sábado, 18 de janeiro de 2014

Dona Zelite condena os "rolezinhos"

Por Estanislau Castelo, no sítio Carta Maior:


Entrevistei, com exclusividade, Dona Zelite, a socialaite mais afamada de Higienópolis. O assunto não poderia ser outro: os rolezinhos que estão tirando a Zelite do sério.

Estanislau: Dona Zelite, tudo bem?
Zelite: Essa já é a primeira pergunta, ou você está só me cumprimentando?

Estanislau: Já é a primeira pergunta.
Zelite: Então quero logo dizer que só estou dando essa entrevista, quer dizer, dando não porque rico não dá nada, vende, oferece ou aluga; mas, enfim, só estou oferecendo essa entrevista por uma causa pedagógica. Temos que superar este momento antes que seja tarde. Antes que as pessoas de bem, aquelas que são as cabeças pensantes e reinantes do PIB, prefiram mudar de país. Voltando à sua pergunta, não, meu caro, não está nada bem. As pessoas de bem estão com medo. Eu estou com medo.

O país vai de mal a pior, pois se uma pessoa não tem garantido o seu direito constitucional de ir ao Shopping tranquilamente com uma Louis Vuitton sem sentir medo, sem ser incomodada, sem correr o risco de esbarrar em um rolezento vestindo um boné escrito “Funk You”... não, definitivamente, nada vai bem. Me dá aí seu caderninho pra ver se você escreveu Louis Vuitton direitinho, se não pega mal pra mim... tá ok.

Estanislau: a senhora viveu a experiência de participar de um rolezinho?
Zelite: sim, infelizmente, eu vi, com esses olhos que o cirurgião plástico remodelou. Vi aquela horda de bárbaros invadindo o meu sossego e atropelando o aroma do meu Chanel. Eu me senti vítima de um tsunami de testosterona e progesterona que me assustou muito. Eram jovens tão mal vestidos que fariam Glória Kalil ter um enfarte. Por sorte eu desconhecia a maior parte dos palavrões que eles falavam. Uma em cada três vezes que eles abrem a boca é para dizer um palavrão. Um horror.

Estanislau: Qual foi sua reação?
Zelite: Eu me refugiei em uma loja, que fechou as portas, e aguardei pacientemente sentada em um provador, com as cortinas bem fechadas.

Estanislau: a senhora pensou em tomar alguma atitude por conta própria?
Zelite: Pensei e tomei. Imediatamente liguei para um ministro amigo meu, do Supremo, para pedir providências realmente supremas, pois o assunto é grave. É caso de segurança nacional. Descobri que esse meu amigo está em férias – eles vivem em férias. Tive que me contentar em travar um debate com o gerente do shopping. Cobrei providências urgentes e lembrei que sou sócia-proprietária do shopping. Mandei que ele impedisse aquela bagunça imediatamente. Que ponham portas com senhas individualizadas; detectores de aromas, para impedir gente com desodorante; portas giratórias com câmeras que identifiquem se a pessoa tem um padrão mais caucasiano, o que seja. A tecnologia está aí é pra nos ajudar a separar o joio do trigo.

EC: Então a senhora foi quem deu a ideia de barrar pessoas na entrada dos shoppings?
Zelite: Eu ofereci minha contribuição. Se for pra ajudar o Brasil, pode contar comigo, sempre. Meu amigo do Supremo retornou minha ligação ontem e disse que falaria com o pessoal dos tribunais de justiça. Parece que eles entenderam a gravidade da situação.

EC: Em sua opinião, essa questão não tem um fundo sociológico que...
Zelite: Ah, não me venha com sociologias. Esse pessoal que faz rolezinho nem sabe o que é isso. Eu, que sou vizinha de FHC, sei bem que tipo de sociologia esse pessoal merece. É o seguinte: mais uma vez, estamos vendo que a raiz do problema é a educação. Essa turba faltou à aula de Inglês que ensina que “shopping” é uma palavra que quer dizer “comprar”, “ir às compras”. Ou seja, os seguranças têm que perguntar aos rolezentos: vai comprar alguma coisa? Onde? Quanto custa o que você vai comprar? Deixa eu ver o dinheiro ou o seu cartão de crédito. Se não tiver, não entra. Simples. Não tem nada a ver com limpeza étnica. É o que eu chamo de limpeza ética, faz parte do espírito do capitalismo. País desenvolvido é país limpinho e cheiroso, qual o problema?

