sexta-feira, 22 de agosto de 2014

A história secreta de Míriam Leitão

Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

Simplesmente extraordinária a história de Míriam Leitão na ditadura.

Uma menina de 19 anos ser trancada nua, num aposento escuro, na companhia de uma jiboia.

Grávida, além do mais.

Que mentes pervertidas poderiam imaginar uma tortura dessas?

Míriam nunca contara essa história, e acabou, tantos anos depois, convencida a fazê-lo pelo jornalista Luís Cláudio Cunha.

Míriam, codinome Amélia, era uma jovem idealista que militava no PC do B.

Tão impressionante quanto a tortura a que ela foi submetida, ou quase tão, foi a reação de muitas pessoas, sobretudo na esquerda.

É como se a cobra angariasse mais simpatia que Míriam.

Tantos anos na Globo – jornal, rádio, tevê, internet – acabaram fazendo de Míriam Leitão um dos jornalistas mais detestados pela esquerda.

Uma pergunta ocorreu a várias pessoas: como alguém torturado tão barbaramente pela ditadura pôde se tornar um símbolo de uma empresa tão vinculada à ditadura como a Globo?

Síndrome de Estocolmo?

A resposta é complexa.

Para jornalistas da geração de Míriam, não havia tantas alternativas de carreira assim.

No Rio, especificamente, de onde ela é, você tinha o Jornal do Brasil e o Globo. Depois, com o colapso do JB, só o Globo.

Não citei a TV Globo por uma razão. Na época em que Míriam começou a carreira, no final dos anos 1970, televisão era vista como um lugar para jornalistas de segunda linha, que não sabiam escrever.

Míriam tentou a vida em São Paulo. No começo da década de 1980, trabalhou na Veja.

Fomos, por algum tempo, colegas de redação, ela na área de política, eu na de economia.

Míriam, na Veja, encontrou outra cobra: Mário Sérgio Conti, seu chefe.

Sobreviveu à primeira, mas não à segunda.

Uma das cenas que mais me marcaram na carreira foi a forma como ela foi demitida por Mário Sérgio.

Ele esperou que ela terminasse a última tarefa, alta madrugada de sexta para sábado, esgotada e descomposta, e então a executou.

Não sei se havia razões técnicas para a demissão. Naqueles dias, era preciso ter um texto apurado para sobreviver na Veja, e desconheço se era o caso de Míriam.

Mas ainda assim. Foi uma crueldade mandá-la embora naquela hora e daquele jeito. O senso de decência determinava que se esperasse Míriam se recuperar da exaustão do fechamento para dar-lhe a má notícia.

De volta ao Rio, havia para a jovem Míriam dois possíveis EMPREGOS. O JB já agonizava, e a Globo passava a ser virtualmente o único lugar para um jornalista fazer carreira no Rio.

Míriam acabou indo para o Globo. Quando você tem que pagar contas, seu rigor em relação ao empregador não é tanto assim.

A versatilidade ajudou-a. Na Globo Míriam, além do jornal, se deu bem no rádio e na televisão. Chamavam-na lá de “Multimíriam”.

Pouco a pouco, até por sua presença em tantas mídias, ela foi-se identificando com a Globo.

Isso acabaria transformando-a num dos alvos preferidos da esquerda, para a qual Míriam virou sinônimo de previsões apocalípticas econômicas.

Nos últimos meses, novas Mírians tomaram as ruas em protestos nos quais você via cartazes que acusavam a Globo de sonegadora e pediam que ela mostrasse o Darf.

Jornalistas da Globo eram hostilizados nas ruas, a ponto de terem que esconder o logotipo da emissora nos microfones.

O que as novas Mírians diriam à Míriam original se a encontrassem num protesto?

O que a Míriam original diria às novas Mírians?

Não tenho a menor ideia. Mas que seria divertido ver isso acontecer, seria.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O risco que Bonner está correndo


Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

Bonner, com a série de entrevistas com os candidatos à presidência, talvez não faça ideia do risco que corre.

Sua agressividade deu a elas – às entrevistas – uma dimensão muito acima do que você poderia imaginar em sabatinas na Globo.

