sábado, 17 de agosto de 2013

Trabalhadores


Juan trabalhava numa fábrica de distribuição de carne. Um dia, quando terminou o seu horário de trabalho, foi a um dos frigoríficos para inspecionar algo, mas num momento de azar a porta fechou-se e ele ficou trancado lá dentro.
Ainda que tenha gritado e batido na porta com todas as suas forças, jamais o poderiam ouvir. A maioria dos trabalhadores estava já em casa e no exterior da arca frigorífica era impossível ouvir o que estava acontecendo lá dentro.
Cinco horas mais tarde, quando Juan já se encontrava à beira da morte, alguém abriu a porta. Era o faxineiro e este salvou a vida de Juan.
John perguntou ao trabalhador  como foi possível ele passar e abrir a porta, se isso não fazia parte da sua rotina de trabalho, e ele explicou:
“Eu trabalho nesta empresa há 35 anos, centenas de pessoas entram e saem a cada dia, mas você é o único que me cumprimenta pela manhã e se despede de mim à noite. Os restantes me tratam como se eu fosse invisível. Hoje, como todos os dias, você me disse seu simples ‘olá’ na entrada, mas nunca ouvi o ‘até amanhã’. Espero o seu ‘olá’ e ‘amanhã’ todos os dias. Para você eu sou alguém. Ao não ouvir a sua despedida, eu sabia que algo tinha acontecido… Procurei e encontrei!”

Via Miriam Duarte


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

JESUS CRISTO NEGRO...UMA POSSIBILIDADE?






"A Bíblia diz, no capítulo 2 do Livro de Gênesis, que Deus formou o homem à sua imagem e semelhança e o colocou em um local conhecido como 'Jardim do Éden' para a sua sobrevivência. Segundo as Escrituras, o Éden era banhado por um rio que possuía quatro afluentes e um deles era o Eufrates. Este rio está localizado no país atualmente conhecido como Iraque, que fica no Oriente Médio. Dessa maneira, como o senhor explica a imagem branca de Adão, divulgada ao longo dos séculos?"

Conceito:
A raça sob o ponto de vista da semiótica da palavra origina-se da palavra do latim, ratio, que significa sorte, categoria, espécie (MUNAMNGA, 2003, p.01). Porém, sua utilização para designar a categorizar espécies humanas não é uma meraoperação semiótica, este conceito a nosso ver tem um sentido que vai para além da lingüística, ele é Histórico, é ideológico, e social. Porém, reconhecidamente, a utilização da cor da pela para a categorização dos diferentes povos do planeta, esta fortemente relacionada ao período medieval, e a intenção da igreja católica, mais importante instituição do período, em definir a sua relação com o restante do mundo interior e exterior a partir de uma referência: branca,cristã, ocidental. Esta tendência de certa forma foi bastante influenciada pela ocupação da Península Ibérica pelos mouros ao longo deste período, bem como, pelo processo de expulsão destes e retomada dos territórios cristãos por meio das cruzadas. Neste
processo foi instituído pela igreja católica – fundamentada num discurso teológico - um processo de “demonização” destes povos, bem como, de todos aqueles pertencentes a mesma origem – declarados como inimigos dos cristãos – portanto amigos do demônio.

E neste período que assistiremos uma a demonização dos africanos como sinônimo do anticristo, bem como, uma categorização das populações humanas fundadas na cor da pele dos indivíduos.

Para os racistas, que não têm mais como provar que a aparência de Jesus é caucasiana (branca) e européia, isto é uma infame oportunidade para negarem a negritude de Jesus, hipocritamente, dando a entender que Ele não era belo, justamente por causa de sua pele escura, ou seja, para Jesus ser negro, Ele tem que ser necessariamente feio.

Bem, nós sabemos que as religiões chamadas 'cristãs', que não apresentam a Bíblia como fonte de pesquisa livre para todos, não se interessam em apresentar o caráter fiel de Jesus, pelo contrário, manipulam os povos em nome do seu Cristo, produto de seus interesses. Por causa disso, inúmeros povos foram discriminados, por não terem 'nenhuma semelhança racial' com os personagens bíblicos apresentados pelos seus dominadores (visto que reigião tambem tambem consiste em poder o que voce faz com ele é que consiste a balança)


Anjos louros, profetas pálidos como a neve, Cristo branco e até mesmo um Deus Pai, na forma humana, europeu, que a igreja católica fez questão de representar, a fim de garantir o poder da raça branca, ignorando a afirmação bíblica de que Deus Pai é Espírito, e de que ninguém jamais o viu. No início do ano 2003, a Rede Globo de Televisão apresentou uma reportagem feita no Sul do Brasil, sobre uma imagem negra, de Maria, mãe de Jesus, que veio da Itália, há quase um século atrás.

"Ao chegar na comunidade eclesiástica do lugar, o povo da igreja não conseguiu aceitar uma mãe africana de Jesus e, assim, exigiram que a imagem fosse pintada de branca. Este fato mostra como o povo brasileiro é doente, no que diz respeito a sua auto-estima: é o negro querendo ser quase branco, mas mantendo sua virilidade(homens) e curvas sedutoras(mulheres) e o quase branco querendo ser branco e louro, mas sem perder a característica de sua pele miscigenada e, invejando a virilidade do homem negro e a sensualidade das mulheres negras. Baseado no texto bíblico de Isaias 53:2 podemos afirmar que Jesus era uma pessoa simples, do povo, alguém que não se podia distinguir dentre as multidões."

Por isso, quando a elite religiosa israelita alistou alguns a fim de apedrejá-lo, Ele entrou no meio do povo e ninguém mais o podia perseguir. Jesus era e é, de fato, o Deus que se fez carne, (segundo o que o ele é apresentado no evangelho de João, capitulo 1), experimentou a realidade da humanidade de sua própria criação. Isto, de fato, é revolucionário, na história e no conceito comum de divindade. Depois de ser tentado em tudo, experimentado todo tipo de sofrimento e humilhações, escolheu morrer nossa morte e por último, demonstrou em sua ressurreição um caminho possível, para vencermos tanto as vicissitudes da vida, como a própria morte, que inviabilizava todo e qualquer projeto humano.

A Semana Santa é uma tradição judaico cristã que celebra a Paixão, a Morte e a ressurreição de Jesus Cristo.

A Semana Santa se inicia Domingo de Ramos, onde se faz memória da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, e tem seu término com a ressurreição de Jesus Cristo, que ocorre no domingo de Páscoa.

Os dias da Semana Santa Domingo de Ramos.
Domingo de Ramos
O Domingo de Ramos abre solenemente a Semana Santa, com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.

Jesus é recebido em Jerusalém como um rei, mas os mesmos que o receberam com festa o condenaram à morte. Jesus é recebido com ramos de palmeiras. Nesse dia, são comuns procissões em que os fiéis levam consigo ramos de oliveira ou palmeira, o que originou o nome da celebração. Segundo os evangelhos, Jesus foi para Jerusalém para celebrar a Páscoa Judaica com os discípulos e entrou na cidade como um rei, mas sentado num jumentinho - o simbolo da humildade - e foi aclamado pela população como o Messias, o rei de Israel. A multidão o aclamava: "Hosana ao Filho de Davi!" Isto aconteceu alguns dias antes da sua Paixão, Morte e Ressurreição. A Páscoa Cristã celebra então a Ressurreição de Jesus Cristo.