EC: a senhora acha que o fenômeno reflete a situação do país, ou é uma nova tendência?
Zelite: O que eu acho mesmo é que é muito triste ver as manchetes de jornal tomadas por esse assunto, quando, em pleno verão, poderíamos estar discutindo temas mais elevados, como a importância da combinação do uso de terno e gravata com bermudas chiquérrimas em escritórios, a atualidade das mechas californianas e questões de utilidade pública, como dicas de produtos básicos para se colocar na “nécessaire”. Deixa eu ver no seu caderninho como você escreveu “nécessaire”... não se esqueça do acento no primeiro “e”. Obrigada.

O comercial anti-racismo mais impactante que você já viu

Esse é um vídeo português que vem causando grande impacto pelo mundo! Feito há 14 anos em comemoração ao 50º aniversário da adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas. Na cena você vê uma mulher branca que senta ao lado de um homem negro. A mulher se incomoda e chama a aeromoça para que a troque de lugar e não tenha que ficar ao lado de um ‘negro’. O rapaz, aflito, ouve toda a conversa. A aeromoça volta com notícias boas e deixa a mulher feliz dizendo que há um lugar na primeira classe da aeronave. E algo surpreendente acontece!
Confira
A mensagem final diz: “Dê ao racismo o que ele merece”.

Shopping Vitória: corpos negros no lugar errado




jovens-no-chão-presos-em-Vitória

Por Douglas Belchior

Sábado, 30 de novembro, fim de tarde. Várias viaturas da Polícia Militar, Rotam e Batalhão de Missões Especiais cercaram o Shopping Vitória, na Enseada do Suá, no Espírito Santo. Missão: proteger lojistas e consumidores ameaçados por uma gente preta, pobre e funkeira que, “soube-se depois”, não ocuparam o shopping para consumir ou saquear, mas para se proteger da violência da tropa da PM que acabara de encerrar a força o baile Funk que acontecia no Pier ao lado.

Amedrontados, lojistas e consumidores chamaram a polícia e o que se viu foram cenas clássicas de racismo: Nenhum registro de violência, depredação ou qualquer tipo de crime.  Absolutamente nada além da presença física. Nada além do corpo negro, em quantidade e forma inaceitável para aquele lugar, território de gente branca, de fala contida, de roupa adequada.
E a fila indiana; e as mãos na cabeça; e o corpo sem roupa, como que a explicitar cicatrizes nas costas ou marcas de ferro-em-brasa, para que assim não se questione a captura.
A narrativa de Mirts Sants, ativista do movimento negro do Espírito Santos nos leva até a cena:
“Em Vitória, a Polícia Militar invadiu um pier onde estava sendo realizado um baile funk, alegando que estaria havendo briga entre grupos. Umas dezenas de jovens fugiram, amedrontados, e se refugiaram num shopping próximo. 
Foi a vez, entretanto, de os frequentadores do shopping entrarem em pânico, vendo seu ‘fetiche de segurança’ ameaçado por “indesejáveis, vestidos como num baile funk, de tez escura e fragilizando o limite das vitrines que separam os consumidores de seus desejos”. Resultado: chamaram a PM, acusando os jovens de quererem fazer um arrastão.
A Polícia chegou rapidamente e saiu prendendo todo e qualquer jovem que se enquadrasse no ‘padrão funk’. Fez com que descessem em fila indiana e depois os expôs à execração pública, sentados no chão com as mãos na cabeça. E isso tudo apesar de negar que tenha havido qualquer arrastão, “exceto na versão alarmista dos frequentadores”.
Se chegou a haver algo parecido com uma tentativa de ‘arrastão’ ao que parece é impossível saber. Para alguns dentre os presentes, a negativa da PM teve como motivo “preservar a reputação do shopping como templo de segurança”. Se assim foi, a foto acima, com os jovens sentados no chão sob vigilância, e o vídeo abaixo, mostrando-os sendo forçados a descer em fila indiana sob a mira da Polícia, se tornam ainda mais graves como exemplos de arbítrio, violência e desrespeito aos direitos humanos.  E isso só se torna pior quando acontece ainda sob os aplausos dos ‘consumidores’…”


Envie seu repúdio ao Governador do ES.


