sábado, 12 de outubro de 2013

Cérbero, o cão da porta do inferno

Cérbero, ilustração de Gustave Doré para a Divina Comédia(1832-1883).



monstro tricéfalo Cérbero presidindo sobre oterceiro ciclo infernal, aquele dos glutãos e dosepicúrios; uma aquarela do londrino William Blake(1757-1827); National Gallery of Victoria,Austrália.

Cérbero

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.



Na mitologia gregaCérbero ou Cerberus (em grego,
 Κέρβερος – Kerberos = "demónio do poço") era um
 monstruoso cão de múltiplas cabeças e pescoço que 
guardava a entrada do Hades, o reino subterrâneo dos
 mortos, deixando as almas entrarem, mas jamais saírem e despedaçando os mortais que por lá se aventurassem.
Cérbero era filho de Tífon (ou Tifão) e Equídina, irmão de 
Ortros e da Hidra de Lerna. Da sua união com Quimera
nasceram o Leão da Nemeia e a Esfinge.

MORFOLOGIA[EDITAR]

A descrição da morfologia de Cérbero nem sempre é a 
mesma, havendo variações. Mas uma coisa que em todas
 as fontes está presente é que Cérbero era um cão que 
guardava as portas do Tártaro, não impedindo a entrada 
e sim a saída. Quando alguém chegava, Cérbero fazia festa,
 era uma criatura adorável. Mas quando a pessoa queria ir 
embora, ele a impedia; tornando-se um cão feroz e temido 
por todos. Os únicos que conseguiram passar por Cérbero 
saindo vivos do submundo foram HéraclesOrfeu,Eneias e 
Psiquê.
Cérbero era um cão com várias cabeças, não se têm um 
número certo, mas na maioria das vezes é descrito como
 tricéfalo (três cabeças). Sua cauda também não é sempre 

descrita da mesma forma, às vezes como de dragão, como 
de cobra ou mesmo de cão. Às vezes, junto com sua cabeça
 são encontradas serpentes cuspidoras de fogo saindo de seu
 pescoço, e até mesmo de seu tronco.


Quanto à vida depois da morte, os gregos acreditavam que
 a morada dos mortos era o Sub-mundo, o reino de Hades, 
o deus da morte, ao lado dePerséfone(Deusa da destruição,
filha de Zeus e Deméter). Hades era irmão de Zeus.
Localizava-se nos subterrâneos, rodeado de rios, que só 
poderiam ser atravessados pelos mortos. Os mortos 
conservavam a forma humana, mas não tinham corpo, 
não se podia tocá-los. Os mortos vagavam pelo Hades, 
mas também apareciam no local do sepultamento. Havia 
rituais cuidadosos nos enterros, e os mortos eram cultuados,
 principalmente pelas famílias em suas casas. Quando os 
homens morriam eram transportados, na barca de Caronte
 para a outra margem do rioAqueronte, onde se situava a 
entrada do reino de Hades. O acesso se dava por uma 
porta de diamantes junto a qual Cérbero montava guarda.
Para acalmar a fúria de Cérbero, os mortos que residiam
 no submundo jogavam-lhe um bolo de farinha e mel que os 
seus entes queridos haviam deixado no túmulo.
Seu nome, Cérbero, vem da palavra Kroboros, que significa
 comedor de carne. Cérbero comia as pessoas. Um exemplo
 disso na mitologia éPirítoo, que por tentar seduzir Perséfone
, a esposa de Hades e filha de Deméter, deusa da fertilidade 
da Terra, foi entregue ao cão. Como castigo Cérbero comia
 o corpo dos condenados.
Cérbero, quando a dormir, está com os olhos abertos, porém,
 quando o mesmo está de olhos fechados, está acordado.

APARIÇÕES[EDITAR]

Divina Comédia[editar]

Cérbero aparece no Inferno dos Gulosos, onde estes ficam
 solitários na lama, sem poder comer e beber livremente. E 
ficavam sob uma chuva gelada e a presença de Cérbero que 
os come eternamente com seu apetite insaciável. Cérbero é 
a imagem do apetite descontrolado.

Doze trabalhos de Hércules[editar]

Euristeu, sabendo que Héracles só ficaria mais um ano sob 
suas ordens, estava desesperado de medo e, para seu 
décimo segundo trabalho, ordenou-lhe que descesse ao 
reino de Hades e trouxesse de volta o cão tricéfalo, Cérberus,
que guardava as portas do inferno. Isto, tinha certeza, estava
 acima de suas forças; e o próprio Héracles duvidava que 
conseguisse realizar essa temerária e perigosa façanha. 
Ofertou grandes sacrifícios aos deuses, pedindo sua
 proteção; suas preces foram ouvidas. A deusa Atena, e 
Hermes, mensageiro dos deuses, apresentaram-se a ele,
 acompanhando-o até à sombria caverna, pelo túnel longo
 e escuro que levava às portas do Mundo Subterrâneo. Ao 
percebê-los, as três cabeças de Cérbero puseram-se a uivar
 de maneira horrível, o que chamou a atenção de Hades; mas
ao ver um deus e uma deusa em companhia de Héracles, 
perguntou-lhes o que procuravam.