A 'Igreja Católica', durante séculos, vem apresentando a todos a figura de um 'Cristo', branco, loiro e de alhos azuis. Essa é a verdadeira face de um judeu daquela época?

A BBC de Londres já fez um grande documentário que sugere a possível aparência negra do 'Senhor Jesus Cristo'. É interessante que há quase dois milênios os crentes etíopes já o representavam com pele escura. A Bíblia também afirma que os pais de Jesus, fugindo da perseguição do Rei Heródes, levaram Jesus para o Egito, a fim de o esconderem até que a ira do rei se abrandasse. Todos sabem que o Egito é um país africano cujo povo jamais foi branco, por isso, como seria possível Jesus e sua família se esconderem com segurança num país de negros, se fossem brancos de olhos azuis? Um Cristo branco, de cabelos lisos e olhos azuis, era exatamente o que representava o catolicismo romano em sua origem. Na verdade, era essencial mostrar um Cristo branco, semelhante ao povo dominador de todos os demais povos.

Mais tarde, a Igreja Católica, influenciada pelo poder e pela cor dos cabelos louros dos invasores bárbaros, teve que adequar a imagem do 'Cristo' à imagem de seus novos parceiros. Na verdade, se quisermos conhecer mais a respeito de como era o Cristo, o lugar mais adequado, é percorrer cada caminho estreito e apertado através das páginas da Bíblia.

Ali, não só o veremos fisicamente, mas também sob diversos aspectos, tais como: espiritual, moral, ético, humano, divino e etc... Ali, sim, descobriremos que a (fealdade) feiúra de Jesus, se traduz numa beleza indizivelmente maravilhosa e sem dúvida alguma, inigualável.

A Bíblia afirma que Jesus não tinha nenhuma beleza para que o desejássemos... O texto do profeta Isaias diz exatamente assim: 'Porque ele crescera diante de Deus como uma planta vulnerável, e como uma raiz tirada de uma terra seca. Não tem formosura nem esplendor; e quando o vemos, não tinha uma boa aparência, para que o desejássemos'(Isaias 53:2).(Pr.Selmo Ricardo Reis')
ISAÍAS 53

1 - Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do Senhor?

2 - Porque foi subindo como renovo perante ele e como raiz de uma terra seca; não tinha parecer nem formosura; e olhando nós para ele, nenhuma beleza viamos, para que o desejássemos.

3 - Era desprezado e o mais indigno entre os homens, homem de dores, experimentado nos trabalhos e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.

4 - Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossa enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido.
5 - Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados.

6 - Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.

7 - Ele foi oprimido, mas não abriu a boca; como um cordeiro, foi levado ao matadouro e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca.

8 - Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes e pela transgressão do meu povo foi ele atingido.

9 - E puseram a sua sepultura com os ímpios e com o rico, na sua morte; porquanto nunca fez injustiça, nem houve engano na sua boca.

Aguns devem perguntar e o que importa a cor de Jesus Cristo?

A questão que separa as interpretações e utilizações do texto bíblico a serviço do racismo da segregação, da intolerância, da violência e da opressão é a ação dos homens, estes mesmos também podem promover ações de reconhecimento e valorização da vida e da humanidade – este é o convite que fazemos neste ensaio. A apropriação do “signo de Cam” é uma síntese nos permite perante o leitor conduzir uma reflexão, sobre um discurso que buscava e ainda busca fundamentar a condição de inferioridade do negro”.

Um afro abraço e boa pascoa a tod@s.
fonte:Wikipédia, a enciclopédia livre/Copyright Zulu Nation Brasil 2006/HISTÓRIA E CULTURA DA ÁFRICA E AFRO-BRASILEIRA.Uberlândia/MG:
PROEX/UFU; Franca/SP: Ribeirão Editora, 2008.
RABELO, Danilo. Rastafari: identidade e hibridismo cultural na Jamaica, 1930-1981.Brasília/DF: Programa de Pós-graduação em História da Universidade de Brasília –UnB, 2006. (Tese de Doutorado).
SEMPRINI, Andrea. Multiculturalismo. Tradução Laureano Pelegrin. Bauru/SP:
EDUSC, 1999.JONGE, Klass de . África do Sul: apartheid e resistência. São Paulo: Cortez: EBOH,1991.MUNANGA, K. . Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia. Cadernos PENESB (Programa de Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira). UFF, Rio de janeiro, n. 5, p. 15-34, 2004.Munanga, Kabengele. A difícil tarefa de definir quem é negro no Brasil. Estud. av.,Abr 2004, vol.18, no.50, p.51-66.
MEILLASSOUX, Claude. Antropologia da escravidão: o ventre de ferro e dinheiro. Riode Janeiro, Jorge Zahar , 1995.

A Internacional ,com Fidel -6° Congresso do PCC

A Internacional ,com Fidel -6° Congresso do PCC


La Internacional - Chiusura del 6° Congresso del PCC

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Regina Duarte: VACA!!! (é o que ela quer criar nas terras dos índios)

"Regina Duarte lidera o setor pecuarista contra os povos indígenas, participa de comicios contra as demarcações e contra os povos indígenas em todo Brasil. No MS ela é a “Garota Propaganda” em campanhas contra indígenas." informa o blog
União Campo, Cidade e Floresta


Fato é que os indígenas Guarani e Kaiowá estão sendo continuamente atacados pelos ruralistas, que tem sua porta voz, esta mulher, que vende gado e usa sua imagem para combater os indígenas.

Espalhe a notícia, compartilhe este post. Se quiser ajudar mais além disso, os indígenas estão famintos e aceitam doações em alimentos ou dinheiro. Contato pelo e-mail: solidariedadeguaranikaiowa@gmail.com

Vale informar que a causa da regina duarte inclui MILÍCIA ARMADA e estão sitiando esses povos.

Corrupção:O QUE ESTÁ POR TRÁS DO CRIANÇA ESPERANÇA?




O QUE ESTÁ POR TRÁS DO CRIANÇA ESPERANÇA?

Você está pagando o imposto da Rede Globo!

Quando a Rede Globo diz que a campanha Criança Esperança não gera lucro é MENTIRA!
Porque no mês de Abril do ano seguinte ela (TV Globo) entrega o seu imposto de renda com o seguinte desconto:
"Doação é feita à UNICEF no valor de >>...<< aqui vem o valor arrecadado no Criança Esperança. Ou seja, a Rede Globo já desconta pelo menos 20 e tantos MILHÕES do imposto de renda graças à ingenuidade dos doadores!

Agora se você vai colocar seu imposto de renda que doou 7, 15, 30 ou mais pro Criança Esperança, não pode, sabe porquê?
Porque o Criança Esperança é uma marca e não uma entidado beneficente. Já a doação feita com o seu dinheiro para a UNICEF é aceito. E não há crime nenhum.
Aí você doou à Rede Globo um dinheiro que realmente foi entregue à UNICEF, porém, porque descontar na Receita Federal como doação da Rede Globo e não na sua?
Já que diz que o dinheiro vai direto para uma conta na UNICEF, então porque ela não divulga o número da conta da UNICEF?

Do jeito que somos tungados pelos impostos, bem que tal prática contábil tributária poderia se chamar de agora em diante de Leão Esperança.

