sábado, 17 de dezembro de 2016

Bashar al-Assad: Os Terroristas são forças do ocidente mantidas na Síria por procuração dos EUA, França e Reino Unido


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assa
Entrevista: Presidente Bashar al-Assad da Síria
14/12/2016, Russia Today (vídeos e transcrição, aqui traduzida)
https://www.youtube.com/watch?v=1apBQGVMt2Q / https://www.youtube.com/watch?v=8n9fvfL6Ex8 e legendada em espanhol, vídeo
Maria Finóschna (RT): Senhor presidente, obrigado por nos receber.
Presidente Bachar al-Assad: Sejam bem-vindos a Damasco.

Do site Pátria Latina
RT: Comecemos com Aleppo, claro. Aleppo passa hoje por combates que talvez sejam os mais ferozes desde o início da guerra há seis anos aqui na Síria. Mas políticos e jornalistas ocidentais insistem em posições de forte oposição, com olhar muito negativo sobre os avanços do exército sírio. Por que acontece assim, na sua avaliação? Será que veem a derrota dos inimigos da Síria como derrota deles mesmos?
Bachar al-Assad:  Faz sentido, depois de todos esses terem fracassado em Damasco, porque o discurso dos três primeiros anos da guerra era “libertar Damasco das mãos do Estado”. Quando fracassaram, foram para Homs; fracassaram em Homs e concentraram-se contra Aleppo durante os três últimos anos. E para eles, seria a grande cartada no campo de batalha sírio.
Claro, sim, sempre houve terroristas nas várias regiões da Síria, mas não como Aleppo que é a segunda maior cidade do país, com dimensão política muito especial, militar econômica e até moral, depois que os terroristas foram derrotados.
Assim, para políticos e jornalistas ‘ocidentais’, a derrota dos terroristas é a derrotas das forças que o próprio ocidente mantém ‘por procuração’, na Síria, para dizer claramente. São forças do ‘ocidente’, mantidas aqui por procuração e, para essas forças, a derrota dos terroristas é a derrota dos países que supervisionam e abastecem os terroristas, sejam países regionais ou países ‘ocidentais’ como EUA, em primeiro lugar, a França e Reino Unido.
RT:  Para o senhor, então, eles veem o que está acontecendo como derrota direta deles?
Bachar al-Assad:  Exatamente, é exatamente o que quero dizer. A derrota dos terroristas é derrota desses países, porque os terroristas são o verdadeiro exército daqueles países, em luta aqui na Síria. Esses países não intervieram diretamente na Síria: mas, sim, a intervenção aconteceu mediante essas forças ‘por procuração’. As coisas têm de ser vistas desse modo, se se quer fazer análise realista. E, claro, as declarações dos terroristas nada mudam nesses fatos.
RT:  Palmira é agora mais uma zona problemática, tomada pelo Daech. Mas não se ouve tanta indignação ‘ocidental’ no caso de Palmira. O motivo é esse que o senhor já expôs?
Bachar al-Assad:  Exatamente. Se Palmira tivesse sido invadida pelo Exército Árabe Sírio, lá estaria em todos os jornais o discurso sobre dano aos patrimônio histórico. Imediatamente depois que expulsamos os terroristas que ocupavam Aleppo e a cidade foi libertada, autoridades ‘ocidentais’ e jornalistas dos veículos das grandes empresas de mídia põem-se a manifestar preocupação com os civis… Mas não se incomodam desde que os terroristas estejam no comando, matando civis, massacrando populações inteiras ou atacando Palmira e destruindo patrimônio cultural da humanidade, e não só na Síria.
Sua avaliação é correta. Se o senhor considera o momento escolhido para atacarem Palmira, vê-se claramente que está ligado ao que acontece em Aleppo. É resposta dos terroristas ao que acontece em Aleppo, ao avanço do Exército Árabe Sírio. Quiseram minar a vitória em Aleppo e, ao mesmo tempo, distrair a atenção do EAS, afastando-o de Aleppo e atraindo-o para Palmira para, assim, interromper a avançada em Aleppo. Não funcionou como os terroristas esperavam.
RT:  Também há informações segundo as quais o sítio de Palmira não estaria conectado só à batalha de Aleppo, mas também ao que se passava no Iraque. A coalizão dirigida pelos EUA, que cerca de 70 países, teria permitido que os terroristas do Daech que combatiam em Mossul partissem, o que teria reforçado o Daech aqui na Síria. O senhor acredita que tenha acontecido desse modo?
Bachar al-Assad:  É possível, mas exclusivamente para limpar as pegadas das autoridades norte-americanas e livrá-las da responsabilidade no ataque contra Palmira. Fingem que o exército iraquiano estaria atacando Mossul e que o Daech trocou Mossul pela Síria, e estaria explicado. Mas a explicação absolutamente não é essa.
Por quê? Porque os terroristas atacaram Palmira com poder de fogo e quantidade de soldados sem precedentes, em proporções que o Daech nunca teve antes dessa guerra. Atacaram num front muito extenso, de dezenas de quilômetros, o que pode corresponder a vários exércitos. O Daech jamais conseguiria isso se não contasse com apoio de vários estados, não de apenas um, mas de vários estados. Vieram com metralhadoras, canhões, artilharia diferente.
