quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Ataque de Bolsonaro faz Cuba anunciar saída do Programa "Mais Médicos"


Em declaração emitida pelo Ministério da Saúde Pública da República de Cuba nesta quarta-feira (14), o governo cubano anunciou a retirada dos médicos deste país que fazem parte do programa “Mais Médicos”.


Do site do PCdoB
Alan Sampaio / Ig
Ataque de Bolsonaro faz Cuba anunciar saída do Programa “Mais Médicos”Ataque de Bolsonaro faz Cuba anunciar saída do Programa “Mais Médicos”
A participação dos médicos cubanos tem, segundo pesquisa do Ministério da Saúde do Brasil, 95% de aprovação dos pacientes atendidos. Os profissionais de saúde da Ilha Caribenha, famosa pela excelência de sua medicina, são enviados para áreas carentes onde médicos brasileiros se recusam a trabalhar.

Isso não impediu uma intensa campanha de ataques aos cubanos por parte do presidente eleito Jair Bolsonaro. Diz a nota do Ministério da Saúde de Cuba:

“O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, com referências diretas, depreciativas e ameaçando a presença de nossos médicos, disse e reiterou que vai modificar os termos e condições do Programa Mais Médicos, com desrespeito para a Organização Pan-Americana da Saúde e o que foi acordado por ela com Cuba, ao questionar a preparação de nossos médicos e condicionar sua permanência no programa à revalidação do título e como única forma a contratação individual (…) As mudanças anunciadas impõem condições inaceitáveis ​​e descumprem as garantias acordadas desde o início do programa, que foram ratificadas em 2016 com a renegociação do Acordo de Cooperação entre a Organização Pan-Americana da Saúde e o Ministério da Saúde do Brasil e o Acordo de Cooperação entre a Organização Pan-Americana da Saúde e o Ministério da Saúde Pública de Cuba. Essas condições inadmissíveis impossibilitam a manutenção da presença dos profissionais cubanos no Programa”.

A nota termina afirmando que o povo brasileiro “será capaz de entender sobre quem recai a responsabilidade que nossos médicos não possam continuar fornecendo sua contribuição de solidariedade naquele país”.

Cuba, de fato, agiu de forma coerente e altiva, pois era mais do que previsível que o o autoritário e truculento presidente que assumirá em 1º de janeiro iria buscar submeter os dignos profissionais de saúde da ilha caribenha a constantes constrangimentos.

Os médicos cubanos saem, assim, de cabeça erguida, cercados pelo carinho e pela gratidão do povo brasileiro, povo este que, mais dia menos dia, chamará para uma prestação de contas a quem, movido pela cegueira ideológica da extrema-direita, está pouco se importando com o destino dos trabalhadores pobres, público atendido pelos médicos cubanos.

Leia, abaixo, a íntegra da nota.
Declaração do Ministério da Saúde Pública
O Ministério da Saúde Pública da República de Cuba, comprometido com os princípios de solidariedade e humanistas que nortearam a cooperação médica cubana por 55 anos, está envolvido desde a sua criação, em agosto de 2013, no Programa Mais Médicos para o Brasil. A iniciativa de Dilma Rousseff, na época presidenta da República Federativa do Brasil, tinha o nobre propósito de garantir atendimento médico para o maior número da população brasileira, em consonância com o princípio da cobertura universal da saúde, promovida pela Organização Mundial da Saúde.

Esse programa previu a presença de médicos brasileiros e estrangeiros para trabalharem em áreas pobres e remotas daquele país.

A participação cubana na mesma é feita através da Organização Pan-Americana da Saúde e se distinguiu pela ocupação de vagas não cobertas por médicos brasileiros ou de outras nacionalidades.

Nestes cinco anos de trabalho, cerca de 20 mil colaboradores cubanos atenderam 113,3 milhões de pacientes (113.359.000) em mais de 3.600 municípios, chegando a ser atingidos por eles um universo de 60 milhões de brasileiros, constituindo 80% de todos os médicos participantes do programa. Mais de 700 municípios tiveram um médico pela primeira vez na história.

O trabalho dos médicos cubanos em locais de extrema pobreza, nas favelas do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador da Bahia, nos 34 Distritos Especiais Indígenas, especialmente na Amazônia, foi amplamente reconhecido pelos governos federal, estaduais e municipais daquele país e pela sua população, que concedeu 95% de aceitação, segundo um estudo encomendado pelo Ministério da Saúde do Brasil à Universidade Federal de Minas Gerais.

Em 27 de setembro de 2016, o Ministério da Saúde Pública de Cuba, em uma declaração oficial, informou perto da data de expiração do contrato e em meio dos eventos em torno do golpe de Estado legislativo e judiciário contra a presidenta Dilma Rousseff que Cuba “continuaria participando do acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde para a aplicação do Programa Mais Médicos, desde que fossem mantidas as garantias oferecidas pelas autoridades locais”, o que foi respeitado até agora.

O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, com referências diretas, depreciativas e ameaçando a presença de nossos médicos, disse e reiterou que vai modificar os termos e condições do Programa Mais Médicos, com desrespeito para a Organização Pan-Americana da Saúde e o que foi acordado por ela com Cuba, ao questionar a preparação de nossos médicos e condicionar sua permanência no programa à revalidação do título e como única forma a contratação individual.

As mudanças anunciadas impõem condições inaceitáveis ​​e descumprem as garantias acordadas desde o início do programa, que foram ratificadas em 2016 com a renegociação do Acordo de Cooperação entre a Organização Pan-Americana da Saúde e o Ministério da Saúde do Brasil e o Acordo de Cooperação entre a Organização Pan-Americana da Saúde e o Ministério da Saúde Pública de Cuba. Essas condições inadmissíveis impossibilitam a manutenção da presença dos profissionais cubanos no Programa.

