segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Quem é a policial que detonou Bolsonaro na rede social?

    A policial civil Mariana Lincoln Von Sohsten Rezende não tinha nem nascido quando As Panteras fez sucesso na televisão e, por isso, ela não vê muito sentido quando alguém a compara com uma das detetives que, na ficção, eram implacáveis com o crime. Mas as semelhanças existem: ela é bonita e quem a conhece diz que seus olhos brilham quando sai de trás da mesa, onde conduz inquérito como escrivã no primeiro distrito de Osasco, e vai para a rua em diligência com os investigadores. Perdeu a conta das pessoas que prendeu, mas não se esquece de como ficou com a boca seca, o coração acelerado e as mãos suadas ao trocar tiros em operação para prender traficantes. Em Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo, um investigador foi baleado ao seu lado. Ela continuou atirando e houve baixas do outro lado. “Já matou alguém?”, pergunto. “Não sei, prefiro não saber”, acrescenta.

Quem é a policial que detonou Bolsonaro na rede social. Por Joaquim de Carvalho

 

Mariana

Do site Diario do Centro do Mundo
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/manuela-davila-pedira-informacoes-brigada-militar-do-rs-sobre-sargenta-que-ameacou-militantes-pro-lula/
A policial civil Mariana Lincoln Von Sohsten Rezende não tinha nem nascido quando As Panteras fez sucesso na televisão e, por isso, ela não vê muito sentido quando alguém a compara com uma das detetives que, na ficção, eram implacáveis com o crime. Mas as semelhanças existem: ela é bonita e quem a conhece diz que seus olhos brilham quando sai de trás da mesa, onde conduz inquérito como escrivã no primeiro distrito de Osasco, e vai para a rua em diligência com os investigadores. Perdeu a conta das pessoas que prendeu, mas não se esquece de como ficou com a boca seca, o coração acelerado e as mãos suadas ao trocar tiros em operação para prender traficantes. Em Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo, um investigador foi baleado ao seu lado. Ela continuou atirando e houve baixas do outro lado. “Já matou alguém?”, pergunto. “Não sei, prefiro não saber”, acrescenta.
Matar e morrer faz parte do roteiro de quem escolheu ser policial, e, no caso dela, só a vocação explica. Filha de empresário, que também é professor universitário, Mariana é de uma família tradicional de Osasco, na Grande São Paulo, e pertence à classe média, média alta. Formou-se em Direito e entrou na polícia, aprovada em concurso. A mãe era professora de Português quando, aos 50 anos de idade, para incentivar uma amiga que queria ser policial, prestou concurso para investigadora. A mãe de Mariana passou, a amiga não, e como o salário de investigadora era mais alto do que o de professora, foi para a polícia, apesar de ter 1m50. Ficou nove anos lá até se aposentar, sempre em trabalhos internos. Já Mariana, aprovada para um cargo onde a rotina é o trabalho interno, gosta mais é de sair para diligências, o que é perfeitamente legal em se tratando de investigações relacionadas aos inquéritos em que atua.
“Amo ser policial”, diz ela, que tem um Instagram com 25 mil seguidores, onde posta muita foto relacionada a seu trabalho. Por isso, não é exagero dizer que se tornou musa na profissão. Há algumas semanas, ela foi com o marido para Curitiba, onde ele disputou e venceu a final de um campeonato mundial de luta marcial. O marido (é segundo casamento dela), é professor de luta marcial, nas modalidades Taekwondo e Hapkidô. Quando uma seguidora da capital paranaense soube que ela iria para lá, insistiu para que ficassem hospedados na casa dela. “Ela e o marido (os dois policiais) nos trataram como se fôssemos da família, muito gentis”, diz. Mariana conta que a decisão de publicar um post em que detona Bolsonaro foi o resultado de um incômodo de dias, semanas, talvez meses, com alguns seguidores na rede social pedindo a ela que se posicionasse. “O cara (Bolsonaro) é um doente, faz mal ao Brasil, mas tem gente que não conhece nada de polícia e acha que ele vai resolver. Não vai. Eu tinha que publicar. Se não publicasse, não seria eu”, afirma.
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O post de Mariana viralizou, e ela recebeu apoios e críticas. “Muitos policiais me apoiaram. Incrível. Eu diria a maior parte. Quem me criticou é gente que não é policial, mas pensa que é. Ou gostaria de ser. Vigilante, segurança, gente que não sabe que, para combater o crime, não é preciso ter carta branca para matar. A polícia já mata, e muito, e, pior, morre também. E o crime só aumenta. Policial sem energia é como arma descarregada, mas o que precisamos é de inteligência e condições adequadas para investigar”, afirma.
Um bolsominion cometeu a imprudência de postar na página dela: “Cala a boca, sua anta, tu já viu policial sem uma .40 na cintura prender ladrão? Então cala sua boca o retardada!! Mulher sem uma arma é o mesmo que uma criança, mulher não impõe respeito!! Se toca o criatura escrota”, disse. Mariana respondeu: “Eleitor do Bolsonaro não decepciona nunca, né!? Preconceituoso, mesquinho, e quando entra numa discussão sadia não tem argumentação fundamentada. Você é um doente”, escreveu, e fez um desafio, que o valentão não aceitou: “Vem aqui conversar comigo e fala na minha cara que uma mulher não tem capacidade de ser Policial (com P maiúsculo mesmo) nem usar uma arma de fogo, seu merda”.
Na postagem seguinte, ela postou uma foto, em que uma mão com unhas bem feitas, aliança, anel, coloca uma pistola na mesa, ao lado do distintivo da polícia, um boné em cima de uma caveira e uma caneca cor de rosa. E escreve: “Segue o baile”.
Mariana sempre chamou sua atenção por opiniões fortes. “Gostei muito do PT no passado, por causa da ideologia, de ver aquela gente lutando por coisas justas. Acho que o PT se perdeu um pouco, mas continuo de esquerda, digamos assim, porque sonho com o Brasil menos desigual”, afirma.
Ela é amiga de Márcia Abreu, ex-mulher do prefeito de Osasco, Emídio de Souza, do PT, e por causa dela, em 2004, aceitou ser candidata a vereadora. Estava filiada ao PTB, coligado ao Partido dos Trabalhadores, e só fez parte da chapa para atingir a cota das mulheres. Não fez campanha e, ainda assim, teve quase 300 votos. “Não sou política, nunca fui, mas pela amizade que tinha e tenho com a Márcia fiz parte da chapa”, conta.
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Aos 38 anos, ela diz que a vida dela se divide em trabalhar na delegacia, cuidar das duas filhas e do marido e ir a barzinho com ele e os amigos sempre que pode. Não decidiu ainda em quem vai votar em 2018 para presidente, mas já sabe em quem não votar, em hipótese alguma. “Não voto no doente, esse não fez nada pelo Brasil, engana as pessoas, propaga o ódio. Estou fora”, diz.

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