APARTHEID: SHOPPING LIBERA ROLEZINHO DE ALUNOS DA USP
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Do site 247
Grupo empresarial que controla shoppings em São Paulo tem posições diferentes sobre os "rolezinhos", a depender de quem os organiza; se a manifestação parte de jovens da periferia, é proibida, mas se é feita por estudantes calouros da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, está liberada; em grupos grandes e barulhentos, sempre entoando os gritos de torcida da atlética da faculdade, os estudantes ocupam o hall de entrada e os corredores, marcham até a praça de alimentação e, lá, seguem pulando, cantando e usando as mesas como instrumentos de percussão; manifestação dos calouros da USP tem até patrocínio oficial de lojas; apartheid brasileiro?
Diego Sartorato, da RBA – Pelo menos desde 2007, centenas de “bichos” da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA) reúnem-se no Shopping Eldorado, na zona oeste de São Paulo, para celebrar o ingresso na universidade: em grupos grandes e barulhentos, sempre entoando os gritos de torcida da atlética da faculdade, eles ocupam o hall de entrada e os corredores, marcham até a praça de alimentação e, lá, seguem pulando, cantando e usando as mesas como instrumentos de percussão. A manifestação, similar à aglomeração causada pelos “rolezinhos” marcado pelas redes sociais para o sábado passado (11) no Shopping Itaquera, na zona leste, administrado pelo mesmo grupo empresarial, é permitida e conta até com patrocínio oficial de lojas; em Itaquera, uma liminar proibiu o encontro dos jovens e causou forte repressão da Polícia Militar.
Em vídeos publicados por alunos da FEA no youtube, é possível acompanhar a aglomeração dos jovens entre 2010 e 2013. Segundo João Meireles, atual presidente da Atlética, deve haver “invasão” no shopping também este ano.
“Para confirmar, só com o Centro Acadêmico, eles é que organizam os pedágios (trote que leva os novos alunos da faculdade para pedir dinheiro nos semáforos)”, afirmou.
As invasões ao shopping ocorrem logo após o fim da coleta dos pedágios, e contam até com apoio de lanchonetes na praça de alimentação: depois de decorar os gritos de guerra da torcida da FEA para os jogos universitários, os estudantes almoçam nos restaurantes parceiros. “Se há acordo com o shopping, eu não sei. Isso é com o CA”, completou Meireles. A RBA tentou contato com diretores do Centro Acadêmico da FEA, mas não obteve resposta.
À RBA, o Shopping Eldorado afirmou que as “invasões” são permitidas porque têm “objetivos muito diferentes” dos rolezinhos convocados pelas redes sociais. “Os alunos da FEA vêm ao shopping, almoçam e depois se concentram para a comemoração, cantando gritos de guerra por alguns minutos, o que não causa tumulto ou desordem”, apontou, por meio de nota. O shopping esclarece ainda que não costuma negociar a realização do evento com os estudantes, mas que a “invasão” ocorre sempre na mesma época do ano e, por isso, é previsível. “Na chegada do pessoal, nossa segurança identifica os líderes e passa algumas orientações para não incomodar os demais convidados do shopping. Depois, acompanha e monitora a ação”, continua a nota.
Dois pesos, duas medidas
Para Kazuo Nakano, professor de Desenvolvimento Urbano e Direito Imobiliário da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a diferença de tratamento dedicada pelos shoppings ao “rolezinho” e à “invasão” promovida por alunos da USP é sintomática da falta de regulamentação do setor. “Não existem critérios claros para o uso do espaço do shopping, que é uma empresa privada, mas de uso coletivo. Hoje, vale a lógica da propriedade e o direito do proprietário de filtrar quem circula em seu estabelecimento”, aponta.
Para Kazuo Nakano, professor de Desenvolvimento Urbano e Direito Imobiliário da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a diferença de tratamento dedicada pelos shoppings ao “rolezinho” e à “invasão” promovida por alunos da USP é sintomática da falta de regulamentação do setor. “Não existem critérios claros para o uso do espaço do shopping, que é uma empresa privada, mas de uso coletivo. Hoje, vale a lógica da propriedade e o direito do proprietário de filtrar quem circula em seu estabelecimento”, aponta.
“Agora, se tudo bem quando é aluno da USP, mas o cidadão da periferia gera temor de arrastões, está claro o preconceito. O shopping já é um espaço excludente por conta dos preços para desfrutar dos seus produtos e serviços, e, dessa maneira, segrega ainda mais”, completa.
O professor acredita que é necessário debater a diferença entre os espaços públicos dedicados ao consumo e aqueles dedicados à vida cívica dos cidadãos. “O que vemos em São Paulo, por exemplo, é que praticamente só existem dois tipos de espaços públicos: o de consumo e o de deslocamento, as vias da cidade. Quando vamos falar dos espaços para a vida cívica, estão quase todos deteriorados. Temos lutado para recuperar esses espaços e reverter essa lógica de privatização dos espaços dedicados ao lazer”, pondera Nakano. “Até lá, será comum que as pessoas façam a opção pelo shopping e outros estabelecimentos privados para suprir essa carência.”
Preconceito nos shoppings
Nos últimos anos, uma série de episódios revelam que a discriminação é comum nos corredores dos shoppings brasileiros. Em 2010, o músico cubano Pedro Bandera, 39, foi impedido por seguranças de entrar no shopping Cidade Jardim, na zona oeste, onde tinha uma apresentação marcada em uma livraria – segundo ele, os demais músicos entraram no shopping sem problemas. Já o cubano chegou a ser imobilizado e encaminhado a um táxi que o retiraria do local. Bandera, que é negro, processou o shopping por racismo e foi indenizado em R$ 7 mil após decisão favorável da justiça em dezembro passado.
Nos últimos anos, uma série de episódios revelam que a discriminação é comum nos corredores dos shoppings brasileiros. Em 2010, o músico cubano Pedro Bandera, 39, foi impedido por seguranças de entrar no shopping Cidade Jardim, na zona oeste, onde tinha uma apresentação marcada em uma livraria – segundo ele, os demais músicos entraram no shopping sem problemas. Já o cubano chegou a ser imobilizado e encaminhado a um táxi que o retiraria do local. Bandera, que é negro, processou o shopping por racismo e foi indenizado em R$ 7 mil após decisão favorável da justiça em dezembro passado.
Já no shopping Center 3, na avenida Paulista, em janeiro deste ano, a transsexual Aline Freitas afirmou que foi abordada por seguranças que tentaram impedi-la de usar o banheiro feminino: ela chegou a entrar no lavabo, mas foi abordada por uma funcionária e retirada por um grupo de oito seguranças.
Na Bahia, à mesma época do episódio em São Paulo, um grupo de 21 funcionárias do shopping Barra, em Salvador, tentou impedir uma lojista transsexual de usar o banheiro feminino, alegando sentirem-se “constrangidas” pela presença da funcionária. Nesse caso, o shopping manifestou respeito pela diversidade e afirmou que não restringiria o acesso da funcionária ao banheiro por uma questão de “dignidade humana”.
Confira abaixo exemplos dos vídeos feitos pelos universitários no shopping Eldorado.
http://www.brasil247.com/pt/247/sp247/126797/Apartheid-shopping-libera-rolezinho-de-alunos-da-USP.htm?fb_action_ids=678436548846310&fb_action_types=og.likes&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B378366152307092%5D&action_type_map=%5B%22og.likes%22%5D&action_ref_map=%5B%5D