quinta-feira, 24 de julho de 2014

Israel chama Brasil de 'anão diplomático' após críticas à ofensiva contra Gaza

Ministro rebate Israel e diz que Brasil não é 'anão diplomático'

'RELATIVISMO MORAL TORNA O BRASIL UM PARCEIRO DIPLOMÁTICO IRRELEVANTE', AFIRMA PORTA-VOZ DE CHANCELARIA CITADO POR JORNAL

Reuters
AP
Palestino ferido por ataque de Israel contra escola da ONU em Beit Hanoun, norte da Faixa de Gaza, grita em hospital
O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, rebateu nesta quinta-feira as declarações do porta-voz da chanceleria de Israel que teria chamado o Brasil de "anão diplomático" ao criticar a decisão do país de chamar para consultas seu embaixador em Tel Aviv por causa do conflito na Faixa de Gaza.
Em evento em São Paulo, o ministro também rebateu nota da chancelaria israelense que afirmou que a decisão brasileira ignorava o direito de Israel de se defender.
"Somos um dos 11 países do mundo que têm relações diplomáticas com todos os membros da ONU e temos um histórico de cooperação pela paz e ação pela paz internacional. Se há algum anão diplomático, o Brasil não é um deles", disse o ministro.
"Mas não contestamos o direito de Israel de se defender, jamais contestamos isso. O que contestamos é a desproporcionalidade das coisas", acrescentou.
Mortos em Gaza passam de 700: EUA suspendem proibição de voos para Israel
Na noite de quarta-feira, o Itamaraty divulgou nota em que considera "inaceitável" a escalada da violência em Gaza e condena "energicamente o uso desproporcional da força por Israel" no conflito, que matou mais de 700 palestinos. Na mesma nota, o Brasil anunciou que chamou seu embaixador em Tel Aviv para consultas.
O Ministério das Relações Exteriores israelense reagiu em nota, declarando-se "desapontado" com a decisão do governo brasileiro que, segundo o órgão, "não reflete o nível das relações entre os dois países e ignora o direito de Israel se defender".
O documento afirma também que a atitude brasileira não contribui para promover "a calma e a estabilidade" no Oriente Médio e que dá "vento favorável" ao terrorismo, além de "naturlmente afetar a capacidade do Brasil de "exercer influência".
"Israel espera apoio de seus amigos em sua luta contra o Hamas, que é reconhecido como uma organização terrorista por muitos países ao redor do mundo", afirma o documento divulgado no site do Ministério de Relações Exteriores de Israel.
Além da nota da chancelaria, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, disse, segundo a imprensa israelense, que a decisão do Brasil de chamar seu embaixador para consultas é uma demonstração das razões que levam o Brasil, apesar de ser "um gigante econômico e cultural, permanecer um anão diplomático".
    Leia tudo sobre: israel • palestinos • oriente médio • hamas • faixa de gaza • ofensiva contra gaza • brasil

    http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2014-07-24/ministro-rebate-israel-e-diz-que-brasil-nao-e-anao-diplomatico.html

    quarta-feira, 23 de julho de 2014

    José Saramago: 92 anos de um grande comunista




            Único escritor da língua portuguesa a receber um Nobel de Literatura, o português José Saramago completaria 92 anos nesta ano de 2014

    Filho de agricultores, José de Sousa Saramago nasceu na vila de Azinhaga, interior de Portugal. Seu primeiro romance, "Terra do Pecado" (1947), foi publicado quando o autor tinha 25 anos. O segundo, "Manual de Pintura e Caligrafia" (1977), só surgiria três décadas mais tarde.
    Desenvolvedor de um estilo de escrita peculiar, Saramago ficou conhecido por utilizar frases e períodos compridos, com as falas das personagens inseridas nos parágrafos que as antecedem e subvertendo as regras de pontuação - muitas de suas frases ocupam mais de uma página.
    Ateu, Saramago trata em seus trabalhos dos temas mais diversos - a separação geográfica da Península Ibérica do continente europeu aparece em "A Jangada de Pedra" (1986), e o Cristo se revolta contra o destino de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" (1991).
    Além de grande escritor, o português José Saramago, também sempre assumiu que era um comunista convicto. 
    José Saramago era militante do Partido Comunista Português desde 1969 e a sua morte constituiu uma perda para todo o coletivo partidário comunista - para o Partido que ele quis que fosse o seu até ao fim da sua vida.