Héracles e Cerbero. Mosaico romano.
- Meu senhor Euristeu ordenou-me de levar à terra o cão 
tricéfalo Cérbero que guarda esta porta, disse Héracles, e
é pela vontade de Zeus, senhor da terra e do céu, que eu 
lhe obedeço. Deixe-me levar seu cão de guarda para poder
 cumprir as ordens recebidas. Prometo-lhe que Cérbero 
nada sofrerá e lhe será restituído, são e salvo.
Hades fechou a carranca e respondeu:
- Se você for capaz de carregar Cérbero nos ombros, sem 
feri-lo, então poderá levá-lo ao seu senhor Euristeu; mas, 
 prometa trazê-lo de volta, ileso.
Então Héracles aproximou-se de Cérbero e, apesar de suas
 três enormes bocarras guarnecidas de dentes afiados e 
cruéis, ergueu o animal aos ombros e subiu pelo caminho 
que levava da caverna tenebrosa à luz do dia. O caminho era
 longo, áspero e íngreme, e pesada a sua carga; as três 
cabeças rosnavam e mordiam, durante todo o trajeto, 
porém Héracles, concentrando-se no pensamento de próxima 
libertação, não lhes dava atenção. Afinal chegou a Micenas
Euristeu ficou tão apavorado quando soube que Héracles 
trazia nos ombros o terrível cão tricéfalo, que se escondeu 
debaixo da cuba de bronze, mandando-lhe uma mensagem
 na qual lhe ordenava que se afastasse de Micenas para todo 
o sempre. Então, de coração leve, dirigiu-se Héracles para a 
caverna. Desceu pelo longo túnel e depositou Cérbero às 
portas do Inferno.
http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9rbero

Raul Seixas - O início, o Fim e o Meio - Filme COMPLETO



quinta-feira, 10 de outubro de 2013

PSB retruca Marina; confusão criada


Por Altamiro Borges

Como já alertou o "imortal" Merval Pereira, porta-voz da Globo, a verde Marina Silva pode morrer pela língua. Quando mais fala, mais ela se complica. Desde sábado, quando anunciou a sua adesão ao PSB e lamentou a "clandestinidade" da Rede, a ex-senadora virou a queridinha da mídia. É manchete dos jornalões e estrela nas emissoras de tevê - mereceu até festança no programa do Jô Soares. A forte exposição, porém, tem seus custos. Em entrevista à Folha na quarta-feira, Marina Silva afirmou que ela e Eduardo Campos são "possibilidades" para 2014 - colocando em dúvida a candidatura do presidente do PSB. A reação foi imediata, o que indica que haverá muita confusão no novo polo oposicionista.

"Não tem isso de discutir lá na frente a posição na chapa. A candidatura posta é a de Eduardo e ela vai até o dia da eleição. A cabeça de chapa se chama Eduardo Henrique Accioly Campos e esse será o nome na urna no dia da eleição", retrucou o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira. Já o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), um dos mentores da exótica aliança, também negou a "possibilidade" de que o governador de Pernambuco ceda a vaga na disputa presidencial à nova filiada do partido. "Os que apostarem em uma disputa entre Eduardo e Marina vão perder. Não tenho nenhuma dúvida de que a Marina fez opção pela candidatura do Eduardo, e essa candidatura vai até o fim".

Os caciques do PSB podem até fingir que "não tem nenhuma dúvida" sobre a opção de Marina Silva, mas o mundo político sabe que não é bem assim. Nas entrevistas que concedeu aos principais jornais do país - como se ela fosse a candidata a presidente em 2014 -, a ex-verde não explicitou qual é o seu projeto de futuro. Pelo contrário. Ela bombardeou as alianças já costuradas pelo PSB para a sucessão presidencial, criando constrangimentos. Nos bastidores, também cresce a pressão dos "marineiros" para que ela encabece a chapa. Eles lembram que Marina Silva apareceu no último Datafolha com 26% das intenções de voto, contra os minguados 8% de Eduardo Campos.

Caso as próximas pesquisas eleitorais não apontem um forte crescimento da candidatura do presidente do PSB, a pressão vai aumentar - inclusive de setores da mídia oposicionista. Como Marina Silva não detém o controle da máquina da sua nova legenda, a tendência é que a tensão cresça internamente. Não haverá paz para o "hábil" Eduardo Campos. O que parecia um lance genial na disputa sucessória - em que o velho pragmatismo suplantou novamente as questões programáticas - pode se tornar uma baita dor de cabeça. As eleições de 2014 ainda prometem muita adrenalina e surpresas! 


*****

O enigma black bloc


Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:

O movimento black bloc adquiriu uma magnitude tal no Rio de Janeiro que não nos resta outra saída senão procurar compreendê-lo. A repressão não adiantará muito, porque se se trata realmente de uma tendência com apoio popular, qualquer violência do Estado apenas servirá para legitimá-la ainda mais e fazê-la crescer. Quando uma revolta recebe apoio popular, como está acontecendo, ela se torna bíblica.


Quando isso acontece, cidades inteiras podem ser destruídas.

Meus leitores sabem que já fiz críticas pesadas aos mascarados, à baderna e depredação enquanto tática de luta. Na manifestação das centrais, amigas minhas se sentiram diretamente agredidas pelos black blocs, que a certa altura se voltaram contra os próprios manifestantes. Tive vontade de reagir inclusive fisicamente àquela agressão covarde. Passaram-se os meses, os protestos continuaram, os próprios black blocs assumiram posições mais objetivas; politizaram-se; muitos tiraram a máscara.

Dias atrás, conversei com alguns deles, na Cinelândia. Foi algo chocante vê-los de cara limpa, sem máscara. A máscara e as roupas pretas lhes emprestam uma aura maligna e revolucionária, que atrai os olhares e o interesse de muita gente. Tem inclusive uma energia fortemente sexual, o que explica o interesse de artistas como Caetano Veloso, sempre tão pacato e democrático.

É chocante por ver como o ser humano se transforma com facilidade. Em bandos, mascarados, com adrenalina em alta, os black blocs são terríveis e ameaçadores. Abordados solitariamente, antes das confusões, sem máscara, deparamo-nos com jovens frágeis e incultos da periferia, que estão ali muito mais por instinto do que por ideologia.

Tenho lido longas dissertações sobre a origem do movimento na Europa. Pode ser que a ideia tenha vindo de lá, tudo vem de algum lugar, mas é evidente que o Brasil, como em tudo que faz, reinventa o movimento à sua maneira. Para entender os black blocs do Rio de Janeiro é preciso entender a realidade das periferias.