Justiça seja feita: a agressividade esteve sempre presente. Não foi seletiva. O que foi diferente foi a reação dos entrevistados.

Aécio, por ser o primeiro da fila, foi claramente surpreendido, e pagou o preço disso com respostas titubeantes e evasivas.

Dilma já sabia o que a esperava, e se preparou para a pancadaria.

Bonner, em suma, virou notícia.

Numa empresa familiar, isto pode ser fatal.

A regra de ouro em empresas familiares é a seguinte: não brilhe mais que seu patrão, ou você está frito.

Em meus dias de editor da Exame, era comum darmos capas com executivos que estavam fazendo grandes transformações em empresas familiares.

Dias, semanas depois, vinha a notícia: o dono demitiu nossa capa.

Ciúme.

Na Globo, isso é ainda mais acentuado.

Não basta à família Marinho ter total controle sobre o que é dito ou não dito no Jornal Nacional.

É preciso que todo mundo tenha ciência desse controle.

O jornalista Evandro de Andrade, que dirigiu o Globo e o telejornalismo da empresa, sabia perfeitamente disso.

Em sua biografia sobre Roberto Marinho, Bial conta que Evandro conseguiu o cargo de editor do Globo depois de garantir ao patrão que era “papista”.

Isso queria dizer o seguinte: o Papa Roberto mandou, está mandado. Não se discute.

Evandro jamais apareceu, porque o papismo não admite dupla autoridade. Por isso chegou aonde chegou. E por isso só saiu da Globo morto, num caixão.

No Estadão, nos anos 1990, Augusto Nunes desafiou a regra das empresas familiares. Tinha assumido fazia pouco tempo o jornal, e topou ser capa da revista Veja São Paulo. Aparecia como uma espécie de salvador dos Mesquitas. Aquela capa foi seu epitáfio no Estadão. Dias depois, estava fora.

O telejornalismo da Globo nunca teve um âncora exatamente por esse motivo. Um âncora se destaca, ganha notoriedade, autonomia, e pode falar coisas que os Marinhos não querem que sejam ditas.

Bonner é uma extensão modernizada de Cid Moreira. Dá a impressão de ter mais conteúdo, mas no fundo o que faz é ler.

E é assim que ele sempre foi visto, dentro e fora da Globo: um leitor de notícias que escrevem para ele.

Esta série inusual de entrevistas muda a forma como Bonner é visto fora da Globo, pela extraordinária repercussão.

Ele ganhou estatura. Parece ter uma influência que ninguém jamais enxergou nele.

É certo que nenhuma pergunta que ele fez e fará aos candidatos escapou do crivo e da aprovação dos Marinhos, nos bastidores.

Mas isso o mundo exterior ignora. E de repente Bonner parece, para a voz rouca das ruas, ter o tamanho de um Shaquille O´Neal.

Isso atrairá a ele, internamente, doses copiosas de raiva e inveja.

Começa no seu chefe, mas vira um problema mesmo quando chega ao acionista.

O maior risco, para Bonner, será acreditar que pode voar. Não pode. Só poderia se a emissora fosse sua.

Ou se a Globo não fosse, como é, um papado, como entendeu tão bem Evandro de Andrade.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Pastor Everaldo diz que privatiza tudo, inclusive Petrobras

Do Portal Vermelho


Dando sequência à série com os presidenciáveis, o Jornal Nacional, da Rede Globo, entrevistou o candidato do PSC, Pastor Everaldo, nesta terça-feira (19). Na linha do falem mal, mas falem de mim, o candidato disse que, se for eleito, “vai privatizar a Petrobras”.


Everaldo disse que em seu programa de desmonte do Estado só pouparia os bancos.Everaldo disse que em seu programa de desmonte do Estado só pouparia os bancos.
Mas a Petrobras seria só a ponta do iceberg. Everaldo afirma que vai transferir todas as estatais à iniciativa privada. “Privatização, privatização. Tudo que for possível”, disse o pastor e, Bonner, num ato falho, respondeu: “muito bem”.