LIÇÃO:
Se a Rede Globo tem o poder de fazer chegar a mensagem dela a tantos milhões de televisores, também nós temos o poder de fazer nossa mensagem a milhões
de computadores!



leia também:

Jornalismo imundo: O "mensalão" e o rubor do Jabor

Galeria de fotos do protesto em SP

'A Globo é desumana com os trabalhadores' ,afirma Alex, do Coritiba.

"Globo manda no futebol", ataca Alex


Protesto em São Paulo pede Fora Alckmin e CPI do Cartel Tucano

Do Portal Vermelho


Pelo menos 3 mil pessoas participaram de um protesto convocado pelos metroviários e Movimento Passe Livre (MPL) nesta quarta-feira (14), em São Paulo (SP). Desta vez, a principal palavra de ordem foi “Fora Alckmin”. O governo tucano e as empresas que formaram um cartel foram os principais alvos dos manifestantes, que queimaram um boneco do governador Geraldo Alckmin (PSDB), exigindo a aprovação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa para inivestigar o caso.



Concentração no Vale do Anhangabaú / Fotos: Deborah Moreira

Duas catracas cenográficas também foram queimadas. Uma na rua Líbero Badaró e outra ao final do ato, por volta das 18h30, em frente à Catedral da Sé, na praça da Sé, quando todos se reuniram e promoveram um jogral para transmitir o objetivo do ato:

“Pessoal, estamos neste ano para dar um aviso para o poder público: que somos usuários, que somos trabalhadores, do transporte coletivo, não vamos aceitar que o dinheiro que devia ser usado no nosso transporte vá para o bolso dos empresários e patrões. Para eles o que importa é lucrar com nosso sufoco. Por isso, enquanto o transporte for controlado por políticos e empresários, ele será um transporte privado. Só que usa o transporte, só quem trabalha no transporte, todo dia, é que conhece seus problemas. E é na luta que vamos conquistar um outro transporte. Seguiremos nos organizando nos nossos bairros e comunidades, porque agora, porque agora quem manda é nós”, disseram os presentes que não se intimidaram com o frio e a garôa fina que caiu durante toda a marcha.

A concentração do ato começou por volta das 15 horas no Vale do Anhangabaú, na região central, depois, por volta das 16h30, seguiu pelas ruas do centro, passando pelo Largo São Francisco, Brigadeiro Luís Antonio, circulou a praça da Sé até o Pateo do Collégio, onde entrou na Rua Líbero Badaró e seguiu rumo à Praça da Sé.

Durante todo o trajeto os diversos grupos presentes com instrumentos musicais animaram a marcha entoando palavras de ordem como “Estatizar o busão”, “Três, três, três reais não dá. Eu quero passe livre, passe livre já” e “Trabalho, estudo, dou duro o dia inteiro. Geraldo anda de carro e ainda rouba o meu dinheiro”. 

Ao longo do trajeto, uma comissão foi formada por representantes de organizações, que foram até a Secretaria Estadual de Transporte para exigir apuração das denúncias, que foram publicadas de forma clara pela revista Isto É.

Para Onofre Gonçalves, presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil de São Paulo (CTB-SP), que participou do ato, trata-se de uma mobilização fundamental.

“Estamos aqui porque nós acreditamos que o governo Alckmin é o responsável pelo que está ocorrendo, pela formação de cartel e pela precarização do metrô e do trem, que sofrem panes constantemente. E, agora, veio à tona a partir de denuncia de uma empresa que muito dinheiro já foi desviado. Não podemos permitir”, declarou Onofre Gonçalves ao Vermelho. Para ele, o movimento sindical deve entrar de cabeça nesta luta. “Eu acho que o movimento sindical deve ter outro olhar para essa pauta. Não estávamos debatendo e focando as ações nessa questão. Mas já fazemos uma avaliação de que é uma reivindicação justa e essencial para a população e precisamos entrar nessa briga”, completou Onofre.

Para Carlos Siqueira, o Carlão, presidente da União da Juventude Socialista de São Paulo (UJS-SP), o ato é uma continuação do que começou em junho e, com o escândalo do cartel tucano, a juventude voltou às ruas.

“Temos ai uma sequencia das manifestações de junho e, logo em seguida, o governo de São Paulo é pego com as calças nas mãos por estarem desviando dinheiro e de uma área tão essencial para a cidade”, relacionou Carlão, que acredita que um Fora Alckmin deva ser construído aos poucos, de forma consciente: “Precisamos construir a consciência da população do estado sobre o que o governo tucano vem fazendo nesses 20 anos. Não é só o problema do transporte, também educação, a segurança pública, há um genocídio da juventude negra, também as questões ambientais. Nós queremos que se investigue, que sejam apurem as denúncias, e acreditamos que o ‘Fora Alckmin’ deva acontecer de forma consciente por toda a população”.


Carlos Siqueira, da UJS, durante o protesto chamado pelas redes sociais e por panfletagem

Carlão lamentou que até agora somente a oposição assinaram o pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). “Vamos fazer blitz, mandar email, acompanhar a agenda do governador para cercá-lo e exigir a apuração”, completou Carlão, lembrando que a UJS ‘tem tradição forte na campanha pelo passe livre’. “Quando me filiei à entidade entrei por conta da luta pelo passe livre na minha cidade, Suzano, em 2005, onde conquistamos o passe livre para os estudantes mas a justiça acabou derrubando”, lembrou.

Nesta semana, a UJS, juntamente com outras entidades do movimento estudantil, atuam na Jornada de Lutas. Na terça-feira (13), os estudantes secundaristas chegaram a mobilizar 54 escolas em todo o estado, que paralisaram suas atividades para reivindicar os royalties do pré-sal para a Educação.

Antonio Pedro de Sousa, o Tonhão, do Movimento em Defesa da Moradia (MDM), fez questão reforçar que a luta pela mobilidade nas grandes cidades é um dos pontos principais da reforma urbana tão reivindicada pelos movimentos de moradia.


Trabalhadores que acompanharam o protesto de seus escritórios aderiram com cartazes e chuva de papel picado

“A pauta de hoje se inclui na reforma urbana. Temos cidades onde as populações têm grandes dificuldades de se dirigir ao trabalho, a escola, aos espaços de lazer, onde a moradia fica inacessível e longe dos locais onde estão os empregos. Além disso, não é possível permitir desvio de verba que seria destinada à melhoria do transporte”, exclamou.

Monique Felix, integrante do MPL explicou ao Vermelho quais os motivos que os moveram nesta quarta: “O que a gente julga importante pontuar neste ano é que esse caso específico de corrupção evidencia uma lógica maior de transporte privatizado, visando o lucro e não as pessoas. Acho importante os trabalhadores e usuários do sistema estarem unidos para mudar a realidade do transporte. Por que esse caso de corrupção é só mais um caso dentro da lógica privatista do transporte”. Perguntada se haverá novos atos sequencias, como ocorreu em na Jornada de Junho, ela diz que tudo dependerá da conjuntura, como foi naquele mês. “A gente não planejou com antecedência, foi tudo acontecendo conforme o desenrolar dos fatos”, concluiu. 

Repressão


Depois do ato ter sido encerrado, um grupo de manifestantes se dirigiram para a Câmara Municipal para tentar ocupá-la. Policiais militares dispararam tiros de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral para tentar dispensar.

Pouco antes do confronto, um grupo de 16 manifestantes entraram na Câmara para conversar com o vereador e presidente da Casa José Américo (PT).

