sábado, 15 de outubro de 2011

Pensamentos e texto de Ernesto Che Guevara. O Jovem Comunista



Eu creio que a primeira coisa que deve caracterizar um jovem comunista é a honra que sente pôr se jovem comunista . Essa honra que o leva a mostrar perante todo o mundo sua condição de ser jovem comunista, que não o submete a clandestinidade, que não o reduz a fórmulas, mas que ele manifesta em cada momento, que lhe sai do espírito, que tem interesse em demostrar porque é o seu símbolo de orgulho.

Junta-se a isso, um grande sentido do dever para com a sociedade que estamos construindo, para com nossos semelhantes como seres humanos e com todos os homens do mundo.

Isso é algo que deve caracterizar o jovem comunista. Paralelamente a isso, uma grande sensibilidade perante a todos os problemas, grande sensibilidade em relação a injustiça; espírito inconformado cada vez que surge algo que está mal, tenha-o dito quem o disser. Pôr em questão tudo o que não se perceber e pedir aclaração do que não estiver claro; declarar a guerra ao formalismo, a todos os tipos de formalismo. Estar sempre aberto para receber as novas experiências, para conformar a grande experiência da humanidade, que leva muitos anos avançando pela senda do socialismo, as condições concretas do nosso país, as realidades que existem em Cuba: e pensar todos e cada um como irmos mudando a realidade, como a melhorarmos.

O jovem comunista deve se propor ser sempre o primeiro em tudo, lutar pôr ser o primeiro, e se sentir incomodado quando em algo ocupa outro lugar. Lutar sempre pôr melhorar, pôr ser o primeiro. Claro que nem todos podem ser o primeiro, mas sim estar entre os primeiros, no grupo da vanguarda, Ser um exemplo vivo, Ser o espelho para os companheiros que não pertencem as juventudes comunistas, Ser o espelho onde possam olhar-se os homens e mulheres de idade mais avançada que perderam certo entusiasmo juvenil, que perderam a fé na vida e que ante o estímulo do exemplo reagem sempre bem .Eis outra tarefa dos jovens comunistas.

Junto a isso, um grande espírito de sacrifício, um espírito de sacrifício não somente para as jornadas heróicas, mas para todo momento. Sacrificar-se para ajudar ao companheiro nas pequenas tarefas, E que possa cumprir o seu trabalho, para que possa cumprir com o seu dever no colégio, no estudo, para que possa melhorar de qualquer maneira. Estar sempre atento a toda as pessoas que o rodeia. Quer dizer: apresenta-se a todo jovem comunista a tarefa de ser essencialmente humano, ser tão humano que se aproxime ao melhor do humano, purificar o melhor do homem pôr meio do trabalho do estudo, do exercício de solidariedade continua com o povo e com todos os povos do mundo, desenvolver ao máximo a sensibilidade até se sentir angustiado quando um homem é assassinado em qualquer lugar do mundo e para se sentir entusiasmado quando em algum lugar do mundo se levanta uma nova bandeira de liberdade.

O jovem comunista não pode estar limitado pelas fronteiras de um território: o jovem comunista deve praticar o internacionalismo proletário e senti-lo como coisa própria. Lembrar-se, como devemos lembrar-nos nós, aspirantes a comunistas aqui em Cuba, que somos um exemplo real e palpável para toda nossa América, e mais que para nossa América, para outros países do mundo que lutam também em outros continentes pôr sua liberdade, contra o colonialismo, contra o neocolonialismo, contra o imperialismo, contra todas as formas de opressão dos sistemas injustos; Lembrar sempre que somos uma tocha acendida, de que nós todos somos o mesmo espelho que cada um de nós individualmente é para o povo de Cuba, e somos esse espelho para que se olhem nele os povos da América, os povos do mundo oprimido que lutam pôr sua liberdade. E devemos ser dignos desse exemplo. Em todo momento e a toda hora devemos ser dignos desse exemplo.

