sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Rechaço ao golpe e cobrança a Dilma


Por Eunice Pinheiro, na Rede Brasil Atual:

"Eu sei de que lado estou. Na minha vida, já mudei muito. Às vezes para melhor, outras, segundo algumas pessoas, até para pior. Mas eu nunca mudei de lado", afirmou a presidenta Dilma Rousseff, durante encontro com os movimentos sociais, realizado nesta quinta-feira (13). Na reunião, foi anunciada a criação, em setembro, do Fórum Nacional de Debates sobre Trabalho, Renda, Emprego e Previdência Social, que será mais um canal de diálogo do Executivo com os movimentos sociais.

Dilma afirmou que está tomando medidas para que o país volte ao caminho do crescimento e que está na presidência para resolver todos os problemas do país até 31 de dezembro de 2018, quando deixará o governo. A presidenta voltou a citar os versos do compositor Lenine: "quando a lida está má, a gente enverga, mas não quebra".

A presidente foi recebida por centenas de representantes de movimentos sociais, que gritavam palavras de ordem, como "não vai ter golpe". Em seguida, líderes das entidades sociais apresentaram os assuntos de maior importância para cada segmento. Um item foi quase unânime: a retomada do projeto debatido durante a campanha eleitoral e que a diferenciou do projeto representado por seu adversário, Aécio Neves (PSDB).

"Foi aquela agenda que nós elegemos. Este ajuste fiscal, como está sendo posto, não condiz com o programa que elegemos. Este programa econômico é neoliberal e está alinhado com as políticas norte-americanas", disse Alexandre Conceição, um dos coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para ele, a reunião com a presidenta foi importante, porque os movimentos puderam passar recados tanto para o governo, como para a oposição que hoje tenta articular um golpe.

O repúdio à ameaça de golpe foi outro ponto comum em todas as falas dos líderes de entidades. "Golpistas, nós somos construtores da democracia. Nós iremos para as ruas, entrincheirados, se necessário. Nós seremos o exército que vai enfrentar a burguesia nas ruas", afirmou Vagner Freitas, presidente da CUT, aplaudido de pé pelos militantes.

Freitas enfatizou, a cobrança dos movimentos sociais para que o governo Dilma ouça mais a base social que a elegeu e retome a "agenda vencedora" em 2014. "É para nós que estamos aqui que a senhora tem de legislar", alertou. O presidente da CUT associou a ampliação do apoio social ao governo também à forma como conduzirá a recuperação da economia.

“Ajuste fiscal é reforma tributária que reduza a carga de impostos pagos pelos mais pobres e aumente a dos mais ricos. O que precisa ser feito é fazer andar a pauta dos trabalhadores de forma efetiva e consistente”, cobrou o dirigente. “Esse povo que está aqui tem condição de fazer a transformação do Brasil. Não é o mercado que vai garantir a governabilidade. É esse povo que está aqui, presidenta Dilma. Todos juntos por um Brasil melhor, com Dilma e contra o golpe.”

Outra reivindicação comum, entre os líderes das entidades, foi o pedido para que Dilma vete a Lei antiterrorismo, aprovada pelo Congresso Nacional. "Essa Lei visa apenas uma coisa: criminalizar os movimentos sociais", afirmou Carina Vitral, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Carina pediu que a educação não seja afetada pelo ajuste fiscal e que os movimentos sociais sejam incluídos na discussão da agenda política brasileira.

Alberto Broch, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), reivindicou a manutenção dos direitos agrários, maiores investimentos na reforma agrária, na agricultura familiar, nos empreendimentos agroecológicos e a retomada do programa Minha Casa Minha Vida. A presidenta Dilma respondeu que programa foi reformulado e que, em setembro próximo, será lançada a terceira etapa.

Representando o Movimento de Articulação Nacional de Mulheres Pescadoras Artesanais, Eleonice Sacramento falou da importância de manutenção dos territórios das comunidades tradicionais, que hoje se encontram sob ameaça. "Não teremos vida para defender esse governo, se não tivermos nossos territórios", afirmou Eleonice, que reivindicou também a criação de uma Política Nacional para Povos e Comunidades Tradicionais.