A tropa de choque também foi acionada na Assembleia Legislativa, região do Ibirapuera, onde outro grupo de manifestantes também se concentrava. Há informações de que pelo menos três pessoas ficaram feridas e foram atendidas no centro médico da Assembleia.

Até o fechamento da matéria, manifestantes se concentravam nas proximidades das casas legislativas.

Deborah Moreira
Da redação do Vermelho


http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=8&id_noticia=221276

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O perfeito idiota brasileiro, por Paulo Nogueira


O texto abaixo é uma versão revisada, atualizada e abrasileirada do Manual do Perfeito Idiota Latino-americano, dos anos 1990.
PIB. Chamemos de PIB. O Perfeito Idiota Brasileiro.
Vamos descrever o dia do PIB. Vinte e quatro horas na vida de um PIB para que os pósteros, a posteridade, tenham uma idéia do Brasil de 2012.
Ele acorda às sete horas da manhã. Tem que preparar o próprio café da manhã. Já faz alguns anos que sua mulher parou de fazer isso para ele, e ficou caro demais para ele pagar uma empregada doméstica.
Ele lamenta isso.  Era bom quando havia uma multidão de nordestinas sem instrução nenhuma que saíam de suas cidades por falta de perspectiva e iam dar no Sul, onde acabavam virando domésticas.
PIB dá um suspiro de saudade. Chegou a ter uma faxineira e uma cozinheira nos velhos e bons tempos. Num certo momento, PIB percebeu que as coisas começaram a ficar mais difíceis. Havia menos mulheres dispostas a trabalhar como domésticas, e os salários foram ficando absurdos.
Para piorar ainda mais as coisas, ao contrário do que sempre acontecera, a última empregada de PIB recusou votar no candidato que ele indicou.
Mulherzinha metida.
PIB tomou o café na cozinha, com o Globo nas mãos. Assinava o jornal fazia muitos anos. Se todos os brasileiros fossem como o Doutor Roberto Marinho, PIB pensou, hoje seríamos os Estados Unidos.
Por que ainda não ergueram estátuas para ele?
Com o Globo, PIB iniciou sua sessão de leituras matinais. Mais ou menos quarenta minutos, antes de ir para o escritório.
Leu Merval. Quer dizer, leu o primeiro parágrafo e mais o título porque naquele dia o texto, embora magnífico, estava longo demais. Havia um artigo de Ali Kamel. “Um cabeça”, pensou PIB. “Deve ter o QI do Einstein.” Mas também aquele artigo –embora brilhante, um tratado perfeito sobre o assistencialismo ou talvez sobre o absurdo das cotas, PIB já não sabia precisar — parecia um pouco mais comprido do que o habitual. Deixou para terminar a leitura à noite.
PIB vibrou porque, se não bastassem Merval e Kamel, havia ainda Jabor.
Um gênio. Largou o cinema para iluminar o Brasil com sua prosa espetacular. Um verdadeiro santo. Podia estar com a sala da casa cheia de Oscar.
Começou a ler Jabor e refletiu. “Impressão minha ou hoje aumentaram o tamanho do Jabor?” PIB sacudiu a cabeça, na solidão da cozinha, num gesto de reverência extrema por Jabor, mas também achou melhor deixar para ler mais tarde. Era seu dia de sorte. Também o historiador Marco Antônio Villa estava no Globo. “Os primeiros 18 meses do governo Dilma foram fracassos sobre fracassos” era a primeira linha. Bastava. Villa sempre surpreendia com pensamentos que fugiam do lugar comum.
Como uma terrorista chegou ao poder? Bem, tenho que comprar algum livro de história do Villa. Ele com certeza escreveu vários.
Completou a sessão de leituras da manhã na internet. Leu Reinaldo Azevedo.  Quer dizer, naquela manhã, leu um parágrafo. Na verdade, metade. Menos. O título. Não importava. Azevedo era capaz de mesmerizar toda uma nação com a luz cintilante de meia dúzia entre milhares de linhas que produzia incessantemente. PIB deixava escapar um sorriso de admiração a cada vez que li a palavra “petralha” em Azevedo.
Rei é rei. Um cabeça pensante. Por que será que não ocorreu a nenhum presidente da República contratar esse homem como assesor especial? Se o Brasil bobear, a Casa Branca vem e contrata.
Ainda na internet, uma passagem pelo Blog do Noblat. Naquele dia, no blog havia uma coluna assinada por Demóstenes. PIB deu parabéns mentais a Noblat por abrir espaço a Demóstenes, nosso campeão mundial da moralidade, nosso Catão.
Por que falam tanto do tal do Assange e do Wikileaks quando temos tantos caras muito melhores?
A caminho do trabalho, PIB ligou na CBN. Ouviu uma entrevista com o filósofo Luiz Felipe Pondé. “Meu pequeno carro não contribui para o aquecimento do planeta”, disse Pondé, o nosso Sócrates, o Aristóteles verde-amarelo.
Preciso anotar essa. Meu pequeno carro não contribui para o aquecimento global.
Isso o levou a reparar nos ciclistas nas ruas de São Paulo. Cada dia parecia haver mais. Mau sinal. Havia muitas bicicletas no trajeto. PIB sentiu vontade de atropelá-las.  Odiava ciclistas. Atrapalhavam os motoristas.
Abria uma única exceção: Soninha. Desde que ela continuasse a posar pelada em nome das bicicletas.
Hahaha.
Na CBN ouviu também informações e comentários sobre o mundo. “Prestígio em Paris dá vantagem a Sarkozy nas eleições presidenciais”, a CBN avisou. PIB admirava Sarkozy. Proibir a burca foi um gesto histórico. As muçulmanas deveriam ser gratas a Sarkozy. Elas haveriam de votar maciçamente nele para dar a ele o segundo mandato para o qual a CBN dizia que ele era o favorito.
Os maridos obrigam as coitadas a usar burca.
O tema do islamismo estava ainda em sua mente quando se instalou em seu cubículo de gerente na empresa. PIB refletiu sobre o mundo. Tinha lido em algum lugar que no Afeganistão as pessoas queriam que os soldados americanos fossem embora.  Os afegãos estavam queimando bandeiras dos Estados Unidos. A mesma coisa estava ocorrendo no Iraque. E no Iêmen. Em todo o Oriente Médio, fora Israel.
Ingratos. Como eles não percebem que os Estados Unidos estão lá para promover a democracia e levar a civilização? Os americanos estão acima de interesses mesquinhos por coisas como o petróleo.
Era um perigo o avanço muçulmano. Não que apoiasse, mas PIB entendia o norueguês que matara 77 pessoas por considerar que o governo de seu país era leniente demais com os muçulmanos.
A raça branca está em perigo.
Entretido em salvar a raça branca, PIB não percebeu o tempo passar. Só notou pela fome que já era hora de comer. A opção, mais uma vez, foi pelo Big Mac do shopping, e mais a Coca dupla. Detestava os ativistas dos direitos dos animais porque combatiam os Big Macs. PIB estava tecnicamente obeso, mas na semana que vem iniciaria uma dieta e começaria também a se exercitar.
Fim do expediente. A estagiária estava com um decote particularmente ousado. Talvez estivesse sem sutiã. PIB a chamou algumas vezes para discutir assuntos que na verdade não tinham por que ser discutidos. A questão era olhá-la. Valeu o dia, refletiu.
Na volta, mais uma vez foi tomado pela tentação de atropelar os ciclistas. “Quando você deseja muito uma coisa, todo o universo conspira a seu favor”. PIB se lembrou da frase de seu escritor favorito, Paulo Coelho. Então ele desejou muito que as bicicletas sumissem.
Xiitas.
Algum colunista escrevera isso sobre os ciclistas. PIB não lembrava quem era, mas concordava inteiramente. Os ciclistas são gente esquisita que deve fazer ioga e praticar meditação, suspeitava PIB.
Tudo gay!
Já incorporara para si mesmo a frase genial de Pondé.
Meu carro pequeno não contribui para o aquecimento global.
No churrasco de domingo, ia soltar essa. Teve um breve lapso de inquietação quando se deu conta de que os brasileiros que tanto contribuíam para a elevação do pensamento nacional já não eram tão novos assim, O próprio Merval era imortal apenas pela sua contribuição às letras, reconhecida pela Academia. Então lhe veio à cabeça a juventude sábia de Luciano Huck, e ficou mais sossegado.
A mulher não percebeu quando ele chegou. Não era culpa dela. A televisão estava ligada com som alto na novela da Globo. PIB lera várias vezes que as novelas tinham uma “missão civilizadora” no Brasil. Mais uma dívida dos brasileiros perante Roberto Marinho: a perpetuação das novelas. A mídia impressa brasileira reconhecia a “missão civilizadora” na forma de uma cobertura maravilhosa das novelas. Uma vez um leitor da Folha reclamou por encontrar na Ilustrada seis artigos sobre novelas.
O brasileiro só sabe reclamar. E reivindicar. Uma besta!
PIB deu um alô que não foi ouvido. Ou pensou ter dado. Sentou ao lado da mulher, e o silêncio confirmou para ele sua tese: depois de muitos anos de casamento as pessoas se entendem tão bem que não precisam trocar uma só palavra. Nem se tocar. É quando o casamento chega ao estágio da perfeição: ninguém tem que se empenhar para nada. A cada quinze dias, PIB tomava Viagra e descarregava as tensões sexuais com uma escorte que cobrava 400 reais.
Tá barato.
Não ligava para novelas. Mas soubera no escritório que Juliana Paes aparecia de vez em quando pelada. Passou por sua cabeça um pensamento rápido.
Talvez eu devesse pedir para a patroa me avisar quando a Juliana Paes ficar sem roupa.
Terminada a novela, era a sua vez na televisão. Futebol. Bacana o futebol passar bem tarde, depois da novela. Provavelmente a Globo pensara nisso para ajudar os pobres que moravam longe e demoravam horas para chegar em casa depois do trabalho.
“Boa noite, amigos da Globo!”
Um carisma total o Galvão. Subaproveitado. Devia estar no Ministério da Economia, e não narrando futebol. 
PIB lera que Galvão estava morando em Mônaco. Sabichão. Ficava muito mais fácil, assim, cobrir a Fórmula 1. Nunca alguém da estatura moral de Galvão optaria por Mônaco para não pagar imposto. Galvão certamente faria bonito na Dança dos Famosos, pensou PIB.
PIB não torcia a rigor para time nenhum. Era, essencialmente, anticorintiano. Com seu saco de pipocas na mão, viu, contrariado, o Corinthians vencer.
Amanhã os boys vão estar insuportáveis.
PIB queria muito ver o Jô.
Era um final de dia perfeito, ainda mais porque antes havia o aperitivo representado por William Waack. PIB achava um privilegio poder ver Waack não apenas na Globo como na Globonews. Os Marinhos podiam cobrar pela Globonews, mas não faziam isso para proporcionar cultura de graça aos brasileiros. PIB zapeava quando Waack dava suas lições na televisão, mas os fragmentos que pescava eram suficientes.
Jô. Não posso perder Jô. Uma enciclopédia. Podia ser editorislista do Estadão. Hoje ele vai entrevistar o Mainardi!
PIB bem que queria ver Jô. Ou pelo menos incluí-lo no zapeamento. Duas palavras de Jô valiam por mil das pessoas normais.
Mas não foi possível.
PIB acabou dormindo no sofá, do qual sua mulher achou preferível não o tirar, e onde ele roncou tão alto quanto o som da tevê — e teve, como sempre, o sono límpido, impoluto, irreprochável dos perfeitos idiotas.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Datafolha e a recuperação de Dilma