O suposto disparo, a dita “confusão” e o inevitável corre-corre só houve após a chegada da polícia no baile Funk;
O secretário de Segurança Pública do Estado, André Garcia, mente. Afirma não ter havido abuso. “Havia um tumulto e algumas pessoas relataram furtos na praça de alimentação. A polícia agiu corretamente. A intenção era identificar quem invadiu o shopping”, diz ele.
Invasão? Muitos relatos afirmam que os jovens se “abrigaram” no shopping para se proteger! Testemunhas disseram que as pessoas se assustaram foi com a presença e a forma de atuação da polícia dentro do shopping.
E mente ao dizer que “a polícia entrou no shopping após receber informações de que pessoas armadas estariam no local”, algo que não foi constatado pelas revistas feitas no interior do estabelecimento. Os únicos armados, caro secretário, eram seus homens.
Lojistas e consumidores relataram agressões aos ‘suspeitos’: ” Vi um policial dando um soco, de baixo para cima, em um garoto”; “o clima ficou mais tenso ao serem vistos policiais entrando armados no shopping”; “Parte dos que estavam sendo revistados era menores de idade. Vi um garoto sendo jogado no chão por um policial”.
A própria assessoria de comunicação do Shopping Vitória descartou a ocorrência de um arrastão no interior do estabelecimento e afirmou que nenhuma loja foi roubada ou danificada;
Mas ao final, o Secretário assume sua tarefa racista: “Quando se encontra uma atitude suspeita, a abordagem é uma ação normal. A polícia está autorizada a fazer isso. A população tem que entender”, disse ele a um jornal, afirmando que o critério para uma abordagem depende das circunstâncias, perfil das pessoas e quais queixas são apresentadas.
Sim, e é verdade, “Sr. Secretário”: circunstâncias, perfis e queixas, que sempre tem como principal objeto de provocação o corpo negro. Alguma novidade?
REAÇÃO
Lula Rocha, importante militante do movimento negro do Espírito Santo, em conjunto com diversos outros ativistas e organizações do movimento negro e movimentos sociais da capital prometem reagir e organizar um mega baile funk ao ar livre em frente o Shopping Vitória.
Criminalizado como um dia fora a capoeira, o futebol, o samba a MPB e o RAP, o funk moderno é tão contraditório em seu conteúdo quanto o é resistência em sua forma e estética. E se está servindo também para fazer aflorar o racismo enraizado na alma das elites hipócritas – muito mais vinculadas aos valores da luxuria e ostentação que a turma do funk, declaro pra geral: Sou funkeiro também!

Envie seu repúdio ao Governador do ES.



Leia também no Facebook da Carta Capital

“Por isso que não gosto de brasileiro, tampouco de preto”. Foi demitido por justa causa



Extra-Hipermercado


O gerente do Hipermercado Extra, localizado na Rua Maracaju, região Central de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, decidiu nesta terça-feira (14/01) demitir por justa causa, o funcionário J. W., por este ter proferido a um cliente, palavras ofensivas e racistas.
O fato aconteceu nesta segunda-feira (13/01), na loja da rede da Rua Maracaju, e envolveu um cliente, identificado pelas iniciais G. R. L., de 51 anos de idade, que havia ido ao local para fazer compras.
Segundo o cliente e as testemunhas, G. R. L. teria perguntado ao funcionário sobre um determinado produto que estava em falta na gôndola do estabelecimento, tendo recebido como resposta, que o produto estava em falta, e que mesmo que tivesse no depósito, não iria buscá-lo.
O cliente, que é da raça negra, achou o funcionário negligente e irônico, e pediu a outro funcionário que fosse chamar o gerente do estabelecimento.
Assim que chegou ao local, o gerente presenciou a discussão entre cliente e funcionário, tendo este último dito: “Por isso que não gosto de brasileiro, tampouco de preto”.
Revoltado com o fato, G. R. L. decidiu sair do estabelecimento, enquanto o gerente falava com o funcionário, chamando-lhe a atenção. O cliente se dirigiu a uma Delegacia de Polícia Civil aonde registrou um Boletim de Ocorrência (BO), por injúria e racismo. No BO foi descrito o produto que o cliente procurava na loja, um óleo automotivo.
O cliente ainda prestou queixa na Delegacia do Consumidor (Decon), mas segundo o delegado titular, Gomides Ferreira dos Santos, como a denúncia é relacionada a crime de injúria, e não de consumo, a mesma deverá ser tratada na esfera criminal.
“Apesar de ter ocorrido a situação dentro do hipermercado não será tratada a denúncia como a investigação de um crime contra o consumidor. A injúria em questão trata-se de uma opinião pessoal do funcionário e o cenário extrapola o de uma relação de consumo. Não tem a ver com a aquisição de um produto ou com o fato de ter sido dentro do estabelecimento”, disse o delegado titular da Decon.
Em nota, a direção do Hipermercado Extra lamentou o ocorrido, e reafirmou o compromisso da empresa, de tratar todos os clientes de forma respeitosa.
A seguir, na íntegra, a nota de esclarecimento divulgada pela Assessoria de Comunicação do Extra sobre o incidente:
“O [Hipermercado] Extra pauta suas ações no respeito ao cliente e repudia veementemente qualquer ato discriminatório. A rede promove treinamento dos seus colaboradores [funcionários] para o cumprimento do Código de Ética da companhia, e o fato apontado não corresponde ao padrão operacional exigido pela empresa. A rede lamenta o ocorrido e informa que o fato é isolado e já foram tomadas as providências cabíveis com relação ao colaborador [funcionário].
Extra Hipermercados – Grupo Pão de Açúcar”


