quinta-feira, 30 de julho de 2020

Democracia e futebol: quem e o que está por trás do movimento

Gol pela democracia: Sócrates em campo em 1982, época da Democracia Corinthiana (Foto: Domicio Pinheiro/Estadão)








Gol pela democracia: Sócrates em campo em 1982, época da Democracia Corinthiana (Foto: Domicio Pinheiro/Estadão)


  • MARCELO DAMATO
 ATUALIZADO EM 

Em meio à pandemia, apoiadores de Jair Bolsonaro foram às ruas para atacar o Congresso, o STF e a imprensa. Em reação, torcedores de futebol, em sua maioria membros das torcidas organizadas, se manifestaram em defesa da democracia

Fonte: GQ


Do outro lado, silêncio nas ruas. Vozes, só nas redes sociais. Barulho, só nos panelaços dos prédios de classe média. Ninguém queria quebrar o isolamento social para não agravar a crise da covid-19, mas no fim de maio a cena mudou. Surgiram protestos em defesa da democracia. Começaram em São Paulo e logo se espalharam por todo o Brasil, em especial nas capitais. Mas esses protestos não reuniam o público tradicional das manifestações: estudantes, funcionários públicos, políticos, artistas, enfim, a classe média. Também não era o pessoal do panelaço, do alto dos prédios. Quem comandava o ato nas ruas eram torcedores, muitos deles com camisas de torcidas organizadas. Onde o futebol era mais forte, o protesto era mais barulhento também.



CPUBLICIDADE
As torcidas organizadas logo divulgaram que não apoiavam (nem reprovavam) os atos, dizendo que se tratavam de decisões individuais de seus associados, mas muitas delas reuniram alguns diretores das organizações – como Emerson Osasco, da Gaviões, que teve o primeiro grupo nas ruas. Emerson ficou famoso, após aparecer em um protesto, por ter sido demitido de uma empresa de programação no dia seguinte e, imediatamente, ter recebido várias ofertas de trabalho, melhores que a anterior.
Gol pela democracia: Em manifestação na Av. Paulista pela democracia, no mês de junho, torcedor corinthiano se une a grupo de palmeirenses (Foto: Caio Guatelli)

Gol pela democracia: Em manifestação na Av. Paulista pela democracia, no mês de junho, torcedor corinthiano se une a grupo de palmeirenses (Foto: Caio Guatelli)

Outras diferenças mais visíveis entre as manifestações de esquerda tradicionais – ligadas a movimentos estudantis – e essas, ligadas aos torcedores, está na idade – que diminuiu bastante, a ponto de ser raro ver alguém com 40 anos – e nas cores usadas. O vermelho, protagonista absoluto de filiados do PT, PCdoB, PSOL e outros partidos de inspiração marxista, foi substituído pelas cores dos clubes como o negro, do Corinthians e Santos, o verde do Palmeiras, o vermelho e preto de Flamengo, Vitória e Sport, e também pelas cores da bandeira brasileira.

Na manifestação em Brasília, o Somos Democracia – o grupo mais organizado e o que ganhou maior projeção – reforçou o uso das cores amarelo e azul.

A mudança tem dois motivos: um tem a ver com visão de mundo. Muitos dos torcedores-ativistas, mesmo se considerando de esquerda, não têm grande simpatia por comunismo, socialismo, nem ligação com partidos políticos ou movimento estudantil. E o outro é estratégico, para combater um mantra dos bolsonaristas, “minha pátria nunca será vermelha”, que vende a ideia de que eles são os patriotas.

Esses torcedores, nem todos de esquerda, estão em geral fora dessa discussão. Seu ponto é a defesa da democracia e de bandeiras específicas, como o combate ao racismo, à violência policial – no que se aproximam dos protestos contra o assassinato do negro norte-americano George Floyd por um policial branco, em maio – e à discriminação e violência contra as mulheres.

O principal protagonista dos protestos são os corinthianos, em especial a Gaviões. A torcida tem décadas de história em protestos em favor da democracia, desde sua criação no final dos anos 1960. “A Gaviões surgiu para combater duas ditaduras: a do Brasil e a que existia no clube. É uma torcida em que a defesa da democracia está até no estatuto”, afirma Danilo Pássaro, maior líder do Somos Democracia, o maior de todos os movimentos de torcedores e o único existente em vários Estados e sem fãs de um clube só. “Somos mais de mil, mas o diretivo é formado só por corinthianos”, acrescenta.