Datafolha e a recuperação de Dilma

Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

Como antecipei ao longo desta semana aqui no blog e nos meus comentários no Jornal da Record News, o inferno astral que abalou o governo da presidente Dilma Rousseff, após os protestos de junho e as más notícias na economia, mudou de lado nos últimos dias, e atingiu em cheio a oposição tucana, agora às voltas com o Metrôgate. Contrariando todas as previsões apocalípticas de analistas e colunistas, o governo não acabou.


Ao contrário, a nova pesquisa Datafolha deste sábado mostra a recuperação parcial da popularidade da presidente, que subiu de 30% para 36%, e a volta do otimismo quanto aos rumos da economia, com a maioria da população esperando melhoras quanto às expectativas de inflação, emprego e salários, que é o que realmente pesa na balança.

A principal razão para esta virada no astral da população em relação ao governo é a queda na inflação, que chegou em julho ao seu índice mais baixo nos últimos tempos, batendo em míseros 0,03%, ao mesmo tempo em que a cesta básica também atingia o menor valor em três anos.

Esta constatação contraria as análises que atribuíam a abrupta queda de popularidade de Dilma registrada nas pesquisas anteriores unicamente às manifestações de protesto que tomaram conta do país no mês anterior.

As notícias alarmistas sobre descontrole da inflação - em alguns casos pontuais houve, de fato, aumento de preços - e o carnaval que alguns porta-vozes do Instituto Millenium fizeram em torno da alta do tomate, colocando até colares do dito cujo no pescoço, é que, a meu ver, fomentaram um clima generalizado de mal estar na onda dos protestos "contra tudo e contra todos", que acabaram atingindo também o governo federal.

As propostas lançadas por Dilma após o tsunami de junho - consulta popular sobre a reforma política e o programa "mais médicos", entre outras -, bastante combatidas na grande imprensa tiveram, no entanto, amplo apoio da população, o que também pode explicar sua recuperação parcial na pesquisa Datafolha.

"Esta semana o governo saiu das cordas", eu respondi ao Heródoto Barbeiro no JRN quando ele me perguntou o que havia mudado no cenário político. Além da queda na inflação e no valor da cesta básica, também o anúncio da safra recorde de grãos serviu para dar um novo fôlego ao governo, ao mesmo tempo em que as revelações sobre os cartéis e as fraudes no Metrô paulistano jogavam os tucanos na defensiva.

Se a economia dava seus primeiros sinais positivos depois de muito tempo, também no campo político a presidente retomou a iniciativa ao promover um festival de reuniões com líderes de partidos da base aliada. Se até agora nada de muito positivo resultou destes colóquios, o fato é que Dilma retomou o diálogo com os parlamentares, que andava engasgado desde o início do ano.

Como casais em crise, Executivo e Legislativo pelo menos já estão conversando. E Dilma teve motivos para comemorar: "A queda da inflação é uma maravilha!". Quando os repórteres tentaram mudar de assunto, perguntando sobre se o tal do trem-bala sai ou não sai, ela desconversou: "A cesta básica é mais importante".

E é mesmo. Trem-bala, a esta altura do campeonato, em que as cidades exigem mais e urgentes investimentos em serviços de transporte público, é uma rematada bobagem. Melhor mesmo esquecer este assunto de uma vez por todas.