Talvez aí encontremos uma explicação inclusive para a agressão aos sindicalistas no dia 11 de julho, e à antipatia profunda entre setores da esquerda bon vivant (na qual eu me incluo) e os mascarados. O Rio de Janeiro não é apenas uma cidade dividida entre áreas ricas e pobres. Há uma divisão ainda mais radical e profunda que isso. A periferia do Rio tem regiões que parecem, efetivamente, sobreviventes de uma guerra nuclear acontecida há pouco.

No ano passado, procurando uma gráfica em Bonsucesso, passei pelo Buraco do Lacerda, um mergulhão que passa por baixo de uma avenida. Ruas esburacadas, destroços de prédios, muito lixo por toda parte, bueiros sempre exalando mau cheiro, cracudos desfilando segurando pedaços de pau e pedras. De vez em quando, topa-se com um aglomeração apavorante de crianças, adolescentes e adultos usando drogas numa esquina. Um cenário apocalíptico.

Esse é o Rio de Janeiro que todos tentamos esconder, inclusive eu, blogueiro de esquerda. Porque é um Rio feio, sujo, pobre, fedorento, perigoso, ameaçador.

Alguns anos atrás, Paris e outras cidades da França viveram uma série de grandes revoltas em suas periferias. Também houve muita perplexidade, visto que a França é um dos países com maior rede de proteção social. Os jovens que incendiavam carros e ônibus não passavam fome e tinham acesso a escolas públicas e hospitais de razoável qualidade (o que não é o caso dos subúrbios do Rio). A periferia pobre de Paris é feia como qualquer periferia do mundo, mas infinitamente mais organizada e mais limpa que a do Rio. Não é um cenário desolador. Os projetos de moradia popular são decentes e os serviços funcionam regularmente.

Porque então tanta revolta? Uma das explicações mais frequentes dadas pela riquíssima escola sociológica francesa era que os jovens da periferia viviam uma crise de identidade. Eles não se viam representados politicamente e, sobretudo, não se viam na TV. Sim, uma das conclusões mais repetidas pelos intelectuais era que o jovem francês da periferia, descendente de imigrantes árabes e africanos, não se via representado nos meios de comunicação. Talvez possamos transplantar alguns conceitos para o Brasil.

A revolta desorganizada muitas vezes beneficia grupos conservadores, estes sim muito bem organizados. Após as mencionadas revoltas na França, quem ganhou as eleições foi Sarkozy, que imediatamente tomou medidas ainda mais duras contra pobres e contra periferias; as turbulências estudantis de maio de 68, na mesma Paris, resultaram em muitos anos de conservadorismo político.

Entretanto, isso não é uma lei, até porque não existe esse tipo de lei em sociologia. Tudo pode acontecer. Importante observar que o conceito de periferia é bastante vago no Rio de Janeiro. Temos regiões bonitas e tranquilas nos subúrbios, e outras devastadas em áreas próximas ao centro. Mas as áreas semi-destruídas prevalecem. De qualquer forma, elocubrações acadêmicas não adiantam muito. Urge encontrar uma solução. O Rio precisa de paz, estabilidade, desenvolvimento, justamente para resolver seus gravíssimos problemas políticos, sociais, urbanísticos. O que fazer? Essa resposta talvez se tornasse paradigmática para todo o país.

Sem pretender ser o dono de nenhuma verdade, acho que a resposta tem de se dar, simultaneamente, em dois planos: um deles é o terreno simbólico e midiático. O jovem precisa de uma resposta política, e para isso os governos locais, junto com o legislativo, precisariam ousar mais. Por exemplo, os debates legislativos regionais precisam, urgentemente, ser transmitidos pela TV aberta. Em vez de assistir Malhação ou coisa que o valha, o cidadão fluminense precisa ter acesso ao que vereadores e deputados estaduais estão fazendo.

Só assim, por exemplo, um debate sobre um novo plano de carreiras e salários dos professores poderia ser aprovado ou não pela população. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirma que o plano que enviou à Câmara é muito bom, que aumenta salários, etc. O sindicato da categoria diz que não, e apresenta seus argumentos. É preciso deixar a população opinar também. A tática de usar a grande imprensa, com entrevistas da secretária de educação à Veja, cujo blogueiro Reinaldo Azevedo iniciou então uma defesa alucinada da proposta do prefeito, não dá mais resultados. Pelo contrário. A Globo, assustada com o rumo dos acontecimentos, também resolveu se alinhar caninamente a Sergio Cabral. Isso só piora as coisas. A revolta se alastra da política para a mídia.

Os governos tem de acreditar no bom senso do povo, que não é dado ao rancor político. Cabral e Paes foram eleitos com grande maioria de votos, então porque não investem na comunicação direta com o povo, ao invés de correrem para debaixo da saia da Globo?

Sei que é fácil falar. Porém, o pior que se faz é ficar parado. Nenhuma ousadia é fatal, dizia Henry Miller. Toda essa violência tem de ser canalizada para algo positivo. E a solução tem de passar pela democracia e pela política. No auge da crise de junho, Dilma foi a TV e ousou. Sua proposta foi a mais radical possível. Propôs uma assembléia constituinte para fazer uma reforma política. Ela se arriscou. O status quo, incluindo a grande mídia, rejeitou a assembléia constituinte e enterrou mais uma vez a reforma política. Mas a população aprovou a ousadia da presidente. Ela ofereceu alguma coisa. Em seguida, mandou trazer milhares de médicos cubanos para atender a população pobre. A medida é uma resposta concreta, e ao mesmo tempo é uma resposta política. Que respostas Cabral e Paes estão oferecendo à população? Manchetão do Globo sobre a nova UPP no Lins? Depois das notícias sobre o que fizeram a Amarildo de Souza na UPP da Rocinha, não me parece que seja uma ação de impacto. Eu apoio as UPPs, mas não é isso que vai resolver. O próprio Beltrame, desde o início, alertava: tem que investir no social, mais e mais; UPP sozinha não vai adiantar.