Fonte: Campo Grande Noticias
http://www.geledes.org.br/racismo-preconceito/racismo-no-brasil/22783-por-isso-que-nao-gosto-de-brasileiro-tampouco-de-preto-foi-demitido-por-juta-causa


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Criminalização de “rolezinhos” gera explosão de racismo na internet

Do Blog da Cidadania

A criminalização de que o movimento desorganizado dito “rolezinhos” foi alvo por ação de textos recriminatórios da grande imprensa e da decisão judicial que permitiu aos shoppings de São Paulo promoverem, sob critérios obscuros, triagem de quem podia ou não ingressar nesses empreendimentos comerciais gerou uma onda de racismo nas redes sociais.
Essa mesma criminalização dos “rolezinhos” foi a senha a estimular jovens a postarem comentários com termos como “Negrada” e “baianada” (forma como classe média paulista se refere a nordestinos) naquelas redes sociais sem demonstrarem qualquer preocupação
Em 1951, foi promulgada a Lei 1390/51, mais conhecida como Lei Afonso Arinos. Proposta por Afonso Arinos de Melo Franco, proibia a discriminação racial e a separação de “raças” diferentes que, até então, era aceita.
A lei Afonso Arinos acabou se revelando ineficiente por faltar rigor nas punições que previa mesmo em casos explícitos de discriminação racial em locais de trabalho, em estabelecimentos comerciais, em escolas e nos serviços públicos.
Em 1989, o governo José Sarney promulgou a Lei 7716/89, mais conhecida como “Lei Caó”. Proposta pelo jornalista, ex-vereador e advogado Carlos Alberto Caó Oliveira dos Santos, essa lei determinou a igualdade racial e o crime de intolerância religiosa.
Apesar de ser menos usada do que deveria, a lei 7716/89 inibiu fortemente o racismo explícito no país por tê-lo tornado inafiançável. Contudo, a leniência da Justiça mesmo com os casos mais graves continua estimulando o racismo aberto em vários setores da sociedade e, sobretudo, em regiões específicas do país – sobretudo no Sul e no Sudeste.
Onde andará o Ministério Público e a mesma Justiça que foi tão ágil em dar permissão aos shoppings para barrarem a entrada daqueles que essa “juventude” chama de “negrada” e de “baianada”? Com a palavra, o doutor Rodrigo Janot, Procurador Geral da República Federativa do Brasil.
*
Veja, abaixo, alguns dos milhares de crimes de racismo que estão sendo cometidos na internet enquanto você lê este texto.

http://www.blogdacidadania.com.br/2014/01/criminalizacao-de-rolezinhos-gera-explosao-de-racismo-na-internet/

“Rolezinhos” - surpresas ou revelações?

Aline Rodrigues: “Rolezinhos” - surpresas ou revelações?


Do Portal Vermelho

Um novo fenômeno social vem surgindo nas grandes cidades brasileiras, o fenômeno dos “rolezinhos”. Qualquer posicionamento que se possa tomar em relação a tal fenômeno se torna oco diante do contexto concreto da vida dos personagens envolvidos nestes episódios. 

Por Aline Rodrigues, especial para o Vermelho


rolezinho
Jovens posam pra foto durante um "rolezinho", sem armas, sem roubos, sem violência. 
Ser contra os encontros de jovens alegando que estes “deveriam procurar algo melhor para fazer” ou determinando sua predisposição ao crime se soma a outros clichês sustentados pela nossa cultura individualista e segregacionista, e não elimina nem resolve o confronto social que se revela. Tampouco, a apologia ingênua ao possível caráter “de massa” e de protesto destes encontros serve para compreender este movimento, de onde veio e para onde pode ir.

O que sabemos com certeza, é que houve estes encontros em shoppings de grandes cidades, a maioria deles, sem roubos e sem porte de armas por parte da galera. Mesmo assim, a perseguição, a repressão e as detenções ocorreram, a maioria sem justificativa legal. 

A novidade, a surpresa, o choque da sociedade se deu em relação à entrada em massa de jovens nos shoppings ou em relação à perseguição policial? 

A primeira hipótese de choque se anula quando vemos vídeos de jovens na internet realizando grandes encontros com muito barulho e palavras de ordem em praças de alimentação de shoppings, um deles, de estudantes de economia da USP. No máximo, as demais pessoas, que não participavam destas festas, olhavam de longe e seguiam andando.

A segunda hipótese é mais problemática pelo local onde ocorreu, porém, não tão incomum, quando observamos os números da violência contra jovens no Brasil, que choca a organização das Nações Unidas, enquanto, na nossa realidade nacional, esta violência contra jovens se naturalizou e se integrou ao nosso cotidiano.

Aliás, é muito mais comum enxergarmos nossos jovens mais como possíveis marginais do que como seres portadores de sonhos. Este estigma nos choca quando vemos jovens da periferia saírem do gueto para sonharem com seus objetos de consumo e com o padrão de vida que poderiam ter se não fossem pobres. Divertirem-se fora do gueto, ultrapassarem a linha divisória que divide frequentadores de shoppings e o “resto” da população foi a grande transgressão deste fenômeno.

Alguns poderão argumentar que nosso país não é tão segregado assim, que não chegamos a viver um apartheid social. Realmente, nosso apartheid não é idêntico ao que ocorreu na África do Sul. Porém, diversos dados demonstram que há lugares frequentados exclusivamente por brancos em nosso país, onde a entrada de negros ou de qualquer indivíduo de origem mais humilde só se dá com a finalidade de prestar serviços de baixa remuneração. Estes lugares geralmente envolvem postos de comando e prestígio social. Existem muitos estudos em sociologia sobre o fenômeno da segregação social no Brasil pela “origem” (um exemplo).

O movimento intitulado Funk Ostentação foi o grande impulsionador dos rolezinhos. Surgiu na Baixada Santista e Região Metropolitana de São Paulo nos últimos anos, e evoca o consumo, o luxo, o dinheiro e o prazer que tudo isso dá. Teve influência do gangsta rap norte americano, muito propagado nos clipes do funk ostentação. Nestes clipes, os MCs têm vida de rico com direito a tudo o que manda o figurino. Não contestam o sistema capitalista, assumem o desejo de emergir socialmente, fazem apologia a marcas de roupas, uso de joias e outros símbolos de status.

Esta apologia ao luxo e ao sistema incomodou diversos intelectuais brasileiros além de lideranças comunitárias das periferias das grandes cidades. Agora, os “rolezinhos” e a perseguição sofrida pela garotada deram ao movimento ares de insurreição política, e têm causado muita confusão na opinião pública.

Nossas relações sociais têm sido cada vez mais pautadas pela lógica do consumo. Nas periferias o consumo é uma forma muito importante de sociabilidade, assim como nos demais meios sociais. De fato todos nós precisamos atentar mais para a forma como as mercadorias e demais signos de status invadem nossa subjetividade. O consumismo desenfreado, o egoísmo e o hedonismo podem levar muitos jovens para a criminalidade, assim como leva pessoas de todas as camadas sociais a cometerem delitos, extrapolarem na falta de respeito com outras pessoas, sonegarem impostos, entre outros problemas criados pelo próprio capitalismo. Muitos crimes contra a humanidade e contra o meio ambiente foram e são praticados no mundo em nome do direito ao consumo dos ricos e da classe média.

Quando a classe média e alta critica o consumo destes jovens, evidencia-se um discurso de julgamento de quem olha de uma posição superior para um inferior, um pobrezinho, um sofredor, nunca para um ser humano com sonhos, com subjetividade. Aos de baixo não cabe julgar o superior. Na televisão e em outros meios são apresentados estilos de vida nobres, com abundância de recursos e beleza. Ao pobre, não é permitido ser ambicioso. Isto o aproximaria do crime. Porém, raramente o pobre ambicioso adere ao crime, apesar do desejo expresso em letras de música.

Ao invés de ficarem em casa trancados vendo televisão, depois de trabalharem a semana toda, estes jovens decidiram, por meio das redes sociais, se encontrar para se conhecerem pessoalmente e “zoar”, o que não agradou boa parte da classe média que frequenta shoppings aos finais de semana. Seguranças foram acionados, consumidores ficaram apreensivos, com medo de furtos. Os locais são privados, porém de acordo com a lei Nº 7.716, DE 5 de janeiro de 1989, em seu artigo 8º, é proibido “impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público” A pena para tal delito é a reclusão de um a três anos. 

A perseguição aos encontros populares das camadas mais baixas também é um dado recorrente na história do Brasil. A história da formação do povo brasileiro vem se dando, há mais de cinco, com uma profunda opressão sobre os de baixo. Os batuques que vinham das senzalas, a capoeira, o samba e muitos outros encontros foram estigmatizados pelo discurso produzido nas classes dominantes, que determina o lugar de todos na sociedade, segundo sua funcionalidade. Foi produzida uma moral dominante ao longo destes séculos que dita que aos indivíduos pobres só cabe trabalhar, que diversão de pobre é vagabundagem, promiscuidade. A perseguição (moral e policial) que o funk vem sofrendo desde os anos 1990 faz parte desta história de opressão.

