quarta-feira, 23 de julho de 2014

José Saramago: 92 anos de um grande comunista




        Único escritor da língua portuguesa a receber um Nobel de Literatura, o português José Saramago completaria 92 anos nesta ano de 2014

Filho de agricultores, José de Sousa Saramago nasceu na vila de Azinhaga, interior de Portugal. Seu primeiro romance, "Terra do Pecado" (1947), foi publicado quando o autor tinha 25 anos. O segundo, "Manual de Pintura e Caligrafia" (1977), só surgiria três décadas mais tarde.
Desenvolvedor de um estilo de escrita peculiar, Saramago ficou conhecido por utilizar frases e períodos compridos, com as falas das personagens inseridas nos parágrafos que as antecedem e subvertendo as regras de pontuação - muitas de suas frases ocupam mais de uma página.
Ateu, Saramago trata em seus trabalhos dos temas mais diversos - a separação geográfica da Península Ibérica do continente europeu aparece em "A Jangada de Pedra" (1986), e o Cristo se revolta contra o destino de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" (1991).
Além de grande escritor, o português José Saramago, também sempre assumiu que era um comunista convicto. 
José Saramago era militante do Partido Comunista Português desde 1969 e a sua morte constituiu uma perda para todo o coletivo partidário comunista - para o Partido que ele quis que fosse o seu até ao fim da sua vida.

No livro "Ensaio sobre a Cegueira" e podemos  ver o quanto contundente e alarmante é a mensagem de Saramago para nós. Por trás da surreal história de uma cidade cuja população é quase toda tomada pela cegueira, com exceção de um único indivíduo, está a crítica contra a alienação e o conformismo estimulados pela "euforia" da mítica "globalização" capitalista, uma ilusão que esconde uma padronização do comportamento mental da humanidade de acordo com os valores ideológicos do imperialismo.

Saramago era de uma lucidez serena mas enérgica, e sua coerência era tal que ele fez questão de que seus livros fossem lançados no Brasil mantendo a grafia lusitana. Que nós, brasileiros, tenhamos que encarar a obra de Saramago com palavras que usam acento agudo em vez de circunflexo, ou de jargões e grafias diferentes da nossa. São pequenas variações da nossa língua, como dialetos ou sotaques distantes do mesmo idioma.

Abaixo algumas de suas mais conhecidas frases e uma poesia:

“O Universo não tem notícia da nossa existência”
“A minha posição é a de constante interrogação”
“A doença mortal do homem, como homem, é o egoísmo”
“Quando um político mente, destrói a base da democracia”
“Há duas palavras que não se podem usar: uma é sempre, outra é nunca”
“Ao lado das minhas personagens femininas, as masculinas são insignificantes”
“Somos todos escritores, só que alguns escrevem e outros não” 


Na ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
José Saramago


2 comentários:

  1. Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos.
    José Saramago

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  2. Além de grande escritor, o português José Saramago, também sempre assumiu que era um comunista convicto.
    José Saramago era militante do Partido Comunista Português desde 1969 e a sua morte constituiu uma perda para todo o coletivo partidário comunista - para o Partido que ele quis que fosse o seu até ao fim da sua vida.

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