Ainda empolgado, Bonner perguntou em seguida se a privataria incluía o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, mas o pastor disse que ambos representavam a “segurança do sistema financeiro”, então pouparia.

“Vou fazer corte na carne. Defendo um estado mínimo. Vou reduzir o número de ministérios de 39 para 20”, frisou o candidato, apadrinhado pelo também pastor Silas Malafaia, que fez a apresentação do candidato em seu primeiro programa de TV.

O presidenciável também foi questionado sobre a postura do seu partido de oposição às vésperas do período eleitoral, já que antes compunha a base do governo. “Nós, natural, esperávamos um espaço no governo. Não é um toma-lá-dá-cá. Ficamos decepcionados pela maneira como foi formado o governo”, justificou o pastor.

http://www.vermelho.org.br/noticia/248035-1

Candidatura de Marina é aventura a serviço da direita

Marina Silva, a aventura de uma saída à direita.Marina Silva, a aventura de uma saída à direita.



A Executiva Nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB) reúne-se nesta quarta-feira (20) para formalizar a indicação da ex-senadora Marina Silva como candidata à Presidência da República, em substituição a Eduardo Campos, morto em trágico acidente aéreo na semana passada. 


É visível o assanhamento da direita em torno da nova situação criada, que marca uma mudança no quadro político-eleitoral.  

Marina Silva precisará superar divergências internas no próprio PSB, que parecem insanáveis. O PSB historicamente compõe a esquerda brasileira, com compromissos reais com a conquista do progresso social. Em que medida candidaturas socialistas em todos os níveis comprometidas com estes anseios (deputados estaduais e federais, governadores e senadores), aceitarão uma candidata de caráter neoliberal e conservador como Marina Silva?
 
Marina Silva já deu sobejas demonstrações de forte personalismo e de que suas inclinações, ao contrário da imagem que tenta vender como protagonista da "nova política", são para a direita. Manifestações de cardeais tucanos – como o ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Carlos Mendonça de Barros – são eloquentes nesse sentido. Segundo ele, um eventual governo com Marina à frente seria acompanhado pelo desembarque de notáveis tucanos para apoiá-la na administração e na condução da política econômica. O economista tucano mencionou, de saída, os gurus econômicos de Marina Silva, os tucanos André Lara Resende e Eduardo Gianetti da Fonseca. Eles aplicariam num eventual governo Marina a cartilha tucana (“trazer inflação para a meta, realinhamento de preços administrados, disciplina fiscal, independência do Banco Central, etc...”). O governo que teria, no Congresso Nacional, forte apoio de "diversos quadros de melhor qualidade”. A “melhor qualidade” é indicada, aqui, pela plumagem que exibem. Ante a dificuldade do candidato do PSDB Aécio Neves decolar nas pesquisas de opinião, há tucanos de alta plumagem que não escondem a tentação de elaborar um plano alternativo, com Marina à frente.
 
O desenvolvimento da campanha eleitoral indica amplas possibilidades de vitória do campo democrático-popular, com  a reeleição da presidenta Dilma Rousseff. A candidatura de Marina Silva sinaliza, tanto quanto a de Aécio Neves, uma ameaça às conquistas alcançadas desde 2003, nos governos Lula e Dilma. A tentativa de eliminar essas conquistas num governo exercido por uma personalidade como Marina Silva e com o apoio de setores da direita poderia ser algo explosivo. Marina não tem compromissos democráticos nítidos quanto aos movimentos sindicais e populares, com a política de valorização do salário mínimo, do trabalho e do emprego. Muito menos com a realização de uma política externa soberana. Comprometida com interesses facciosos de ONGs internacionais, não tem capacidade de unir as forças vivas da nação para enfrentar os desafios de um mundo conflituoso e sempre ameaçador para a soberania nacional dos países que lutam para se firmar como nações independentes e progressistas.

As mudanças progressistas iniciadas em 2003 precisam continuar e avançar. A direita tem sido, historicamente, o principal fator de crise e instabilidade política no Brasil e isso se deve fundamentalmente à sua insistência na defesa de seus privilégios contrários ao bem-estar dos trabalhadores e do povo e afrontosos à soberania nacional e ao desenvolvimento do país. 
 
