Carta ao meu estuprador: dá próxima vez, pense na sua filha

Do Portal Vermelho


O texto é apócrifo, mas rico em detalhes, assustadores, mas que servem de exemplo sobre o que sofre uma pessoa durante e depois um estupro.

Por Victor Farinelli, no Blog Maria Frô



Este comovente relato deveria ser lido por todas as pessoas que pensam em emitir opinião sobre os temas de violência de gênero. Uma das coisas que mantém vivos os dogmas do machismo instalados na sociedade é a distância que as pessoas têm do drama de uma pessoa que viveu a violência sexual. O texto é apócrifo, mas rico em detalhes, assustadores, que servem de exemplo sobre o que sofre uma pessoa durante e depois um estupro, as consequências para sua autoestima, sua vida familiar, os traumas que ficam. No final, uma carta-desabafo ao estuprador e uma corajosa decisão de não denunciá-lo, e a explicação sobre porquê não o fez, ainda sabendo que isso seria o correto.

Uma contribuição ao debate sobre a violência de gênero no Brasil, que teve um avanço importante quando a presidenta Dilma Rousseff sancionou integralmente a PLC 3/2013. Mas ainda falta muito, falta enfrentar, como sociedade, toda uma cultura de naturalização da agressividade sexual, uma cultura que torna a violência sexual algo comum e aceitável, e obriga as vítimas a se sentirem culpadas, como aconteceu com a moça que conta o seu sofrimento abaixo. E também falta combater as raízes da desigualdade que explicam a impunidade – embora não seja o único fator que leva a ela, mas é um dos mais comuns.

Se você estuprou alguém, leia. Essa carta pode ser pra você.

Não vou me identificar para que meu pai não saiba dessa história. Quero evitar que sinta a enorme tristeza e indignação que as pessoas que gostam de mim sentiram quando contei o que me passou. Quero protegê-lo de todo o tipo de reação que essa história poderia desencadear nele.

Esse é também um relato a mais para que homens e mulheres possam entender melhor o que acontece na vida e na mente de uma pessoa que foi estuprada. É mais uma narrativa dos efeitos do machismo brasileiro do século XIX.

Quando aconteceu

Voltando da minha festa de aniversário no ano de 2009, um amigo de faculdade me acompanhou até em casa num dia frio. O convidei para entrar, assim esperaria o táxi dentro de casa, quentinha. Foi uma gentileza a uma pessoa com quem convivi na faculdade por mais de 5 anos. Mas parece que ele entendeu o recado de outra forma. Estávamos bêbados, e eu tinha total confiança nele. Nessa noite ele me estuprou. Por muito tempo não me lembrei do que aconteceu naquela noite. Apenas sentia uma angústia difusa e inexplicada, que pude entender aproximadamente dois anos depois.

Quando entendi o que aconteceu ou quando dei nome aos bois

Dois anos depois do ocorrido, me mudei à capital de outro país, depois de um ano de profunda angústia e tristeza na minha cidade natal. Decidi fazer uma pós-graduação fora, ou acabaria me matando se seguisse vivendo aí. Para conhecer mais gente e me envolver em um projeto artístico, me meti em um grupo de teatro, que “coincidentemente” trabalhava com improvisações sobre campos de concentração, cujos trabalhos deram origem a uma peça, meses depois. Durante uma improvisação, em meio a gritos, golpes e estupros simulados, minha memória voltou ao ano de 2009.

Durante esse exercício lembrei desse meu colega, sobre mim, na minha cama, me segurando pelo pescoço e me asfixiando. Me lembrei da luta para escapar daí e de como a cada tentativa de sair dessa relação sexual não consensuada – e com preservativo – , ele me batia mais. Lembrei como achava que ele ia me matar sem nem perceber, ou propositalmente. Me lembrei de como não entendia se a violência dele era dirigida a mim ou se era algo próprio dele. Me lembrei de como não entendia, no momento, sei se ele achava que eu gostava daquilo, ou se era pura maldade.

Nos momentos de consciência (tive momentos em que acredito ter desmaiado) lembro de tentar encontrar algo para golpeá-lo, e não encontrar. Recordei de quando uma professora de história mencionou casos de violência sexual e disse que para o sádico não interessa ver o prazer alheio. Fingi estar gostando, não funcionou. Pensei então que do que ele gostava era da minha submissão e humilhação.