    No livro "Ensaio sobre a Cegueira" e podemos  ver o quanto contundente e alarmante é a mensagem de Saramago para nós. Por trás da surreal história de uma cidade cuja população é quase toda tomada pela cegueira, com exceção de um único indivíduo, está a crítica contra a alienação e o conformismo estimulados pela "euforia" da mítica "globalização" capitalista, uma ilusão que esconde uma padronização do comportamento mental da humanidade de acordo com os valores ideológicos do imperialismo.

    Saramago era de uma lucidez serena mas enérgica, e sua coerência era tal que ele fez questão de que seus livros fossem lançados no Brasil mantendo a grafia lusitana. Que nós, brasileiros, tenhamos que encarar a obra de Saramago com palavras que usam acento agudo em vez de circunflexo, ou de jargões e grafias diferentes da nossa. São pequenas variações da nossa língua, como dialetos ou sotaques distantes do mesmo idioma.

    Abaixo algumas de suas mais conhecidas frases e uma poesia:

    “O Universo não tem notícia da nossa existência”
    “A minha posição é a de constante interrogação”
    “A doença mortal do homem, como homem, é o egoísmo”
    “Quando um político mente, destrói a base da democracia”
    “Há duas palavras que não se podem usar: uma é sempre, outra é nunca”
    “Ao lado das minhas personagens femininas, as masculinas são insignificantes”
    “Somos todos escritores, só que alguns escrevem e outros não” 


    Na ilha por vezes habitada

    Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
    manhãs e madrugadas em que não precisamos de
    morrer.
    Então sabemos tudo do que foi e será.
    O mundo aparece explicado definitivamente e entra
    em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
    palavras que a significam.
    Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
    mãos.
    Com doçura.
    Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
    vontade e os limites.
    Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
    sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
    mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
    ossos dela.
    Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
    como a água, a pedra e a raiz.
    Cada um de nós é por enquanto a vida.
    Isso nos baste.
    José Saramago


    Na ilha por vezes habitada - José Saramago




    Na ilha por vezes habitada

    Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
    manhãs e madrugadas em que não precisamos de
    morrer.
    Então sabemos tudo do que foi e será.
    O mundo aparece explicado definitivamente e entra
    em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
    palavras que a significam.
    Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
    mãos.
    Com doçura.
    Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
    vontade e os limites.
    Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
    sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
    mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
    ossos dela.
    Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
    como a água, a pedra e a raiz.
    Cada um de nós é por enquanto a vida.
    Isso nos baste.
    José Saramago

    terça-feira, 22 de julho de 2014

    Empreiteira que constrói aeroporto na fazenda do tio de Aécio doa para campanha

    Aécio tentou explicar obra realizada na fazenda de seu tio, em Minas
    Quando no governo do Estado de Minas Gerais, o candidato do PSDB à presidência da República,Aécio Neves, liberou a construção de um aeroporto em uma fazenda de propriedade do tio dele, na cidade de Cláudio, interior do Estado. A obra, que custou cerca de R$ 14 milhões aos COFRESpúblicos, foi concluída em 2010, na fazenda de Múcio Guimarães Tolentino, o tio do senador. A denúncia, que gerou protestos por todo o país, não para na possível malversação do Erário, mas chama atenção para fatos como o equipamento, embora público, ser administrado pela família deAécio e, segundo o diário conservador paulistano Folha de S.Paulo, autor da denúncia, quem “tem a chave” para acessa-lo é o próprio Múcio Tolentino.
    Na nota que divulgou na manhã de domingo, Aécio tentou dar explicar o negócio envolvendo o governo mineiro – sob sua gestão – e da família. Ele alega que o “antigo proprietário” contesta o valor da desapropriação promovida pelo Estado para implementar o aeroporto. Ou seja, o tio de Aécio teve um aeroporto construído em sua fazenda, com dinheiro do governo do Estado, gerido pelo sobrinho, “tem a chave” da pista e quer receber mais do que determinaram as perícias de uma desapropriação que ao que tudo indica só se deu no papel.
    A novidade, porém, fica por conta da empresa que venceu a licitação para a obra ser doadora da campanha eleitoral de Aécio Neves. A Vilasa Construtora doou R$ 67 mil para o comitê de Neves na disputa ao governo mineiro, em 2006. A informação está registrada no Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais. Em 2010, quando o aeroporto foi construído, o sucessor de Aécio, Antonio Anastasia, recebeu R$ 20 mil da empresa para sua campanha.
    Os valores não são expressivos no montante geral de gastos dos candidatos. Em 2006, Aécio orçou junto à Justiça Eleitoral sua campanha em R$ 20 milhões. Já em 2010, Anastasia estimou gastar R$ 35 milhões. Entretanto, os recursos repassados pela empresa aos tucanos figuram no rol de episódios em que empresas fazem doações eleitorais e conquistam também contratos públicos. A Vilasa já foi contratada para outras obras do governo mineiro, como informa seu site, em empreendimentos de Copasa (Companhia de Saneamento) e Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais. Também já prestou serviços para o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e outros órgãos públicos.
    http://correiodobrasil.com.br/noticias/politica/empreiteira-que-constroi-aeroporto-na-fazenda-do-tio-de-aecio-doa-para-campanha/717629/