Portanto, perante esta triste realidade, o Ministério da Saúde Pública de Cuba tomou a decisão de não continuar participando do programa Mais Médicos e assim foi comunicado ao diretor da Organização Pan-Americana da Saúde e aos líderes políticos brasileiros que fundaram e defenderam essa iniciativa.

Não é aceitável questionar a dignidade, o profissionalismo e o altruísmo dos colaboradores cubanos que, com o apoio de suas famílias, prestam atualmente serviços em 67 países. Em 55 anos, 600.000 missões internacionalistas foram realizadas em 164 países, envolvendo mais de 400.000 trabalhadores da saúde, que em muitos casos cumpriram essa honrosa tarefa em mais de uma ocasião. Destaque para as façanhas da luta contra o Ebola na África, a cegueira na América Latina e no Caribe, a cólera no Haiti e a participação de 26 brigadas do Contingente Internacional de Médicos Especializados em Desastres e Grandes Epidemias “Henry Reeve” no Paquistão, Indonésia, México, Equador, Peru, Chile e Venezuela, entre outros países.

Na esmagadora maioria das missões concluídas, as despesas foram assumidas pelo governo cubano. Da mesma forma, em Cuba, 35.613 profissionais de saúde de 138 países foram capacitados gratuitamente, como expressão de nossa solidariedade e vocação internacionalista.

Aos colaboradores lhes foi mantido, em todos os momentos, seu posto de trabalho e 100% do seu salário em Cuba, com todo o trabalho e garantias sociais, tal como aos outros funcionários do Sistema Nacional de Saúde.

A experiência do Programa Mais Médicos para o Brasil e a participação cubana no mesmo demonstram que um programa de cooperação Sul-Sul pode ser estruturado, sob os auspícios da Organização Pan-Americana da Saúde para promover seus objetivos em nossa região. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e a Organização Mundial da Saúde qualificam-no como o principal exemplo de boas práticas na cooperação triangular e na implementação da Agenda 2030 com os seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Os povos da nossa América e do resto do mundo sabem que sempre poderão contar com a vocação humanista e solidária de nossos profissionais.

O povo brasileiro, que fez do programa Mais Médicos uma conquista social, que teve confiança desde o início nos médicos cubanos, aprecia suas virtudes e agradece o respeito, sensibilidade e profissionalismo com que eles o atenderam, e será capaz de entender sobre quem recai a responsabilidade que nossos médicos não possam continuar fornecendo sua contribuição de solidariedade naquele país.

Havana, 14 de novembro de 2018

Download Nota Cuba Mais Médicos


Por Wevergton Brito Lima

Colégio proíbe alunos de renovarem matrícula após defenderem tortura


Em mensagens no WhatsApp, jovens do Colégio Antônio Vieira também ofendem mulheres e índios; pais alegam que eles 'não tinham noção' do que diziam

O Colégio Antônio Vieira, tradicional escola privada de Salvador que integra a Rede Jesuíta de Educação, proibiu alunos de renovarem as matrículas para o ano letivo de 2019 e excluiu estudantes do 3º ano do Ensino Médio da formatura depois que vieram à tona mensagens trocadas por eles em um grupo do WhatsApp com ataques a mulheres e índios, piadas homofóbicas e a defesa da criação de um “ministério da tortura, mais importante que o da cultura”.
O grupo onde as ofensas foram escritas tem o nome de “Direita delirante” e leva na imagem de destaque uma foto do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL). Os jovens que participam da conversa têm entre 14 e 17 anos.
Nas mensagens, um dos adolescentes sugere que pessoas sejam “torturadas dando umas cinco facadas logo”. Outro defende como cumprimento de pena “trabalhar em uma mina de carvão até morrer”. “Que tal mandar os bandidos pras reservas indígenas? Aí eles se matam e matam os índios também”, propõe o mesmo rapaz. “Índio é inútil, só serve para ter feriado, que se pá que nem feriado é [sic]”, diz outro.
“A partir de hoje #ele não volta a significar a negativa da mulher a liberar o c…”, mostra uma imagem compartilhada no grupo.
Em nota, o colégio informou que tomou “medidas educativas pertinentes aos fatos lamentáveis”. “No entanto, firmados numa ética do cuidado para com todos os envolvidos, entendemos que as decisões tomadas referem-se exclusivamente ao âmbito interno da nossa instituição. Desejamos que este caso, que feriu profundamente os princípios e valores da nossa comunidade educativa, sirva para a reflexão de todos sobre a importância do engajamento coletivo na promoção da cultura de paz e respeito com os demais”, comunicou.
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Em uma carta, pais dos alunos pediram que o colégio reconsidere a decisão e disseram que os estudantes “não tinham noção da dimensão do que diziam”.
“[Foram] ‘blefes’ de adolescência, uma forma de auto afirmação típica da idade, exatamente, para chamar atenção, chocar, posar ‘do contra’ dentro de um grupo de colegas, os quais não chegaram nem perto de sequer levar essa ameaça à um nível mais sério. E, quem não fez o mesmo na adolescência, que atire a primeira pedra. Sendo, a sorte dos adolescentes daquela época, justamente, a inexistência de redes sociais, em especial, WhatsApp. […] Entendemos que eles devam receber uma repreensão, mas dentro de um critério de proporcionalidade e razoabilidade do que realmente fizeram”, diz um trecho da carta.
Com um século de atividades, o Colégio Antônio Vieira atende a alunos do 1º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio.