sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Time de ACM Neto diz que Bolsa Família gera miséria e preguiça


Time de ACM Neto diz que Bolsa Família gera miséria e preguiça


O Senador Álvaro Dias (PSDB), principal aliado do candidato de ACM Neto (DEM) no Senado e presença constante em seu programa na disputa eleitoral para a prefeitura de Salvador, diz que o Bolsa Família estimula a miséria e a preguiça. Por estes e outros motivos, o povo soteropolitano saber que é com Pelegrino (PT) e Olívia (PCdoB) que Salvador vai seguir em frente.



Fonte: Da redação





quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Curitiba, a classe média, o fascismo e a eleição atual



A classe média, o fascismo e a eleição atual
1 – São conhecidas as relações das classes médias com o fascismo e o nazismo. È conhecida também a razão principal de sua adesão a esses regimes extremistas: o medo das mudanças sociais produzidas pelos socialistas, comunistas e progressistas em geral. Lembro-me de uma passagem, creio que de Luta de Classe em França, onde Marx descreve o comportamento político da classe média diante de um episódio. Tratava-se de um processo revolucionário, onde por razões programáticas o movimento social contestava a propriedade privada. Foi um qüiproquó na classe média: inquilinos de pequenas barbearias, lojinhas e outros pequenos imóveis, ultra-explorados pelos seus senhorios e arruinados, saíam à rua em marcha em defesa da propriedade privada que eles não tinham. É irônico o gesto. Historicamente a classe média, todavia, tem oscilado para um lado e para outro na luta de classes, ora acompanha a burguesia, ora acompanha o proletariado. No Brasil recente, as classes médias acompanharam maciçamente o neoliberalismo de Fernando Henrique Cardoso e, num período seguinte, apoiaram Lula, seu governo e sua sucessora. A classe
média, apesar de todo bombardeio ideológico da Globo e do PIG, não participou dos movimentos golpistas tais como o “cansei”. O tal do cansei de corrupção foi várias vezes tentado e nunca mobilizou além de umas poucas madames da zona sul do Rio e umas bacanas em São Paulo. Apesar disso, a classe média é bem severa contra a corrupção. A classe média ficou impressionada com o episódio daquilo que ficou conhecido como “mensalão”, creio que em sua maioria apoiou a condenação da cúpula do PT e os demais condenados naquele processo. O ministro Joaquim Barbosa é apontado quase como herói e a Globo deitou e rolou durante esse processo. No entanto esse processo foi uma aberração jurídica, o STF transformou-se num tribunal de exceção, segundo o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos e outros tantos juristas. O tribunal condenou sem provas, apenas por deduções e indícios. Sem provas e com base numa teoria de origem fascista, ou melhor, cuja origem foi uma prática nazista, a tal da teoria do domínio do fato. Faz-se pressuposições, deduções e se condena. Os nazistas usaram tal teoria para condenar os opositores do regime. Pelo que entendi da História, posso dizer que o tribunal agiu como uma instituição fascista. Muitas coisas poderiam ser ditas sobre esse tribunal, tal como postergar o julgamento do Mensalão tucano, proteger o banqueiro Daniel Dantas, não julgar a privataria tucana etc. etc. etc. Registremos então que o tribunal agiu como se agia no fascismo. E qual foi o comportamento da classe média? A classe média aplaudiu o comportamento fascista, o julgamento e a condenação sem provas.
2 – Dito isso, vamos ao nosso pequeno mundo curitibano. Gustavo Fruet se orgulha de ter participado da CPI que serviu de base para que o Ministério Público formulasse a denúncia contra os acusados no “mensalão”. Gustavo participava com afinco da tentativa de incriminar Lula. A coisa não pegou em Lula, mas bem que se tentou condená-lo como mandante de tudo aquilo que se denunciava. Gustavo, Cachoeira, Demóstenes, Veja, Globo, Folha de São Paulo… todos tentando pegar o Lula. A classe média embarcou somente em parte nesse processo. Ficou contra a corrupção, queria a condenação da cúpula do PT, mas não incluiu Lula. O movimento “cansei”, no entanto, continuou minguado, a classe média não se misturou.
3 – O PT sempre teve várias facções, algumas delas até já debandaram e formaram outros partidos de esquerda. O PT de Curitiba conseguiu uma proeza. Conseguiu unificar o PT com a classe média conservadora, a mesma classe média que apoiou e apóia a atitude fascista do tribunal que condenou a cúpula do mesmo PT. A proeza de subordinar o PT progressista ao conservadorismo do Gustavo Fruet. Tudo porque a Gleisi quer ser governadora do estado. Ou seja, o PT local foi subordinado a um interesse esganado que Gleisi tem pelo poder. Assim, o PT curitibano levou o segmento progressista da classe média a apoiar o conservadorismo fascista daqueles que condenaram a cúpula do PT. Tudo porque a Gleisi, ex-classe média, quer ser governadora. Mudança com segurança é o lema do
Fruet, é a senha para o conservadorismo, é a chave para “mudar com segurança para nada mudar”. O PT abandonou a classe operária e o povão. Pergunto-me, como devem estar se sentindo os petistas progressistas?

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Dirceu e Genoino têm direito a novo julgamento no STF




Dirceu e Genoino têm direito a novo julgamento no STF


Após sete anos de forte campanha midiática, os réus do “mensalão” denunciados por crime de formação de quadrilha, incluindo a cúpula do PT, foram condenados com pequena margem: 6 votos a 4. Com isso, eles podem ingressar com embargos infringentes, medida prevista no artigo 333 do regimento interno do Supremo Tribunal Federal (STF) que, se acatada, assegura novo julgamento aos réus condenados com pelo menos quatro votos divergentes.


A sessão desta segunda-feira (22) deu continuidade à análise do capítulo 2 do processo, iniciada na semana passada, com a condenação de 11 dos 13 réus pelo relator, Joaquim Barbosa, e a absolvição de todos eles pelo revisor, Ricardo Lewandowski. A pequena margem que garantiu a condenação foi conseguida com votos duros, que escancararam o teor político do julgamento, com vistas a influir no resultado das urnas do próximo domingo (28). 

O mais impressionante deles foi o do ministro Marcos Aurélio Mello, que releu seu discurso de posse na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2006, no auge do escândalo do “mensalão”. 

O ministro revelou que, à época, pediu que o então presidente Lula não comparecesse ao evento porque precisava “dar um recado” sobre os “tempos muito estranhos envolvendo a vida pública”, que levaram o país não só a “uma crise de valores, senão um fosso moral e ético que parece dividir o país em dois segmentos estanques: o da corrupção, seduzido pelo projeto de alcançar o poder de uma forma ilimitada e duradoura, e de uma grande massa comandada que, apesar do mau exemplo, esforçasse para sobreviver e progredir. Não passa dia sem depararmos com manchete de escândalos”.

Para combater a corrupção, o discurso relido de Marco Aurélio evocou “o poder revolucionário do voto com o qual, eleição após eleição, estamos os brasileiros a nos aperfeiçoar”, disse que “ao usar a voz da urna, o povo brasileiro certamente ouvirá o eco vitorioso da cidadania, da verdade” e que impunha-se ao eleitor “a conscientização, a análise do perfil, da vida pregressa daqueles que se apresentem [candidatos]”, pois “somente dessa forma o eleitor responderá às exigências do momento, ficando credenciado, em passo seguinte, eleitor, à cobrança”.

Em seu voto, o magistrado condenou 11 dos 13 acusados e ironizou: “Mostraram-se os integrantes em número de 13. É sintomático o número. Mostraram-se afinados (...). Pareciam a máfia italiana”. Marco Aurélio absolveu os ex-diretores do Banco Rural, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório.

Com o revisor

Três ministros seguiram o revisor, Ricardo Lewandowiski, e absolveram todos os 13 réus denunciados por formação de quadrilha. Primeira a votar nesta tarde, a ministra Rosa Weber manteve posição já destacada em votos anteriores, de que a tipificação da quadrilha exige que ela seja formada para a prática de crimes e que pressuponha alarma e perturbação da ordem social. “Quadrilha é a estrutura que causa perigo por si mesma, o que nada tem a ver com concurso de agentes”, justificou.

A ministra alegou também que a tipificação do crime de quadrilha exige a pré associação dos agentes para a confecção de crimes variados. “Só existe quadrilha na acepção legal quando os agentes visam a uma quantidade indeterminada de delitos”, acrescentou. Rosa se amparou em decisão do Tribunal de Justiça da Alemanha sobre crime equivalente naquele país. “Não identifico em qualquer hipótese, à luz dos fatos descritos nos autos, o dolo de criar ou participar de uma organização autônoma com vistas à prática de crimes indiscriminada”, sintetizou. 

O ministro Joaquim Barbosa interveio. Descartou os argumentos jurídicos e optou pelo discurso emocional do suposto tratamento diferenciado entre crimes de pobres e ricos. “Eu estou com a impressão de que nós estamos caminhando para algo que eu denominaria uma exclusão sociológica de crimes de formação de quadrilha. A ideia que começo a perceber é que só praticariam o crime de formação de quadrilha as pessoas que praticam latrocínio, sequestro, roubo... os chamados crimes de sangue”, criticou.

Ele lembrou que, no decorrer desta ação, a corte condenou várias pessoas que cometeram crimes contra a administração pública. “Compra de parlamentares não pode ser cometida sem que haja concerto entre pessoas, porque dinheiro não dá em árvores. É preciso que haja crime de sangue para que a paz seja abalada? Não basta este crime de pecuniarização da vida política?”, questionou.

A ministra Carmem Lúcia pediu para antecipar seu voto e contra-argumentou. Segundo ela, outras decisões da corte comprovam que é possível condenar por formação de quadrilha os praticantes de crime de colarinho branco, desde que a tipicidade seja comprovada, o que ela não acreditava ser o caso deste julgamento. Para a ministra, a ação em pauta trata de pessoas que chegaram a cargo de poder ou que faziam parte de empresas de maneira legítima, e ali naqueles cargos praticaram um ilícito penal. Portanto, têm que responder pelos crimes que praticaram, e não serem tratadas como se tivessem chegado ao poder apenas para cometê-los. 

Em um voto relâmpago, o ministro Dias Toffoli apenas informou que acompanharia o revisor.

Com o relator

O ministro Luiz Fux seguiu integralmente o relator. Conforme ele, “restou incontroverso neste plenário que três núcleos se uniram em torno de um projeto delinquencial comum”. Para justificar a opção por quadrilha e não coautoria, se amparou no tempo em que os crimes foram praticados e em um entendimento abstrato do conceito de paz pública. “Essa quadrilha atuou por quase três anos e só acabou em função de um escândalo. Não é normal na doutrina coautoria por tanto tempo”, argumentou.

O ministro Gilmar Mendes também entendeu que houve formação de quadrilha. Com base em acórdão de autoria do colega Celso de Mello, defendeu que, para formação de quadrilha, é necessário concurso de pelo menos quatro pessoas, com o objetivo de prática criminosa, de forma estável e permanente. “O crime de quadrilha não se confunde com concurso, que é eventual e temporário”, justificou. 

Mendes ainda ressaltou que os dirigentes do PT tinham um projeto de poder que combinava dois fatores: expansão do partido e formação da base aliada. E que não se furtou a usar de meios ilícitos para concretizá-lo. “Não se pode cogitar o normal da ordem pública e social quando se tem um partido político cooptando parlamentares”.

Já o decano, Celso de Mello, começou seu voto dizendo que, em mais de 44 anos de atuação na área jurídica, nunca viu o delito de quadrilha “tão nitidamente caracterizado”. E chegou a compará-lo aos crimes cometidos pelo tráfico de drogas, que mitiga o Rio de Janeiro, ou ao PCC, que atemoriza São Paulo. Para rebater argumentos do revisor, Mello afirmou que os integrantes de uma quadrilha não precisam viver necessariamente das atividades dela e que esta ação criminosa em grupo afetou a paz pública ao se instalar “no núcleo mais íntimo e elevado de um dos poderes da República”. 