E tem a questão da Globo, que também oprime a população. Se Cabral e Paes tivessem investido na democratização da mídia, ajudando rádios e tvs comunitárias, jornais de bairro, isso também lhes ajudaria a enfrentar a crise política atual, porque uma das razões da violência que levam jovens a aderirem a táticas black blocs é a sensação de opressão. Não há nenhum meio por onde se pode protestar contra o governo, a não ser enviando cartinhas para Globo, que não são publicadas, nem lidas na TV. Não digo que essas medidas conteriam os black blocs, mas poderiam minimizar a situação. Por que o sindicato dos professores aceitou a participação dos black blocs? Não seria porque sentiram-se isolados, oprimidos, cercados, pelo governo de um lado, e pela Globo de outro?

Seja como for, Cabral e Paes não tem outra saída a não ser lembrar a lição que Mario, grande liderança da esquerda romana, ensinou a seu sobrinho, Julio Cesar: fique ao lado do povo, é nele que reside a força. Essa lição mudou o mundo, e vale até hoje. Como políticos, ambos sabem dessa verdade, mas a esqueceram enquanto administradores. Uma lei para aumentar impostos dos ricos, e tirar dinheiro e poder da Globo, por exemplo, distribuindo-os aos pobres, teria um grande impacto político junto à sociedade.

A informação de que a Secretaria de Educação da prefeitura tem um convênio com a Fundação Roberto Marinho, pela qual esta última recebe milhões de reais, causou enorme perplexidade e revolta. E revolta é um sentimento que só se expressa em sua plenitude com alguma violência, verbal ou física. Alguns tem condições intelectuais, políticas e mesmo financeiras de expressar sua revolta através de manifestações escritas ou orais.

Outros não. Quem ouvirá um jovem da periferia? Quem lerá seus manifestos? Quando ele se vê na TV, quebrando agências bancárias, incendiando latas de lixo, enfrentando a polícia, ele tem a sensação de que rompeu a dolorosa invisibilidade que a elite pretende lhe impor eternamente. Criar um subúrbio edulcorado, onde a maioria das cenas se passam no interior de uma mansão de um ex-jogador de futebol milionário, como a Globo fez numa de suas novelas, não ajuda muito a reduzir essa sensação de invisibilidade experimentada pelo jovem da periferia.

Como iniciei o texto falando no perigo da revolta no Rio se tornar bíblica, encerremos esta reflexão com um poema sombrio do Velho Testamento.

“Abaterei o orgulho dos arrogantes,
e humilharei a pretensão dos tiranos.
(…) Então Babilônia, a pérola dos reinos,
a jóia de que os caldeus tanto se orgulham,
será destruída por Deus como Sodoma e Gomorra.
Nunca mais será habitada,
nem povoada até o fim dos tempos.
(…) as feras terão aí seu covil,
(…) os chacais uivarão nos seus palácios,
e os lobos nas suas casas de prazer.
Sua hora está próxima
e seus dias estão contados.”

(Isaías, 13-14)

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Ai, que loucura! Narcisa esquece letra e entra no PSD achando que era o PSDB

narcisa


7 de outubro de 2013 | 03:13
O fim de semana de troca-troca partidário não teve como estrela apenas Marina Silva e sua “aliança programática” com o PSB.
A socialite Narcisa Tamborindeguy também mudou de partido, em apenas meia hora.
Filiou-se ao PSD na manhã de sábado, mas logo vieram avisá-la de que tinha se confundido, pensando que estava se filiando ao PSDB.
Esqueceu o “B”.
Narcisa, como se sabe, é uma das ex-musas do “reality show” Mulheres Ricas, da Band e rival de Merval Pereira em produção literária: escreveu dois livros: “Ai, que Loucura” e “Ai, que absurdo!”
parisEla também posou para fotos de colunas “sociais”, de cara pintada, nas manifestações de junho.
E foi parar na revista francesaParis Match como agitadora dos protestos, como você vê na imagem ao lado.
O Brasil é uma maravilha. Pode tudo aqui, e ainda dizem que é “chavismo”.
Ai, que absurdo! Ai, que loucura!

Por: Fernando Brito

http://tijolaco.com.br/index.php/ai-que-loucura-narcisa-esquece-letra-e-entra-no-psd-achando-que-era-o-psdb/

domingo, 6 de outubro de 2013

reacionários , uni-vos!!!!QUE RENOVAÇÃO É ESSA?


Paulo Moreira Leite

Foto: Jorge Bornhausen, Ronaldo Caiado, Marina Silva e Heráclito Fortes, todos no PSB

Marina e Eduardo Campos formaram um condomínio político que constitui um enigma da campanha de 2014

No mesmo dia em que a VEJA dava uma contribuição específica ao culto à personalidade de Marina Silva, dizendo que na véspera ela fora dormir com a esperança de “ter um sonho” que pudesse ajudar a decidir o rumo na campanha presidencial, a líder da Rede deu provas de que passou os últimos dias acordadíssima.

Numa união destinada a garantir a Marina um espaço na campanha que a Rede não foi capaz de obter, e a Eduardo Campos, uma projeção que ele dificilmente teria como 4º colocado nas pesquisas de intenção de voto, os dois formaram um condomínio político que constitui um enigma da campanha de 2014.

Filiando-se ao PSB, Marina assegurou um palanque para seguir em sua verdadeira prioridade, cada vez mais semelhante a plataforma básica dos vencidos por Lula e Dilma em 2002, 2006 e 2010: impedir de qualquer maneira e por todos os meios uma quarta vitória do PT e seus aliados em 2014.

Dramatizando a própria situação, ela chegou a dizer que o Rede era primeiro partido “clandestino” da democratização – afirmação de caráter retórico, que não faz sentido para quem levou a sério a luta clandestina contra o regime militar de 64 e reconhece o valor da democracia conquistada depois.