Gol pela democracia: Torcedores em manifestação pela democracia na Av. Paulista, no dia 31 de maio (Foto: Marlene Bergamos/Folhapress)

Gol pela democracia: Torcedores em manifestação pela democracia na Av. Paulista, no dia 31 de maio (Foto: Marlene Bergamos/Folhapress)

A Gaviões de fato tem uma longa história nesse caminho. Surgiu criada por estudantes universitários que faziam oposição ao então presidente do clube e ao regime militar. Mais tarde, nos anos 1980, abraçou a Democracia Corinthiana, movimento de jogadores que passou a exigir maior participação nas decisões do clube e entrou de cabeça no Movimento das Diretas Já, que em 1984 tentou – mas não conseguiu – fazer com que o Congresso aprovasse o voto direto para escolher o presidente da República a ser eleito em 1985. A grande inspiração da Gaviões na época era Sócrates, craque do time e da seleção, e o mais famoso jogador com posicionamento político da história do futebol brasileiro.

Ao longo das décadas seguintes, as torcidas se despolitizaram e focaram na rivalidade. Foram épocas de grandes brigas. O clima ficou tão ruim que o Ministério Público proibiu bandeiras e instrumentos musicais – usados como armas – e depois passou a exigir que nos clássicos a torcida visitante fosse proibida de entrar.

Nos protestos de 2013, as torcidas voltaram à política, mas foram pouco notadas e estavam dos dois lados. Porém, a partir dali começaram a surgir grupos de torcedores que se denominavam antifascistas, os antifas – ou antifás, como é pronunciado em parte do Brasil.

Além do Somos Democracia, um dos grupos mais proeminentes é justamente o da torcida rival do Corinthians. O Palestra Sinistro, associação de vários grupos de esquerda palmeirenses, chegou a colocar 150 pessoas em uma manifestação pela democracia.

Gabriel Santoro, um dos líderes do grupo, afirma que a associação do clube com o fascismo – nos anos 1930 muitos sócios de fato apoiavam o conterrâneo italiano Benito Mussolini – fez surgir um movimento antifascista. “Quanto mais forte a ameaça, mais forte é a reação. Nós não aceitamos essa identificação do Palmeiras com a direita, com o fascismo”, diz Santoro, morador da Vila Ré, bairro da Zona Leste de São Paulo e maior reduto de corinthianos da cidade.

O modelo se repete. Grupos de torcedores com visão de esquerda ligados a uma organizada formam um coletivo para discutir os problemas sociais do país e protestar em defesa da democracia.

Em Salvador, grupos dentro da torcida Os Imbatíveis, a maior do Vitória, se reúnem todos os meses em “rodas de conversa”, segundo a expressão de Bete Dantas, uma das porta-vozes do movimento, para discutir temas políticos e sociais. A assistente social, criada na periferia de Salvador, resume em uma frase o alcance do coletivo de torcedores. “Não existe nenhum movimento social que tem o alcance da torcida. Temos representantes em todos os bairros da capital e em praticamente todas as cidades do Estado.”

Não é a primeira vez que as torcidas participam de protestos. Em 2013, nas manifestações que começaram com uma reivindicação de passe livre e depois se alastraram, as torcidas estavam em pelo menos um lado. “Naqueles protestos, quando a polícia veio com agressões, o pessoal da esquerda tradicional recuou e nós, que já estamos acostumados com os enfrentamentos contra a polícia, fomos para a linha de frente segurar um pouco as coisas”, lembra Dantas.

Aqueles atos também serviram de lição. “Daquela vez, conseguiram roubar o movimento e transformá-lo em algo totalmente diferente. Desta vez, nós não vamos deixar. E, se virmos que podemos ser manipulados de novo, vamos sair fora”, alerta Santoro. O líder antifascista palmeirense se referiu a como os atos desencadearam em protestos contra o PT e Dilma Rousseff, dando início a um movimento que culminou no impeachment da presidenta, na explosão da rejeição ao PT e à esquerda em geral e, por fim, à eleição de Jair Bolsonaro.