Em um voto carregado de adjetivos, Mello afirmou que “a essa sociedade de deliquentes, o direito penal brasileiro dá um nome: o de quadrilha ou bando”. Pouco depois, destacou que o STF não está criminalizando a política: “Estamos a condenar não atores políticos, mas protagonistas de sórdidas tramas criminosas”.

O presidente Ayres Britto seguiu a mesma linha do decano. Defendeu a existência da quadrilha e destacou que “o que estamos julgando é um modo espúrio, delituoso de fazer política”.

Resultados

Ao final, foram condenados por 6 votos a 4 o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, o ex-presidente do PT, José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delubio Soares, o publicitário Marcos Valério, os ex-sócios dele Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, o advogado Rogério Tolentino, a ex-diretora das agências de Valério, Simone Vasconcelos, e os ex-dirigentes do Banco Rural: Kátia Rabello e José Roberto Salgado.

A ex-funcionária do Banco Rural, Ayanna Tenório, foi inocentada por unanimidade. Já a ex-funcionária de Valério, Geiza Dias, foi absolvida, mas só não contou com o voto de Marco Aurélio. O ministro também inocentou o ex-diretor do Banco Rural, Vinicius Samarane, provocando o sétimo caso de empate no julgamento. Nesta terça-feira (22) os ministros decidirão o que fazer com os empates, mas as manifestações até o momento indicam que os réus serão favorecidos neste caso.


Fonte: Carta Maior

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=197066&id_secao=1


domingo, 21 de outubro de 2012

Em SP, esculacho em frente a prédio onde mora acusado de tortura


Escracho em São Paulo
"O que fazemos aqui é reivindicar a memória das pessoas que lutaram contra a ditadura militar, porque hoje vemos esses torturadores impunes" - Paula Sacchetta, da Frente de Esculacho Popular.

Em SP, esculacho em frente a prédio onde mora acusado de tortura



Do Portal Vermelho

Movimentos sociais, liderados pela Frente de Esculacho Popular, fizeram neste sábado (20), na região da Avenida Paulista, no centro da cidade de São Paulo, uma manifestação para expor publicamente um ex-militar reformado acusado de ter comandado sessões de tortura e homicídios durante a ditadura militar. 


Cerca de 60 pessoas, segundo a Polícia Militar, fizeram uma pequena caminhada pela Avenida Paulista até a Rua Manoel da Nóbrega, em São Paulo, endereço onde vive atualmente o ex-militar Homero César Machado, que chefiou equipes de interrogatório no antigo DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) entre os anos de 1969 e 1974.


Homenagem às vítimas da ditadura

“O que fazemos aqui é reivindicar a memória das pessoas que lutaram contra a ditadura militar e também reivindicar o presente, porque hoje vemos esses torturadores impunes. Este torturador [Machado] vive tranquilo em sua casa, não foi julgado e nem condenado, vive com aposentadoria paga com dinheiro público. O que ficou impune na ditadura dá carta branca para que esses crimes continuem acontecendo”, disse Paula Sacchetta, da Frente de Esculacho Popular.

Durante a caminhada, manifestantes colaram, em postes e latas de lixo, cartazes com fotos de pessoas que teriam sido torturadas por Machado na época da ditadura militar e distribuíram folhetos para a população informando que “um torturador mora neste bairro”.

Na frente do prédio onde Machado mora, parentes de Virgílio Gomes da Silva, que foi morto e torturado durante a ditadura militar, seguraram um megafone para dizer aos vizinhos que ali “mora um torturador”. Uma coroa de flores foi depositada em frente ao prédio e gritos e faixas lembravam um dos lemas do movimento: “Se não há Justiça, há esculacho popular”. 

A viúva de Virgílio Gomes da Silva, Ilda Martins da Silva, acompanhou a manifestação de hoje com seu filho, Virgílio Gomes da Silva Filho e uma neta. “Ele [Virgílio Gomes da Silva] foi morto e torturado [na ditadura militar] e está desaparecido há 42 anos”, disse ela. Ilda foi presa no dia seguinte com três de seus quatro filhos.

“Quando eu fui presa, ele já estava morto. E eu não sabia. Fiquei presa com meus três filhos. Levaram eles para o Dops e, de lá, para um juizado. Ofereceram eles [meus filhos] para doação. Fiquei presa por nove meses, quatro deles incomunicável, sem poder ver meus filhos. Fui torturada tanto fisicamente quanto psicologicamente”, disse.

O filho de Virgílio tinha 6 anos na época. “O que sabemos são relatos de companheiros que estavam presos na época. Sabemos que no dia 29 de setembro de 1969, ele foi preso numa emboscada. Levaram ele para o Dops [Departamento de Ordem Política e Social] e bastaram seis horas de tortura para conseguirem matá-lo”, disse Silva Filho. Segundo ele, Homero César Machado foi um dos torturadores de seu pai.

A família de Vírgilio Gomes da Silva disse esperar pela condenação judicial dos torturadores da época. “Espero sim [condenação]. Não importa o tempo que dure para a justiça chegar”, disse o filho.

O ato chamou a atenção de vários moradores da região. Vários deles apenas espreitavam a manifestação pela janela, mas alguns desceram de seus apartamentos para saber o que estava ocorrendo. “Cumprimento o cara [Machado] há anos e nunca imaginei. Fiquei com nojo. Quando vi as fotos [dos torturados estampadas nos cartazes] e li as histórias, fiquei mesmo revoltada”, disse Sandra Gaui, moradora de um prédio próximo.

“Acho esses escrachos fundamentais porque, não é coisa dos atingidos ou das famílias. É coisa da sociedade, principalmente de jovens que abraçaram essa causa. É um pessoal que diz que a violência policial de hoje é fruto do passado e que os desaparecidos precisam ser localizados para se acabar com a impunidade”, disse Ivan Seixas, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos.