Vamos combinar: se acredita, de fato, que o Rede foi perseguido por adversários políticos, que teriam boicotado o apoio dos 50 000 eleitores que poderiam ter legalizado seu partido, Marina faria um favor ao país se divulgasse indícios e provas para sustentar o que diz. Sabemos que a Justiça eleitoral abriga cidadãos indicados pelos principais partidos políticos, que devem ser substituídos de 5 em 5 anos. É razoável até imaginar uma imensa má vontade aqui, outra mais adiante. É assim, no Brasil e em outros países.

Mas é um universo com tantas surpresas e imprevistos que ninguém consegue adivinhar o que acontece sem uma apuração real. No caso mais avançado que conheço até aqui, um advogado do Rede chegou a dizer de forma vaga, para uma repórter, que “certamente” ocorreram boicotes em algumas prefeituras. Onde? Em Minas Gerais. E agora?

Ironicamente, Marina e Eduardo Campos se comprometeram ontem, justamente, a enterrar a República Velha e a renovar os métodos tradicionais da política. Também falaram do esgotamento do nosso sistema como seu maior compromisso político. Mas não disseram com clareza o que pretendem fazer nem como. Até porque estas são verdades tão fáceis de anunciar mas difíceis de explicar.

Quem tem o direito de dizer que o sistema político está esgotado é o eleitor. Ele fez isso em 1984, quando foi as ruas para pedir eleições diretas em pleno regime militar. Como o Congresso rejeitou as diretas naquele ano, o eleitor repetiu a dose cinco anos depois, em 1989, no primeiro pleito em urna após ao regime militar. Destruídos pelos fracassos de sucessivos planos econômicos, os dois herdeiros do governo Sarney não conseguiram somar 6% dos votos. E foi neste cemitério que nasceu Fernando Collor: sem partido, com ideário confuso, vagas promessas moralizantes e absoluto suporte dos meios de comunicação, tornou-se presidente da República. Seu programa era eliminar privilégios e favores do Estado, sintetizados na palavra marajá, usada para definir altos burocratas do serviço público. Parecia uma causa nacional, capaz de unir ricos e pobres, irmanados pelo infortúnio de sustentar privilegiados com dinheiro do contribuinte.

Falar que o sistema político está esgotado, hoje, é enxergar o mundo pelo olhar dos desejos, de quem não aprova determinado governo mas é duvidoso que seja expressão do pensamento do conjunto da população. É um diagnóstico exagerado, no mínimo, quando o governo federal tem aprovação superior a 50% e a presidente lidera as pesquisas de opinião com 38% das intenções de voto. Quando seu padrinho, Lula, é o mais popular político brasileiro da história. Quando o PT, alvo indiscutível da “publicidade opressiva” praticada pela maioria dos meios de comunicação na ação penal 470, segue o mais popular partido político do país, com 25 ou mesmo 30% da simpatia dos eleitores.

Quem está esgotada, até agora, é a oposição. Se é possível falar em algo perto de esgotamento, fim de linha, o problema encontra-se aí e é mais localizado. E é tão grave que ela procura alimentar-se, na verdade, de músculos e cérebros extraviados do governo, como Marina e Eduardo Campos.

As ruas de junho deixaram claro que nem todo mundo pensa a mesma coisa dos nossos políticos. Os milhões de brasileiros que não querem Dilma também recusam personalidades, nomes e ideias que lhes são oferecidas como alternativa. Esses cidadãos Dizem que querem livrar-se de políticos tradicionais quando, na verdade, querem outros políticos – sejam direitistas, revolucionários, reacionários ou simples camelôs ideológicos. Aqueles manifestantes que tinham pontos específicos a reivindicar – como transportes – voltaram para casa depois que a reivindicação foi atendida. Os outros, permaneceram. Tinham mais a cobrar. Alguns mais quebraram vidros, fizeram provocações. Denunciam o sistema político em nome do fascismo, do anarquismo ou lá o que for.

Em qualquer caso, e é constrangedor lembrar, Dilma ficou sem aliados em seu empenho para aprovar uma reforma política que, bem ou mal, poderia dar uma resposta à nova situação. Não inventou nada. Apoiou um projeto que reúne o apoio de entidades representativas. Não lembro de qualquer manifestação de apoio dos aliados de Marina Silva. O PSB foi explícito. Divulgou nota a favor das reformas – desde que elas não valessem para 2014.

O empenho de Marina para falar do “novo” ajuda a encobrir que, entre seus assessores econômicos, encontra-se André Lara Rezende, banqueiro e profeta da decrescimento econômico, advogado da teoria primeiro-mundista de que os recursos da Terra se esgotaram e que quem não ficou rico até agora deve desistir até de chegar a classe média baixa. Foi padrinho do Plano Cruzado – que ajudou Sarney a tornar-se imperador do país por um semestre, em 1986 – e do Plano Real, berço de tantas heranças, inclusive da privatização das teles, joia da coroa do governo FHC. Seu homem na Justiça é Gilmar Mendes, capaz de dar dois habeas corpus, em apenas 48 horas, a um dos banqueiros aliados de FHC. Seu maior patrocinador financeiro é a herdeira de um banco que esteve ao lado de todos, absolutamente todos os governos brasileiros nas ultimas décadas, sem distinção de cor, credo, religião ou traje – podia ser fardado ou à paisana.

“Novo”?

Falar da velhice alheia é um dos atalhos mais conhecidos para uma pessoa fingir-se de jovem e seduzir os menos atentos naquela hora da festa em que a maioria dos seres vivos parece parda. Não vamos falar do PSB de Eduardo Campos. O governador admite que nem estava pensando em termos politicamente geriátricos até a noite de sexta-feira, dedicando-se a recolher, no laço, quem pudesse reforçar suas fileiras de qualquer maneira. Chegou a trazer para sua casa conservadores notórios, inclusive com ligações diretas com o regime militar. Estranho? Nem um pouco. A política brasileira é feita assim.