    segunda-feira, 21 de julho de 2014

    O aeroporto de Aécio




    Algumas pessoas estão eufóricas com a informação, divulgada hoje pela Folha, de que na gestão de Aécio foi construído um aeroporto com dinheiro do contribuinte numa propriedade de um tio dele.
    14 milhões de reais foram gastos na obra, segundo a Folha.
    A euforia que me chama a atenção não é a dos petistas. Esta é previsível, dadas as circunstâncias.
    É a de pessoas para as quais o furo da Folha é a prova definitiva de que a mídia não favorece o PSDB e nem, muito menos, se esmera nas denúncias contra o PT.
    Cada um fique com sua crença, mas quem acredita nisso – na demonstração de neutralidade apartidária por conta do aeroporto denunciado – acredita em tudo, conforme disse Wellington.
    Observe.
    Primeiro, entra aí uma espécie de cota da Folha de notícias negativas para o PSDB. Assim como tem uma cota de colunistas de pensamento  independente – para cada Janio de Freitas há vários Magnollis – a Folha tem também uma para notícias.
    Faz parte do esforço em manter de pé o slogan com o qual ela conquistou, no passado, a liderança entre os jornais: aquele que afirma que a Folha não tem rabo preso com ninguém.
    Muito mais por razões de marketing do que propriamente por razões jornalísticas, a Folha é entre as publicações das grandes companhias jornalísticas a que mais parece se preocupar com a imagem de imparcialidade.
    É por isso que, de vez em quando, você vai ler lá coisas como o aeroporto de Minas. É uma característica da Folha, e só da Folha.
    Saia da árvores e analise a floresta.
    A grande diferença entre uma denúncia contra o PT e uma denúncia contra o PSDB está na repercussão dada pelas demais empresas de jornalismo.
    Num caso, quando a vítima das acusações é o PSDB, o assunto vai morrendo, à falta de interesse de jornais e revistas. No outro, quando contra o muro está o PT, são manchetes incessantes, e desdobramentos se multiplicam.
    Compare a cobertura dada, algum tempo atrás, à Petrobras, depois da compra de uma refinaria em Pasadena, com o noticiário relativo ao escândalo das propinas do metrô de São Paulo.
    O episódio que melhor mostra a distinção no tratamento de temas assemelhados diz respeito à compra de votos no Congresso para que fosse aprovada a emenda que permitia a reeleição de FHC.
    Como agora, a denúncia partiu da Folha.
    Como o Jornal Nacional, por exemplo, repercutiu a compra? Nos últimos anos, o JN se habituou a pegar denúncias anti-PT da Veja e, na edição de sábado, dá-las com extremo alarido.
    Eram amplificados assim, com o mesmo expediente, ataques ao governo petista. O espaço dado pelo JN às acusações levava depois, durante a semana, o resto da mídia – jornais, sobretudo – a se engajar na exploração dos “furos” da Veja.
    Este comportamento padrão, repetido metodicamente ao longo de tanto tempo, acabou minando a credibilidade da grande mídia perante a parcela mais esclarecida do público – e não apenas entre petistas.
    Alguns detalhes mudaram: a radicalização progressiva da Veja levou os editores do Jornal Nacional a tomarem mais cuidado com o noticiário da revista. Acabou a repetição mecânica.
    Mas o processo, em si, continua o mesmo. Notícia ruim contra o PT é, para a mídia, notícia boa. Notícia ruim contra o PSDB é, para a mídia, notícia ruim.
    O aeroporto de Aécio, por tudo isso, rapidamente vai sumir do noticiário da mídia nesta semana.
    Não porque o assunto não seja importante, mas pelas preferências ideológicas e partidárias das grandes empresas de jornalismo, para as quais notícia é algo definitivamente subjetivo.