Segundo Seixas, o capitão Homero “era um dos militares mais furiosos nas torturas”. Para ele, movimentos como esse contribuem para se fazer uma condenação moral dos torturadores, enquanto a condenação judicial ainda não ocorreu.

A reportagem não conseguiu falar com Machado. Um dos funcionários do prédio informou que Machado não estava no local no momento do ato. Uma vizinha de apartamento disse que há 15 dias ele não se está no prédio. “Ele sempre foi muito gentil e educado. Até tomei um susto agora com essas informações. Ele não está aí. As correspondências dele estão na mesinha do lado do nosso corredor”, disse Fernanda Teixeira de Carvalho Souza.

Fonte: Agência Brasil


http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=1&id_noticia=196898

Brasileira desafia Maiakóvski com versão inédita de poema a Lênin


Brasileira desafia Maiakóvski com versão inédita de poema a Lênin

Do Portal Vermelho


"Maiakóvski achava que a sua poesia era tão ligada ao solo russo que os seus poemas seriam intraduzíveis. Bom, aí eu me lembrei dessa frase dele e pensei: 'Acho que vou te contrariar'", narrou Zoia Prestes sobre o desafio, proposto pela Fundação Maurício Grabois, de traduzir para o português, pela primeira vez, a íntegra do poema em homenagem a Vladimir Ilitch Lenin. A declaração faz parte do ato de lançamento do livro, realizado em setembro deste ano.


Fonte: Da redação

Chávez, os mentirosos e o inferno de Dante


Atílio Borón: Chávez, os mentirosos e o inferno de Dante



Do Portal Vermelho

Na Divina Comédia, Dante Alighieri descreve com minúcia artesanal os diferentes círculos do Inferno. São nove, mas nos interessa o oitavo porque é o que está destinado a castigar os mentirosos, entre os quais sobressaem os maus conselheiros, os charlatões e os falsários, gente que mente conscientemente e sem escrúpulo algum. 

Por Atílio Borón, no Rebelión


Ola Bolivariana
chávez
Chávez, em seu discurso após saber que foi eleito presidente da Venezuela para mais um mandato
Se o grande florentino tem razão em suas descrições, as recentes eleições venezuelanas somaram uma enorme quantidade de candidatos a penar para sempre neste círculo infernal.

Poucas vezes tivemos de suportar tamanha quantidade de mentiras como as que lemos e escutamos nesses dias. A "ditadura chavista", "ataques à liberdade de expressão" na República Bolivariana, a "fraude eleitoral" foram algumas das mais recorrentes no rosário de acusações descarregadas sobre Chávez, visando impedir sua inexorável vitória.

Por que tanto ódio, tanta sede de vingança, que fez políticos e comunicadores sociais, que supostamente deveriam caracterizar-se por seu equilíbrio e sensatez, se converterem em porta-vozes das piores calúnias contra esse personagem? A razão é bem simples: mentem porque os interesses de classe que representam, associados – e articulados politicamente com – aos interesses imperais, exigem varrer o chavismo da face da Terra, e para isso qualquer recurso é válido.

A Venezuela, que encerra em suas entranhas as maiores reservas petroleiras da Terra, é uma presa que suscita os apetites incontroláveis do Império, impaciente em se reapropriar do que já foi seu e deixou de ser por obra e graça de Chávez. Como se trata de um propósito inconfessável, por ser um simples ato de latrocínio, é necessário apelar a argumentos contorcionistas, para que assim o delito se apresente como um ato virtuoso.

Por isso os mentirosos têm de dizer que o chavismo instaurou uma "ditadura" em um país que, desde 1999, até o domingo (7), convocou sua população às urnas em quinze oportunidades para eleger autoridades, deputados constituintes, membros da Assembleia Nacional, ou para referendar com o voto popular a nova constituição, ou ainda para decidir se seria revogado ou não o mandato do presidente.

Das 15 batalhas eleitorais, Chávez ganhou 14 e perdeu uma, o referendo constitucional de 2007, por menos de 1% dos votos – e de imediato reconheceu a derrota. Curiosa uma "ditadura" que opera dessa maneira, como já recordou Eduardo Galeano há alguns anos. Não só isso: acontece que essa "ditadura" estendeu os direitos políticos (além dos sociais e econômicos) como jamais tinham feito os regimes supostamente democráticos que governaram a Venezuela desde o Pacto de Punto Fijo, de 1958, que instauraram uma insípida alternância sem alternativas entre democrata-cristãos e social-democratas, que morreram de morte natural em 1998.

Cidadania

Quando Chávez chegou ao poder, em fevereiro de 1999, um em cada cinco venezuelanos maiores de 18 anos não existia politicamente: não podiam votar, porque não se inscreviam nos padrões e nem sequer possuíam documentos de identidade. Hoje, a "ditadura" chavista reduziu essa cifra a 3,5%. Além do mais, com a Quarta República (1958-1998), o abstencionismo de quem podia votar flutuava em torno de 30% a 35%, chegando, segundo afirmou Daniel Zovatto, diretor do Observatório Eleitoral Latinoamericano, a picos de 80% na década de 60.

Na eleição do último dia 7 de outubro, registrou-se a mais alta taxa de participação, com abstenção de apenas 19%. Se isso é pouco, enquanto a "exemplar" democracia estadunidense vota em dia útil (a primeira terça-feira de novembro) e a taxa de abstenção ronda os 50%, na "ditadura" chavista são feitas eleições aos domingos, com transporte gratuito para que todos possam ir aos locais de votação. Foi por isso que Jimmy Carter assegurou que o sistema eleitoral da Venezuela bolivariana é melhor que o dos Estados Unidos e um dos melhores do mundo. Mesmo assim, os condenados ao oitavo círculo do Inferno insistem que há uma "ditadura" e o que mais falta é liberdade.