O errado é querer tingir o cabelo, fazer uma lipo, tomar um banho de butique e pensar que ninguém enxerga os sinais da plástica. Para quem é adversaria assumida das usinas hidroelétricas, é que Marina Silva tenha ingressado no mesmo partido do ex-ministro Roberto Amaral, um dos poucos políticos brasileiros que é partidário declarado de pesquisas nucleares, seja para fins pacíficos, e mesmo para conhecimento da fissão atômica, necessário para a produção de artefatos militares. (Estou 100% de acordo com o ministro nesse ponto).

Que renovação é essa, meus amigos?

Simples. É a renovação de quem procura um palanque, confunde a memória e quer nos fazer acreditar que não houve história. Eduardo Campos é um dos melhores políticos de sua geração. Tem luz própria, formação e capacidade de articulação real.

Mas não vamos esquecer que é produto direto do Brasil envelhecido de repente que agora denuncia. Talvez seja o grande filhote daquilo que a oposição chama de lulismo. Alimento maior de sua popularidade, o crescimento econômico de Pernambuco, muito superior a média brasileira, foi irrigado por verbas preferenciais de Brasília, com tanto empenho que levou os conservadores preconceituosos do Sul-Sudeste a denunciar em 2010 o favorecimento “aos nordestinos” por parte de Lula.

A herança política de Marina é familiar, também. Segundo o Ibope, a segunda opção de 50% de seus eleitores é Dilma. Em função do receio de explicitar a estes cidadãos o enorme grau de sua ruptura do Lula, Dilma e o PT, referencias que fazem parte de sua identidade política essencial, na visão de tantos brasileiros, Marina Silva tem sido bastante cuidadosa em suas declarações. Evita afirmar, em público, os chavões reacionários, inspirados no golpismo venezuelano, que o conservadorismo nativo utiliza para comparar o Brasil de Lula-Dilma com o país de Chávez-Maduro.

Cada eleitor tem o direito de imaginar que tipo de renovação é essa.

Paulo Moreira Leite
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o Outro General da Casa".

http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/colunista/48_PAULO+MOREIRA+LEITE#.UlHHCfWIsMh.facebook

Chapa Marina-Campos é pior para Aécio


Por Glauco Faria, na revista Fórum:

“Qual a diferença se for Aécio Neves, Eduardo Campos ou a Dilma? Tem diferença em relação ao modelo de desenvolvimento? Me parece que até agora todos estão no mesmo diapasão.” Era essa a opinião da então pré-candidata à presidência da República Marina Silva em entrevista concedida ao Estadão, em 23 de março deste ano. Em visita a Pernambuco, em maio, ela respondeu, ao ser indagada se haveriaidentificação programática com o PSB: “Vocês já perguntaram a ele (Campos) se ele tem identificação programática com a Rede?”.

Marina respondeu hoje a seu próprio questionamento de poucos meses atrás, após ver durante a semana o registro de seu partido, a Rede Sustentabilidade, ser negado pelo TSE. Ela anunciou sua adesão ao PSB e à candidatura Campos ao Planalto em 2014, ainda sem dizer se seria vice ou candidata a algum outro cargo pelo partido.

Em seu discurso, por mais de uma vez fez referência às forças que impediram que seu partido fosse oficializado como tal, ainda que não nominasse quem seriam tais opositores, deixando à mídia tradicional tal papel. Mesmo quando houve uma pergunta direta de Kennedy Alencar sobre a frase atribuída a ela de que queria combater o “chavismo” representado pelo PT no poder, ela se esquivou.

Atribuir a culpa de uma estratégia equivocada às “forças ocultas” não é algo exatamente novo na política brasileira. Basta lembrar de Jânio Quadros. Culpar o juiz é uma tática velha também no futebol, quando jogadores, técnicos ou dirigentes querem desviar a atenção dos próprios erros e achar um inimigo externo. Mas a intenção de Marina ao ocupar boa parte do seu discurso com queixas sobre perseguição política é também justificar a entrada no PSB, um partido que tem vícios e virtudes semelhantes a quase todos os que compõem o quadro partidário brasileiro.

O problema é que toda a trajetória da ex-senadora até aqui, desde que saiu do PV, é fazer a crítica de cunho moral aos partidos. Suas atitudes conduzem a uma interpretação de que o cenário institucional brasileiro pode ser avaliado pela divisão simplista entre “bons” e “maus”, colocando em um plano secundário, por exemplo, uma reforma política discutida com a sociedade civil, que poderia sanar parte das falhas gritantes do sistema político-eleitoral. A formação da Rede era a reafirmação desse tipo de pensamento, de que seria possível jogar o jogo dentro das regras que estão aí, contanto que se juntassem os “bons”.

Frustrada sua expectativa, Marina teve que jogar o jogo sem se juntar necessariamente aos que achava serem os “bons”. E justificou isso com o discurso da perseguição, como se fosse quase uma legítima defesa. Citou em sua fala o poeta Thiago de Mello, mas poderia ter feito referência a Raul Seixas: ‘A arapuca está armada/E não adianta de fora protestar/Quando se quer entrar em buraco de rato/De rato você tem que transar”. Afinal, uma adesão “programática” não se decide em uma madrugada, a não ser que o “programa” seja algo frágil.

