morto em 1998] arrumava muito emprego para quem tinha saído da cadeia. Me convidaram para ser bibliotecária. Mas eu não tinha diploma. Acabaram me registrando como auxiliar de biblioteca. Fiquei trabalhando lá. Menina, você não imagina o sucesso. Estava contentíssima, já tinha entrado no PT, na Secretaria de Mulheres.

Como foi esse seu retorno à militância pós-anistia? 

Quando voltei, começaram a me chamar para fazer palestras sobre Cuba. Eu estava feliz da vida. Chegava em casa, fazia minha comida. Até que um dia tocaram a campainha, e era toda a comissão de mulheres do PT. Perguntei se tinha acontecido alguma coisa e elas: “A gente quer que você seja candidata a deputada pelas mulheres”. Disse que elas estavam loucas, que isso nunca tinha passado pela minha cabeça. Mas aceitei. Resultado: tive mais de 19 mil votos [mas não foi eleita]. Não sei como. Eu não tinha dinheiro. Mas todo mundo queria ajudar. Foi uma coisa linda. Ninguém sabia como eu tinha tido tanto voto. Depois disso, fiquei superconhecida. Todo mundo me chamava para fazer palestras. Entrei na Secretaria de Mulheres, trabalhei na assessoria de relações internacionais com a [Luiza] Erundina. Trabalhei na Câmara. Ai, é tanta coisa que fiz que nem te conto. E continuo fazendo. Porque, quando você vai entrando na luta, você não para. Sou do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, desde que entrou o Lula. Sou da Secretaria de Mulheres do PT e presidente da Associação Mulheres pela Paz. E ainda dou palestras. Tem muita coisa para a gente fazer.

Em que o movimento Mulheres pela Paz atua? 
A gente combate a violência contra a mulher. Nosso foco agora é trazer homens para dentro do movimento. Achamos que o homem não deve ser visto como inimigo, mas como alguém que pode ajudar no combate. Eles podem ajudar os filhos a não praticar violência contra mulher, podem denunciar e ajudar se isso estiver acontecendo com alguém da sua família.

Como é a sua rotina? 
Ainda trabalho muito. Mas tenho meus limites desde que quebrei o fêmur, em Brasília, quando anunciaram a candidatura da Dilma, há quase três anos. Tinha muita gente conhecida lá, eu estava muito feliz, e alguém atrás de mim me chamou. Fui virar, perdi o equilíbrio e caí. Daí me botaram na ambulância, mas não tinha leito disponível em nenhum hospital de Brasília. Avisaram o Lula e eu fiquei esperando até ele conseguir um leito para mim no hospital das Forças Armadas, que a princípio só atende militares e familiares e pessoas que têm cargo oficial. Mas ele deu um jeito e fui pra lá.

A senhora precisou ser operada? 

Fui operada e fiquei internada até me recuperar. Nesse meio-tempo, decidiram que seria melhor eu me mudar para perto da minha irmã Sara. Então quem fez a mudança, alugou e deu um jeito neste apartamento [no Bom Retiro, região central de São Paulo] foi o pessoal do PT. Os móveis da sala, essa estante... Eu não tinha nada disso. Quando voltei pra São Paulo, já voltei pra cá. Ah! E foi num avião das Forças Armadas também, a pedido do Lula, porque ainda não podia andar. Quando eu ia imaginar que ia ser bem tratada pelas Forças Armadas?

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=203995&id_secao=1

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Planetas do tamanho da Terra são mais comuns do que se pensava