Isso é o que nós pensamos que deve ser um jovem comunista. E se nos disserem que somos românticos, que somos idealistas inveterados, que estamos pensando em coisas impossíveis, e que não se pode atingir da massa de um povo que seja quase um arquétipo humano, nós temos que contestar, uma e mil vezes que sim, que sim se pode, que estamos no certo, que todo o povo pode ir avançando, ir liquidando intransigentemente todos aqueles que ficarem atrás, que não forem capazes de marcharem ao ritmo a que marcha a revolução cubana Tem que ser assim, deve ser assim, e assim será, companheiros. Será assim, porque vocês são jovens comunistas, criadores da sociedade perfeita, seres humanos destinados a viver num mundo novo de onde terá desaparecido de vez todo o caduco, todo o velho, todo o que representar a sociedade cujas bases acabam de ser destruídas. Para atingirmos isso tem que trabalhar todos os dias. Trabalhar no sentido interno de aperfeiçoamento, de aumento dos conhecimentos, de aumento da compreensão do mundo que nos rodeia. Inquirir e averiguar conhecer bem o porquê das coisas e colocar sempre os grandes problemas da humanidade como problemas propios.

Assim, em um momento dado, em um dia qualquer dos anos que vem após passarmos muitos sacrifícios, sim depois de termos porventura visto muitas vezes a beira da destruição, depois de termos porventura visto como nossas fábricas são destruídas e de tê-las reconstruído novamente, depois de assistirmos ao assassinato, a matança de muitos de nos e de reconstruirmos o que for destruído, o fim de isso tudo, um dia qualquer, quase sem repararmos, teremos criado, junto dos outros povos do mundo, a sociedade comunista, o nosso ideal.

Che

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

40 mil médicos cubanos prestam serviços pelo mundo



O trabalho dos médicos cubanos no mundo pode ser qualificado de grandioso. Hoje, mais de 40 mil especialistas do setor prestam serviço gratuito em 68 países, principalmente em localidades afastadas ou comunidades carentes.

Um exemplo disso é a brigada médica cubana “Ernesto Che Guevara”, que chegou à Nicarágua em 2007. Lá, atende a população em zonas pobres, entre elas Puerto Cabeza, Bluefields e Siuna.

O grupo já deu mais de quatro milhões de consultas. Também colabora nas campanhas de prevenção, indicando às famílias como melhorar a higiene doméstica e evitar a propagação de doenças como a dengue, freqüente nessa área geográfica.

Dos 172 colaboradores presentes na Nicarágua, 43 estão engajados na chamada Missão Milagre. Seu propósito é facilitar atendimento oftalmológico gratuito a pessoas de baixa renda. O programa, instaurado em várias nações do hemisfério, permitiu recuperar a visão de milhares de nicaragüenses.

Os indicadores de saúde no país centro-americano melhoraram notavelmente após Daniel Ortega ter assumido a presidência. A partir daí, o governo nicaragüense deu prioridade ao setor da saúde pública. No ano passado, quase 9% do Produto Interno Bruto foi investido nessa área.

Centenas de jovens nicaragüenses estudam na Escola Latino-americana de Medicina de Havana. Muitos deles estão completando seus estudos na Nicarágua sob a direção de especialistas e professores cubanos.

Fonte: Rádio Havana/Vermelho

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A INJUSTIÇA.




*Pablo Neruda

Quem descobre o quem sou descobrirá
quem és.

E o como, e o aonde.

De rompante toquei toda a injustiça.

A fome não era só fome,

mas a medida do homem.

O frio e o vento eram também medidas.

Mediu cem fomes e caiu o erguido.

Aos cem frios foi enterrado Pedro.

Um só vento durou a pobre casa.

E aprendi que o centímetro e o grama,

A colher e a língua mediam a cobiça

e que o homem assediado tombava de repente

num buraco, e já não mais sabia.

Não mais, e esse era o lugar,

o real regalo, o dom, a luz, a vida,

isso era padecer de frio e fome,

e não ter sapatos e tremer

diante do juiz, defronte a outro,

a outro ser com espada ou com tinteiro,

e assim a empurrões, cavando e cortando,

cosendo, fazendo pão, semeando trigo,

pregando cada prego que pedia madeira,

metendo-se na terra como um intestino

para arrancar, às cegas, o carvão crepitante

e, ainda mais, subindo rios e cordilheiras,

cavalgando cavalos, e movendo embarcações,

cozendo telhas, soprando vidros, lavando roupa,

de tal maneira que parecia

tudo isto o reino recém-levantado,

uva resplandecente do cacho,

quando o homem resolveu ser feliz,

e não era, não era assim. Foi descobrindo

a lei da desventura

o trono de ouro sanguinário,

a liberdade celestina,

a pátria sem abrigo

o coração ferido e fatigado,

e um rumor de mortos sem lágrimas,

secos, como pedras que caem.

E então deixei de ser menino

Porque compreendi que a meu povo

não lhe permitiram a vida

e lhe negaram a sepultura.