Não conseguiriam avançar nesse deserto, sem a ajuda e supervisão da aliança norte-americana que deveria atacar os terroristas, não ajudá-los, em Raqqa, Mossul e Deir-Ezzor. Mas não aconteceu assim. Fecharam os olhos para tudo que o Daech fizesse – ou mesmo, e é minha avaliação – a aliança norte-americana empurrou os terroristas na direção de Palmira.
Mas a questão não é Mossul, e não cairemos nessa armadilha. A questão é Raqqa e Deir-Ezzor, próximas, a apenas alguns quilômetros. Não chegariam até aqui sem ajuda de satélites e drones norte-americanos e sem apoio dos norte-americanos.
RT:  Qual o estado atual das forças do Daech?
Bachar al-Assad:  A força dos terroristas equivale à ajuda que obtêm do ocidente e de potências regionais. Na verdade, se os consideramos isoladamente, não são fortes, porque não contam com estruturas naturais de incubação social. Sem isso, os terroristas jamais têm força suficiente.
A força deles é o apoio que recebem (dinheiro, investimentos no petróleo, apoio de forças aéreas da aliança norte-americana…). Toda a força dos terroristas vem daí. Por isso lhe digo que a força dos terroristas equivale à força dos seus apoiadores e guias.
RT:  Ouvimos em Aleppo, que o senhor permitiu que alguns daqueles terroristas deixassem o campo de batalha, se quisessem. Por que o senhor fez isso? É claro que podem reaparecer em Idlib, por exemplo, se rearmar e se preparar para outros ataques, voltar para atacar os que libertam Aleppo.
Bachar al-Assad:  É verdade, e acontece assim já há vários anos. Mas é sempre uma questão de calcular vantagens e inconvenientes. Se os ganhos são maiores que as perdas, vale a pena fazer. Nesse caso, nossa prioridade é preservar a região, impedir que seja destruída; proteger civis que vivem lá há séculos; abrir vias para evacuar os civis por corredores humanitários e guiá-los para áreas controladas pelo governo sírio; e dar uma chance aos próprios terroristas para que mudem de ideia, reaproximem-se dos seus conterrâneos, voltem à vida normal e possam ser anistiados.
Se não aceitam, deixamos que partam com as armas – apesar de todos os inconvenientes, mas o que nos importa é afastá-los das áreas históricas. Sendo o caso, podemos dar-lhes combate longe dos setores construídos, fora da cidade, onde haverá menor número de mortos e menor destruição de monumentos e áreas construídas. Por isso estamos fazendo desse modo.
RT:  O senhor os chama de terroristas, mas os trata como seres humanos. O senhor fala em dar a eles uma chance “para que voltem à vida normal”.
Bachar al-Assad:  Raciocinamos exatamente desse modo. São terroristas porque lhes puseram armas nas mãos e lhes pagam salários para matar, destruir, praticar atos de vandalismo. É terrorismo. Em todo o mundo o que eles fazem é classificado como atos de terrorismo.
Mas ao mesmo tempo, são seres humanos. Praticam terrorismo, mas poderia não ser assim. São pessoas que se uniram ao terrorismo por incontáveis razões, por medo, por dinheiro, em alguns casos por razões ideológicas. Todos os que possam ser reabilitados e voltar à vida normal, que voltem a ser cidadãos respeitáveis. É nosso dever dar-lhes uma chance justa. É nosso trabalho de governo.
Não basta dizer “Vamos combater os terroristas”. A luta contra terroristas é como nos jogos de vídeo. Pode-se matar o inimigo, mas o próprio jogo gera e regenera milhares de novos inimigos. O que não se pode fazer é tratá-los como os norte-americanos os tratam: matar uma vez, duas vezes, três vezes, matar sempre e sempre, e quanto mais terroristas surjam para serem mortos, melhor! Não. Não somos assim. Nosso objetivo não é esse, não fizemos essa escolha. Se se pode mudar o próprio jogo, melhor para todos.
E tem funcionado. Temos tido bons resultados e um grande número desses terroristas, sim, mudam de perspectiva, vários retomam a vida de antes, vários unem-se ao exército sírio e passam a combater contra os terroristas que permanecem lá. Pelo nosso ponto de vista, é um programa bem-sucedido.
RT:  Senhor presidente, o senhor acaba de reconhecer que se ganha e se perde. Na sua avaliação, seu governo fez o suficiente para minimizar as perdas civis durante essa guerra?
Bachar al-Assad:  Fazemos o melhor que podemos. A Síria foi atacada, essa guerra não foi decidida por nós. Fazemos o que podemos fazer. Se é suficiente? Que cada um avalie. De fato, “suficiente” é sempre tudo que você consiga fazer em esforço máximo. É a minha capacidade pessoal, a capacidade do governo sírio, a capacidade da Síria, que é país pequeno enfrentando guerra que lhe fazem dezenas de países, centenas de gigantes da mídia-empresa dominante e outros meios e forças que se ergueram contra nós.
Não tenho dúvidas de que fizemos o melhor possível em situação dificílima. Afinal de contas, nada jamais será suficiente nessas circunstâncias e as ações humanas sempre são a resultante de coisas boas e justas, e de coisas imperfeitas e erradas. São assim as coisas.