Por  em 2.11.2010 as 10:39

Pesquisadores americanos fizeram uma nova estimativa do universo e descobriram que quase uma em cada quatro estrelas como o Sol podem ter planetas do tamanho da Terra.
Esta estimativa é baseada em observações de estrelas próximas tomadas por telescópios no Havaí. Ela significa que, em média, os planetas rochosos de pequeno porte, como a Terra, são muito mais comuns do que planetas gigantes semelhantes ao tamanho de Júpiter.
Os pesquisadores estimam que cerca de 1,6% das estrelas semelhantes ao sol têm planetas do tamanho de Júpiter e 12% têm as chamadas “super-Terras”, que são planetas 3 a 10 vezes maiores que a Terra.
Os telescópios não são poderosos o suficiente para detectar planetas menores, por isso os cientistas supõem que a tendência seja existirem mais planetas menores. Eles estimam que 23 das estrelas observadas tenham planetas do tamanho da Terra.
Por enquanto, é impossível apoiar essa estimativa usando dados existentes. No entanto, essa é a primeira estimativa que foi obtida por meio de observações de planetas relativamente pequenos. Pode ser que um em cada oito seja pequeno, ou um em cada dois. Mas os pesquisadores já têm certeza de que não são poucos, não é 1 em 100.
Em breve haverá mais dados. Um telescópio espacial da Nasa deve fazer um levantamento de 156.000 estrelas para detectar entre 120 e 260 “mundos plausivelmente terrestres”. Os cientistas acreditam que, se há vida lá fora, é mais provável que ela exista em planetas rochosos como a Terra. Portanto, se há mais planetas rochosos pequenos lá fora, então, parece mais provável que haja vida lá fora também.
Até agora, a maior parte dos planetas rochosos previstos estão próximos demais para serem habitáveis. Segundo os pesquisadores, provavelmente levará mais tempo para que se encontre um número significativo de “Terras” em zonas habitáveis de suas estrelas-mãe. [BBC]

Existem 60 bilhões de planetas habitáveis na Via Láctea

Por  em 3.07.2013 as 14:01

Acha mesmo que estamos sozinhos no universo? Um recém-concluído estudo, publicado na revista científica “Astrophysical Journal Letters”, aponta que talvez existam nada mais nada menos do que 60 bilhões de planetas habitáveis orbitando estrelas anãs vermelhas em toda a Via Láctea.
Anteriormente, acreditava-se que da chamada zona habitável dessas estrelas possuía metade de planetas em condições de abrigar vida. Para efeitos de comparação, é como se, para cada ser humano que habita nossa Terra, houvesse 8,5 planetas potencialmente habitáveis soltos por aí.
O motivo para essa atualização do cálculo foi a reavaliação feita pela equipe de cientistas dos limites das zonas habitáveis ​em torno das anãs vermelhas. Esses estrelas são menores e mais fracas do que o sol e possuem temperaturas relativamente baixas na sua superfície.
Com base em simulações do comportamento das nuvens sobre os planetas extrassolares, anteriormente ignoradas nos cálculos, a equipe de astrofísicos descobriu novos parâmetros para a definição dos limites de uma zona habitável em torno das já mencionadas estrelas anãs vermelhas.
A equação para o cálculo da zona habitável de planetas alienígenas mantém-se a mesma há décadas. No entanto, essa fórmula não levava em consideração as nuvens, que exercem uma grande influência climática.
O pesquisador Dorian Abbot, da Universidade de Chicago (EUA), explica como o comportamento das nuvens acaba expandindo consideravelmente o tamanho dessas zonas. “As nuvens causam tanto aquecimento quanto resfriamento na Terra. Elas refletem a luz solar para esfriar o ambiente e absorvem a radiação infravermelha da superfície para esquentá-lo por meio do efeito estufa”. Abbot conclui: “Esse esquema é parte do que mantém o planeta quente o suficiente para abrigar vida”.
Trocando em miúdos, em vez de haver, em média, um planeta do tamanho da Terra na zona habitável de cada estrela anã vermelha, na realidade existem aproximadamente dois. Fazendo as contas, isso significa que existem cerca de 60 bilhões de planetas habitáveis ​​que orbitam anãs vermelhas na Via Láctea.
Você pode estar se perguntando: “Como podem essas estrelas anãs vermelhas, relativamente pequenas e fracas, serem orbitadas por dois planetas habitáveis, sendo que o sol, maior e mais forte do que elas, só é orbitado pela Terra?”. A diferença é que o nosso planeta demora um ano inteiro para dar a volta no sol, como vocês bem lembram das aulas de Geografia. No caso desses planetas, o tempo é bem mais curto.
“Um planeta que orbita em torno de uma estrela anã deve completar a volta uma vez por mês ou uma vez a cada dois meses, aproximadamente, para receber a mesma quantidade de luz solar que nós recebemos do sol”, esclarece um dos autores do estudo, Nicolas Cowan, do Centro Interdisciplinar de Exploração e Pesquisa em Astrofísica da Universidade do Noroeste dos Estados Unidos.
Planetas de órbitas tão curtas acabariam por se tornar presos ao seu sol devido à gravidade. Outro detalhe é que esses planetas manteriam sempre o mesmo lado voltado para o sol, como a lua faz em direção à Terra. Nesse locais, o sol ficaria sempre a pino, como se fosse eternamente meio-dia. [Gizmondo e Sci News]