A identidade cultural do jovem favelado no nosso contexto urbano contém a experiência do funk. As proibições que já ocorreram aos bailes foram tentativas de esconder ou segregar esta experiência juvenil. As argumentações em relação ao consumo de drogas e promiscuidade não dizem muito sobre tais proibições considerando-se que drogas, álcool e mensagens sexuais apelativas estão presentes no contexto diário de qualquer cidadão brasileiro. Se as proibições ocorressem por tais motivos, não haveria jogos de futebol, shows de qualquer estilo musical, micaretas e cervejadas em nosso país.

As reuniões com grande número de participantes só foi proibida por lei na ditadura militar, ocasião em que foi criada a Rota como forma de vigiar as periferias. Caso alguém fosse encontrado perambulando pelas ruas à noite nesta época, e fosse abordado pela Rota, teria que instantaneamente apresentar a carteira profissional para provar que era de fato trabalhador e não “vagabundo”.

Mesmo sem conterem um caráter nitidamente político, os “rolezinhos” se inserem num quadro de ações afirmativas da juventude negra, pobre e trabalhadora no Brasil. Esta geração, que teve seus genitores, muito provavelmente, envolvidos em movimentos comunitários nos anos 1980 e 1990, ocupando bairros que não tinham estrutura de saneamento básico, levantando casas e barracos, hoje quer ter o direito de participar do mercado consumidor, aderindo o máximo possível ao capitalismo, usufruindo de suas benesses. 

A luta por cidadania no Brasil nem sempre teve caráter estritamente de resistência. Deu-se, quase sempre, como uma soma de fatores, motivada pela luta por ocupação dos espaços e pela criação coletiva de estratégias de sobrevivência, que muitas vezes fizeram coro com o discurso hegemônico, para desagrado de algumas correntes da esquerda e da direita.


*Professora na rede estadual de SP, com formaçãoem Filosofia e militante do PCdoB em Campinas (SP).

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=233783&id_secao=1

Rolezinho: “Nós não proibimos os ricos de curtirem um pancadão com a gente"

Vermelho



Em entrevista exclusiva ao Vermelho-SP, o jovem Vinícius de Andrade, que tem 17 anos, mais de 80 mil seguidores em seu perfil do Facebook e é um dos articuladores dos encontros, falou sobre a nova moda da juventude paulistana.

Por Ana Flávia Marx, da Redação do Vermelho-SP



 
Vinícius: "Os ricos proíbem a gente de entrar no shopping, mas nós não proibimos eles de curtir com a gente o pancadão".

Os paulistanos são conhecidos por gostar, venerar e até cultuar os passeios nos shoppings. Acontece que os últimos marcados pela “garotada” através das redes sociais – os “rolezinhos” – têm chamado atenção como fenômeno social. Até a presidenta Dilma Rousseff convocou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, e a ministra da Cultura, Marta Suplicy, para saber mais sobre o assunto.


Vinícius diz que o rolezinho não tem segredo. “Nós queremos é trocar ideia, conversar e tirar um lazer, só isso.” O jovem atualmente não estuda, parou na oitava série, mas diz que quer retomar os estudos logo para se formar com ator de novela, mas também de teatro, como faz questão de citar.

Com mais de 80 mil seguidores em seu perfil no Facebook, com uma média de mais de mil curtidas em seus comentários, Vinícius diz que a origem dos rolezinhos está na rede social mais usada no país. 

“Comecei a ter muitos seguidores no meu [perfil] do Facebook, e começamos marcando um encontro de fotos, para tirar fotos e conhecer o pessoal. Fomos fazendo vários, até que rolou a ideia de fazermos no shopping. O primeiro foi em Itaquera, depois rolou em outros lugares, em Osasco, Campo Limpo”, fala Vinícius.

O funcionamento é simples. Segundo o jovem, eles criam o evento no Facebook e começam a divulgar. “Muita gente divulga, porque todo mundo gosta do rolezinho, todo mundo quer dar um rolê.”

Durante os encontros a garotada, como chamou o prefeito Fernando Haddad, aproveita para se conhecer pessoalmente e tirar fotos. “A gente fica conversando, trocando umas ideias, mas sempre tem um pessoal querendo tirar o nosso lazer, se envolver, um pessoal que a gente nunca viu na vida, mas quer se aproveitar da situação, fazer arrastão.” 


Questionado se virou uma luta de rico contra pobre ele fala a sua opinião: “Os ricos proíbem a gente de entrar no shopping, mas nós não proibimos eles de entrar na favela, de curtir com a gente o pancadão, de colar com a gente no rolezinho, como muitos ricos gostam de sair com a gente.”