Também toca em um ponto sensível do movimento atual: em São Paulo e na maioria das capitais, não há união entre as torcidas. Na capital paulista, a participação de líderes políticos de esquerda, como Gleisi Hoffmann, do PT, e Guilherme Boulos, do PSOL, na organização de alguns atos, provocou a rejeição de outros torcedores que veem “objetivos políticos”. De fato, em um dos eventos, Hoffmann usou uma camisa da Gaviões.

Entretanto, o maior motivo de desconfiança é a história de rivalidade. Ao longo das últimas décadas, as torcidas construíram um longo histórico de conflitos, e uma das formas de ganhar prestígio dentro delas é justamente mostrar coragem nas brigas contra os rivais. “Sentar para dialogar com o rival é um tabu”, diz Dantas, se referindo especificamente à rixa entre Os Imbatíveis e a Bamor, do Bahia.

Por mais que haja conversas iniciais, quase todas acabam diante de uma situação resumida por um torcedor que pediu para não ser identificado. “Quem vai querer sentar para conversar com alguém que matou um amigo seu?”

Mesmo nos atos, o clima não é sempre pacífico. Em protestos na Av. Paulista, palmeirenses e corinthianos trocaram escaramuças. Em outros estados, cada torcida faz seu ato, de forma separada, mesmo que ocupando quase o mesmo local.

Enquanto esta reportagem era produzida, o racha se tornou mais agudo em São Paulo. Contrariados com a pressão do Somos Democracia para que o PCO (Partido da Causa Operária), um minúsculo agrupamento de extrema-esquerda, não levasse suas bandeiras para o protesto do último dia 28, o Palestra Sinistro decidiu abandonar as ruas para não ter de ficar ao lado do grupo de corinthianos.


Torcedores do ‘Trio de Ferro’ se unem em novo protesto contra o governo Bolsonaro | Porém.netCuritiba, tem as torcidas do MOC-Movimento Organizado Coritibano, Coxacomunas (Do Coritiba) Atleticanhatos e CAP Antifas (Do Athético) e Gralha Marx (Do Paraná Clube)

Em Curitiba, em contrapartida, o movimento é inverso. Torcedores esquerdistas de Athlético, Coritiba e Paraná, já fizeram um ato em conjunto e devem fazer outro ainda em julho, se a epidemia não se agravar na cidade. Uma das organizadoras é Diovana Andrade, ex-filiada à Império alviverde, do Coritiba, e atual diretora do Somos Democracia na capital paranaense. “Aqui todo mundo está junto. A rivalidade fica mais dentro de campo mesmo”, explica a torcedora, que na vida profissional é uma promotora de eventos - quase sem clientes atualmente.

Com tantas diferenças locais, a criação de uma organização nacional para os atos ainda é um sonho distante. Apenas o Somos Democracia tem alcance maior, mas ainda enfrenta resistência.

Mas esses torcedores mostram que não têm pressa. Organizando atos para fim de julho, agosto e até setembro, estão se preparando para uma batalha longa. E deixam claro que os atos só vão chegar ao seu potencial quando passar a pandemia, e todos poderão ir para a rua sem medo de levar o coronavírus para dentro de suas casas.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Dimitrov: "conteúdo e formas da Frente Única"

"


A criação de órgãos de classe à margem dos partidos é a melhor forma de realizar, ampliar e fortalecer a frente única na mesma base das amplíssimas massas. Estes órgãos serão também o melhor baluarte contra todas as tentativas dos adversários da frente única para romper a unidade de ação alcançada pela classe operária."

Qual é e qual deve ser o conteúdo principal da frente única na etapa atual?

A defesa dos interesses econômicos e políticos imediatos da classe operária, sua defesa contra o fascismo, há de ser o ponto de partida e o conteúdo principal da frente única em todos os países capitalistas.

Não nos devemos limitar a lançar simples apelos à luta pela ditadura do proletariado, temos que encontrar e preconizar as palavras de ordem e formas de luta que se deduzam das necessidades vitais das massas, do nível de sua capacidade de luta em cada etapa de seu desenvolvimento.

Devemos indicar às massas o que hão de fazer hoje para defender-se da exploração capitalista e da barbárie fascista.

Devemos conseguir que se estabeleça a frente única mais ampla por meio de ações conjuntas das organizações operárias das diversas tendências, para defender os interesses vitais das massas trabalhadoras.