Liberdade de expressão

A servil teimosia se reflete também em suas constantes críticas aos supostos limites à liberdade de expressão na Venezuela: era ridículo, e até dava um pouco de pena, ver esses severos paladinos da liberdade de expressão denunciando publicamente as supostas limitações a um direito tão fundamental, sem que ninguém na Venezuela interferisse em seu trabalho.

Diziam pública e histericamente que não existia liberdade! Diante do olhar meio sarcástico, meio perplexo, dos venezuelanos, que não entendiam o que proclamavam esses energúmenos no meio da rua e à luz do dia. Basta olhar os periódicos do país para comprovar o teor das ferozes críticas e perversas difamações que disparam diariamente contra Chávez e seu governo. 

Obviamente, esses homens santos (e mulheres beatas) que foram à pátria de Bolívar custodiar a ameaçada liberdade de expressão jamais se inquietaram ou manifestaram a menor preocupação pelos 25 jornalistas assassinados pelo regime títere que o imperialismo estadunidense instalou em Honduras após o golpe de 2009.

Muito menos se incomodam de informar que, dos 111 canais de televisão existentes no país, apenas 13 são públicos, tendo uma audiência de apenas 5,4%, como demonstraram Jean-Luc Mélenchon e Ignacio Ramonet em uma matéria recente.

Nos meios impressos, a situação é ainda pior, porque 80% estão nas mãos da oposição, radicalmente contrária ao governo. Diários que, como os dominantes da Argentina, violaram a vedação eleitoral venezuelana, propalando mentirosas versões via Twitter nas quais garantiam o triunfo irreversível de Henrique Capriles. 

Patricia Bullrich, uma deputada argentina, 'tuitava', com base nessas fontes, "52,8 Capriles, 47,2 Chávez", e Federico Pinedo, outro deputado argentino, escrevia alvoroçado "Ganhou @Capriles!". Nenhum deles pediu desculpas por terem enganado milhares de pessoas com tamanhas falsidades. E mais, em declarações posteriores se orgulham de terem atuado como fizeram, empreendendo um duro combate contra a "tirania chavista".

Mentiras

Contrastam com essas infames atitudes a seriedade, neutralidade e profissionalismo do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, um órgão público com representação multipartidária, que, tal como havia antecipado, só comunicaria os resultados das eleições quando as tendências do voto fossem irreversíveis. Assim fez poucas horas depois de terminado o pleito, quando cerca de 90% das urnas confirmavam uma vantagem inalcançável a favor do presidente Hugo Chávez (com 54% dos votos), chegando a 55% ao fim do escrutínio. Com uma diferença de mais de 1,6 milhão de votos, a discussão sobre fraude teve que ser discretamente arquivada. Melhor não pensar como seria se Chávez ganhasse por 2% ou 3% dos votos.

Os pecados de Chávez

Desiludidos e derrotados, os porta-vozes do império tiraram da manga o novo assunto para acossar a Venezuela bolivariana: a saúde de Chávez. As usinas do império se encarregaram de reconfigurar a agenda e seguramente insistirão com esse assunto, enquanto buscam novas formas de desestabilizar o governo. Já tinham aludido a isso antes, prognosticando como dizia a apresentadora da CNN, Patricia Janiot, que a Chávez lhe restavam 9 ou 12 meses de vida. Essa foi uma das façanhas do presidente: derrotar o câncer. A outra: sustentar um enorme investimento social que mudou para sempre as condições de existência – tanto objetivas como subjetivas – das classes populares, apesar da necessidade, reconhecida por Chávez, de melhorar a gestão da coisa pública.

Derrotados nas eleições, agora voltam à carga porque o líder bolivariano demonstrou ser um formidável aglutinador da tradicionalmente dispersos dirigentes latino-americanos, o que lhe permitiu neutralizar com eficácia a regra de ouro de qualquer império: "dividir para reinar", como ensinavam os romanos. Esse sim é um pecado imperdoável, que merece muito mais que a descida ao oitavo círculo do inferno para fazer companhia a tantos pseudojornalistas (na verdade, publicitários de grandes empresas que utilizam os meios de comunicação para facilitar seus negócios) e supostos republicanos cuja preocupação evidente é garantir a continuidade da ditadura – ainda que com roupagens democráticas – do capital.

O pecado de Chávez, murmuram por baixo (e às vezes vociferam, como faz o lamentável Mitt Romney), é intolerável e imperdoável, e há de se acabar com ele o quanto antes. Ignorantes das leis que regem a dialética histórica da direita, acreditam que a longa marcha da América Latina e do Caribe rumo a sua segunda independência é a obra maléfica de alguns espíritos malignos, como Fidel, Che e Chávez. Parafraseando aquele célebre título do discurso de Fidel no julgamento de Moncada, da direita imperial e seus porta-vozes regionais: "A história os condenará".

*Tradução: Gabriel Brito, Correio da Cidadania.


http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=196834

“Um Marx desconhecido: A Ideologia alemã”* (I)


“Um Marx desconhecido: A Ideologia alemã”* (I)










27/9/2011, Nicolás González Varela
Do Blog O Empastelador


“Eu próprio não tenho uma compilação de meus trabalhos, que foram escritos em diferentes idiomas e impressos em diferentes lugares. A maioria deles já não se encontram nas livrarias”
(Karl Marx a N. F. Danielson, 7/10/1868).

“Três chefes comunistas alemães, entre os quais o conhecido Marx, estão preparando edição em oito volumes sobre o Comunismo, doutrina, conexões e situação na Alemanha, Suíça, França e Inglaterra. Tudo a partir de documentos. Os outros dois colaboradores são Engels e Hess, comunistas conhecidos”
(Informe secreto da Polícia Prussiana, Paris, 17/2/1846).