    http://pigimprensagolpista.blogspot.com.br/2014/07/o-aeroporto-de-aecio-nao-nao-vai-ter-jn.html#.U82ow-NdWZk
    ***

    PIB- O perfeito idiota brasileiro, por Paulo Nogueira



    O texto abaixo é uma versão revisada, atualizada e abrasileirada do Manual do
     Perfeito Idiota Latino-americano, dos anos 1990.
    PIB. Chamemos de PIB. O Perfeito Idiota Brasileiro.
    Vamos descrever o dia do PIB. Vinte e quatro horas na vida de um PIB para
     que os pósteros, a posteridade, tenham uma idéia do Brasil de 2012.
    Ele acorda às sete horas da manhã. Tem que preparar o próprio café da manhã. Já faz
     alguns anos que sua mulher parou de fazer isso para ele, e ficou caro demais para ele
     pagar uma empregada doméstica.
    Ele lamenta isso.  Era bom quando havia uma multidão de nordestinas sem instrução
     nenhuma que saíam de suas cidades por falta de perspectiva e iam dar no Sul, onde
    acabavam virando domésticas.
    PIB dá um suspiro de saudade. Chegou a ter uma faxineira e uma cozinheira nos velhos e bons tempos. Num certo momento, PIB percebeu que as coisas começaram a ficar mais difíceis. Havia menos mulheres dispostas a trabalhar como domésticas, e os salários foram ficando absurdos.
    Para piorar ainda mais as coisas, ao contrário do que sempre acontecera, a última
     empregada de PIB recusou votar no candidato que ele indicou.
    Mulherzinha metida.
    PIB tomou o café na cozinha, com o Globo nas mãos. Assinava o jornal fazia muitos anos.
    Se todos os brasileiros fossem como o Doutor Roberto Marinho, PIB pensou, hoje seríamos
     os Estados Unidos.
    Por que ainda não ergueram estátuas para ele?
    Com o Globo, PIB iniciou sua sessão de leituras matinais. Mais ou menos quarenta minutos,
     antes de ir para o escritório.
    Leu Merval. Quer dizer, leu o primeiro parágrafo e mais o título porque naquele dia o texto,
    embora magnífico, estava longo demais. Havia um artigo de Ali Kamel. “Um cabeça”,
     pensou PIB. “Deve ter o QI do Einstein.” Mas também aquele artigo –embora brilhante,
    um tratado perfeito sobre o assistencialismo ou talvez sobre o absurdo das cotas, PIB já
     não sabia precisar — parecia um pouco mais comprido do que o habitual. Deixou para
     terminar a leitura à noite.
    PIB vibrou porque, se não bastassem Merval e Kamel, havia ainda Jabor.
    Um gênio. Largou o cinema para iluminar o Brasil com sua prosa espetacular. Um 
    verdadeiro santo. Podia estar com a sala da casa cheia de Oscar.
    Começou a ler Jabor e refletiu. “Impressão minha ou hoje aumentaram o tamanho do Jabor?
    ” PIB sacudiu a cabeça, na solidão da cozinha, num gesto de reverência extrema por Jabor,
     mas também achou melhor deixar para ler mais tarde. Era seu dia de sorte. Também o
    historiador Marco Antônio Villa estava no Globo. “Os primeiros 18 meses do governo Dilma
     foram fracassos sobre fracassos” era a primeira linha. Bastava. Villa sempre surpreendia
     com pensamentos que fugiam do lugar comum.
    Como uma terrorista chegou ao poder? Bem, tenho que comprar algum livro de 
    história do Villa. Ele com certeza escreveu vários.
    Completou a sessão de leituras da manhã na internet. Leu Reinaldo Azevedo.
    Quer dizer, naquela manhã, leu um parágrafo. Na verdade, metade. Menos. O título. Não
     importava. Azevedo era capaz de mesmerizar toda uma nação com a luz cintilante de
     meia dúzia entre milhares de linhas que produzia incessantemente. PIB deixava escapar
     um sorriso de admiração a cada vez que li a palavra “petralha” em Azevedo.
    Rei é rei. Um cabeça pensante. Por que será que não ocorreu a nenhum presidente da
     República contratar esse homem como assesor especial? Se o Brasil bobear, a Casa 
    Branca vem e contrata.
    Ainda na internet, uma passagem pelo Blog do Noblat. Naquele dia, no blog havia uma
     coluna assinada por Demóstenes. PIB deu parabéns mentais a Noblat por abrir espaço a
     Demóstenes, nosso campeão mundial da moralidade, nosso Catão.