A saída que encontrei foi dizer a ele: “Vai pra casa, não estou no meu melhor dia. Quero passar uma noite incrível com você e já estou cansada… Você é incrível e merece o meu melhor”.

Ele parou. “Entendeu”. Era o melhor que eu poderia dizer a uma pessoa narcisista e psicopata. Ele se convenceu dos elogios, acreditou em mim.

Sua resposta pra isso foi: “Tudo bem! Vem aqui, encosta a cabeça no meu peito. Sabia que eu gosto de você desde o primeiro momento que te vi?” Ele queria demonstrar afeto. Não fui. Permaneci encolhida, nua e protegida por um travesseiro, no outro lado da cama.

Mandei ele embora engolindo o mar de choro dentro de mim. E sorri. O tratei como um Rei que teria sua grande recompensa no futuro. Não lembro como estive depois que ele saiu pela porta, nem dos dias seguintes. Não me lembro do que fiz, se fiz, para onde fui. Apaguei. Sei que deletei meu MSN e desapareci do campo de visão dele, na medida do possível.

As reações das pessoas próximas

Dias depois fui falar sobre o ocorrido com meu ex-namorado num café, onde chorei muito, sem pudores e sem lenços de papel, a ponto de voltar pra casa com os punhos das mangas e parte da blusa molhada de lágrimas. Eles se conheciam. Saímos algumas vezes junto com o então futuro estuprador e outros amigos mais, todos, enquanto namorávamos. Ele não demonstrou grande empatia e tampouco me apoiou. Disse que eu não podia fazer nada, porque o cara era poderoso e eu era uma defensora da liberdade sexual. A justiça decidiria contra mim e eu acabei considerando que ele tinha razão.

Depois, em algum momento, falei com meu melhor amigo e não sei se ele acreditou em mim. Nessa ocasião comecei a ter dúvidas se houve estupro ou se foi consensual. No mesmo período duas amigas próximas acreditaram, enquanto outras pessoas ignoraram ou fizeram pouco caso. Não era um assunto fino para mencionar em mesa de café ou durante um chá. E bastante incômodo para uma cerveja ou um vinho. Não mencionei o ocorrido por muito tempo e com essa atitude tudo parecia seguir normalmente. Eu achava que o ocorrido não tinha o poder de me afetar diretamente.

Em nenhum momento as pessoas que souberam se prontificaram a me acompanhar para fazer uma denúncia. Pelo contrário, lhes parecia normal que eu seguisse convivendo com a presença dessa pessoa nas salas e corredores da faculdade ou em cada lugar que eu ia para “me divertir”. Por sorte tive amigas que me protegeram de encontrá-lo, me avisando de onde ele estava para que não nos cruzássemos. Com o tempo era mais difícil esconder o nojo e a raiva, e vê-lo simplesmente me deixava deprimida e me fazia sentir muito vulnerável por dias.

Estupro é uma palavra difícil de pronunciar

Nos meses seguintes oscilei entre acreditar que houve estupro e que não houve estupro. E as vezes preferia acreditar que a culpa era minha por tê-lo deixado entrar, crer que eu poderia ter passado uma mensagem dúbia pra ele, ou simplesmente busquei. Não sei. Era mais fácil para mim pensar que eu era a responsável. Além disso, o mundo em volta me dizia que eu tinha culpa. O lado mais frágil, a mulher estuprada, ainda que feminista e formada na área de ciências humanas, acredita ou opta por acreditar que foi responsável, eu. Era mais fácil pensar que havia tido uma experiência sexual diferente e violenta do que me classificar como vítima, enfrentar as consequências de uma denúncia e carregar estigmas.

Me surpreendi quando um menino com quem saía – por quem estive perdidamente apaixonada por meses – , e conhecia ao estuprador, me disse, em tom de decepção: “eu sei que você deu pra ele!” (O estuprador tinha espalhado pra todos que tinha “me comido”!) Minha resposta foi: “não, ele praticamente me estuprou”. Praticamente. “Praticamente me estuprou” foi o mais próximo que consegui chegar. Foi a única nomeação possível que não me fazia entrar completamente dentro da categoria de mulher estuprada.