Isto significa, em primeiro lugar, a luta conjunta por descarregar de um modo efetivo as consequências da crise sobre os ombros das classes dominantes; numa palavra, sobre os ombros dos ricos.

Significa, em segundo lugar, a luta conjunta contra todas as formas da ofensiva fascista, pela defesa das conquistas e diretos dos trabalhadores, contra a liquidação das liberdades democrático-burguesas.

Significa, em terceiro lugar, a luta conjunta contra o perigo cada vez mais iminente da guerra imperialista, luta que dificultaria a preparação desta guerra.

Devemos preparar sem descanso a classe operária para as mudanças rápidas de formas e métodos de luta, ao variarem as circunstâncias. A medida que cresça o movimento se fortaleça a unidade da classe operária, teremos que ir mais longe e preparar a passagem da defensiva à ofensiva contra o capital, dirigindo-nos para a organização da greve política de massas. Condição obrigatória desta greve é que nela tomem parte os sindicatos principais de cada país.

Naturalmente, os comunistas não podem nem devem renunciar um só minuto à sua tarefa própria e independente de educação comunista, de organização e mobilização das massas. Não obstante, para assegurar aos operários o caminho para a unidade de ação, é preciso conseguir aos mesmo tempo firmar acordos a curto e a longo prazo sobre ações comuns com os partidos social-democratas, os sindicatos reformistas e as demais organizações dos trabalhadores contra o inimigo de classe do proletariado. Nesses pactos, a atenção principal deve encaminhar-se para o desencadeamento de ações de massas nos diversos lugares, que deveria ser realizada pelas organizações de base mediante resoluções locais. Ao mesmo tempo que cumprirmos lealmente as condições de todos os acordos firmados com elas, desmascararemos implacavelmente qualquer sabotagem cometida contra as atividades conjuntas por pessoas ou organizações que tomem parte na frente única. A quantas tentativas se façam para frustrar os acordos firmados – e estas tentativas possivelmente se farão – responderemos apelando para as massas e continuando infatigavelmente a luta pelo restabelecimento da unidade de ação violada.

Resta dizer que a realização concreta da frente única nos diversos países se efetuará de diferentes modos e revestirá diferentes formas, segundo o estado e o caráter das organizações operárias, seu nível político, a situação concreta do país de que se trate, segundo as mudanças operadas no movimento operário internacional, etc.

Estas formas podem ser, por exemplo: atividades conjuntas dos operários, coordenadas para casos determinados e por motivos concretos, por reivindicações isoladas ou sobre a base de uma plataforma geral; ações coordenadas em determinadas empresas ou ramos industriais; ações coordenadas sobre um plano local, regional, nacional ou internacional; ações coordenadas para as organizações de lutas econômicas dos operários, para a realização de movimentos políticos de massas, para a organização da autodefesa comum contra os assaltos fascistas; ações coordenadas para ajudar os presos e suas famílias, para lutar contra a reação social; ações conjuntas para a defesa dos interesses da juventude e das mulheres; na defesa das cooperativas, da cultura, do esporte, etc.

Não obstante, seria ilusão dar-se por satisfeitos com o firmar de um pacto sobre atividades conjuntas e criar comitês de ligação dos partidos e organizações envolvidas na frente única, como acontece, por exemplo, na França. Isto é apenas o primeiro passo. Os pactos são meios auxiliares para a realização de ações conjuntas, mas não são ainda a frente única. Os comitês de ligação entre as direções dos Partidos Comunistas e Socialistas são necessários para facilitar a realização de atividades conjuntas, mas estão muito longe de bastar para o desenvolvimento efetivo da frente única, para arrastar as amplas massas à luta contra o fascismo.

Os comunistas e todos os operários revolucionários devem esforçar-se por criar órgãos de classe de frente única à margem dos partidos, eleitos (nos países de ditadura fascista, escolhidos entre as pessoas mais prestigiadas no movimento de frente única) nas empresas, entre os desempregados, nos bairros operários, entre a gente modesta da cidade e do campo. Só estes órgãos podem abranger, no movimento de frente única, as enormes massas não organizadas dos trabalhadores, contribuir para desenvolver a iniciativa das massas na luta contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e a reação, para criar sobre esta base o extenso corpo de ativistas operários da frente única, que é indispensável, e formar nos países capitalistas centenas e milhares de bolcheviques sem partido.