O pai de Vinícius é falecido e a mãe trabalha em restaurante. Pergunto o que a mãe dele acha e ele responde: “Minha mãe apoia, ela até gosta”.


Nesse assunto é salutar dois elementos. O primeiro, que não é novo, é o poder de articulação e mobilização através das redes sociais. O outro é a criatividade da juventude paulistana em encontrar espaços para se reunir, espaços sociais de identificação juvenil. Assim como os shoppings, as escadarias dos bancos que ficam na Avenida Paulista são usadas para manobras de skatistas, estacionamentos de hipermercados são adotados com ponto de encontro para a garotada tomar umas e conversar. Essa é a juventude da metrópole, criativa e que quer viver.

Está na hora das linhas de metrôs servirem de meio de transporte para os jovens irem aos equipamentos de cultura, lazer, esporte e parques e parar de despejar os jovens nos shoppings, como é hoje.

Para finalizar, Vinícius faz o convite para o próximo rolezinho: “Cola lá com nós. Me procura lá, aí a gente se conhece pessoalmente também”


No dia 27 -1 2014, Líderes do #Rolezinho se filiam a UJS - Juventude do Partido Comunista do Brasil -PCdoB


Foto: Líderes do #Rolezinho se filiam a UJS - Juventude do Partido Comunista do Brasil -PCdoB

Conheça Vinícius de Andrade, um dos principais líderes dos "rolezinhos".
Com mais de 80 mil seguidores em seu perfil no Facebook, com uma média de mais de mil curtidas em seus comentários, Vinícius diz que a origem dos rolezinhos está na rede social mais usada no país. 

“Comecei a ter muitos seguidores no meu [perfil] do Facebook, e começamos marcando um encontro de fotos, para tirar fotos e conhecer o pessoal. Fomos fazendo vários, até que rolou a ideia de fazermos no shopping. O primeiro foi em Itaquera, depois rolou em outros lugares, em Osasco, Campo Limpo”, fala Vinícius.
Leia:
http://blogdocarlosmaia.blogspot.com.br/2014/01/rolezinho-nos-nao-proibimos-os-ricos-de.html
Acesse:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=713956465296121&set=a.472013362823767.112444.442049159153521&type=1&theater

http://www.vermelho.org.br/sp/noticia.php?id_noticia=233749&id_secao=39

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Editorial do Portal Vermelho: “Rolezinho” e luta de classes

Página Inicial


O movimento chamado de “rolezinho” – mobilizado pelas redes sociais desde o fim do ano passado – está tornando-se um fenômeno social e político, na medida em que revela um novo tipo de expressão de insatisfações e aponta questões centrais para o debate por uma sociedade mais justa e igual. Objetivamente, é uma expressão da luta de classes; desmascara o racismo e o preconceito entre os diferentes segmentos da população; e evidencia novos aspectos sobre a repressão policial. 

A frase dita por Che Guevara “Não são os rebeldes que criam os problemas no mundo, são os problemas do mundo que criam os rebeldes” traduz exatamente a luta destes jovens moradores da periferia por justiça social e liberdade e ganha força principalmente depois da ação violenta da polícia. 

Sabemos, através de um dos organizadores do movimento, que o “rolezinho” era para ser uma reunião recreativa, ou seja, não tinha o objetivo de vandalizar, furtar, tumultuar, destruir. Segundo Jeferson Luís, o encontro divulgado nas redes sociais servia apenas para evidenciar uma autoafirmação adolescente, “de paquerar, estar com amigos, papear, zoar”, como dizem os jovens.

Ainda assim, bastou o primeiro sinal de aglomerações de jovens, negros e pobres, para a grande mídia proclamar o “arrastão” ou ato de “vandalismo” nos shoppings e assim “fazer a cabeça” de muitos, além da polícia ser mobilizada para dar segurança à outra parte da população, a burguesia. 

A luta de classes assume formas inimagináveis. Diante da repercussão do tema, pode-se perceber uma verdadeira abominação da classe conservadora ao movimento. Os burgueses entendem que esses jovens estão “roubando” o direito exclusivo de eles consumirem, de eles estarem “entre os seus” e em “paz”. Uma boa resposta é que esse mesmo direito, por sua vez, vinha sendo roubado desses jovens pobres há muito tempo. É de indignar os comentários de leitores de matérias referentes ao assunto, que manifestam um ódio impressionante. Ao falarem do evento, algumas palavras utilizadas foram bastante reveladoras do preconceito existente: “favelados”, “bandidos”, “vagabundos”, “putas” e “negros”. Aquela clássica e velha frase: “vão capinar”, claro, também fazia parte dos comentários preconceituosos.