Eu entendia muito pouco do que tinha me passado, mas depois da improvisação teatral, fora do Brasil e do ambiente opressor, passei a entender. E Brasil passou a significar dor.

Voltando à cidade natal

Voltei à minha cidade natal para as festas de final de ano, carregando um pacote de memórias bastante denso que se arrebentaria a qualquer momento. E foi um dia depois da minha chegada. Dentro de um par de semanas tudo o que eu tomava como cômodo e seguro não existiria mais.

No dia seguinte à minha chegada fui encontrar quem foi meu melhor amigo em 2009. Marcamos para tomar uma cerveja no bar de sempre e lá pelas tantas aparece o estuprador, que havia sido convidado pelo meu amigo. Nesse momento tive a prova de que a solidariedade masculina se sobrepunha a nossa amizade, ou que ele não tinha acreditado em mim. Efetivamente nossa amizade tinha grandes limitações.

O estuprador chegou e quis dar um beijo na bochecha, mas não permiti. O máximo que pude fazer foi “oferecer” minha mão para um aperto cordial (o que hoje me parece absurdo e descabido). Durante o aperto de mãos ele disse que não sentia minha mão e que eu deveria apertar com força. Eu nem podia olhar na cara dele, mas apertei mais forte porque no fundo queria devolver aquela violência toda. Ao sentir minha força ele apertou mais forte ainda, e me machucou bastante. Pra completar disse algo como: “uma pessoa que não aperta suficientemente forte não pode ser levada a sério”. Soou como uma ameaça.

(Passei duas semanas sem conseguir abrir e fechar a mão direita, pelo aperto que ele me deu na frente do meu “melhor amigo”)

Fiquei paralisada, tomada de sentimentos como nojo e desprezo. Liguei pra uma amiga e fomos pra outro lugar. Ela, uma pessoa querida e profundamente iluminada, me ajudou muito a não ficar imobilizada pelo medo naquela noite. Mas as opressões seguiriam.

A dor de usar argumentos machistas para evitar violências machistas

Na mesma noite, em outro lugar, encontrei um colega do mestrado, que a partir de determinado ponto começou a discutir sobre a primeira guerra mundial com outro cara que possivelmente seria neo nazista. Depois de alguns minutos o neonazi tentou me agarrar e tive que usar argumentos estilo “família, tradição e propriedade” para que ele me soltasse. “O que você faria se alguém agarrasse uma irmã ou filha sua na rua, sem que ela queira, como você está fazendo comigo?” Eu tremia de medo. É bastante comum que nazis estejam armados e esse cara estava completamente fora de si gritando estar morrendo de tesão por mim. Ele entendeu. Disse que se fosse com uma irmã dele ele ficaria furioso. “Então”, disse, e saí rapidamente buscar minha amiga.

Acham que esse meu colega do mestrado me tirou dali? Não. Ele desapareceu esquina abaixo. Me deixou sozinha. Por “sorte”, sendo feminista e de esquerda, eu conhecia suficientemente a concepção de mundo de um jovem nazista para poder convencê-lo, por seus próprios argumentos, de que ele não deveria me agarrar contra minha vontade. Doeu na minha alma.

Cheguei em casa exausta. Existencialmente exausta. Vi que ninguém estava do meu lado e que o que me passava por dentro escorria pelos meus poros. Já não tinha mais como esconder de mim mesma o que eu vinha sentindo.

Contar para a família

Tinha marcado de reencontrar meu orientador porque tinha planos de fazer pós no exterior, e nossas conversas sempre são muito agradáveis. Estava fragilizada pelos últimos acontecimentos e e lhe contei o que havia acontecido. Me fez bem. Achei que seria melhor começar contando pra ele antes de contar para minha família. Essa notícia o deixou profundamente mal e me senti ainda pior por ter contado. Vi que ele quis me ajudar, mas não havia nada a fazer porque nesse momento eu não estava disposta a denunciar. E sim, ele foi a única pessoa que vi fisicamente disposta a ir à delegacia de mulheres imediatamente. Mas tive um medo de perder o controle sobre os efeitos de tornar pública a história.

Havia chegado o momento de contar para a minha mãe porque sentia que ela acabaria sabendo de alguma maneira e a denúncia parecia eminente.