RT:  Os países ocidentais ‘exigiram’ repetidas vezes que Rússia e Irã pressionassem o senhor para que pusesse fim à violência, como eles dizem. Recentemente, seis países ocidentais, em mensagem sem precedentes, requereram novamente a Rússia e Irã que pressionassem seu governo, exigindo um cessar-fogo em Aleppo.
Bachar al-Assad:  É verdade.
RT:  O senhor aceitará? Querem o cessar-fogo no exato momento em que o Exército Árabe Sírio está avançam do.
Bachar al-Assad:  Exatamente. Na política, é sempre importante ler as entrelinhas, não se deixar prender só nas linhas. O que eles ‘exijam’ não tem importância alguma. A tradução correta daquela declaração é: “Vocês russos, por favor detenham o avanço do exército sírio contra os terroristas.” Esse é o significado daquela declaração: “Vocês cometeram excessos na vitória contra os terroristas. A derrota deles foi excessiva. Não pode ficar assim. Vão lá e digam aos sírios que ponham fim nesse negócio de derrotar terroristas. Os terroristas têm de ser preservados. Têm de ser salvos”. Em resumo, aquele apelo dizia isso. O restante pode esquecer.
Em segundo lugar, a Rússia nunca – nem hoje, nem durante a guerra, nem antes da guerra, nem em momento algum, nem na época da União Soviética – a Rússia nunca, em momento algum tentou intervir nas nossas tomadas de decisão. Até hoje, cada vez que a Rússia teve opiniões ou conselhos a dar, independente de se seriam considerados ou não, sempre declaravam: “É o país de vocês, vocês sabem qual a melhor decisão a tomar. Expusemos o modo como nós vemos as coisas, mas se vocês veem as coisas de outro modo, vocês, sírios, sempre conhecerão melhor o país de vocês.” Os russos são realistas, além de respeitar nossa soberania e eles sempre defendem a soberania que repousa sobre o Direito Internacional e a Carta das Nações Unidas. Nunca aconteceu de os russos pressionarem os sírios e jamais pressionarão. Simplesmente, os russos não trabalham desse modo.
RT:  Em que condições está o Exército Árabe Sírio?
Bachar al-Assad:  É preciso avaliar em relação a duas coisas: primeiro no que tenha a ver com a guerra propriamente dita; segundo, em relação às dimensões territoriais da Síria. A Síria não é país de grande extensão territorial, portanto não pode manter exército gigante, em termos quantitativos. O apoio dos nossos aliados é muito importante, especialmente da Rússia e do Irã. Depois de seis anos, ou quase seis anos, de guerra – a guerra na Síria já ultrapassou em duração a 1ª Guerra e a 2ª Guerra Mundiais –, é claro e evidente que o exército sírio já não pode ter as dimensões que tinha antes dessa guerra.
Mas o que nunca nos faltou foi a determinação de defender nosso país. É a decisão mais importante. Nosso exército perdeu muitas vidas, nossos muitos mártires e nossos soldados hoje inválidos. São muitos, Sofremos perdas enormes em material. Do ponto de vista dos números, perdemos muito, mas nossa determinação nunca faltou. Hoje, essa determinação é ainda maior que antes da guerra. Mas, sim, não se pode deixar de considerar o apoio que recebemos da Rússia, do Irã, que acrescentaram eficácia e concretude à nossa determinação.
RT:  O presidente Obama suspendeu recentemente a proibição de fornecer armas a rebeldes sírios.
Bachar al-Assad:  Sim.
RT:  Como essa decisão pode traduzir-se em efeitos em campo? Como o senhor avalia a medida? Será que reforçará direta ou indiretamente os terroristas?
Bachar al-Assad:  Não estamos acreditando que ele só agora tenha posto fim à suspensão do fornecimento de armas. Acreditamos que o fornecimento já pode ter sido reiniciado bem antes, e só está anunciando para dar ao gesto algum tipo, digamos, de legitimidade política. Isso, em primeiro lugar.
Em segundo lugar, um ponto também muito importante: a data do anúncio e o ataque a Palmira coincidem. Há um nexo direto entre esses dois eventos, e a questão portanto é: quem, afinal, recebe essas armas? Em que mãos se encontram? Sabemos a resposta: nas mãos do Daech e da Frente al-Nusra, que são grupos que agem coordenadamente.
A anúncio do fim da proibição de enviar armas a terroristas está portanto diretamente associado ao ataque contra Palmira e à manutenção de outros terroristas dentro da cidade de Aleppo, porque, depois que foram derrotados em Aleppo, os EUA e o Ocidente têm de manter as suas forças nesses locais, para isso mantêm seus terroristas por procuração: porque absolutamente não têm interesse algum em resolver o conflito na Síria.
Assim sendo, o objetivo crucial do anúncio é criar ainda mais caos, porque os EUA criam o caos para administrá-lo a seu modo; e quando estão no comando do caos, procuram usar todos os diferentes fatores daquele caos para explorar partes diferentes do conflito, sejam internas ou externas.
