terça-feira, 23 de junho de 2015

O governo, longe dos mais pobres


Por José Antonio Lima, na revistaCartaCapital:

O ponto central da pesquisa Datafolha que apontou a impopularidade da presidenta Dilma Rousseff em um nível semelhante ao de Fernando Collor em 1992 está na distribuição por renda da insatisfação.

O Datafolha mostrou que a gestão de Dilma é considerada ruim ou péssima por 62% dos eleitores que têm renda familiar mensal de até dois salários mínimos. Desde a última pesquisa, divulgada em março, este número cresceu cinco pontos percentuais, fora da margem de erro, portanto, indicando o desgaste da petista neste contingente dos eleitores.

O conjunto que ganha até dois salários mínimos é decisivo na eleição pois corresponde a 43% do eleitorado. É o maior grupo nas divisões por renda da pesquisa. Cinco dias antes do segundo turno do pleito presidencial de 2014, o Datafolha apontava Dilma com uma vantagem expressiva sobre Aécio Neves (PSDB) entre esses eleitores. Eram 21 pontos percentuais à frente do tucano: 55% a 34%.

Este dado é bastante preocupante para o PT. Como demonstra o cientista político André Singer no livro Os sentidos do Lulismo, esses eleitores passaram a se identificar com o PT depois da primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, quando os programas sociais colocados em prática pelo ex-presidente começaram a surtir efeito. Este grupo foi fundamental na reeleição de Lula em 2006 e nas vitórias de Dilma em 2010 e 2014.

Desde o início do segundo governo Dilma, entretanto, o apoio da massa mais pobre ao PT começou a ruir. Grupo particularmente sensível ao aumento do desemprego e da inflação, já verificados em estatísticas oficiais, e a algumas medidas do ajuste fiscal imposto pelo Planalto, esses eleitores têm demonstrado insatisfação crescente. Antes da eleição, apenas 15% afirmavam que o governo era ruim ou péssimo, ante os 62% verificados agora.

Completa o quadro a insatisfação dos eleitores com renda familiar mensal entre dois e cinco salários mínimos, que correspondem a outros 38% do eleitorado. Cinco dias antes do segundo turno em outubro passado, Aécio vencia Dilma dentro da margem de erro, por 46% a 43%, mas apenas 20% das pessoas dessa faixa de renda avaliavam o governo como ruim ou péssimo. Desde então, esse número foi a 46% em fevereiro e chegou a 69% em maio, a maior porcentagem entre todas as faixas de renda.

Como mostrou reportagem recente de André Barrocal, o governo está ciente da gravidade do quadro e trabalha com a expectativa de Dilma reverter parte da queda da popularidade apenas a partir de 2017. A brusca queda na popularidade também afeta as pretensões eleitorais de Lula. Padrinho político de Dilma, sua imagem sofre desgaste por conta dela. Caso o governo não consiga reverter essa situação, em 2018 a chance de o PT ganhar a eleição pela quinta vez seguida parece bastante comprometida.

Um comentário:

  1. A brusca queda na popularidade também afeta as pretensões eleitorais de Lula. Padrinho político de Dilma, sua imagem sofre desgaste por conta dela. Caso o governo não consiga reverter essa situação, em 2018 a chance de o PT ganhar a eleição pela quinta vez seguida parece bastante comprometida.

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