Com a união, levará parte de seus apoiadores para Campos, ainda desconhecido de parte do eleitorado. Contudo, verá alguns deles migrarem para Dilma, perdendo também a confiança de outros que optarão pelo branco/nulo, já que acreditaram que ela seria “diferente”, não entrando na peleja a qualquer custo. O fato de abrir mão da candidatura à presidência para exercer um papel teoricamente menor não é apenas uma questão de abdicação ideológica, como tenta sugerir, mas cálculo político pragmático, já que as outras opções acarretariam vários riscos com arranhões ainda maiores à imagem (caso de filiação ao PPS, linha auxiliar tucana, por exemplo) ou absoluta falta de estrutura para uma empreitada do tamanho de uma candidatura presidencial, se a escolha fosse pelo PEN ou PHS. A Marina de 2013 sabe que não pode sustentar uma campanha apenas “sonhática” pela internet, já que os 20% de votos válidos alcançados em 2010 a fizeram sentir de perto a possibilidade de chegar ao poder.

No cenário de 2014, obviamente o principal beneficiário é Eduardo Campos, que ganha visibilidade com um fato político grandioso e tem chances de avançar em um segmento, o dos jovens que estão nas redes e não necessariamente na Rede, simpatizantes de Marina. No entanto, o maior perdedor é Aécio Neves. Para ele, seria melhor que a ex-senadora saísse como candidata a presidente, reproduzindo um cenário semelhante ao de 2002, no qual quatro candidaturas fortes levaram a eleição para o segundo turno, algo que se repetiu, com diferenças, em 2006. Em 2010, ainda que fossem apenas três os candidatos competitivos, o segundo turno foi possível porque não havia possibilidade de reeleição para o então presidente Lula, o que criava dificuldades para sua candidata, Dilma Rousseff.

O cenário atual pode remeter à eleição de 1998, quando FHC venceu ainda no primeiro turno, enquanto Lula, mesmo com 31,6% dos votos, não conseguiu levar a eleição à segunda volta porque havia somente mais um postulante competitivo, Ciro Gomes, com 10% ao final. A diferença é que, agora, com dois candidatos que nunca disputaram a presidência antes, as dificuldades são maiores para a oposição, com um grande risco de parte do eleitorado, cansado da polaridade entre PT e PSDB, optar pela terceira via de Eduardo Campos. Como Dilma tem mais popularidade e votos do que os rivais na atual situação, o quadro se torna sombrio para Aécio, que teria uma tarefa dupla: forçar um segundo turno e bater um candidato que, até certo ponto, tem um perfil parecido com o seu, agora fortalecido pela adesão da ex-senadora.

Se Marina agiu com o fígado, como pensam alguns, ao embarcar na canoa de Campos para tentar atingir Dilma, pode ter ferido de morte as pretensões de Aécio.

Marina se rende à "velha política"


Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

Estava na cara que ela não ficaria fora do jogo. Até o governo Dilma já contava com a candidatura presidencial de Marina Silva, como escrevi aqui mesmo nesta quinta-feira na coluna "Planalto conta com Marina candidata mesmo sem Rede".

O que ninguém esperava é que a ex-senadora se oferecesse para ser vice de Eduardo Campos, do PSB, o candidato dissidente da base aliada do governo, como ela comunicou aos seus seguidores, reproduzindo o que dissera a ele, ao final de uma reunião que terminou com muito choro de marináticos na madrugada de sábado em Brasília.

- Eduardo, você está preparado para ser presidente do Brasil? Eu vou ser a sua vice e estou indo para o PSB.

Com esta decisão, anunciada por telefone ao governador de Pernambuco, que há poucos dias rompeu com o governo e tirou seus ministros, acabava o teatro de suspense montado por Marina para anunciar seu destino, depois que o Tribunal Superior Eleitoral rejeitou o registro da Rede Solidariedade, o nome de fantasia do partido que pretendia criar desde o seu rompimento com o PV, quando lançou o movimento "Nova Política". Nova?

Para tristeza dos seus "sonháticos", que acreditaram na pregação da missionária mística sobre a falência do antigo sistema de representação, Marina se rendeu à "Velha Política", aceitando o jogo como ele é nada vida real, com o único objetivo de derrotar Dilma e o PT, que ela agora acusa de "chavismo", depois de ter sido ministra de Lula nos seus dois mandatos.

Falaram mais alto os interesses dos seus sponsors, os grandes grupos econômicos que investiram nela para a criação do novo partido criado para que Marina pudesse ser candidata a presidente, e não queriam que ela agora, em nome da coerência, simplesmente jogasse a toalha, deixando o caminho livre para a reeleição de Dilma. Marina pode ser acusada de tudo, menos de rasgar votos e se entregar à coerência aos seus princípios.

Daqui a pouco, Eduardo e Marina vão anunciar oficialmente a chapa da "Coligação Democrática", como batizaram a chamada terceira via, tão esperada pelo establishment financeiro-midiático para pelo menos provocar um segundo turno em 2014 e acabar com a hegemonia petista no governo central.

Por ironia do destino, dois políticos historicamente ligados a Lula e ao PT formaram uma chapa forte que surge forte para enfrentar Dilma e Lula, deixando os tucanos Aécio e Serra comendo poeira na sua eterna crise existencial. Podemos não ter Fla-Flu entre PT e PSDB desta vez, como tudo parecia indicar.

Com um cacife de quase 20 milhões de votos nas últimas eleições e o segundo lugar nas pesquisas para 2014, variando entre 16 e 25% das intenções de voto, Marina aceitou disputar a eleição como vice de Eduardo Campos, o quarto colocado, que não consegue passar dos 5%, porque ainda é mais confortável ocupar o Palácio do Jaburú para continuar costurando sua Rede, do que voltar para o Acre de mãos abanando, sem partido, sem cargo e sem mandato. Mais adiante, afinal, as pesquisas poderão até determinar uma inversão dos nomes na chapa.

Deixando os marináticos fundamentalistas e a poesia de lado, Marina fez a escolha certa: ao optar por Eduardo Campos e deixar Roberto Freire chupando o dedo, com seu nanico PPS já rejeitado até por José Serra, a ex-ministra, que de boba não tem nada, aliou-se àquele que considero o mais preparado político brasileiro da geração pós-68. Foi uma jogada de mestre dos dois.

É jogo jogado. O resto é filosofia.

