Operação Condor: documentos detalham ações de ditaduras
As ações da Operação Condor: repressão no Cone Sul
Operação Condor: documentos detalham ações de ditaduras
Documento da Polícia Federal argentina fornece detalhes sobre a coordenação das forças repressivas argentinas, chilenas e uruguaias, e suas ações contra seus opositores. O documento foi apresentado por dirigentes políticos e sindicais uruguaios, sobreviventes do centro de detenção clandestino “Orletti”, ao juiz Norberto Oyarbide, que julga a causa que investiga crimes contra cidadãos uruguaios, chilenos e de outros países, cometidos no marco da operação Condor.
Por Francisco Luque
Novos antecedentes sobre os tentáculos da operação Condor vieram à luz. Um documento secreto da Polícia Federal Argentina sobre a coordenação das forças repressivas argentinas, chilenas e uruguaias, e suas ações contra a oposição política às ditaduras, foi divulgado ontem pela imprensa argentina.
O relatório assinado pelo Chefe do Departamento de Assuntos Estrangeiros da Polícia Federal durante a ditadura, comissário-inspetor Alberto Baldomero Obregón, explica como “sua tropa” neutralizou satisfatoriamente as ações de “organizações delitivas do tipo subversivo, nacionais e internacionais, que estavam na Argentina”, e pede para seus homens “uma recompensa por sua missão”.
O documento foi apresentado por dirigentes políticos e sindicais uruguaios, sobreviventes do centro de detenção clandestino “Orletti”, ao juiz Norberto Oyarbide, que julga a causa que investiga 160 crimes contra cidadãos uruguaios, chilenos e de outros países limites, cometidos na Argentina no marco da operação Condor, coordenada pelas ditaduras militares do Cone Sul nos anos 70 e 80. Junto com a apresentação, os denunciantes pedem que se indague aos 44 ex-policiais argentinos, cuja lista consta no documento, sobre sua participação nestes crimes.
O pedido de esclarecimento foi apresentado pelo cidadão uruguaio Sergio López Burgos, junto com os dirigentes sindicais Edgardo Oyenart, Fernando Pereira e Lille Caruso, da Comissão da Memória do Uruguai, e o político comunista Juan Castillo.
Este documento secreto é uma descrição rica em dados dos objetivos perseguidos pelo Departamento de Assuntos Estrangeiros da Polícia Federal argentina, esclarece o jornal Tiempo Argentino. Nele, o delegado Obregón destaca as ações realizadas contra seis organizações chilenas e uruguaias: o Partido Radical Revolucionário Chileno, o Partido Operário Trotskista, o Movimento de Esquerda Revolucionário (MIR) e o Setembro Vermelho, todos chilenos, e a Organização Popular Revolucionária 33 Orientales, do Uruguai.
O documento afirma que, depois da detenção, no começo de 1975, do responsável pelo Partido Radical Revolucionário Chileno no exílio, Javier Huenchullán Sagristá, “se conseguiu desarticular a cúpula” desta organização ao deter dez integrantes da direção. O relatório continua explicando que, depois de “interrogar” detidos, souberam que a Coordenação Chilena montaria um centro de documentação para “brindar apoio técnico (falsificação de documentos) à integrantes de organizações subversivas chilenas”. A partir disso, se conseguiu deter cinco pessoas que iam dar forma a esse centro de documentação.
Também destaca a perseguição ao Partido Operário Trotskista do Chile, e como se conseguiu descobrir “o funcionamento da frente fabril” dessa organização.
Sobre o Movimento de Esquerda Revolucionário chileno (MIR), Obregón afirma que foi realizada uma ação repressiva conjunta com a ditadura de Pinochet. “Conseguimos detectar a forma de comunicação entre os responsáveis do MIR Exterior e MIR Interior, pondo de sobreaviso o governo chileno. De comum acordo com as autoridades chilenas, se estabelece não interromper várias relações, a fim de reunir maior informação e identificar os integrantes da cúpula do MIR. Após um ano e meio de investigação, por fim, no mês de abril, começam a realizar procedimentos simultâneos em ambos os países, tendo como resultado, na Argentina, a queda do homem importante do MIR, depois da morte de Miguel Enríquez no Chile, caindo também seus principais colaboradores.” Obregón explica também que com a detenção do jornalista chileno, do jornal Cronista, Ernesto Carmona Ulloa, apontado como o “responsável pelo MIR na Venezuela”, se conseguiu detectar “a primeira célula do MIR na Argentina”.
Obregón afirma que por intermédio do intercambio de informação com a Direção de Inteligência Nacional do Chile – DINA, a polícia secreta de Pinochet -, “se chegou à conclusão de que 95% dos elementos ativistas do MIR na Argentina se encontram detidos ou desaparecidos”.
O documento também descreve a Organização Popular Revolucionária 33 Orientales, vinculada à Federação Anarquista Uruguaia (FAU) e ao Partido pela Vitória do Povo (PVP). “Em junho do corrente ano (1976), após pacientes investigações, se alcança a detenção de dois integrantes da direção central e o desmantelamento total dos setores Operário e Popular, Agitação e Propaganda, e parte da Frente Interna ou Política”, detalhou Obregón. E agregou: “Como consequência deste golpe, caiu toda a organização que se mantinha no Uruguai, com a detenção de 76 integrantes do mencionado movimento, dos quais 34 foram detidos pelo pessoal da Direção de Assuntos Estrangeiros.
Fonte: Carta Maior; tradução: Libório Junior
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=183328&id_secao=7
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