As atividades conjuntas dos operários organizados são o começo, são a base. Mas não podemos perder de vista que a esmagadora maioria dos operários é constituída pelas massas não organizadas. Assim, na França, o total dos operários organizados, comunistas, socialistas e filiados aos sindicatos de diferentes tendências, é ao total, aproximadamente, de um milhão e a estatística total de operários atinge 11 milhões. Na Inglaterra, pertencem aos sindicatos e aos partidos de todas as tendências uns cinco milhões de operários organizados, mas o total de operários é de 14 milhões. Nos Estados Unidos da América há, aproximadamente, cinco milhões de operários organizados, mas o total de operários na América do Norte é de 38 milhões; E a mesma relação existe, pouco mais ou menos, em outra série de países. Em tempos “normais” esta massa permanece, substancialmente, à margem da vida política. Mas na atualidade, esta massa gigantesca se põe cada vez mais em movimento, incorpora-se à vida política, chega à discussão política.

A criação de órgãos de classe à margem dos partidos é a melhor forma de realizar, ampliar e fortalecer a frente única na mesma base das amplíssimas massas. Estes órgãos serão também o melhor baluarte contra todas as tentativas dos adversários da frente única para romper a unidade de ação alcançada pela classe operária.

Georgi Dimitrov

Trecho retirado de “A Unidade Operária Contra o Fascismo”, discurso proferido
no VII Congresso Mundial da Internacional Comunista a 2 de agosto de 1935.

Dimitrov: "conteúdo e formas da Frente Única"

"A criação de órgãos de classe à margem dos partidos é a melhor forma de realizar, ampliar e fortalecer a frente única na mesma base das amplíssimas massas. Estes órgãos serão também o melhor baluarte contra todas as tentativas dos adversários da frente única para romper a unidade de ação alcançada pela classe operária."


Georgi Dimitrov


Qual é e qual deve ser o conteúdo principal da frente
única na etapa atual?

A defesa dos interesses econômicos e políticos imediatos
da classe operária, sua defesa contra o fascismo, há de ser
o ponto de partida e o conteúdo principal da frente única em

todos os países capitalistas.
Não nos devemos limitar a lançar simples apelos à luta pela 


Devemos indicar às massas o que hão de fazer hoje para 
defender-se da exploração capitalista e da barbárie fascista.

Devemos conseguir que se estabeleça a frente única mais 
ampla por meio de ações conjuntas das organizações
 operárias das diversas tendências, para defender os 
interesses vitais das massas trabalhadoras.

Isto significa, em primeiro lugar, a luta conjunta por
 descarregar de um modo efetivo as consequências da
 crise sobre os ombros das classes dominantes; numa
 palavra, sobre os ombros dos ricos.

Significa, em segundo lugar, a luta conjunta contra todas
 as formas da ofensiva fascista, pela defesa das conquistas 
e diretos dos trabalhadores, contra a liquidação das liberdades
 democrático-burguesas.

Significa, em terceiro lugar, a luta conjunta contra o perigo cada
 vez mais iminente da guerra imperialista, luta que dificultaria 
a preparação desta guerra.

Devemos preparar sem descanso a classe operária para as 
mudanças rápidas de formas e métodos de luta, ao variarem 
circunstâncias. A medida que cresça o movimento se fortaleça
a unidade da classe operária, teremos que ir mais longe e
 preparar a passagem da defensiva à ofensiva contra o capital,
 dirigindo-nos para a organização da greve política de massas.
 Condição obrigatória desta greve é que nela tomem parte os
sindicatos principais de cada país.

Naturalmente, os comunistas não podem nem devem renunciar 
um só minuto à sua tarefa própria e independente de educação
comunista, de organização e mobilização das massas. Não obstante, 
para assegurar aos operários o caminho para a unidade de ação, 
é preciso conseguir aos mesmo tempo firmar acordos a curto e a
longo prazo sobre ações comuns com os partidos social-democratas,
os sindicatos reformistas e as demais organizações dos trabalhadores
contra o inimigo de classe do proletariado. Nesses pactos, a atenção
 principal deve encaminhar-se para o desencadeamento de ações de 
massas nos diversos lugares, que deveria ser realizada pelas
 organizações de base mediante resoluções locais. Ao mesmo
 tempo que cumprirmos lealmente as condições de todos os
 acordos firmados com elas, desmascararemos implacavelmente
qualquer sabotagem cometida contra as atividades conjuntas
por
pessoas ou organizações que tomem parte na frente única. A
quantas tentativas se façam para frustrar os acordos firmados –
e estas tentativas possivelmente se farão – responderemos
 apelando para as massas e continuando infatigavelmente a
 luta pelo restabelecimento da unidade de ação violada.