Devassa e a propaganda abusiva


Por Altamiro Borges

O Ministério da Justiça abriu nesta semana processo administrativo contra uma campanha publicitária da cerveja Devassa, considerada abusiva pelo Procon Espírito Santo. A empresa poderá ser multada em até R$ 6 milhões. A abjeta propaganda lança a cerveja "Tropical Dark" e mostra uma mulher negra, num vestido vermelho decotado, e a mensagem: "É pelo corpo que se reconhece a verdadeira negra".

A denúncia do Procon do Espírito Santo foi encaminhada ao Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), vinculado à Secretária Nacional do Consumidor, do Ministério da Justiça. As apurações realizadas pelo órgão, segundo nota à imprensa, indicam que a campanha é abusiva porque equipara a mulher negra a um objeto de consumo através da comparação entre seu corpo e um produto. A Secretaria de Políticas para as Mulheres, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e o Conselho Federal de Psicologia também foram consultados antes dessa avaliação.

"Na sociedade de consumo, a publicidade é indicativo do padrão ético adotado pelas empresas para a oferta de produtos e serviços. Não se pode admitir que, para vender um produto, sejam utilizadas mensagens discriminatórias, que reforçam estereótipos de gênero e étnico-raciais e contribuem para aprofundar desigualdades", argumenta Amaury Oliva, diretor do DPDC. A multa fixada para a Brasil Kirin (Schincariol), fabricante da cerveja Devassa, será aplicada ao final do processo administrativo.

No final de setembro, uma pesquisa sobre a imagem da mulher exibida na tevê, feita em parceria pelo Instituto Patrícia Galvão e o Data Popular, já havia comprovado o alto grau de preconceito existente na publicidade. Ela revelou que "84% dos entrevistados concordam que o corpo da mulher é usado para promover a venda de produtos" e que "58% avaliam que as propagandas mostram a mulher como objeto sexual". Apesar desta violência, as poderosas empresas anunciantes, as agências de propaganda e as emissoras de tevê não aceitam qualquer regulação do setor. Devassas, elas exigem liberdade total para explorar a imagem da mulher e para elevar os seus lucros!

Aécio mente na TV e é desmascarado


Marina Silva cai na rede do PSB


Por Antonio Lassance, no sítio Carta Maior:

De sustentabilidade em sustentabilidade, Marina Silva se filia a seu terceiro partido. Após as eleições de 2014, ela fará nova troca, ingressando em sua Rede. Será uma média de quase um novo partido a cada um ano e meio.

A dobradinha com Eduardo Campos, que em ataque de sinceridade, Marina chamou de "coligação pragmática", surpreendeu apoiadores do PSB e, mais ainda, da Rede. Muitos consideram o PSB um "mal necessário". Outros acham que Marina cometeu um erro estratégico, que vai chamuscar sua imagem pública, torná-la refém de Eduardo Campos, ligá-la a aliados indigestos do PSB, como os Bornhausen, em Santa Catarina, e, assim, afastar marineiros cujo estômago não está preparado para engolir tantos sapos. A Rede que queria Marina como candidata a presidente a aceita menos como vice de Campos, tido como um político menor, perto de sua líder.


O acordo com o PSB coloca a ex-senadora no jogo de 2014, mas na posição de coadjuvante. Quem mais ganha com a aliança é Eduardo Campos, que fez um lance de mestre. Acaba de ganhar uma garota propaganda de peso. Marina, com seus 16% de intenções de voto, com viés de baixa, deve catapultar os 4% de Eduardo Campos. Porém, na matemática eleitoral, 16 mais 4 não é igual a 20, pois a operação tem perdas de lado a lado. Tem gente do PSB ligada a ruralistas, que não gostam de Marina; tem gente da Rede que não quer saber de Eduardo Campos.

A dupla pisa sobre a cabeça de Aécio Neves e o empurra para baixo. Muito em breve, o mineiro poder amargar, pior do que o terceiro lugar atual, um patamar inferior a 10%, algo inédito para o PSDB.

José Serra está saboreando sua vingança em um prato ainda quente. Há apenas uma única coisa que Serra queira mais em 2014 do que derrotar o PT: é diminuir Aécio. Quando chegou à conclusão de que eram mínimas as chances de Marina ter seu partido registrado a tempo para concorrer no ano que vem, Serra considerou que o cenário mais provável era o de vitória de Dilma em primeiro turno. Um resultado péssimo para o PSDB e uma mancha definitiva para a carreira de Aécio. Com a chapa Campos/Marina, a candidatura Aécio Neves sofre grave risco de esvaziamento.

Mais do que Dilma, é a chapa do PSB que passa a ser, momentaneamente, a principal adversária do candidato do PSDB. Diante do risco de ficar para trás na corrida presidencial, comendo poeira, há quem defenda reavaliar a situação ao longo de 2014. Se Aécio não se mostrar viável, o PSDB tentará uma saída que evite um resultado vergonhoso.

Para a candidatura Dilma, as chances de vitória no primeiro turno continuam fortes. Já era assim, conforme pesquisas mais recentes, quando Marina ainda aparecia como possível candidata. Como vice de Eduardo Campos, é difícil que a decisão da Rede provoque algum estrago extra na candidatura petista.

O que pode causar problemas para o PT, de agora em diante, são seus eventuais erros e a péssima atuação congressual de seu grande aliado, o PMDB. A vantagem de Dilma é que sua dobradinha principal é com Lula. Mais do que Eduardo Campos e do que Marina Silva, Lula sabe bem como é que se muda um país. A atuação de Dilma na presidência e a de Lula no debate político são armas poderosas. O que ainda falta e será decisivo em 2014 é um programa ousado, que enfatize mais a mudança que a continuidade, diferentemente da estratégia de 2010. Do contrário, a pecha de República Velha, não a de 1891, mas a fundada pelo PMDB em 1985, pode virar carimbo.