Com esta oposição, e se não errar muito, o governo Dilma pode confirmar as previsões do mago João Santana, que de vez em quando acerta, e até o final do ano voltar a índices de popularidade mais próximos aos do primeiro semestre, em que chegou a bater o recorde de 65% de aprovação. De quebra, afastaria de vez a onda em torno do "volta Lula".

Nesta sexta-feira, em viagem ao Rio Grande do Sul, Dilma parecia já saber das boas novidades da pesquisa e mostrou-se bastante animada com sua campanha pela reeleição, embora a negue: "Eu não faço campanha. Sabe por quê? Todo o resto tem que fazer campanha porque quer o meu lugar. Eu estou exercendo o governo. A troco de que eu vou fazer campanha? Eu vou é governar". É isto mesmo que ela deve fazer. O resto é consequência.

Metrôgate

A melhor definição da semana sobre o imbróglio em que os tucanos se meteram nos trens e trilhos do metrô paulistano foi dada hoje por um leitor da "Folha", Cristiano Rezende Penha, de Campinas, SP:

"De duas uma: ou o governo do PSDB é muito incompetente por não perceber que milhões de reais eram desviados há anos dos contratos do Metrô, ou o governo do PSDB é muito "competente" por desviar milhões de reais dos contratos do Metrô há anos e sem ninguém perceber".

Bom final de semana a todos.

Carta ao meu estuprador: dá próxima vez, pense na sua filha

Do Portal Vermelho


O texto é apócrifo, mas rico em detalhes, assustadores, mas que servem de exemplo sobre o que sofre uma pessoa durante e depois um estupro.

Por Victor Farinelli, no Blog Maria Frô



Este comovente relato deveria ser lido por todas as pessoas que pensam em emitir opinião sobre os temas de violência de gênero. Uma das coisas que mantém vivos os dogmas do machismo instalados na sociedade é a distância que as pessoas têm do drama de uma pessoa que viveu a violência sexual. O texto é apócrifo, mas rico em detalhes, assustadores, que servem de exemplo sobre o que sofre uma pessoa durante e depois um estupro, as consequências para sua autoestima, sua vida familiar, os traumas que ficam. No final, uma carta-desabafo ao estuprador e uma corajosa decisão de não denunciá-lo, e a explicação sobre porquê não o fez, ainda sabendo que isso seria o correto.

Uma contribuição ao debate sobre a violência de gênero no Brasil, que teve um avanço importante quando a presidenta Dilma Rousseff sancionou integralmente a PLC 3/2013. Mas ainda falta muito, falta enfrentar, como sociedade, toda uma cultura de naturalização da agressividade sexual, uma cultura que torna a violência sexual algo comum e aceitável, e obriga as vítimas a se sentirem culpadas, como aconteceu com a moça que conta o seu sofrimento abaixo. E também falta combater as raízes da desigualdade que explicam a impunidade – embora não seja o único fator que leva a ela, mas é um dos mais comuns.

Se você estuprou alguém, leia. Essa carta pode ser pra você.

Não vou me identificar para que meu pai não saiba dessa história. Quero evitar que sinta a enorme tristeza e indignação que as pessoas que gostam de mim sentiram quando contei o que me passou. Quero protegê-lo de todo o tipo de reação que essa história poderia desencadear nele.

Esse é também um relato a mais para que homens e mulheres possam entender melhor o que acontece na vida e na mente de uma pessoa que foi estuprada. É mais uma narrativa dos efeitos do machismo brasileiro do século XIX.

Quando aconteceu

Voltando da minha festa de aniversário no ano de 2009, um amigo de faculdade me acompanhou até em casa num dia frio. O convidei para entrar, assim esperaria o táxi dentro de casa, quentinha. Foi uma gentileza a uma pessoa com quem convivi na faculdade por mais de 5 anos. Mas parece que ele entendeu o recado de outra forma. Estávamos bêbados, e eu tinha total confiança nele. Nessa noite ele me estuprou. Por muito tempo não me lembrei do que aconteceu naquela noite. Apenas sentia uma angústia difusa e inexplicada, que pude entender aproximadamente dois anos depois.

Quando entendi o que aconteceu ou quando dei nome aos bois

Dois anos depois do ocorrido, me mudei à capital de outro país, depois de um ano de profunda angústia e tristeza na minha cidade natal. Decidi fazer uma pós-graduação fora, ou acabaria me matando se seguisse vivendo aí. Para conhecer mais gente e me envolver em um projeto artístico, me meti em um grupo de teatro, que “coincidentemente” trabalhava com improvisações sobre campos de concentração, cujos trabalhos deram origem a uma peça, meses depois. Durante uma improvisação, em meio a gritos, golpes e estupros simulados, minha memória voltou ao ano de 2009.

Durante esse exercício lembrei desse meu colega, sobre mim, na minha cama, me segurando pelo pescoço e me asfixiando. Me lembrei da luta para escapar daí e de como a cada tentativa de sair dessa relação sexual não consensuada – e com preservativo – , ele me batia mais. Lembrei como achava que ele ia me matar sem nem perceber, ou propositalmente. Me lembrei de como não entendia se a violência dele era dirigida a mim ou se era algo próprio dele. Me lembrei de como não entendia, no momento, sei se ele achava que eu gostava daquilo, ou se era pura maldade.

Nos momentos de consciência (tive momentos em que acredito ter desmaiado) lembro de tentar encontrar algo para golpeá-lo, e não encontrar. Recordei de quando uma professora de história mencionou casos de violência sexual e disse que para o sádico não interessa ver o prazer alheio. Fingi estar gostando, não funcionou. Pensei então que do que ele gostava era da minha submissão e humilhação.

A saída que encontrei foi dizer a ele: “Vai pra casa, não estou no meu melhor dia. Quero passar uma noite incrível com você e já estou cansada… Você é incrível e merece o meu melhor”.

Ele parou. “Entendeu”. Era o melhor que eu poderia dizer a uma pessoa narcisista e psicopata. Ele se convenceu dos elogios, acreditou em mim.

Sua resposta pra isso foi: “Tudo bem! Vem aqui, encosta a cabeça no meu peito. Sabia que eu gosto de você desde o primeiro momento que te vi?” Ele queria demonstrar afeto. Não fui. Permaneci encolhida, nua e protegida por um travesseiro, no outro lado da cama.

Mandei ele embora engolindo o mar de choro dentro de mim. E sorri. O tratei como um Rei que teria sua grande recompensa no futuro. Não lembro como estive depois que ele saiu pela porta, nem dos dias seguintes. Não me lembro do que fiz, se fiz, para onde fui. Apaguei. Sei que deletei meu MSN e desapareci do campo de visão dele, na medida do possível.

As reações das pessoas próximas

Dias depois fui falar sobre o ocorrido com meu ex-namorado num café, onde chorei muito, sem pudores e sem lenços de papel, a ponto de voltar pra casa com os punhos das mangas e parte da blusa molhada de lágrimas. Eles se conheciam. Saímos algumas vezes junto com o então futuro estuprador e outros amigos mais, todos, enquanto namorávamos. Ele não demonstrou grande empatia e tampouco me apoiou. Disse que eu não podia fazer nada, porque o cara era poderoso e eu era uma defensora da liberdade sexual. A justiça decidiria contra mim e eu acabei considerando que ele tinha razão.