Boris Nicolaïevski, grande biógrafo de Marx, reconhecia em 1937 que, de cada mil socialistas, talvez só um tenha lido, de cabo a rabo, algum livro de Marx; e de cada mil antissocialistas, nem um. E o pior, concluía, é que Marx já não estava na moda. 40 anos antes, um grande teórico e militante, falo de Labriola, ao participar não conhecido debate sobre o valor científico da obra de Marx em 1897, (a chamada “primeira crise do marxismo”, e cujos principais interlocutores eram ninguém menos que George Sorel, Eduard Bernstein e Benedetto Croce)[1] perguntava-se ingenuamente se “os escritos de Marx e Engels… foram lidos integralmente por alguém externo ao grupo de amigos e adeptos próximos, isto é, dos seguidores e intérpretes diretos dos próprios autores?... Acrescente-se a isso a raridade de muitos dos referidos escritos, e até a impossibilidade de encontrar alguns deles.” E concluía profético se “este ambiente literário”, esta situação hermenêutica adversa, não seria um dos culpados pela má assimilação, a aparente decadência e crise do pensamento de Marx. Com pessimismo, recapitulava, em frase profética: “Ler todos os escritos dos fundadores do socialismo científico resultou, até agora, em privilégio de iniciados.”[2]

Já o fundador do anarcossindicalismo Georges Sorel, com quem Labriola troca ideias, havia chegado a conclusões semelhantes em balanço parcial da penetração do marxismo sob as condições materiais da Europa não início do século 20. Segundo Sorel e pelo mesmo motivo: “as teses marxistas não foram, em geral, bem compreendidas na França e na Inglaterra pelos escritores que se ocupam das questões sociais”.[3] Parafraseando Frossard, poder-se-ia dizer que a maioria dos marxistas não conhecem os escritos de Marx melhor do que os católicos conhecem a Summa de Santo Tomás de Aquino. Labriola perguntava-se a propósito da “crise” ou decadência de Marx, “como nos pode surpreender (...) que muitos e muitos escritores, sobretudo publicistas, tenham-se sentido tentados a tomar críticas de adversários, ou citações incidentais, ou inferências temerárias baseadas em trechos esparsos, ou vagas lembranças, os elementos necessários para construírem um Marxismo que eles mesmos inventavam a seu modo? (...) O Materialismo Histórico – que em certo sentido é todo o Marxismo – passou (...) por uma infinidade de equívocos, más interpretações, alterações grotescas, disfarces estranhos e invenções gratuitas (...) que teriam de ser obstáculo para quem quisesse construir para si uma cultura socialista.”

Nikolaïevski e Labriola, mas não só eles, estavam convencidos de que Marx teria para sempre o destino de má recepção, que começava na difusão e irradiação de seus escritos. Labriola falava de outro obstáculo, ainda mais profundo e perigoso, do qual nos ocupamos aqui: a raridade dos escritos de Marx e a impossibilidade de encontrarem-se edições confiáveis. De fato, nem só edições confiáveis, mas, mais simplesmente, obras publicadas!

O leitor responsável que se interessasse por Marx sofreria, segundo Labriola, dificuldades mais extremas que as enfrentadas por filólogos e historiadores que tenham de estudar documentos da Antiguidade. E perguntava, por experiência própria: “Haverá muita gente não mundo que tenha suficiente paciência para procurar, por anos a fio, um exemplar de Miséria da Filosofia (...) ou desse livro singular que é A Sagrada Família; gente disposta a suportar, para encontrar um exemplar daNova Gazeta Renana, mas fadigas que as que os filólogos e historiadores enfrentam para ler e estudar documentos do Egito antigo?”[4]
Em resumo: cumprindo a profecia de Labriola, acontece hoje não mundo, com Marx, o que aconteceu com Byron em meados do século 20: só se encontram seus livros em bibliotecas de leitores excêntricos, não especialistas ou antiquados. Para o grande público, incluindo-se a Noblesse d’État do mandarinato acadêmico, o nome de Karl Marx significa hoje bem pouco. Hoje, setembro de 2011, não se encontram não mercado editorial de língua espanhola edições críticas de Marx e Engels, a meritória edição dos Werke a cargo da equipe de Manuel Sacristán ficou incompleta[5] e a única exceção é a edição em andamento (embora hoje interrompida), de parte das Werke, na editora Fondo de Cultura Económica, FCE, do México, graças ao trabalho do falecido Wenceslao Roces.[6]

Mas é lícito perguntar o que permanece vivo e o que morreu Marx, embora a pergunta possa ser puramente retórica ou dispare automaticamente a vulgata do Dia-Mat. A resposta seca e solene do pós-modernismo e da filosofia analítica é amplamente conhecida: o marxismo está decididamente fora de época, é “inatual”, como “grande narrativa” não consegue explicar-se sequer ele mesmo; e é obra fatalmente datada. Não passa de uma filosofia a mais, das que nos deixou o século 20 e, como tal, definitivamente marcada pelo próprio tempo. Sepultar Marx com todas as honras é dever, nem tanto intelectual, mas arqueológico, trabalho de antiquariato. Nada há que valha a pena resgatar nessas páginas infectadas de hegelianismo e providencialismo, como insiste, pela milésima vez, o neopositivista Mario Bunge.[7]


Labriola (e Sorel) constatavam uma dificuldade fática que nasceu com o próprio marxismo, que a carrega como estigma até nossos dias: as enormes dificuldades para estabelecer e editar, com critérios científicos atualizados, as suas obras completas. Labriola reclamava do SPD da época, detentor dos manuscritos (Nachlass), que “seria dever do partido alemão dar edição completa e crítica a todos os escritos de Marx e Engels; quero dizer, edição acompanhada em cada caso de prólogos descritivos e declarativos, índices de referência, notas e remissões (...). E é preciso acrescentar os escritos já publicados em livro ou opúsculos, artigos de jornal, manifestos, circulares, programas e todas as cartas que, por serem de interesse público e geral, tenham importância política ou científica”. E concluía, taxativo: “Não se trata de selecionar: é preciso por ao alcance dos leitores toda a obra científica e política, toda a produção literária dos dois fundadores (...) inclusive os escritos de ocasião. E não se trata tampouco de reunir um Corpus iuris, nem de redigir um Testamentum juxta canonem receptum, mas de recolher os escritos com cuidado e para que os escritos possam falar diretamente a quem tenha ganas de lê-los”. Trata-se simplesmente de Marx poder falar diretamente...