Foi durante um almoço. Ela se levantou para recolher os pratos e pedi pra ela ficar. Ela deve ter sentido que vinha uma bomba, porque empalideceu. Não mencionei detalhes. Não vi nenhuma expressão na cara dela e não tenho ideia do que sentiu. Me disse coisas como “Me sinto meio culpada por ter te deixado ir morar sozinha… Sabia que algo assim podia acontecer”. Depois de contar, depois do silêncio dela, enlouqueci. Me ajoelhei e pedi perdão pra ela. Perdão por estar compartilhando algo tão terrível, que eu preferia ter guardado pra mim. Ela se manteve fria por dias e dias. Em alguns momentos, ao longo dos últimos anos, disse que se o visse o mataria. Eu não tenho dúvidas.

Influências da grande mídia na mesa da cozinha

Chegou janeiro e com ele o Big Brother Brasil. Numa das festas do programa, um dos participantes estuprou uma menina, que dormia, bêbada. Gerou uma discussão enorme (todo mundo lembra) e para mim tinha ficado muito claro que havia existido estupro, como para outras centenas de mulheres. Sim, é daquele cara cujos advogados atualmente pedem 20 milhões por danos morais à Globo.

Nesse momento eu já me sentia mais cômoda para falar sobre o tema estupro, que chegou à mesa, durante o almoço. Então minha mãe decidiu opinar sobre o caso, dizendo: “quem mandou beber? Se a menina estava lá, estava pra isso, a culpa é dela”. A culpa era dela, para minha mãe. A culpa era dela, a culpa era dela, a culpa era dela. Isso ficou ecoando na minha cabeça numa velocidade enorme até eu não resistir mais.

Minha reação se expressou num grito visceral de ódio, raiva, decepção. Profunda decepção. Eu nunca havia gritado desse jeito, na minha vida. Aquela não era mais a minha casa. Eu gritava pra ela dizendo: “não acredito que você está me dizendo isso, eu não acredito”. Tive vontade de quebrar a casa e ela me olhava como quem não entendia nada, assustada. Meu pai, por sorte, não escutou. Emiti as passagens e voltei pro exterior 3 dias depois,. Depois de longos meses de conversas bastante difíceis, fomos nos reconciliando e ela reconquistou minha confiança. Mas tive que pedir pra ela não tocar mais no assunto.

*Mãe, se você vier a ler isto, saiba que eu te amo, muito. Que você não teve culpa, nem eu. Isso é o que querem colocar na nossa cabeça, por décadas, para nos fazer sentir responsáveis, quando somos vítimas. Eu já não estou mais magoada. Tudo passou, Escrever agora é parte do processo de compartilhar minha experiência.

- Que sorte eu tive por poder imigrar e por poder escapar tão facilmente…. Infelizmente com a maioria das mulheres, não é assim :( -

Parte do meu medo de contar para o meu pai é de que reaja da mesma maneira. E meu maior medo é que não encontre nele o apoio que eu há anos sonho que ele me daria, além de, evidentemente, expor a ele uma situação que poderia afetar sua saúde ou incentivá-lo a reagir violentamente contra o estuprador.

A fé na humanidade e o machismo das mulheres

Devo dizer que depois do ocorrido encontrei homens maravilhosos. Em todas as relações posteriores (seja em âmbitos de amizade, trabalho, romance ou sexo), os homens que conheci foram extremamente respeitosos e generosos comigo na superação do meu trauma. Em especial meu namorado, que tem uma conduta impecável comigo, me ajudando muito no processo de expressar o que aconteceu e me adaptar a novos ambientes e situações.

Faço questão de ressaltar isso porque não existiu mais empatia de mulheres ou de homens. A propósito, existem muitas mulheres que indiretamente estupram outras, quando covarde e comodamente se posicionam a favor do estuprador. Não é uma questão de ter nascido com uma vagina ou um pênis, de ser trans, bi, hetero, gay. É um posicionamento político contra ou a favor da violência de gênero. Cruzo com várias versões femininas do Rafinha Bastos diariamente e seria absurdo ignorá-las como perpetuadoras do sexismo. (Acho que um dos principais desafios do feminismo hoje é gerar solidariedade entre as mulheres, e tirá-las de uma condição de competição para a atenção dos homens).

