Maria Leite: José Martí e a batalha de 19 de maio


            José Martí e a batalha de 19 de maio                
Por Maria do Carmo Luiz Caldas Leite
Yo soy un hombre sincero de donde crece la palma y antes de morirme quiero echar mis versos del alma. Oculto en mi pecho bravo la pena que me lo hiere: el hijo de un pueblo esclavo vive por él, calla y muere. (José Martí)
Quando da chegada dos espanhóis à ilha, em 1492, Cuba era habitada por indígenas. Há quem se refira piedosamente a essa realidade como o encontro de duas culturas. Os nativos foram utilizados em trabalhos rudes, enquanto a Espanha introduzia em Cuba a propriedade privada. O enriquecimento dos colonizadores apoiou-se na submissão imposta aos nativos e inserindo na ilha o regime de servidão feudal. Os registros da sociedade produzida pelo açúcar e a história da escravidão tem interfaces de séculos com profundas marcas na sociedade cubana. Os negros alavancaram um desenvolvimento material discriminatório, mas com seu espírito de rebeldia semeou-se o caminho da independência.
Em 1868, no marco inicial das guerras de libertação, o colapso do colonialismo na ilha era iminente, porque todas as classes sociais do país repudiavam o regime imposto. A burguesia açucareira cubana, ainda que colaborasse economicamente com a insurreição, estreitava seus contatos com os Estados Unidos. Esses fatos foram profundamente marcados pela trajetória de José Martí (1853-1895), o “apóstolo” nacional de Cuba, homem de pensamento aliado à ação, que soube vincular a beleza ao verso e à prosa. O jornalismo, conjugado com a atividade política, ocupou grande parte de suas atividades. Como professor, Martí ganhou a vida nas fases difíceis, mas não foi pedagogo no sentido estrito do termo, pois sua profissão foi a de advogado. Em seus 42 anos de vida, os temas educacionais ocuparam significativo espaço na obra de Martí. Como estudioso não apenas dos problemas da instrução em Cuba, mas de todos os países de continente americano, onde teve a oportunidade de viver, Martí elaborou um pensamento pedagógico, com a urgência das sonhadas repúblicas. A síntese desse ideário constitui, até hoje, um paradigma para a educação dos povos de Nuestra América. Martí possuía um referencial teórico – que evoluiu historicamente – no qual a Educação é concebida como uma estratégia para o desenvolvimento do homem, com base numa legítima cultura ajustada à realidade latino-americana, livre e integral, que ultrapasse as fronteiras do utilitarismo e as caricaturas de outras latitudes.
Martí iniciou sua participação política escrevendo a jornais separatistas. Com a prisão de seu mestre Rafael Mendive, cristalizou-se a atitude de rebeldia, que Martí nutria contra a dominação espanhola. Em 1869, foi condenado a seis anos de trabalhos forçados, mas passou somente seis meses na prisão, pois conseguiu permutar a pena pela deportação à Espanha. Dedicou-se ao estudo do Direito, obtendo o diploma em Filosofia e Letras na Universidade de Saragoza, no ano de1874. Entre 1881 e 1895, viveu em Nova Iorque, mas foi no México, na Guatemala e na Venezuela que alcançou o mais alto grau de identificação com a autoctonia da América, até o momento desconhecido para um filho de espanhol. Em 1882, trabalhou para La Nación da Argentina.  Num confronto com tropas espanholas, em 19 de maio de 1895, nos alrededores do vilarejo de Dos Ríos, Martí foi alvejado.  Seu corpo, mutilado e exibido à população, teve sepultamento  na cidade de Santiago de Cuba. No final do século XIX, com o exército mambí dissolvido, o povo cubano foi arrastado à profunda miséria, pois a luta contra o colonialismo não culminou com a vitória. Coerente com as dificuldades de sua época, a própria morte foi a expressão de seus princípios.
Segundo Martí, “pelear es una cosa y gobernar otra”. Das guerras da independência no século XIX, a historiografia cubana permitiu mais do que uma mera relação de feitos militares e assuntos bélicos. A análise dos conflitos, por diversos ângulos ideológicos, mostra que suas consequências se estendem até os nossos dias. A herança do neocolonialismo predatório impôs a unidade, como estratégia política. A Revolução Cubana se inspirou nos ideais organizativos de Martí, denunciante em sua época da notória desunião das forças favoráveis à independência.
Decorridos 117 anos desde a queda em Dos Rios, o legado de Martí, com sua carga de ensinamentos, ainda desperta a clara consciência de que as contradições internas desencadearam a intromissão de forças expansionistas estadunidenses, mediante inúmeras tentativas para dominar da ilha. A Revolução Cubana se inspirou nos ideais organizativos de Martí, denunciante em sua época da notória desunião das forças favoráveis à independência. Contudo, recorrendo às palavras do herói nacional de Cuba, “perder uma batalha não é mais do que a obrigação de ganhar outra”.
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Membro da direção municipal do PCdoB de Santos, professora de Física, mestre em Educação. Autora da pesquisa desenvolvida nas escolas em Cuba:
http://grabois.org.br/portal/noticia.php?id_sessao=24&id_noticia=653

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