RT:  Senhor presidente, como o senhor se sente, presidente de um país pequeno, no centro dessa onda gigantesca de outros países que não têm qualquer interesse em pôr fim a essa guerra?
Bachar al-Assad:  Exatamente. É algo que conhecemos desde sempre, mesmo antes dessa guerra, mas hoje sentimos mais forte, claro, porque os países pequenos sempre estão mais seguros em tempos de paz no mundo, de equilíbrio internacional. Sentimos bem isso a que a senhora se refere, depois do desmonte da URSS, quando só passou a haver a hegemonia dos EUA, e os EUA se dedicavam a fazer as coisas a seu modo, sempre ditando a política deles ao resto do mundo. Nessas circunstâncias, os países pequenos são os que mais padecem.
Sentimos também hoje, mas ao mesmo tempo há hoje mais equilíbrio, porque a Rússia assumiu um papel no processo. Por isso entendemos que quanto mais forte for a Rússia – e não falo só da Síria, falo de todos os países pequenos em todo o mundo –, quanto mais a China crescer e emergir, mais seguros os pequenos nos sentiremos.
A situação em que vivemos hoje é muito dolorosa, em todos os níveis: no plano humanitário, dos sentimentos, das perdas, em todos os níveis. Mas no fim das contas, a questão não é perder ou ganhar algum objeto de baixo valor: trata-se de perder ou ganhar o nosso próprio país. A Síria enfrenta uma ameaça existencial. Não se trata de um governo que seja derrotado por outro, um exército que seja derrotado por outro. Trata-se de um país que, se for derrotado, deixará de existir. As coisas para nós estão postas nesses termos. Por isso temos pouco tempo para sofrer ou chorar nossas dores e perdas; os sírios só temos tempo para lutar, para nos defender e para fazer o que seja preciso fazer, que a luta nos imponha.
RT:  Falemos do papel dos veículos de informação de massa, nesse conflito.
Bachar al-Assad:  Muito bem.
RT:  Todos os lados em luta nessa guerra foram acusados de ter feito vítimas civis, mas os veículos de mídia em todo o ocidente mantiveram-se em silêncio quase total sobre as atrocidades cometidas pelos rebeldes. Que papel têm os veículos e as empresas da mídia de massa, nesse conflito?
Bachar al-Assad: Em primeiro lugar, as mídias-empresas dominantes, e seus confrades dentro dos partidos políticos sofrem todos eles já há décadas, processo acentuado de corrupção moral. São empresas e profissionais absolutamente imorais. Não importa a causa da qual falem, evoquem ou usem como máscara (direitos do homem, civis, crianças…), essas questões são tomadas exclusivamente pela utilidade que tenha para promover a agenda política das mídia-empresas, de jornalistas e outros empregados daquelas mídia-empresas, para influenciar a opinião pública a favor daquela agenda, e, nessa nossa região, para induzir as massas a apoiarem a intervenção de países estrangeiros, seja intervenção militar ou política. Quanto a isso, os veículos e profissionais das mídia-empresas já não têm qualquer credibilidade.
Basta ver o que se passa nos EUA, onde está em curso uma verdadeira rebelião contra as mídia-empresas e veículos dominantes, porque mentiram e continuam a mentir aos seus próprios consumidores leitores e telespectadores. Podemos dizer que a opinião pública ou as populações no ocidente absolutamente ignoram o que verdadeiramente se passa aqui em nossa região, mas sabem, pelo menos, que os veículos e empresas de mídia, e os políticos cooptados por elas mentem aos cidadãos para promover a agenda pessoal individual deles mesmos e interesses exclusivos deles.
Por isso não acredito que os veículos da mídia dominante ainda consigam que os públicos acreditem no que veem noticiado. Por isso também é que aqueles veículos estão tendo de lutar para sobreviver no Ocidente, por maior que sejam a experiência deles e os meios e o dinheiro com que sempre contaram. Mas não têm mais qualquer credibilidade. Nenhuma empresa de mídia sobrevive se tiver credibilidade zero. E as empresas de mídia no ocidente não são transparentes. E já ninguém acredita nelas.
Por isso aquelas empresas estão sendo empurradas para as atitudes mais acovardadas, por exemplo, de censura. Uma rede como a sua [RT] inspira medo às concorrentes, porque pode expor a verdade e a notícia verdadeira acaba por desmascarar as manipulações de que são vítimas os cidadãos. Daí as reações destemperadas que temos visto.
RT: Por exemplo, a agência de notícias Reuters citou “Amaq”, que é o órgão de propaganda dos terroristas do Daech, no ‘noticiário’ sobre o cerco de Palmira.
Bachar al-Assad: Isso mesmo.
RT: O senhor acredita que contribuam para dar legitimidade aos terroristas, citando os veículos deles?
Bachar al-Assad: Mesmo que não citem as agências de notícias dos grupos terroristas, os veículos ocidentais adotam sempre a retórica dos terroristas. Mas se a senhora analisar o aspecto técnico do modo como o Daech se apresenta e se autopromove desde o início, em seus vídeos, atualidades, nos noticiários regulares deles em geral e nas suas ‘relações públicas’, as técnicas são apuradíssimas, são técnicas ocidentais. Vale a pena observar. São muito sofisticados.