Resta dizer que a realização concreta da frente única nos 
diversos países se efetuará de diferentes modos e revestirá
 diferentes formas, segundo o estado e o caráter das organizações
 operárias, seu nível político, a situação concreta do país de que
 se trate, segundo as mudanças operadas no movimento operário
 internacional, etc.

Estas formas podem ser, por exemplo: atividades conjuntas dos
operários, coordenadas para casos determinados e por motivos
concretos, por reivindicações isoladas ou sobre a base de uma 
plataforma geral; ações coordenadas em determinadas empresas
 ou ramos industriais; ações coordenadas sobre um plano local,
 regional, nacional ou internacional; ações coordenadas para as
organizações de lutas econômicas dos operários, para a realização
 de movimentos políticos de massas, para a organização da 
autodefesa comum contra os assaltos fascistas; ações coordenadas
 para ajudar os presos e suas famílias, para lutar contra a reação 
; ações conjuntas para a defesa dos interesses da juventude e das 
mulheres; na defesa das cooperativas, da cultura, do esporte, etc.

Não obstante, seria ilusão dar-se por satisfeitos com o firmar 
de um pacto sobre atividades conjuntas e criar comitês de ligação
dos partidos e organizações envolvidas na frente única, como acontece,
 por exemplo, na França. Isto é apenas o primeiro passo.
pactos são meios auxiliares para a realização de ações conjuntas,
mas não são ainda a frente única. Os comitês de ligação entre as
 direções dos Partidos Comunistas e Socialistas são necessários
para facilitar a realização de atividades conjuntas, mas estão muito
 star as amplas massas à luta contra o fascismo.

Os comunistas e todos os operários revolucionários devem esforçar-se
 por criar órgãos de classe de frente única à margem dos partidos,
eleitos (nos países de ditadura fascista, escolhidos entre as pessoas 
prestigiadas no movimento de frente única) nas empresas, entre os
desempregados, nos bairros operários, entre a gente modesta da
cidade e do campo. Só estes órgãos podem abranger, no movimento
 de frente única, as enormes massas não organizadas dos trabalhadores,
contribuir para desenvolver a iniciativa das massas na luta contra a ofensiva
do capital, contra o fascismo e a reação, para criar sobre esta
base o extenso corpo de ativistas operários da frente única, que
 é indispensável, e formar nos países capitalistas centenas e milhares
 de bolcheviques sem partido.

As atividades conjuntas dos operários organizados são o começo, 
a base. Mas não podemos perder de vista que a esmagadora 
maioria dos operários é constituída pelas massas não organizadas.
 Assim, na França, o total dos operários organizados, comunistas, 
socialistas e filiados aos sindicatos de diferentes tendências, é ao total, 
aproximadamente, de um milhão e a estatística total de operários atinge
 11 milhões. Na Inglaterra, pertencem aos sindicatos e aos partidos 
de todas as tendências uns cinco milhões de operários organizados,
 mas o total de operários é de 14 milhões. Nos Estados Unidos 
da América há, aproximadamente, cinco milhões de operários 
, mas o total de operários na América do Norte é de 38 milhões;
E a mesma relação existe, pouco mais ou menos, em outra série
de países. Em tempos “normais” esta massa permanece,
substancialmente, à margem da vida política. Mas na atualidade, 
esta massa gigantesca se põe cada vez mais em movimento, 
incorpora-se à vida política, chega à discussão política.

A criação de órgãos de classe à margem dos partidos é a 
melhor forma de realizar, ampliar e fortalecer a frente única
 na mesma base das amplíssimas massas. Estes órgãos
serão também o melhor baluarte contra todas as tentativas
 dos adversários 
frente única para romper a unidade de ação alcançada pela
classe operária.

Trecho retirado de “A Unidade Operária Contra o Fascismo”, discurso proferido
no VII Congresso Mundial da Internacional Comunista a 2 de agosto de 1935.