As mudanças ocorridas na última década elevaram os brasileiros a outro patamar democrático e de bem-estar, com renda, emprego, desenvolvimento e perspectiva de fortes melhorias no sistema educacional, no atendimento público à saúde e na segurança pública. Os brasileiros, hoje, têm orgulho de sua nação. Não podem colocar isso em risco apostando numa aventura cujo nome é Marina Silva.

José Carlos Ruy, para o Vermelho

http://www.vermelho.org.br/noticia/248029-1

 

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Datafolha: Dilma lidera com folga disputa , Aécio Cai

Datafolha: Marina entra na disputa com 21%, contra 20% de Aécio e 36% de Dilma

Em um eventual segundo turno, ela teria 47%, contra 43% da presidente

POR 




RIO - Pesquisa Datafolha divulgada na madrugada desta segunda-feira já colocando Marina
 Silva como candidata do PSB à Presidência da República mostra que ela entra na disputa
 com 21% das intenções de voto no 1º turno, um ponto à frente de Aécio Neves (PSDB), 
que tem 20% – o que configura empate técnico. Dilma (PT) lidera com 36%, segundo a
 sondagem.
Segundo o Datafolha, a entrada de Marina Silva na disputa afasta a chance de a eleição
 ser decidida no primeiro turno.
As intenções de voto nulo ou em branco, que eram de 13%, caem com a entrada de
 Marina. Segundo o Datafolha, com Marina candidata a taxa recua para 8%.
 O percentual de indecisos, que era de 14%, cai para 9%.
Na simulação de segundo turno, Marina tem 47% das intenções de voto, contra 43% da
 presidente (situação de empate técnico no limite da margem de erro, que é de dois 
pontos percentuais para mais ou para menos).
Contra Aécio, Dilma venceria o segundo turno por 47% a 39%. Na pesquisa de julho, 
o cenário era de 44% a 40%, ou seja, empate técnico.
O Datafolha não realizou a simulação de segundo turno em uma eventual disputa entre
 Aécio Neves e Marina Silva.
Em relação ao percentual de rejeição (os que disseram que não votam em um candidato 

de jeito nenhum), Dilma tem 34%, Aécio 18% e Marina 11%.
O Datafolha ouviu 2.843 eleitores em 176 municípios nos dias 14 e 15 de agosto.
Confira abaixo os números do Datafolha para o 1º turno na pesquisa
 estimulada (em que a relação dos candidatos é apresentada ao entrevistado):
- Dilma Rousseff (PT): 36%
- Marina Silva (PSB): 21%
- Aécio Neves (PSDB): 20%
- Pastor Everaldo (PSC): 3%
- José Maria (PSTU): 1%
- Eduardo Jorge (PV): 1%
- Luciana Genro (PSOL): 0
- Rui Costa Pimenta (PCO): 0
- Eymael (PSDC): 0
- Levy Fidelix (PRTB): 0
- Mauro Iasi (PCB): 0
- Brancos/nulos/nenhum: 8%
- Não sabe: 9%
2º turno / Cenário 1:
- Dilma Rousseff (PT): 47%
- Aécio Neves (PSDB): 39%
2º turno / Cenário 2:
- Marina Silva (PSB): 47%
- Dilma Rousseff (PT): 43%
Rejeição (percentual dos que disseram que não votam em um candidato de jeito nenhum)
- Dilma Roussef (PT): 34%
- Aécio Neves (PSDB): 18%
- Pastor Everaldo (PSC): 17%
- José Maria (PSTU): 16%
- Eymael (PSDC): 13%
- Levy Fidelix (PRTB): 13%
- Rui Costa (PCO): 13%
- Marina Silva (PSB): 11%
- Luciana Genro (PSOL): 11%
- Mauro Ias (PCB): 11%
- Eduardo Jorge (PV): 10%


Read more: http://oglobo.globo.com/brasil/eleicoes-2014/datafolha-marina-entra-na-disputa-com-21-contra-20-de-aecio-36-de-dilma-13638175#ixzz3AkCQKz77