Marx reconhecia que a própria vida o havia impedido de escrever conforme o cânone da arte de faire le livre, razão pela qual sua literatura eram fragmentos de uma ciência e de uma política em eterno devir.

O marxismo, se há algo que se possa chamar assim, era eminentemente um sistema aberto. Labriola destacara com suficiente clareza não só os critérios editoriais de uma política editorial, mas os problemas materiais objetivos que a difusão implicava, tanto da obra exotérica como dos manuscritos de Marx (e Engels).

Um dos erros mais significativos da difusão da obra marxiana e, portanto, de uma das causas que ajudam a explicar os desvios de interpretação foi o deslocamento entre os níveis diacrônicos e sincrônicos dos manuscritos, o que levou a uma desarticulação entre os componentes biográficos, cronológicos e doxográficos, que constituem, desde Teofrasto, o instrumental filológico mínimo necessário para que se alcance compreensão satisfatória de uma obra. Labriola já havia reconhecido a necessidade de, para que se entendam plenamente os textos, ser necessário relacioná-los biograficamente (na biografia, encontrar-se-iam ao mesmo tempo “a pegada e a trilha, o índice e o reflexo” da gênese de Marx). Mas no caso de Marx, essa disrupção anômala entre os dois níveis deveu-se, na maior parte, nem tanto ao seu estilo particular, mas, mais, à constante manipulação política que sofreram seus escritos, por carrascos executores circunstanciais.

O percurso tortuoso, entre errático e movido pelo acaso, que é a história editorial dos escritos de Marx só é comparável à coleção de coincidências afortunadas, fantásticas, triviais e quase inacreditáveis graças às quais se salvaram, para a posteridade, muitos dos escritos de Aristóteles. Como no caso de Marx, seus escritos sofreram as inclemências dos interesses políticos e os caprichos culturais, em cada mudança na forma de atenção. E, como Aristóteles, os manuscritos de Marx guardam uma peculiaridade muito especial: a maior parte são anotações, esboços, notas e memoranda, produto de uma técnica de trabalho intelectual limitada pela extrema pobreza e as repetidas emigrações políticas.

Mas no caso de Marx acrescenta-se uma condição a mais: o próprio marxismo (melhor dizer, os marxismos) nasceu, desenvolveu-se e profissionalizou-se em escola (e, em seguida, em ideologia oficial e legitimadora de um estado) quando a obra de Marx ainda não era toda ela acessível e, inclusive, quando partes importantes de seu corpus eram inéditas (e ainda são) ou, mesmo, eram inencontráveis. O êxito (?) do marxismo como ideologia de partido e ortodoxia de estado (como ciência da legitimação do DiaMat) precedeu em décadas a divulgação científica e exaustiva dos escritos completos dos fundadores.

Um dos casos mais extremos (embora não seja o único) é o texto conhecido como Die Deutsche IdeologieA Ideologia alemã, escrito a três mãos por Friedrich Engels, Moritz Hess e Karl Marx entre 1845 e 1846, e onde, para muitos especialistas, pela primeira vez estabelece-se o que se poderia chamar de materialismo histórico coerente e fundamentado.[8] E, embora a marxologia mais prestigiosa geralmente admita a importância desse escrito, inclusive a marxologia acadêmica (a começar por Althusser, Balibar etc.), é obra muito pouco lida em toda sua extensão, mal editada e de péssima difusão.[9] Fora do âmbito da marxologia, reina a indiferença, o desconhecimento total ou, diretamente, o desprezo que brota da ignorância. [10] Como diziam os antigos romanos: Pro captu lectoris habent sua fata libelli (o destino dos livros acontece segundo as capacidades e possibilidades do leitor). Também no caso de um pensador clássico, como Marx.

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Para dar-nos uma medida da importância que o próprio autor atribuía a esse trabalho de 1845-1846, é preciso fazer um pequeno desvio para atualizar a história pouco conhecida das primeiras obras escolhidas editadas de Karl Marx. A difusão da obra de Marx já era problema, ainda em vida do autor. As únicas edições em livro, de trabalhos da mesma época em que escreveu A Ideologia alemã, a frutífera década dos 1840, são produto de uma tentativa frustrada de editar ‘obras escolhidas’ primitivas, chamadas pomposamente Gesammelte Aufsätze von Karl Marx, resultado da exaltação editorial de um camarada, o médico e publicista Hermann Heinrich Becker (que Marx apelidou de “Becker, o vermelho” [der rot Becker])[11] aparição fantasmática ocorrida em abril e maio de 1851.[12]

Franz Erdmann Mehring, o historiador e político que pouco adiante fundaria a Liga Espartaco, com Rosa Luxemburg, relatava em seu trabalho biográfico clássico que “Marx pôs-se em comunicação com Hermann Becker para a edição de suas obras completas e, adiante, de uma revista trimestral a aparecer em Lieja; Becker fixara residência em Colônia, onde gerenciava uma pequena empresa editorial.”[13] O projeto de edição, em dois tomos, cada um com cerca de 400 páginas, em 25 cadernos costurados, tinha fundo eminentemente político, ação ligada a uma tática de partido (propagandistische Tätigkeit), ligada estreitamente à propaganda e difusão das ideias da famosa Liga dos Comunistas [Der Bund des Kommunisten], organização que se tratava de reconstruir na Alemanha.