Como se compreenderia que alguém que seja caçado, sitiado, desprezado em todos os cantos do mundo, atacado por aviões e bombas, que o mundo inteiro quer expulsar para bem longe de cada vila à qual o terrorista chegue, como é possível que grupos desse tipo de pessoas possam ter comunicação tão altamente sofisticada… a menos que contem com o máximo apoio disponível, das tecnologias mais modernas. O fato crucial, em minha opinião, nem é que o ocidente use como fonte a agência de notícias dos terroristas, mas o fato de que o ocidente adote o ponto de vista dos terroristas para observar o mundo; às vezes diretamente, às vezes indiretamente.
RT:  Donald Trump assumirá em poucas semanas suas funções de presidente dos EUA. O senhor mencionou os EUA várias vezes nessa entrevista. O que o senhor espera do novo governo norte-americano?
Bachar al-Assad: A retórica do candidato durante a campanha foi positiva no que tenha a ver com atacar o terrorismo, que é hoje nossa prioridade. Nenhuma outra coisa tem a mesma prioridade, e, portanto, só comentarei esse aspecto, o resto são questões norte-americanas, digamos, questões internas que não me dizem respeito.
A questão portanto é saber se Trump terá o desejo ou a capacidade de pôr em prática o que disse. A senhora sabe que a maioria dos veículos da mídia-empresa dominante e das grandes empresas, os lobbies, o Congresso, até alguns membros do próprio partido Republicanos opõe-se a ele. Querem cada vez mais ampla hegemonia, cada vez mais conflitos com a Rússia, mais ingerência em diferentes países, querem derrubar governos e o que sempre se viu há muito tempo. O presidente eleito Trump disse coisas que andaram noutra direção. Se conseguirá manter a mesma postura depois de tomar posse, mês que vem? Essa é a questão. Não sei.
Se conseguir, creio que o mundo poderá ser diferente, porque a coisa mais importante no mundo hoje, como já disse, é a relação entre Rússia e EUA. Se ele caminhar na direção de melhor relação com a Rússia, a maior parte das tensões que hoje dilaceram o mundo serão reduzidas. É muito importante para nós na Síria, mas acho que não se pode adivinhar o que virá. Para começar, o novo presidente não tem história política, e portanto não se tem nenhuma referência para julgá-lo. Em segundo lugar, ninguém pode saber como irão as coisas no mês que vem, e dali em diante.
RT: A situação humanitária na Síria é catastrófica e Madame Mogherini, chefe da política externa da União Europeia nos disse que a União Europeia é a única entidade a fornecer ajuda humanitária à Síria. É verdade?
Bachar al-Assad: Na verdade, toda a ajuda enviada por países ocidentais era destinada aos terroristas. A verdade é essa. Estou sendo perfeitamente claro e transparente. Jamais país algum se preocupou com a vida dos sírios, se viviam ou morriam. Ainda hoje há várias vilas na Síria que continuam, até hoje, sitiadas por terroristas. Fizeram as coisas de modo que nada chegue àquelas pessoas, comida, água, seja o que for, todos os itens necessários à vida humana. Claro, os terroristas atacam todos os dias, tiros de morteiro, contra os moradores. E o que, afinal, a União Europeia enviou algum dia a esses sírios? Se se preocupassem tanto com vidas humanas quanto falam do aspecto humanitário, que não discriminassem. Todos os sírios são ‘humanos’. Mas não. É sempre o duplo padrão, a mentira que volta sempre, que recontam sempre, mentira ignóbil na qual já ninguém acredita. Não, não é verdade. O que a senhora ouviu é falso, é mentira.
RT: Há quem sugira que, para a Síria, a melhor solução seria dividir o país, um país para os sunitas, outro para os xiitas, os curdos. É possível?
Bachar al-Assad: Essa é a esperança, o sonho do ocidente e de vários países aqui da região, e não é novidade, nem começou com essa guerra. Já antes da guerra circularam até mapas em que se demarcava essa divisão e essa desintegração. Mas, se se examina a sociedade síria hoje, está mais unificada do que antes da guerra. É a realidade. Não digo para dar coragem a quem seja, nem aqui estou falando ao povo da Síria. Estou falando sobre fatos.
Por causa das lições aprendidas da guerra, a sociedade síria tornou-se mais realista e pragmática e muitos sírios compreenderam os perigos do fanatismo e de todos os tipos de extremismo, não só o extremismo religioso: politicamente, socialmente, culturalmente, a Síria está ainda cercada de perigos. A nossa única possibilidade de sucesso está em nos aceitar uns os outros, em respeitar uns os outros. É o modo produtivo de vivermos juntos e ter um país.