    Por que falam tanto do tal do Assange e do Wikileaks quando temos tantos caras muito 
    melhores?
    A caminho do trabalho, PIB ligou na CBN. Ouviu uma entrevista com o filósofo Luiz Felipe
     Pondé. “Meu pequeno carro não contribui para o aquecimento do planeta”, disse Pondé,
     o nosso Sócrates, o Aristóteles verde-amarelo.
    Preciso anotar essa. Meu pequeno carro não contribui para o aquecimento global.
    Isso o levou a reparar nos ciclistas nas ruas de São Paulo. Cada dia parecia haver mais.
    Mau sinal. Havia muitas bicicletas no trajeto. PIB sentiu vontade de atropelá-las.
    Odiava ciclistas. Atrapalhavam os motoristas.
    Abria uma única exceção: Soninha. Desde que ela continuasse a posar pelada em nome
    das bicicletas.
    Hahaha.
    Na CBN ouviu também informações e comentários sobre o mundo. “Prestígio em Paris
     dá vantagem a Sarkozy nas eleições presidenciais”, a CBN avisou. PIB admirava Sarkozy.
    Proibir a burca foi um gesto histórico. As muçulmanas deveriam ser gratas a Sarkozy. Elas
     haveriam de votar maciçamente nele para dar a ele o segundo mandato para o qual a CBN
     dizia que ele era o favorito.
    Os maridos obrigam as coitadas a usar burca.
    O tema do islamismo estava ainda em sua mente quando se instalou em seu cubículo de
     gerente na empresa. PIB refletiu sobre o mundo. Tinha lido em algum lugar que no Afeganistão
     as pessoas queriam que os soldados americanos fossem embora.  Os afegãos 
    estavam queimando bandeiras dos Estados Unidos. A mesma coisa estava ocorrendo
     no Iraque. E no Iêmen. Em todo o Oriente Médio, fora Israel.
    Ingratos. Como eles não percebem que os Estados Unidos estão lá para promover a 
    democracia e levar a civilização? Os americanos estão acima de interesses mesquinhos
     por coisas como o petróleo.
    Era um perigo o avanço muçulmano. Não que apoiasse, mas PIB entendia o norueguês que
    matara 77 pessoas por considerar que o governo de seu país era leniente demais com os
     muçulmanos.
    A raça branca está em perigo.
    Entretido em salvar a raça branca, PIB não percebeu o tempo passar. Só notou pela fome
     que já era hora de comer. A opção, mais uma vez, foi pelo Big Mac do shopping, e mais a
     Coca dupla. Detestava os ativistas dos direitos dos animais porque combatiam os Big Macs.
     PIB estava tecnicamente obeso, mas na semana que vem iniciaria uma dieta e começaria
    também a se exercitar.
    Fim do expediente. A estagiária estava com um decote particularmente ousado.
    Talvez estivesse sem sutiã. PIB a chamou algumas vezes para discutir assuntos que na
    verdade não tinham por que ser discutidos. A questão era olhá-la. Valeu o dia, refletiu.
    Na volta, mais uma vez foi tomado pela tentação de atropelar os ciclistas. “Quando você
    deseja muito uma coisa, todo o universo conspira a seu favor”. PIB se lembrou da frase de
    seu escritor favorito, Paulo Coelho. Então ele desejou muito que as bicicletas sumissem.
    Xiitas.
    Algum colunista escrevera isso sobre os ciclistas. PIB não lembrava quem era, mas
     concordava inteiramente. Os ciclistas são gente esquisita que deve fazer ioga e praticar
     meditação, suspeitava PIB.
    Tudo gay!
    Já incorporara para si mesmo a frase genial de Pondé.
    Meu carro pequeno não contribui para o aquecimento global.
    No churrasco de domingo, ia soltar essa. Teve um breve lapso de inquietação quando
     se deu conta de que os brasileiros que tanto contribuíam para a elevação do pensamento
     nacional já não eram tão novos assim, O próprio Merval era imortal apenas pela sua
    contribuição às letras, reconhecida pela Academia. Então lhe veio à cabeça a juventude
     sábia de Luciano Huck, e ficou mais sossegado.
    A mulher não percebeu quando ele chegou. Não era culpa dela. A televisão estava ligada
    com som alto na novela da Globo. PIB lera várias vezes que as novelas tinham uma
     “missão civilizadora” no Brasil. Mais uma dívida dos brasileiros perante Roberto Marinho:
    a perpetuação das novelas. A mídia impressa brasileira reconhecia a “missão civilizadora”
    na forma de uma cobertura maravilhosa das novelas. Uma vez um leitor da Folha reclamou
     por encontrar na Ilustrada seis artigos sobre novelas.
    O brasileiro só sabe reclamar. E reivindicar. Uma besta!
    PIB deu um alô que não foi ouvido. Ou pensou ter dado. Sentou ao lado da mulher, e
     o silêncio confirmou para ele sua tese: depois de muitos anos de casamento as pessoas
     se entendem tão bem que não precisam trocar uma só palavra. Nem se tocar. É quando o
     casamento chega ao estágio da perfeição: ninguém tem que se empenhar para nada.
    A cada quinze dias, PIB tomava Viagra e descarregava as tensões sexuais com uma
    escorte que cobrava 400 reais.
    Tá barato.
    Não ligava para novelas. Mas soubera no escritório que Juliana Paes aparecia de
    vez em quando pelada. Passou por sua cabeça um pensamento rápido.
    Talvez eu devesse pedir para a patroa me avisar quando a Juliana Paes ficar sem roupa.
    Terminada a novela, era a sua vez na televisão. Futebol. Bacana o futebol passar bem
    tarde, depois da novela. Provavelmente a Globo pensara nisso para ajudar os pobres
    que moravam longe e demoravam horas para chegar em casa depois do trabalho.
    “Boa noite, amigos da Globo!”
    Um carisma total o Galvão. Subaproveitado. Devia estar no Ministério da Economia,
     e não narrando futebol. 
    PIB lera que Galvão estava morando em Mônaco. Sabichão. Ficava muito mais fácil,
    assim, cobrir a Fórmula 1. Nunca alguém da estatura moral de Galvão optaria por Mônaco
     para não pagar imposto. Galvão certamente faria bonito na Dança dos Famosos, pensou
     PIB.
    PIB não torcia a rigor para time nenhum. Era, essencialmente, anticorintiano.
    Com seu saco de pipocas na mão, viu, contrariado, o Corinthians vencer.
    Amanhã os boys vão estar insuportáveis.
    PIB queria muito ver o Jô.
    Era um final de dia perfeito, ainda mais porque antes havia o aperitivo representado por
    William Waack. PIB achava um privilegio poder ver Waack não apenas na Globo como na
     Globonews. Os Marinhos podiam cobrar pela Globonews, mas não faziam isso para
    proporcionar cultura de graça aos brasileiros. PIB zapeava quando Waack dava suas
     lições na televisão, mas os fragmentos que pescava eram suficientes.
    Jô. Não posso perder Jô. Uma enciclopédia. Podia ser editoriaslista do Estadão.
     Hoje ele vai entrevistar o Mainardi!
    PIB bem que queria ver Jô. Ou pelo menos incluí-lo no zapeamento. Duas palavras de
     Jô valiam por mil das pessoas normais.
    Mas não foi possível.
    PIB acabou dormindo no sofá, do qual sua mulher achou preferível não o tirar, e
     onde ele roncou tão alto quanto o som da tevê — e teve, como sempre, o sono
     límpido, impoluto, irreprochável dos perfeitos idiotas.

    Aeroporto em fazenda da família de Aécio Neves custou R$ 14 milhões

    Do R7
    Aeroporto construído em fazenda da família de tucano custou R$ 14 milhõesGeorge Gianni/Divulgação
    O governo de Minas Gerais gastou cerca de R$ 14 milhões para erguer um aeroporto em uma fazenda da família do candidato à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves. Na época, Aécio estava no final do seu segundo mandato como governador de Minas Gerais. As informações são de reportagem publicada pelo jornal Folha de S. Paulo neste domingo (20).
    De acordo com a reportagem, o aeroporto, construído na cidade de Cláudio, a 150 km de Belo Horizonte, é administrado pela família do candidato à Presidência da República, e ficou pronto em 2010. A operação do aeroporto é considerada irregular pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
    A assessoria de imprensa do tucano informou à Folha de S. Paulo que a construção seguiu critérios técnicos. Ele ainda disse que a escolha da área possibilitou que a obra fosse feita com menor custo para o estado.
     http://noticias.r7.com/brasil/aeroporto-em-fazenda-da-familia-de-aecio-neves-custou-r-14-milhoes-20072014