Pablo Neruda

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Os Comunistas - Pablo Neruda


                                 Pablo Neruda:

Passaram-se alguns anos desde que ingressei no partido... Estou contente... Os comunistas formam uma boa família... Têm a pele curtida e o coração moderado... Por toda parte recebem golpes... Golpes exclusivos para eles... Vivam os espíritas, os monarquistas, os anormais, os criminosos de todas as espécies... Viva a filosofia com muita fumaça e pouco fogo... Viva o cão que ladra e que morde, vivam os astrólogos libidinosos, viva a pornografia, viva o cinismo, viva o camarão, viva todo o mundo, menos os comunistas... Vivam os cintos de castidade, vivam os conservadores que não lavam os pés ideológicos há quinhentos anos... Vivam os piolhos das populações miseráveis, viva a fossa comum gratuita, viva o anarco-capitalismo, viva Rilke, viva André Gide com seu coridonzinho, viva qualquer misticismo... Está tudo bem... Todos são heróicos... Todos os jornais devem sair... Todos podem ser publicados, menos os comunistas... Todos os políticos devem entrar em São Domingos sem algemas... Todos devem celebrar a morte do sanguinário, de Trujillo, menos os que mais duramente o combateram... Viva o carnaval, os últimos dias de carnaval... Há disfarces para todos... Disfarces de idealista cristão, disfarces de extrema esquerda, disfarces de damas beneficentes e de matronas caritativas... Mas cuidado: não deixem entrar os comunistas... Fechem bem a porta... Não se enganem... Eles não têm direito a nada... Preocupemo-nos com o subjetivo, com a essência do homem, com a essência da essência... Assim estaremos todos contentes... Temos liberdade... Que grande coisa é a liberdade!... Eles não a respeitam, não a conhecem... A liberdade para se preocupar com a essência... Com o essencial da essência...

Assim têm passado os últimos anos... Passou o jazz, chegou o soul, naufragamos nos postulados da pintura abstrata, a guerra nos abalou e nos matou... Tudo permanecia o mesmo... Ou não permanecia?... Depois de tantos discursos sobre o espírito e de tantas pauladas na cabeça, alguma coisa ia mal... Muito mal... Os cálculos tinham falhado... Os povos se organizavam... Continuavam as guerrilhas e as greves... Cuba e o Chile se tornavam independentes... Muitos homens e mulheres cantavam a Internacional... Que estranho... Que desanimador... Agora cantam-na em chinês, em búlgaro, em espanhol da América... É preciso tomar medidas urgentes... É preciso bani-lo... É preciso falar mais do espírito... Exaltar mais o mundo livre... É preciso dar mais pauladas... É preciso dar mais dólares... Isto não pode continuar... Entre a liberdade das pauladas e o medo de Germán Arciniegas... E agora Cuba... Em nosso próprio hemisfério, na metade de nossa maçã, estes barbudos com a mesma canção... E para que nos serve Cristo?... Para que servem os padres?... Já não se pode confiar em ninguém... Nem mesmo nos padres. Não vêem nossos pontos de vista... Não vêem como baixam nossas ações na Bolsa...

Enquanto isso sobem os homens pelo sistema solar... Deixam pegadas de sapatos na Lua... Tudo luta por mudanças, menos os velhos sistemas... A vida dos velhos sistemas nasceu de imensas teias de aranha medievais... Teias de aranha mais duras do que os ferros das máquinas... No entanto, há gente que acredita numa mudança, que tem posto em prática a mudança, que tem feito triunfar a mudança, que tem feito florescer a mudança... Caramba!... A primavera é inexorável!

Pablo Neruda - Confesso que vivi
Editora Círculo do Livro S.A.

domingo, 9 de outubro de 2011

"Quem é o partido?"


Discutido, criticado, atacado, perseguido. Bertolt Brecht lutou durante toda a sua vida pelos oprimidos. Claramente assumiu posições de membro do Partido Comunista Alemão e procurou colocar a luta de classes no palco.


Quem é o partido?
Bertold Brecht

“Mas quem é
o partido?
Ele fica sentado
em uma casa com
telefones?
Seus pensamentos
São secretos,
Suas decisões
Desconhecidas?
Quem é ele?

Nós somos ele.
Você, eu, vocês –
Nós todos.
Ele veste sua roupa,
Camarada, e pensa
Com sua cabeça.
Onde moro é a casa
Dele, e quando você é
Atacado ele luta.”