Então, no que tenha a ver com a desintegração da Síria, se não se vê sinal de desintegração no seio da sociedade, entre as várias nuances e constituintes da sociedade síria, no próprio tecido da sociedade síria, não se cogita de divisão. Não se trata de riscar uma linha num mapa de papel, quero dizer, ainda que se tratasse de país em desintegração, no qual as pessoas estivessem divididas. Vejam o caso do Iraque: ainda é um só país, mas, na realidade foi desintegrado. Não é o caso da Síria.
Esse assunto na verdade não me preocupa. Os sírios jamais aceitarão qualquer tipo de divisão. E falo da grande maioria dos sírios, porque não é ideia nova, assunto que tenha surgido nas últimas semanas ou meses. Pode-se dizer que é a grande questão que se disputa nessa guerra. E, depois de seis anos de dificuldades terríveis, posso assegurar que a maioria dos sírios jamais aceitariam qualquer tipo de ‘desintegração’ do país. Viveremos sempre como uma Síria una e coesa.
RT: Como mãe, partilho a dor de todas as mães sírias. Falo das crianças na Síria. O que lhes reserva o futuro?
Bachar al-Assad: É o aspecto mais perigoso de nosso problema, e não só na Síria, mas em qualquer ponto em que circule essa sombria ideologia wahhabista, porque muitos dos jovens nascidos e criados sob essa ideologia que chegaram à maturidade ao longo da última década, um pouco mais, uniram-se a gangues terroristas, por motivação ideológica, não por falta de família, ou de comida ou de esperanças. Muitos são filhos de famílias de espírito aberto, instruídas, famílias de intelectuais. Pode-se imaginar o poder de atração que o terrorismo tem.
RT: O senhor acredita que o terrorismo arregimenta jovens com tanta facilidade, por causa da propaganda que o precede?
Bachar al-Assad: Exatamente. É ideologia extremamente perigosa, que não conhece fronteiras políticas ou nacionais. A Internet ajudou os terroristas com ferramentas de comunicação baratas, rápidas de muito amplo alcance. O terrorismo infiltra-se em qualquer família em qualquer ponto do mundo, seja na Europa, no nosso país, no seu país, onde decidirem infiltrar-se.
RT: E é o que acontece.
Bachar al-Assad: A senhora vive em sociedade secular, eu vivo em sociedade secular, mas nada disso impediu que o terrorismo se infiltrasse. Qual a ideologia com potencial para fazer frente a essa onda? Há uma, só uma. Dado que o terrorismo construiu-se sobre uma leitura distorcida do Islã, é preciso recorrer outra vez ao Islã verdadeiro, ao Islã ancestral, sem distorções, ao Islã da moderação de da paz. Só assim se pode esvaziar a ameaça terrorista que pesa sobre todo o planeta. É a maneira mais rápida, digamos assim.
Se quisermos falar de um médio prazo e de um longo prazo, trata-se de saber em que medida se consegue fazer avançar a sociedade, o modo como as pessoas analisam, raciocinam e pensam, porque a ideologia wahhabista terrorista só funciona se se paralisa a reflexão, se se distorcem as vias do pensamento lógico e moral. Pode-se dizer que se trata de um algoritmo do espírito. Numa comparação com a informática, para ser mais claro: se se tem implantados pela educação e, também, pela religião, para os que creiam, bons sistemas para explorar e analisar o mundo, esses sistemas resistem à invasão por vírus daninhos.
Trata-se portanto de educação, das mídias, da ‘comunicação’ e da política, porque se se tem uma causa, uma causa nacional, e as pessoas perdem a esperança, não é difícil empurrar essas pessoas na direção do extremismo, que é influência ativa na nossa região desde os anos 1970, depois da guerra entre árabes e Israel, e o fracasso da paz em todos os aspectos (fracasso na reconquista do território palestino, usurpação da terra e dos direitos dos palestinos), cada vez mais desespero, o que serviu bem aos propósitos dos extremistas. Aí os wahhabistas encontram solo fértil para promover a ideologia deles.
RT: Senhor presidente, agradeço muito por sua atenção e pelo seu tempo, e desejo paz e prosperidade, cada vez mais, ao seu país.
Bachar al-Assad: Muito agradecido pela visita.
RT: A situação foi muito difícil, e faço os melhores votos de que tudo isso chegue logo ao fim. Muito obrigada.
Bachar al-Assad: Agradeço muito que tenham vindo à Síria. Estou muito feliz por recebê-los.*****
Área de anexos
Visualizar o vídeo Bachar al-Assad : « La défaite des terroristes à Alep est celle de l’Occident » (1/2) do YouTube
Bachar al-Assad : « La défaite des terroristes à Alep est celle de l’Occident » (1/2)
Visualizar o vídeo Bachar al-Assad : « Les médias occidentaux ont perdu toute crédibilité » (2/2) do YouTube
Bachar al-Assad : « Les médias occidentaux ont perdu toute crédibilité » (2/2)
Visualizar o vídeo “Los terroristas en Siria son las verdaderas tropas de Occidente” – (Entrevista con Bashar al Assad) do YouTube
“Los terroristas en Siria son las verdaderas tropas de Occidente” – (Entrevista con Bashar al Assad)
 Exibindo miniatura de vídeo Bachar al-Assad : « La défaite des terroristes à Alep est celle de l'Occident » (1/2)
Tradução: Vila Vudu