Depois, em algum momento, falei com meu melhor amigo e não sei se ele acreditou em mim. Nessa ocasião comecei a ter dúvidas se houve estupro ou se foi consensual. No mesmo período duas amigas próximas acreditaram, enquanto outras pessoas ignoraram ou fizeram pouco caso. Não era um assunto fino para mencionar em mesa de café ou durante um chá. E bastante incômodo para uma cerveja ou um vinho. Não mencionei o ocorrido por muito tempo e com essa atitude tudo parecia seguir normalmente. Eu achava que o ocorrido não tinha o poder de me afetar diretamente.

Em nenhum momento as pessoas que souberam se prontificaram a me acompanhar para fazer uma denúncia. Pelo contrário, lhes parecia normal que eu seguisse convivendo com a presença dessa pessoa nas salas e corredores da faculdade ou em cada lugar que eu ia para “me divertir”. Por sorte tive amigas que me protegeram de encontrá-lo, me avisando de onde ele estava para que não nos cruzássemos. Com o tempo era mais difícil esconder o nojo e a raiva, e vê-lo simplesmente me deixava deprimida e me fazia sentir muito vulnerável por dias.

Estupro é uma palavra difícil de pronunciar

Nos meses seguintes oscilei entre acreditar que houve estupro e que não houve estupro. E as vezes preferia acreditar que a culpa era minha por tê-lo deixado entrar, crer que eu poderia ter passado uma mensagem dúbia pra ele, ou simplesmente busquei. Não sei. Era mais fácil para mim pensar que eu era a responsável. Além disso, o mundo em volta me dizia que eu tinha culpa. O lado mais frágil, a mulher estuprada, ainda que feminista e formada na área de ciências humanas, acredita ou opta por acreditar que foi responsável, eu. Era mais fácil pensar que havia tido uma experiência sexual diferente e violenta do que me classificar como vítima, enfrentar as consequências de uma denúncia e carregar estigmas.

Me surpreendi quando um menino com quem saía – por quem estive perdidamente apaixonada por meses – , e conhecia ao estuprador, me disse, em tom de decepção: “eu sei que você deu pra ele!” (O estuprador tinha espalhado pra todos que tinha “me comido”!) Minha resposta foi: “não, ele praticamente me estuprou”. Praticamente. “Praticamente me estuprou” foi o mais próximo que consegui chegar. Foi a única nomeação possível que não me fazia entrar completamente dentro da categoria de mulher estuprada.

Eu entendia muito pouco do que tinha me passado, mas depois da improvisação teatral, fora do Brasil e do ambiente opressor, passei a entender. E Brasil passou a significar dor.

Voltando à cidade natal

Voltei à minha cidade natal para as festas de final de ano, carregando um pacote de memórias bastante denso que se arrebentaria a qualquer momento. E foi um dia depois da minha chegada. Dentro de um par de semanas tudo o que eu tomava como cômodo e seguro não existiria mais.

No dia seguinte à minha chegada fui encontrar quem foi meu melhor amigo em 2009. Marcamos para tomar uma cerveja no bar de sempre e lá pelas tantas aparece o estuprador, que havia sido convidado pelo meu amigo. Nesse momento tive a prova de que a solidariedade masculina se sobrepunha a nossa amizade, ou que ele não tinha acreditado em mim. Efetivamente nossa amizade tinha grandes limitações.

O estuprador chegou e quis dar um beijo na bochecha, mas não permiti. O máximo que pude fazer foi “oferecer” minha mão para um aperto cordial (o que hoje me parece absurdo e descabido). Durante o aperto de mãos ele disse que não sentia minha mão e que eu deveria apertar com força. Eu nem podia olhar na cara dele, mas apertei mais forte porque no fundo queria devolver aquela violência toda. Ao sentir minha força ele apertou mais forte ainda, e me machucou bastante. Pra completar disse algo como: “uma pessoa que não aperta suficientemente forte não pode ser levada a sério”. Soou como uma ameaça.

(Passei duas semanas sem conseguir abrir e fechar a mão direita, pelo aperto que ele me deu na frente do meu “melhor amigo”)

Fiquei paralisada, tomada de sentimentos como nojo e desprezo. Liguei pra uma amiga e fomos pra outro lugar. Ela, uma pessoa querida e profundamente iluminada, me ajudou muito a não ficar imobilizada pelo medo naquela noite. Mas as opressões seguiriam.

A dor de usar argumentos machistas para evitar violências machistas

Na mesma noite, em outro lugar, encontrei um colega do mestrado, que a partir de determinado ponto começou a discutir sobre a primeira guerra mundial com outro cara que possivelmente seria neo nazista. Depois de alguns minutos o neonazi tentou me agarrar e tive que usar argumentos estilo “família, tradição e propriedade” para que ele me soltasse. “O que você faria se alguém agarrasse uma irmã ou filha sua na rua, sem que ela queira, como você está fazendo comigo?” Eu tremia de medo. É bastante comum que nazis estejam armados e esse cara estava completamente fora de si gritando estar morrendo de tesão por mim. Ele entendeu. Disse que se fosse com uma irmã dele ele ficaria furioso. “Então”, disse, e saí rapidamente buscar minha amiga.

Acham que esse meu colega do mestrado me tirou dali? Não. Ele desapareceu esquina abaixo. Me deixou sozinha. Por “sorte”, sendo feminista e de esquerda, eu conhecia suficientemente a concepção de mundo de um jovem nazista para poder convencê-lo, por seus próprios argumentos, de que ele não deveria me agarrar contra minha vontade. Doeu na minha alma.

Cheguei em casa exausta. Existencialmente exausta. Vi que ninguém estava do meu lado e que o que me passava por dentro escorria pelos meus poros. Já não tinha mais como esconder de mim mesma o que eu vinha sentindo.

Contar para a família

Tinha marcado de reencontrar meu orientador porque tinha planos de fazer pós no exterior, e nossas conversas sempre são muito agradáveis. Estava fragilizada pelos últimos acontecimentos e e lhe contei o que havia acontecido. Me fez bem. Achei que seria melhor começar contando pra ele antes de contar para minha família. Essa notícia o deixou profundamente mal e me senti ainda pior por ter contado. Vi que ele quis me ajudar, mas não havia nada a fazer porque nesse momento eu não estava disposta a denunciar. E sim, ele foi a única pessoa que vi fisicamente disposta a ir à delegacia de mulheres imediatamente. Mas tive um medo de perder o controle sobre os efeitos de tornar pública a história.

Havia chegado o momento de contar para a minha mãe porque sentia que ela acabaria sabendo de alguma maneira e a denúncia parecia eminente.

Foi durante um almoço. Ela se levantou para recolher os pratos e pedi pra ela ficar. Ela deve ter sentido que vinha uma bomba, porque empalideceu. Não mencionei detalhes. Não vi nenhuma expressão na cara dela e não tenho ideia do que sentiu. Me disse coisas como “Me sinto meio culpada por ter te deixado ir morar sozinha… Sabia que algo assim podia acontecer”. Depois de contar, depois do silêncio dela, enlouqueci. Me ajoelhei e pedi perdão pra ela. Perdão por estar compartilhando algo tão terrível, que eu preferia ter guardado pra mim. Ela se manteve fria por dias e dias. Em alguns momentos, ao longo dos últimos anos, disse que se o visse o mataria. Eu não tenho dúvidas.

