segunda-feira, 7 de maio de 2012

Veja e o “tema proibido” na Folha de São Paulo


Do Blog do Miro

Por Altamiro Borges

Numa atitude corajosa, a ombudsman da Folha, Suzana Singer, decidiu criticar o silêncio de boa parte da mídia sobre as ligações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com a revista Veja. Aos poucos, o conluio mafioso vai se desfazendo. E há boatos de que novas revelações surgirão em breve, forçando a convocação dos capos do Grupo Abril para depor na CPI do Cachoeira.

No texto intitulado “tema proibido”, Suzana até bajula a mídia, mas com ressalvas. “A imprensa tem-se mostrado ágil e eloquente na publicação de qualquer evidência de envolvimento com o superbicheiro de Goiás, Carlos Cachoeira. Já se levantaram suspeitas sobre governadores, senadores, deputados, policiais, empresários, mas reina um silêncio reverente no que tange à própria mídia”.

Grampos "nada comprometedores"

Ela garante que a Folha, jornal que propagandeia não ter o rabo preso com ninguém, está limpa em toda esta sujeira. O nome do jornal só aparece em dois grampos telefônicos, “nada comprometedores” [será?], da Operação Monte Carlo da Polícia Federal:

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Num diálogo, Cachoeira comenta nota do Painel, de 7 de julho de 2011, em que o deputado Sandro Mabel, de Goiás, nega ser a fonte das denúncias que derrubaram o ministro dos Transportes. O bicheiro se diverte e diz que foi o senador Demóstenes Torres (ex-DEM) quem espalhou isso em Brasília.

Em outra conversa, o contraventor e Claudio Abreu, na época diretor da Delta, tentam evitar a publicação de uma reportagem. Primeiro, Abreu diz que “nós tamos bem lá”, mas depois lamenta não ter contato no jornal. “Queria alguma relação com a Folha”.

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Branda com seu jornal, a ombudsman não poupa o concorrente combalido, quebrando o pacto dos barões da mídia em defesa da famiglia Civita. Mesmo rechaçando a “blogosfera da esquerda” e afirmando que “do que veio a público até o momento, não há nada de ilegal no relacionamento Veja-Cachoeira”, ela questiona os princípios éticos da sensacionalista publicação do Grupo Abril:

“Não ser ilegal é diferente, porém, de ser ‘eticamente aceitável’. Foram oferecidas vantagens à fonte? O jornalista sabia como as informações eram obtidas? Tinha conhecimento da relação próxima de Cachoeira com o senador Demóstenes? Há muitas perguntas que só podem ser respondidas se todas as cartas estiverem na mesa”.

"Faz parte do jogo democrático"

Para Suzana Singer só a jeito de superar as desconfianças que pairam sobre as relações da mídia com o crime organizado. “É preciso divulgar os diálogos relevantes que citem a imprensa”. O que foi publicado até agora sobre o escandaloso episódio "é pouco", afirma. 

"Grampos mostram que a mídia fazia parte do xadrez de Cachoeira. Que essa parte do escândalo seja tratada sem indulgência, com a mesma dureza com que os políticos têm sido cobrados. Permitir-se ser questionado, jogar luz sobre a delicada relação fonte-jornalista, faz parte do jogo democrático”.

Será que a Folha vai seguir a sugestão da sua ombudsman?

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