Síria: ‘Mensagens finais’ de Aleppo: O outro lado da história


Fonte: Oriente Mídia


“Mensagens finais de despedida” estão comovendo as redes sociais nos últimos dias, em meio a acusações de toda parte sobre as supostas atrocidades cometidas pelas tropas sírias contra os “civis” sitiados no leste de Aleppo. Há um outro lado dessa história. A guerra informacional vai longe.


Parte da imprensa árabe manipula notícias sobre a vitória em Aleppo: entenda como diversos vídeos de pessoas supostamente comuns têm inundado as redes sociais, com pedidos desesperados de ajuda diante da “carnificina” alegadamente perpetrada pelo Exército sírio comandado pelo presidente Bashar Assad contra seu próprio povo em meio à libertação de Aleppo dos terroristas.

Apesar de diversos outros vídeos mostrando a celebração popular da vitória sobre os terroristas na maior cidade da Síria, os principais veículos de mídia pró-ocidentais propagam a versão sobre o “genocídio” com base nas ditas “mensagens finais” de Aleppo.

Fonte Sputnik
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Acontece que essas mensagens, inundando o Twitter quase que simultaneamente, lembram bastante uma campanha coordenada de Relações Públicas, segundo sugere essa análise publicada pela jornalista Anissa Naouai:
“É quase como se eles estivessem esperando que essas mensagens finais fossem viralizar e ser escolhidas pela grande mídia”, diz Naouai. 
“É quase como se estas pessoas fossem apenas civis inocentes sem nenhuma bandeira, nenhuma estratégia, nenhuma política. Apenas pessoas lutando por suas vidas”.
Porém, segundo revela a exposição, esses “civis” são conhecidos ativistas, alguns com milhares de seguidores nas redes sociais. Alguns deles acabaram de entrar para o Twitter, e muitos apoiam explicitamente a chamada “revolução síria” em seus perfis. Outros se autodenominam jornalistas, diz Naouai, e têm seus perfis verificados pelo Facebook, como Bilal Abdul Kareem – um cidadão norte-americano “que não vê problema nenhum em fazer propaganda [para os terroristas da Frente] al-Nusra” – ou para os “rebeldes”, como são mais conhecidos no Ocidente.
Outro perfil é identificado como um membro dos Capacetes Brancos, fundada por um ex-oficial britânico e financiada com milhões de dólares pelos EUA e pelo Reino Unido, segundo a jornalista. Há ainda a garotinha de “apenas 7 anos” chamada Bana, que “com a ajuda da mamãe”, tem comovido seus quase 300 mil seguidores com tweets em inglês perfeito a respeito da crueldade do regime sírio. Ela também entrou para o Twitter há pouco tempo, em setembro. O que todas essas pessoas e suas “mensagens finais” têm em comum?, pergunta Naouai.
“Elas querem que VOCÊ pense que há apenas um lado nessa história. Uma verdade. Que Assad está aleatoriamente indo de cidade em cidade e matando seu próprio povo por algum motivo louco, com a ajuda da RÚSSIA, mesmo que o mundo inteiro esteja observando cada passo. Elas querem que você pense que esses civis saindo em massa de Aleppo estão fugindo de um genocídio cometido pelo Exército Sírio. E que aqueles que celebram nas ruas estão dançando sobre os túmulos de crianças… enquanto os rebeldes infiltrados da Al-Qaeda estão brava e heroicamente defendendo civis em Aleppo oriental.
A pergunta é: você acredita nisso? Porque milhões de pessoas acreditam”, conclui a jornalista.
O porta-voz do Ministério da Defesa russo, major-general Igor Konashenkov, já havia denunciado a tática na terça-feira (13):

“Em Aleppo oriental não foi encontrada nenhuma ‘oposição’, ‘conselhos locais’ ou organizações humanitárias não-governamentais que defendem os ‘valores ocidentais’, tão apreciados por Londres e outras capitais, como os ‘Capacetes Brancos’, associações de médicos ou defensores dos direitos humanos”. “Segundo testemunhos dos civis, apenas havia fome e terror total por parte dos militantes por quaisquer tentativas de expressar descontentamento ou de abandonar o enclave”, acrescentou o major-general, finalizando com uma recomendação apropriada para nossos tempos de guerra híbrida: “Todas as declarações feitas a partir das altas tribunas ocidentais com referências a ‘mensagens dos ativistas’, assim como os ‘filmes’ sobre alegados ‘bombardeios russos’, ‘fuzilamentos’ e outras encenações, foram filmados por grupos de televisão especiais de militantes. Por que foram eles aceites pela mídia com prazer e sem controle – são eles que têm de responder. E faço uma recomendação – não acreditar na propaganda dos terroristas”.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Nota da UBM/SP e UJS contra o Feminicidio de uma jovem militante




Do luto a luta!
Nenhuma Débora a menos!
Foi com imenso pesar e indignação que recebemos a notícia da morte da jovem Débora Soriano. O machismo ceifou a vida de mais uma de nós, diante de um poder público que pouco ou nada faz para combater a violência patriarcal. Débora era uma jovem mulher de 23 anos, com a vida toda pela frente, cheia de sonhos e expectativas, mas que foi brutalmente violentada e assassinada. Débora acreditava em uma sociedade melhor e mais justa, irradiava alegria de viver e esperança em um mundo novo, para ela e seus dois filhos pequenos.
Nos solidarizamos com a família neste momento de dor e despedida e exigimos dos órgãos responsáveis que este crime bárbaro seja esclarecido e o autor, rigorosamente punido. Não admitimos que os crimes contra as mulheres continuem sendo secundarizados e esquecidos pelas autoridades. Nós não esqueceremos!
A morte trágica de Débora reforça a necessidade de políticas públicas para as mulheres, para que não precisemos mais nos despedir de nenhuma de nós desta maneira.
Por isso, convocamos a todas as mulheres a se somarem a nós neste domingo 18 de dezembro, as 14h na Paulista por Débora e por todas as mulheres que morrem vítimas do machismo e do feminicídio.
União Brasileira de Mulheres
União da Juventude Socialista

Malafaia é alvo de operação da PF contra fraude em cobrança de royalties






  • O pastor Silas Malafaia chega para depor na sede da Polícia Federal em São Paulo


Do site UOL: O pastor Silas Malafaia é alvo de mandado de condução coercitiva no âmbito da Operação Timóteo, deflagrada na manhã desta sexta-feira (16), pela Polícia Federal. O diretor do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), Marco Antonio Valadares Moreira, e a mulher dele foram presos pela PF. Alberto Lima Silva Jatene, filho do governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), é alvo de mandado de prisão temporária.

Hanrrikson de Andrade e Nathan Lopes
Do UOL, no Rio e em São Paulo
A operação apura um esquema de corrupção em cobranças judiciais de royalties da exploração mineral. Moreira comanda a Diretoria de Procedimentos Arrecadatórios, responsável por gerenciar as receitas do DNPM. O setor cobra e distribui as cotas-partes da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais), o chamado royalty da mineração, a Estados e municípios. Este ano, a arrecadação já alcança R$ 1,6 bilhão.
A PF afirma que o núcleo captador da organização, supostamente formado por Moreira e sua esposa, cooptava prefeitos interessados em ingressar no esquema. O núcleo operacional, que seria composto por escritórios de advocacia e uma empresa de consultoria em nome da esposa do diretor, repassava valores indevidos a agentes públicos.