O presidente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, foi enfático ao falar sobre a ameaça de impeachment da presidenta Dilma: "Faço um alerta aos golpistas. Essa turma do Leblon, dos Jardins e do Lago Sul não representam o povo brasileiro". Boulos deixou claro, porém, que o MTST rechaça a política econômica e não aceita que o povo pague a conta da crise. Cobrou da presidenta que o ajuste fiscal deve ser feito usando a taxação das grandes fortunas e dos bancos, e ainda com auditoria da dívida pública.

Para Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares, o ajuste fiscal proposto pelo governo não pode impedir os avanços conquistados. "Queremos a taxação das grandes fortunas, o combate à sonegação, a punição aos que mantêm contas no exterior. Queremos também a manutenção de um diálogo efetivo com o governo, a repetição desse evento e a implementação da pauta eleitoral", disse.

A demarcação das terras indígenas também foi reivindicada por Alexandre Conceição, do MST. Ele pediu ainda a redução dos gastos do governo em publicidade oficial diretamente com a Rede Globo.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

O colar de cebolas de Ana Maria Brega

Por Altamiro Borges

A apresentadora global Ana Maria Braga - que o corrosivo José Simão já apelidou carinhosamente de "Anameba Brega" - gosta de fazer papéis ridículos no seu programa "Mais Você". Na manhã desta segunda-feira (10), ela apareceu com um colar de cebolas para criticar o aumento da inflação no país. "Pagar R$ 10 pelo quilo da cebola é de chorar mesmo", afirmou a celebridade midiática, que recebe uma fortuna na TV Globo e não deve ir à feira ou ao mercado há mais de um século. De imediato, o seu comentário econômico - típico dos urubólogos da famiglia Marinho - virou motivo de piada nas redes sociais. Mas a apresentadora apenas posa de ridícula. Ela é muito articulada... com a direita brasileira e os seus "paneleiros" golpistas.

Em meados de 2007, Ana Maria Braga foi uma das estrelas do fracassado movimento "Cansei", que reuniu o que há de mais reacionário na elite nativa em oposição ao ex-presidente Lula. É desta época o apelido carinhoso do Zé Simão. "Esse Cansei tá rendendo! Celebridades aderem ao Cansei: Regina Duarte, Ivete Sangalo, Ana Maria Braga e Lourebe Camargo! A Regina Duarte cansou de botar botox. A Ivete cansou de levantar a poeira. E a Anameba cansou de pedir o pé pro Louro José... E a Hebe cansou daquele sofá véio. Ou o sofá que cansou da Hebe? Rarará!", escreveu na Folha em 16 de agosto. O movimento golpista "cansou" e morreu rapidamente, para tristeza do sarcástico Zé Simão.

Em abril de 2013, a mesma Ana Maria Braga - que é muito criativa - apareceu no "Mais Você" com um colar de tomates. Para azar dela, o preço do produto despencou logo após a sua crítica econômica tão abalizada. Já que a estrela global gosta tanto de utilizar uma concessão pública de televisão para fazer proselitismo político, faço aqui três singelas sugestões:

1- Da próxima vez, como ela gosta muito dos tucanos, ela deveria se exibir sem tomar banho por um mês em apoio ao governador Geraldo Alckmin que enfrenta uma grave crise hídrica em São Paulo.

2- Outro programa poderia ser gravado na aeroporto de Cláudio, construído com recursos públicos do povo mineiro, para incentivar os pousos e decolagens na fazenda do tio-avô de Aécio Neves.

3- Por último, ela poderia fazer uma inserção aplicando sua grana no HSBC, banco que foi acusado de facilitar a vida de sonegadores bilionários de vários países. A famiglia Marinho ficaria comovida com a manifestação de desagravo.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Gramsci: "vivo, tomo partido e odeio os indiferentes"




Gramsci: "vivo, tomo partido e odeio os indiferentes""

Por Antonio Gramsci

Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.

A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.
A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.

Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.

11 de Fevereiro de 1917

Antonio Gramsci (1891 - 1937) foi membro fundador do Partido Comunista Italiano. Teorizou sobre conceitos chave como  hegemonia, base, superestrutura, intelectuais orgânicos e guerra de posições.