Saindo do armário: Direita, eu? (Parte 2)
O cantor Lobão, um dos mais novos jagunços da direita, disse que a ditadura não foi nada de mais e que os "torturadores "só arrancavam umas unhazinhas",
- por André Lux, jornalista e crítico-spam (de esquerda)
Para se identificar alguém de direita é preciso observar o conjunto dos
atos e o tom do discurso, uma mistura de falsa simulação ideológica
que inclui a negação das divisões políticas ou, no limite, da própria
política. Outra saída é dizer que odeia política, que é apolítico (?),
que político é tudo canalha, que não vai mais dar o voto para ninguém.
Mentira: vai votar na direita.
.Chega a ser engraçado essa coisa de, no Brasil, ninguém ser de direita. Por aqui,
alguém só se diz de direita quando quer chocar ou demonstrar certa ferocidade
política e pessoal do tipo “sou de direita mesmo, vai encarar?”. Coisa de cabo
eleitoral da TFP e bestas-feras do gênero.
Mas a regra é diferente. Quem é de direita só abre a boca quando percebe
Mas a regra é diferente. Quem é de direita só abre a boca quando percebe
receptividade no ambiente. Mais ou menos como quem é racista. Normalmente,
para se identificar alguém de direita é preciso observar o conjunto dos atos e o tom
do discurso, uma mistura de falsa simulação ideológica que inclui, necessariamente,
a negação das divisões políticas ou, no limite, a própria negação da política.
Dessa forma, ao ser questionado sobre pendores ideológicos, o indivíduo de direita se
Dessa forma, ao ser questionado sobre pendores ideológicos, o indivíduo de direita se
sai sempre com o clichê da queda do muro de Berlim – embora a maioria apenas
desconfie, ligeiramente, do verdadeiro significado do evento e do processo que o
deflagrou. Depois da queda do muro de Berlim, portanto, não tem mais direita nem
esquerda, é tudo muito relativo. Outra saída é dizer que odeia política, que é apolítico
(?), que político é tudo canalha, que não vai mais dar o voto para ninguém.
Mentira: vai votar na direita.
No Brasil, há casos clássicos de políticos e intelectuais que migraram para a direita,
No Brasil, há casos clássicos de políticos e intelectuais que migraram para a direita,
um pouco pelo desencanto do comunismo, pela perda natural dos ideais que a idade
provoca, mas muitopela oportunidade de ficar rico ou fazer parte da elite
nacional que toma uísque escocês e freqüenta balneários de luxo, ainda que
forma subalterna e humilhante. Não é preciso citar nomes, mas muitos pululam
pelos parlamentos, partidos políticos e redações de jornais. Pergunte a qualquer
deputado ou senador se ele é de direita, e não vai aparecer nenhum.
Todo mundo tem uma desculpa para não ser de direita, mesmo os mais conservadores
Todo mundo tem uma desculpa para não ser de direita, mesmo os mais conservadores
e reacionários, mesmo as viúvas da ditadura militar, mesmo os risíveis neodemocratas
de plantão. Todos vão dizer que esquerda e direita não existem mais. Que depois da
queda do muro de Berlim, etc,etc,etc.
A verdade é que ninguém quer se admitir de direita porque, no Brasil, ou em
A verdade é que ninguém quer se admitir de direita porque, no Brasil, ou em
qualquer outra nação latino-americana que tenha sido submetida a regimes
neofascistas comandados por generais, ser de direita tem pouco a ver com a
clássica postura liberal econômica ou com a defesa das leis de mercado. Tem
a ver é com truculência, violência, racismo, fundamentalismo religioso,
obscurantismo político, coronelismo, ódio de classe e, é claro, golpismo.
Por isso há tão poucos direitistas assumidos.
Assim, de cabeça, aliás, não lembro de nenhum. Ah, de repente me lembrei de
Assim, de cabeça, aliás, não lembro de nenhum. Ah, de repente me lembrei de
uma confissão antológica do ex-deputado Wigberto Tartuce, o Vigão, parlamentar
do PTB brasiliense, de riquíssimo prontuário policial, temeroso de ser confundido
na multidão: “Eu sou de direita, mas sou honesto”. Até agora, a única confirmação
das autoridades policiais é a de que Vigão é mesmo de direita.
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Eu pensei que o Lobão só babava, mas agora eu vi que ele é mesmo um boçal
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