Malafaia

Segundo a Polícia Federal, Malafaia teria "emprestado" contas correntes da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo para ocultar valores desviados em um esquema de corrupção em cobranças judiciais de royalties da exploração mineral. Em posts no Twitter, o religioso afirmou ter recebido uma "oferta de cem mil reais de um membro da igreja" de um outro pastor, que seria seu amigo.
"Não sei o não conheço o que ele faz", completou Malafaia. O cheque teria sido depositado pelo próprio beneficiário em sua conta corrente. "Por causa disso sou ladrão? Sou corrupto? Recebo ofertas de inúmeras pessoas." Malafaia afirmou que está em São Paulo e vai se apresentar à PF na cidade.
O pastor também divulgou um áudio via WhatsApp no qual se declara inocente e critica o mandado de condução coercitiva. Ouça abaixo:
Em nota, o DNPM disse ao UOL que prestou toda a assistência necessária para o cumprimento do mandado de busca e apreensão na Diretoria de Procedimentos Arrecadatórios do órgão, em Brasília.
O DNPM diz que não teve acesso a dados e informações sobre investigações em curso e que está tomando conhecimento do teor das investigações para, se necessário, adotar as providências administrativas cabíveis.
O Ministério de Minas e Energia informou que pedirá a exoneração do diretor do DNPM, Marco Antônio Valadares Moreira.
Já o filho do governador do Pará informou, por meio de seu advogado, que irá se entregar nesta sexta-feira, segundo a PF. Alvo de mandado de prisão temporária, Alberto Jatene deve ficar detido por quatro dias. O advogado não atendeu a ligação do UOL.

O esquema

A PF informou que o diretor do DNPM, em posse de informações privilegiadas a respeito de dívidas de royalties, oferecia os serviços de dois escritórios de advocacia e uma empresa de consultoria a municípios com créditos de CFEM junto a empresas de exploração mineral.
O esquema se dividira em ao menos quatro grandes núcleos:
  • núcleo captador, formado pelo diretor do DNPM e sua mulher, procurava os prefeitos interessados;
  • núcleo operacional, composto por escritórios de advocacia e uma empresa de consultoria em nome da mulher do diretor, que repassava valores indevidos a agentes públicos;
  • núcleo político, formado por políticos e servidores responsáveis pela contratação dos escritórios de advocacia;
  • núcleo colaborador, que se responsabilizava por auxiliar na ocultação e dissimulação do dinheiro --sobre o qual Malafaia teria informações a prestar.
A Operação Timóteo começou ainda em 2015, quando a então CGU (Controladoria-Geral da União) enviou à PF uma sindicância que apontava incompatibilidade na evolução patrimonial do diretor de Procedimentos Arrecadatórios. Com remuneração líquida de R$ 11 mil no serviço público, Moreira comprou um apartamento de R$ 2,7 milhões em um dos bairros mais nobres de Brasília. A aquisição do imóvel, supostamente em valor incompatível com a renda do servidor, está sendo investigada pela CGU.
Ao "Estadão Conteúdo", Moreira disse que o imóvel foi adquirido há três anos, de forma parcelada. "Tenho uma herança que me foi disponibilizada pela família", justificou.
O diretor disse que deu todas as explicações solicitadas pela CGU. Ele explicou que a empresa de sua mulher --investigada por suposta participação no esquema-- não opera mais e nunca pediu nada no setor comandado por ele no DNPM. " [Ela] Já não existe há muito tempo." Nos registros da Receita, no entanto, a empresa, aberta em março de 2008, ainda consta como ativa.
Moreira disse que parte dos recursos usados para adquirir o imóvel é fruto do trabalho da mulher. Uma outra parte, acrescentou, é fruto de "um acordo que ela fez com outras pessoas". "Não sei te dizer o que seria [o acordo]", comentou.

Mandados

Em nota, a Polícia Federal informou que, além das buscas, os 300 policiais federais envolvidos na Operação Timóteo também cumprem, por determinação da Justiça Federal, 29 conduções coercitivas, quatro mandados de prisão preventiva, 12 mandados de prisão temporária, sequestro de três imóveis e bloqueio judicial de valores depositados que podem alcançar R$ 70 milhões.
As ações da PF aconteceram nas seguintes unidades da federação: BA, DF, GO, MT, MG, PA, PR, RJ, RS, SC, SE e TO.
Em Santa Catarina, duas pessoas foram presas preventivamente e oito foram conduzidas coercitivamente para prestar depoimento. Os mandados, incluindo dez de busca e apreensão, foram cumpridos nas cidades de Balneário Camboriú e Itajaí. No Sergipe, foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão. No Rio Grande do Sul, foi cumprida uma intimação.
No Pará, foram cumpridos 8 mandados de condução coercitiva e 13 de busca e apreensão, sendo que três tiveram como alvos as cidades de Canaã dos Carajás Oriximiná e Parauapebas. Um mandado de prisão temporária foi cumprido contra um funcionário da Assembleia do Pará, ele, porém, não teria utilizado seu cargo para participar do esquema.
Além do filho do governador do Pará, o prefeito eleito de Parauapebas, Darci José Lermen (PMDB), também é alvo de mandado de prisão temporária. Ele é considerado foragido, segundo a PF.
Em nota, a prefeitura de Canaã dos Carajás disse que "todas as instalações disponibilizadas para o exercício dos trabalhos" e salientou que a ação tem como base procedimentos relativos ao ano de 2009.
O juiz Ricardo Augusto Soares Leite, da Justiça Federal de Brasília, determinou ainda que os municípios se abstenham de realizar quaisquer atos de contratação ou pagamento aos três escritórios de advocacia e consultoria sob investigação.
O nome da operação é referência a uma passagem do livro Timóteo, integrante da Bíblia Cristã: "Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição". (Com Estadão Conteúdo)