Também me encontrei numa situação em que uma amiga, militante feminista, me culpava por não ter denunciado meu estuprador, argumentando que eu seria culpada por novas vítimas dele. Apesar de ter grande afeto por ela, não pude vê-la mais porque considero esse um argumento essencialmente machista, mas com embalagem feminista. Essa posição culpabiliza mulheres vítimas e infantiliza estupradores, além de impor diretrizes de comportamento, novamente, às mulheres, quando a culpa e a responsabilidade dos atos seguem sendo do estuprador e seus cúmplices.

Denunciar?

Entendo a utilidade da identificação de estupradores, por parte da Justiça. Entendo a ideia de criar um cadastro de estupradores. Mas entendo que uma denúncia é incompatível com o meu caso. Eu não tenho suficientes recursos para evitar um processo contra difamação, danos morais, ou algo similar por parte de quem me estuprou. Ele, com o poder político e econômico que tem, comparados aos meus, me cansaria pelo cansaço e me faria perder em várias instâncias. Mas o mais importante é que sustentar algo assim me levaria a seguir atormentada por esses fantasmas e memórias por mais tempo do que gostaria. E quero aplicar meu tempo na militância. É diferente ser estuprada por um zé ninguém ou por um filhinho de papai protegido por elites políticas.

Em virtude dessa situação, minha opção é diferente. Por isso decidi que ia escrever esse relato, e decidi que faria publicar esse relato, e que esse relato chegaria até ele, anonimamente, sem nomeá-lo. Decidi que ele se reconheceria nesse relato, e que cada uma das pessoas envolvidas se reconheceriam nele. E que outras tantas pessoas se reconheceriam nesse relato, sem ter feito parte dele.

Carta ao “meu estuprador”

Ao meu estuprador (e a tantos outros potenciais estupradores),

Demorei pra me pronunciar, mas soube que você é papai e teve uma filha.

Espero, sinceramente que as mulheres da sua família estejam bem, saudáveis e felizes. De coração.

Não sei se você mudou ou se o que aconteceu comigo foi excepcional (tenho todos os indícios de que não). Espero que você não repita mais esse comportamento. Nunca mais. E lute contra ele adentro de si e dos espaços em que circula.

Caso você venha a sentir desejos e uma vontade visceral de possuir uma mulher, te peço que lembre da sua filha (uma irmã ou mulher que você ama muito).

Pense se você gostaria de vê-la sofrer e ter sua vida arrasada por alguns minutos de prazer egoísta de algum imbecil da faculdade dela. Pense na quantidade de dias, anos e meses, em que seus olhos não teriam brilho, e em quantos dos dias da sua vida o suicídio passaria por sua cabeça.

Pense no potencial de uma vida feliz e saudável, desperdiçado por uma ejaculação patética de alguns segundos, de alguém que se crê demasiado importante. Pense em como ela perderia a capacidade de abrir a porta a amigos, como ela perderia a capacidade de se deixar tocar por alguém que a ama e respeita, e como ela teria que abandonar vários projetos de futuro.

Pronto. Você se colocou no lugar do meu pai, que algum dia deve ter jurado pra ele mesmo me proteger acima de todas as coisas, como você provavelmente pensa agora a respeito do seu bebê.

(O que você sentiria vontade de fazer contra alguém que estupra a sua filha?)

Eu quero que meu pai tenha uma velhice saudável e feliz. É por mim e por ele que essa história se encerra aqui e eu não vou te denunciar.

Mas não vou te perdoar, nem perdoar quem provoca violência de gênero. Serei implacável contra cada abuso, contra os micromachismos, contra as violências de gênero diárias que sofrem todas as mulheres. Espero que sua filha seja assim com você.

Você ainda vai agradecer como nós, feministas, vamos entregar um mundo mais justo para os teus filhos. Mundo podre que pessoas como você ajudaram a construir. Canalha.

Com todo o desprezo do mundo,

Uma mulher que teve a vida revirada por sua culpa

Carta ao meu estuprador: dá próxima vez, pense na sua filha

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  1. O texto é apócrifo, mas rico em detalhes, assustadores, mas que servem de exemplo sobre o que sofre uma pessoa durante e depois um estupro.

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