terça-feira, 18 de abril de 2017

Devem os comunistas ter candidato a presidente?

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Do Portal Vermelho

Elder Vieira *

Rapaz, se devem, está ainda em discussão. Agora, que podem, podem.


Na história de nossa combalida República, salvo engano deste escriba, por duas vezes o Partido dos Operários, e dos trabalhadores da cidade e do campo, se meteu a disputar o mais alto posto político da Nação: em 1930, com Minervino de Oliveira, pelo Bloco Operário e Camponês, e em 1945, com Yêddo Fiuza, ex-prefeito de Petrópolis.

A primeira candidatura se deu num momento crucial para a afirmação do Partido e da classe que ele representa. Enquanto as elites se digladiavam entre cafeicultores paulistas retrógrados e modernizadores descontentes, o que culminaria num movimento revolucionário renovador que marcaria a vida nacional por décadas, os trabalhadores, pela primeira vez, entram na cena da chamada “grande política”, disputando a opinião pública e estruturas de poder, vocalizando um programa e seu ideário e anotando na súmula do campeonato de classes o nome de importante contendor, que também marcaria a vida nacional pelos anos afora.

A segunda se dá no fim da Ditadura Vargas. Com a derrota do nazi-fascismo na Segunda Grande Guerra, e a derrocada do Estado Novo por aqui, os movimentos por liberdades democráticas se desatam. O Partido, grandemente prestigiado, tendo Prestes por principal porta-voz, abusa, e lança um nome para o Executivo e diversos candidatos para o Parlamento, os quais o projetam nos debates em torno dos novos rumos do País.

Ambas as candidaturas encarnavam um reposicionamento do Partido em cenários de importantes inflexões políticas e sociais. Dentro ou diante de um novo ciclo político, os comunistas adequaram sua visada, deram um salto em sua compreensão dos fenômenos contraditórios e instáveis que marcavam a conjuntura histórica e, ousadamente, por intermédio de candidaturas, altearam sua voz em meio à balbúrdia.

- Ô, cidadão: quer dizer que toda a vez que bagunçarem o samba, lançar um candidato é a saída?
Por suposto que não! Que idéia! Quem é o maluco?!

Zum-zum-zum no ambiente – quem, como, onde? – e o maluco escafede-se por uma das laterais...

O PCdoB, esclareço, viveu outros momentos que exigiram reposicionamentos que nada tinham a ver com candidaturas.

Assim foi com a instauração da Ditadura Militar, em 1964, quando, anos mais tarde, se levanta em armas, e depois, na segunda metade dos anos 70, passa a pregar e articular a ampla frente anti-ditatorial em torno das bandeiras da Anistia, da Constituinte e de eleições livres. Nos anos 80, quando destaca-se nas lutas pelas Diretas e cumpre papel central na efetivação da candidatura de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, o que leva ao fim da Ditadura.

No final da mesma década e ao longo da seguinte, novo reposicionamento: junta-se ao PT em diferentes jornadas eleitorais, que começam com o Lula lá em 1989 e culminam com as eleições de Lula aqui nos anos 2000. Com esse esquema de jogo, fomos tetracampeões. O último caneco, tomaram na mão grande.

Estamos de novo diante do fim de um ciclo e da inauguração de um outro. Mais uma vez, o Brasil mergulha num tumulto de vozes provocado por um quadro de incertezas e instabilidades, rascunhado pelos interesses do capital estrangeiro e dos silvérios dos reis a ele associados. A conjuntura histórica volta a exigir reposicionamento das forças progressistas e, mais ainda, dos comunistas.

A Direção Nacional do PCdoB reuniu tem dias. Aprovou resolução em que faz um chamado aos patriotas, democratas e ao povo para a formação de uma Frente Ampla para combater o governo Temer e construir saídas para o Brasil. Analisa primorosamente a situação do mundo e nossa conjuntura interna; faz balanço inicial do ciclo de 2003 a 2015; aponta a exigência de eleições que reponham a soberania popular como baliza das decisões; e anuncia que terá protagonismo na sucessão presidencial, podendo, inclusive, apresentar um nome.

Esse reles escriba pede licença para, pessoalmente, opinar aqui neste espaço militante, como opinará nos fóruns de sua militância, que os comunistas não só podem, como devem lançar um candidato. Devem fazê-lo para que mais uma vez alteiem sua voz acima do alarido.

Neste momento - de tantas incertezas, tão falto de quem esteja convicto da centralidade da questão nacional nesta luta entre a Nação e o Imperialismo, entre a liberdade e o autoritarismo neoliberal, entre o rentismo e a produção, entre elites traidoras e trabalhadores – o Brasil precisa saber o que pensam os comunistas. Uma candidatura presidencial daria voz, materialidade e projeção a esse pensamento. Seria instrumento de afirmação de um renovado projeto nacional de desenvolvimento e de reafirmação do PCdoB como vanguarda dos trabalhadores e do povo.

- Mas, companheiro, vai lançar de faz de conta, pra depois não sustentar, ter que tirar? E quem será o nome? Não tá muito cedo? Tá tão incerto o quadro...

Parceiro, não conheço time que entre em campeonato com data marcada para sair. Craques não nos faltam, em ambos os gêneros. Não sei se você reparou, mas a bola já tá rolando. E os elencos em campo são mais do mesmo. Futebol e política são os dois reinos do imponderável. Num quadro desses, quem tiver convicção e coragem, desce pro play e faz bonito.
* Escritor, servidor público, militante do PCdoB desde 1983

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