Danilo Gentili, do CQC, explica que ser racista é legal.
DANILO GENTILI, DO CQC, EXPLICA QUE SER RACISTA É LEGAL.
Só não façam piadas sobre idiotas que aí eu me ofendo.
Danilo Gentili é descendente de italianos, branco, classe-média, famoso, profissionalmente bem sucedido. Ele provavelmente não teve oportunidade de ser vítima de preconceito, ao longo de sua vida. Por ser humorista, ele acha que o riso deve estar acima de qualquer coisa. O mesmo que acham os jornalistas da liberdade de expressão, os publicitários da de criação etc. Pra fazer rir, vale tudo. Até ser racista. Ele escreveu um texto ironizando a questão racial no Brasil, um assunto que eu, e tanta gente mais séria que ele, achamos fundamental. Pior: foi previsível, como geralmente são os racistas que bradam contra o que eles chamam de “patrulha do politicamente correto”. Porque agora, dizem os racistas, o legal é ser politicamente incorreto, falar o que quiser, ofender as minorias, fazer pouco dos oprimidos. Com as palavras, como se as palavras não machucassem, como se fossem inofensivas. Ora bolas, nós que lidamos com palavras, sabemos o poder que elas têm. Para o bem e para o mal. Já o Danilo Gentili acha que o humor dele é mais importante que tudo, que fazer piada sobre a condição do negro não é reproduzir o preconceito ancestral contra essas pessoas. É só ser engraçado. E ser engraçado é o que há. Porque se é piada, tá valendo, não é sério mesmo.
Lá no textinho, o humorista, além de demonstrar toda sua ingenuidade, desfila aqueles velhos argumentos que nós já estamos cansados de rebater:
1) que não existem raças, logo classificar as pessoas por raças é racismo
(e o incrível desdobramento disso: negros não deviam se ofender quando comparados a macacos).
(e o incrível desdobramento disso: negros não deviam se ofender quando comparados a macacos).
Eu já disse isso. Biologicamente não existem raças. Socialmente, ou seja, no mundo real em que eu e vc vivemos, existem, e são classificadas em escalas hierárquicas, em que o negro está quase sempre subordinado ao branco. Ignorar essa hierarquia e essa desigualdade é justamente o que pretende o “racismo à brasileira”: se negar para se perpetuar. Somos todos humanos, dizem seus ideólogos, não existem raças, quem fala de raça, quem se entende parte de uma (no nosso caso, a negra) é racista. (diz Gentili: Se você me disser que é da raça negra preciso dizer que você tambem é racista) Esse discurso pretende tornar a questão da raça uma não-questão e botar a culpa do problema na vítima. E nós, que não gostamos de nos calar, somos vistos como racistas, por sempre trazermos à tona esses problemas. Como hoje em dia é feio parecer racista, usa-se o humor para perpetuar a ideia de que, ora bolas, essa galera que fica aí acusando preconceito, se fazendo de vítima, reclamando de racismo, são eles os próprios racistas. Porque todo mundo sabe que chamar um negro de macaco é pejorativo, remetemo-nos ao tempo em que se negava condição humana ao negro, que assemelhavam-no a um “ser inferior”. Mas o Gentili não, quer pagar de legal, de politicamente incorreto, e fica fazendo piadinha dizendo que, SE FOSSE COM ELE, adoraria ser chamado de macaco. Mas, oi, não é com vc. Sorte sua. Você provavelmente não teve que lidar com problemas de auto-estima por causa da cor da sua pele, e de seus traços físicos. Problemas que não decorrem necessariamente da cor e dos traços em si, mas do julgamento que o mundo faz deles. Porque, alô, traços negróides tão num nível inferior na escala estética ocidental. São quase os mesmos traços do macaco, segundo o senso comum. E é muito daí que vem a comparação entre os negros e os símios. Ignorar isso é desonestidade intelectual, ou falta de intelecto, não sei o que é pior.
2) não há problema em chamar um preto de preto.
É feio se fazer de desentendido. É claro, óbvio e evidente que existe uma diferença abissal entre as palavras preto e negro. Uma rápida consulta à gramática mais próxima sobre sentidos conotativo e denotativo talvez resolva o problema. Preto foi, é, e pelo visto, sempre será usado num sentido pejorativo, em geral com vistas a ofender ou demonstrar uma valoração inferior ao que tá em volta da palavra. “Preto safado”, “coisa de preto”, “preto de merda” etc reforçam a ideia. Negro não, é mais neutro, não traz consigo a carga ofensiva que seu sinônimo carrega. Ora porra, não é um problema com as palavras em si, mas em como elas foram e são usadas ao longo da história. A escolha de preto ou negro nos diz muito sobre o sentido que o falante quis empregar no enunciado. E eu me sinto um idiota explicando isso a um brasileiro, a alguém que convive com essas palavras desde sempre, que sabe, com toda a clareza que elas são muito mamuito diferentes, que dizem coisas diferentes. E que não são apenas palavras, como piadas não são apenas piadas. Tudo isso tá carregado de conteúdo simbólico, muitas vezes preconceitos que, travestidos do riso e de “simples palavras” se reproduzem e não são questionados.
3) ser politicamente correto é ser imbecil e superficial.
E eu acho que devem ser questionados sim, evitados e combatidos. Eu acho que as palavras e atitudes nossas devem sim ser politicamente corretas. E por que não seriam? Pensar sobre as palavras que usamos e deixar de usá-las se não forem adequadas é louvável, é hábito que devemos cultivar. Se rimos da piada racista, homofóbica e discriminatória é porque carregamos em nós um pouco desse conteúdo nefasto. Conscientemente é difícil perceber isso, principalmente se fazemos parte do outro lado, dos que não sofrem com o preconceito na pele. E aí “politicamente correto” vira coisa de maluco, de gente preciosista que não tem nada o que fazer e fica enchendo o saco. Mas da feita que nos colocamos no lugar do outro, no lugar do ofendido, passamos a perceber a carga destruidora que uma simples piada pode ter na vida de alguém. Porque é feio ficar fazendo piadinha com o sofrimento alheio.
Por fim, a observação do seu Gentili no final do post racista:
Antes que diga “Não devemos fazer piadas com negros, nem com gordos, nem com gays, nem com ninguém” Te digo: “Pode colocar meu nome aí nas páginas brancas da sua lista negra, mas te acho chato pra caralho”.
Antes que diga “Não devemos fazer piadas com negros, nem com gordos, nem com gays, nem com ninguém” Te digo: “Pode colocar meu nome aí nas páginas brancas da sua lista negra, mas te acho chato pra caralho”.
Claro, porque fazer piada com negros, gordos e gays é só uma brincadeira inofensiva né? Quem não gosta disso é só “chato pra caralho”. Quem vive da reprodução do preconceito é que é legal, porque se furta ao debate e ainda fica repetindo asneiras em rede nacional e recebendo aplausos. Impunemente. Que tal perguntar pros negros, pros gordos e pros gays o que eles acham das piadas? Não né? Na plateia do circo nunca estão os parentes do elefante que se equilibra ridicularmente nas tábuas e esferas. Engraçados são os outros.
http://amortecedor.wordpress.com/2009/08/06/danilo-gentili-do-cqc-explica-que-ser-racista-e-legal/
Pra fazer rir, vale tudo. Até ser racista. Ele escreveu um texto ironizando a questão racial no Brasil, um assunto que
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