Influências da grande mídia na mesa da cozinha

Chegou janeiro e com ele o Big Brother Brasil. Numa das festas do programa, um dos participantes estuprou uma menina, que dormia, bêbada. Gerou uma discussão enorme (todo mundo lembra) e para mim tinha ficado muito claro que havia existido estupro, como para outras centenas de mulheres. Sim, é daquele cara cujos advogados atualmente pedem 20 milhões por danos morais à Globo.

Nesse momento eu já me sentia mais cômoda para falar sobre o tema estupro, que chegou à mesa, durante o almoço. Então minha mãe decidiu opinar sobre o caso, dizendo: “quem mandou beber? Se a menina estava lá, estava pra isso, a culpa é dela”. A culpa era dela, para minha mãe. A culpa era dela, a culpa era dela, a culpa era dela. Isso ficou ecoando na minha cabeça numa velocidade enorme até eu não resistir mais.

Minha reação se expressou num grito visceral de ódio, raiva, decepção. Profunda decepção. Eu nunca havia gritado desse jeito, na minha vida. Aquela não era mais a minha casa. Eu gritava pra ela dizendo: “não acredito que você está me dizendo isso, eu não acredito”. Tive vontade de quebrar a casa e ela me olhava como quem não entendia nada, assustada. Meu pai, por sorte, não escutou. Emiti as passagens e voltei pro exterior 3 dias depois,. Depois de longos meses de conversas bastante difíceis, fomos nos reconciliando e ela reconquistou minha confiança. Mas tive que pedir pra ela não tocar mais no assunto.

*Mãe, se você vier a ler isto, saiba que eu te amo, muito. Que você não teve culpa, nem eu. Isso é o que querem colocar na nossa cabeça, por décadas, para nos fazer sentir responsáveis, quando somos vítimas. Eu já não estou mais magoada. Tudo passou, Escrever agora é parte do processo de compartilhar minha experiência.

- Que sorte eu tive por poder imigrar e por poder escapar tão facilmente…. Infelizmente com a maioria das mulheres, não é assim :( -

Parte do meu medo de contar para o meu pai é de que reaja da mesma maneira. E meu maior medo é que não encontre nele o apoio que eu há anos sonho que ele me daria, além de, evidentemente, expor a ele uma situação que poderia afetar sua saúde ou incentivá-lo a reagir violentamente contra o estuprador.

A fé na humanidade e o machismo das mulheres

Devo dizer que depois do ocorrido encontrei homens maravilhosos. Em todas as relações posteriores (seja em âmbitos de amizade, trabalho, romance ou sexo), os homens que conheci foram extremamente respeitosos e generosos comigo na superação do meu trauma. Em especial meu namorado, que tem uma conduta impecável comigo, me ajudando muito no processo de expressar o que aconteceu e me adaptar a novos ambientes e situações.

Faço questão de ressaltar isso porque não existiu mais empatia de mulheres ou de homens. A propósito, existem muitas mulheres que indiretamente estupram outras, quando covarde e comodamente se posicionam a favor do estuprador. Não é uma questão de ter nascido com uma vagina ou um pênis, de ser trans, bi, hetero, gay. É um posicionamento político contra ou a favor da violência de gênero. Cruzo com várias versões femininas do Rafinha Bastos diariamente e seria absurdo ignorá-las como perpetuadoras do sexismo. (Acho que um dos principais desafios do feminismo hoje é gerar solidariedade entre as mulheres, e tirá-las de uma condição de competição para a atenção dos homens).

Também me encontrei numa situação em que uma amiga, militante feminista, me culpava por não ter denunciado meu estuprador, argumentando que eu seria culpada por novas vítimas dele. Apesar de ter grande afeto por ela, não pude vê-la mais porque considero esse um argumento essencialmente machista, mas com embalagem feminista. Essa posição culpabiliza mulheres vítimas e infantiliza estupradores, além de impor diretrizes de comportamento, novamente, às mulheres, quando a culpa e a responsabilidade dos atos seguem sendo do estuprador e seus cúmplices.

Denunciar?

Entendo a utilidade da identificação de estupradores, por parte da Justiça. Entendo a ideia de criar um cadastro de estupradores. Mas entendo que uma denúncia é incompatível com o meu caso. Eu não tenho suficientes recursos para evitar um processo contra difamação, danos morais, ou algo similar por parte de quem me estuprou. Ele, com o poder político e econômico que tem, comparados aos meus, me cansaria pelo cansaço e me faria perder em várias instâncias. Mas o mais importante é que sustentar algo assim me levaria a seguir atormentada por esses fantasmas e memórias por mais tempo do que gostaria. E quero aplicar meu tempo na militância. É diferente ser estuprada por um zé ninguém ou por um filhinho de papai protegido por elites políticas.

Em virtude dessa situação, minha opção é diferente. Por isso decidi que ia escrever esse relato, e decidi que faria publicar esse relato, e que esse relato chegaria até ele, anonimamente, sem nomeá-lo. Decidi que ele se reconheceria nesse relato, e que cada uma das pessoas envolvidas se reconheceriam nele. E que outras tantas pessoas se reconheceriam nesse relato, sem ter feito parte dele.

Carta ao “meu estuprador”

Ao meu estuprador (e a tantos outros potenciais estupradores),

Demorei pra me pronunciar, mas soube que você é papai e teve uma filha.

Espero, sinceramente que as mulheres da sua família estejam bem, saudáveis e felizes. De coração.

Não sei se você mudou ou se o que aconteceu comigo foi excepcional (tenho todos os indícios de que não). Espero que você não repita mais esse comportamento. Nunca mais. E lute contra ele adentro de si e dos espaços em que circula.

Caso você venha a sentir desejos e uma vontade visceral de possuir uma mulher, te peço que lembre da sua filha (uma irmã ou mulher que você ama muito).

Pense se você gostaria de vê-la sofrer e ter sua vida arrasada por alguns minutos de prazer egoísta de algum imbecil da faculdade dela. Pense na quantidade de dias, anos e meses, em que seus olhos não teriam brilho, e em quantos dos dias da sua vida o suicídio passaria por sua cabeça.

Pense no potencial de uma vida feliz e saudável, desperdiçado por uma ejaculação patética de alguns segundos, de alguém que se crê demasiado importante. Pense em como ela perderia a capacidade de abrir a porta a amigos, como ela perderia a capacidade de se deixar tocar por alguém que a ama e respeita, e como ela teria que abandonar vários projetos de futuro.

Pronto. Você se colocou no lugar do meu pai, que algum dia deve ter jurado pra ele mesmo me proteger acima de todas as coisas, como você provavelmente pensa agora a respeito do seu bebê.

(O que você sentiria vontade de fazer contra alguém que estupra a sua filha?)

Eu quero que meu pai tenha uma velhice saudável e feliz. É por mim e por ele que essa história se encerra aqui e eu não vou te denunciar.

Mas não vou te perdoar, nem perdoar quem provoca violência de gênero. Serei implacável contra cada abuso, contra os micromachismos, contra as violências de gênero diárias que sofrem todas as mulheres. Espero que sua filha seja assim com você.

Você ainda vai agradecer como nós, feministas, vamos entregar um mundo mais justo para os teus filhos. Mundo podre que pessoas como você ajudaram a construir. Canalha.

Com todo o desprezo do mundo,

Uma mulher que teve a vida revirada por sua culpa

Carta ao meu estuprador: dá próxima vez, pense na sua filha