Para a deputada estadual (PCdoB-SP), Leci Brandão, a forma com que a Polícia Militar e o Poder Judiciário têm lidado com esse fenômeno, “o rolezinho”, só evidencia, mais uma vez, “o racismo e a exclusão com que a nossa juventude negra e pobre vem sendo tratada pela sociedade e pelo Estado”. Leci Brandão, que também é ativista do movimento negro, questiona se nas praças de alimentação dos shoppings, só os jovens brancos e da elite podem fazer rolezinho.

O sentimento que move as autoridades e a elite conservadora é o mesmo com que foram hostilizados os médicos cubanos que vieram ao Brasil – através do Programa Mais Médicos –, o mesmo que fez uma camada da população ser contra a cota nas universidades e concursos públicos. É o que historicamente vem ocorrendo, mais uma expressão de não reconhecimento dos direitos dos negros e dos pobres da periferia como iguais, como cidadãos.

A criminalização do rolezinho nos shoppings nada mais é que a velha visão conservadora e racista da elite, que sustentou a mais longa escravidão do período moderno – mais de 355 anos – e que mesmo na nascente República envidou medidas políticas e jurídicas visando "reter", restringir a circulação dos ex-escravizados, a exemplo da lei da vadiagem, a criminalização e perseguição ao samba e ao candomblé. Associando assim o jovem da periferia ao que é perigoso, mau, feio, pronto a desestabilizar a ordem.

É a mesma lógica que tem orientado recentemente a proposição de legislações e ações jurídicas como toque de recolher, redução da maioridade penal e outras que visam impedir a circulação e permanência de jovens "perigosos", leia-se negros, pobres e da periferia, nas praças, ruas e avenidas das cidades brasileiras.

A repressão, com as intervenções policiais, apoiada no Judiciário, é resultado da brutal discriminação e desigualdade acentuada. Vale dizer que foi uma decisão retrógrada da Justiça apoiar as instituições privadas no sentido de segregar socialmente e impedir o direito de ir e vir de apenas uma camada da população – a pobre. 

As imagens dos atos de repressão policial para com estes jovens mostram mais uma vez como foram arbitrários. Como sempre, a Polícia Militar ataca, fere, revelando sua vocação para incitar a violência, identificando no “pobre e negro” um inimigo da ordem.

São muitos anos de invisibilidade, perseguição, extermínio e repressão sofridos por essa camada da população. Proibidos e discriminados por exercer a sua manifestação cultural, o seu modo de ser, podem dizer que esse movimento é uma forma de ação afirmativa. E há uma profunda falta de espaços públicos, espaços de inclusão. Por isso, o rolezinho é também uma ocupação político-cultural da juventude negra e pobre da periferia.

É nesse sentido que se pode interpretar as declarações do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad,  em entrevista aos jornais: “Temos que discutir a cidade, temos que abrir espaços públicos para que as pessoas possam usufruir da cidade e para isso, temos que dialogar com essa garotada”. 

Nessa tentativa de inclusão é importante pensar também que está surgindo uma nova situação social no Brasil, onde a juventude da periferia está melhorando de vida, por meio dos programas sociais, como o Universidade para Todos (ProUni), Ensino Técnico (Sisutec), entre outros, e no mercado de trabalho em expansão (emprego formal). Isso faz com que saiam da "marginalidade" para o "centro". Precisamos estar preparados para dar as respostas certas, através de políticas públicas de inclusão para atender as demandas que essa nova situação social apresentará.


http://www.vermelho.org.br/editorial.php?id_editorial=1319&id_secao=16#.UtadTzDM_xV.facebook

Vídeo: Recado para o reacionário, coxinha e medíocre: " Como você é burro! " - 1 Hora


Recadinho para os leitores da Veja e eleitores doPSDB...ha, e pra quem tem a Raquel Sherazed como "formadora de opinião":

1 hora sem sair de cima da burrice !
É o Caetanão, em épocas onde a burrice também não havia lhe atingido !




''Não... 'Cê' é burro cara, que loucura. Como você é burro, que coisa absurda. Isso aí que você disse é tudo burrice. Burrice. Eu não, não, não consigo gravar muito bem o quê você falou porque você fala de uma maneira burra, entendeu?'' - Caetano Veloso.

Leia mais

Reacionários: Rachel Sheherazade faz Jabor parecer de esquerda

Vídeo: Hitler descobre a verdade sobre rolezinhos no shopping

Hitler descobre a verdade sobre rolezinhos no shopping




terça-feira, 14 de janeiro de 2014

APARTHEID: SHOPPING LIBERA ROLEZINHO DE ALUNOS DA USP

CONFISSÃO DE SHERAZADE: TRÊS ANOS SEM IR AO EMPREGO PÚBLICO