Aquelas primitivas obras escolhidas de Marx tinham o apoio institucional do Comitê Central da Liga em Colônia [Kölner Zentralbehörde], que previa um sistema de assinaturas antes da publicação. No mesmo projeto, Marx concebera o lançamento de uma coleção popular de literatura socialista em pequenos fascículos (plano de difusão de pensadores socialistas que já tentara por em prática em 1845), e incluía obras de Babeuf, Buonarotti, Holbach, Fourier, Owen, Helvetius, Saint-Simon, Cabet, Considérant e Proudhon. No folheto explicativo que acompanhava essas obras escolhidas primitivas de Marx, nos pacotes distribuídos para as livrarias, assinado pelo editor da compilação – o próprio Becker –, lia-se que a obra de Karl Marx estava dispersa em folhetos, panfletos, periódicos já desaparecidos e livros já não encontráveis nas livrarias, motivo pelo qual a edição em livro era importante serviço, ao oferecer aos leitores a produção escrita de Marx na última década: “o primeiro volume recolhe as contribuições de Marx publicadas na revista Anekdota de Ruge, na antigaRheinische Zeitung (inclusive artigos sobre a liberdade de imprensa, leis sobre roubo de madeira, a situação dos camponeses do Mosela, etc.), nos Deutsch-französischen Jahrbüchern, no Westphaelische Dampfboot, emGesellschaftsspiegel, etc. e uma série de monografias publicadas antes da revolução de março de 1848, mas por desgraça (sic!) ainda plenamente atuais.”[14]

O único e primeiro volume, que afinal ficou reduzido a 80 páginas, continha textos de Marx desde dezembro de 1841, o primeiro era Bemerkungen über die neue preußische Zensurinstruktion [Observações sobre as Novas Instruções do Governo Prussiano acerca da Censura], publicado na revista Anekdota zur neuesten deutschen Philosophie und Publicistik[15] dos jovens hegelianos. A inclusão desse artigo é sintomática. Não é acaso que Marx tenha escolhido, não primeira publicação impressa [16], mas seu primeiro escrito como propagandista democrata-revolucionário defendendo a liberdade de imprensa burguesa clássica, contra o reacionário estado prussiano.

Nesse artigo, já criticava o “aparente Liberalismo” (Scheinliberalismus) da forma-estado burguesa, com bagagem filosófica que remetia declaradamente a Spinoza, Kant e Fichte, desmascarando a ilusão política de crer que os defeitos institucionais objetivos (objektiven Fehler, como a tendência a restringir a informação crítica livre) do Estado, na realidade, sua essência, pudessem ser corrigidos apenas mudando os censores.

Nenhuma “boa” lei, nenhuma “boa” intenção subjetiva – diz Marx ali – pode alterar a essência de um estado burguês. Além disso, num extraordinário parágrafo concentrado, Marx descreve em linguajar popular o método dialético de investigação da Verdade (Untersuchung der Wahrheit), que tem de ser, ele mesmo, verdadeiro: Zur Wahrheit gehört nicht nur das Resultat, sondern auch der Weg, “não só o resultado constitui a Verdade, também o caminho.” Destaca que o caráter do objeto (Charakter des Gegenstandes) que se investiga, nesse caso o estado burguês, exerce influência decisiva sobre a própria investigação. A investigação verdadeira “é” a Verdade desmembrada, cujos membros dispersos agrupam-se e condensam o resultado, nada mais, nada menos, que uma versão ainda tosca e primitiva do modo de investigação, oForschungswiese, como aparece explicado no prólogo de O Capital.

O projeto editorial incluía, além dos artigos jornalísticos da etapa radical-liberal nos Anekdota e no diário Rheinische Zeitung, alguns do frustrado projeto parisiense dos Anuários Franco-Alemães; e artigos do “órgão da Democracia” criado por Engels e Marx, a Neue Rheinisches Zeitung. Para o segundo tomo, que não chegou a nascer, estava previsto publicar artigos da revista política que Engels e Moritz Hess editaram, Espelho da Sociedade,[17] e pensou-se em traduzir para o alemão algumas monografias de Marx, como o livro contra Proudhon, Misère de la philosophie[18], e o capítulo IV de A ideologia alemã. Crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas, intitulado “Karl Grün: ‘Die soziale Bewegung in Frankreich und Belgien’ (Darmstadt 1845) oder Die Geschichtschreibung des wahren Sozialismus” ["Karl Grün: ‘O Movimento Social na França e na Bélgica” (New York, 1845) ou a historiografia do socialismo verdadeiro].[19]
Embora a tiragem pensada inicialmente fosse muito ambiciosa (15 mil exemplares), só se imprimiram umas poucas cópias, a repressão contra os comunistas em Colônia, o próprio Becker foi preso em maio de 1851, e o confisco de exemplares pela Polícia fizeram com que poucos livros fossem distribuídos na cidade e arredores. Ainda em meados de 1851, Marx pensava editar uma versão ampliada desses escritos, incluindo um possível terceiro tomo, cada um com 75 páginas, tendo o dirigente Ferdinand Lassalle operado na intermediação.[20]

Além da importância filológica-documental, dada por ‘óbvia’ ou totalmente ignorada pela marxologia tradicional, o projeto político-editorial amadurecido em dezembro de 1850, oferece pistas precisas sobre as ideias filosófico-práticas do Marx maduro.

Em primeiro lugar, que, para as tarefas políticas-revolucionárias pendentes na Alemanha pós-1848, o próprio Marx identificou, de sua obra anterior, tanto teórica como de publicista, quais os textos que eram e quais não eram pertinentes. Em segundo lugar, é evidente que se o próprio Marx pretendia publicar, com o consenso da própria Liga dos Comunistas, textos aparentemente “defasados” de sua etapa de liberal de esquerda, aí está uma evidência de uma (talvez) profunda continuidade (apesar das sucessivas rupturas teóricas) na autoconsciência de Marx entre seu pensamento esquerdo-hegeliano (logo feuerbachiano) e o Comunismo reflexivo da década dos 1850s. As ideias marxianas entre 1841 e 1844 continuavam atuais, e continuavam plenamente operativas e funcionais associadas à nova dimensão da Kritik. Não se deve esquecer que, nessa altura, Marx já escrevera não só “Lohnarbeit und Kapital” [Trabalho Assalariado e Capital] [21] no diário democrático-revolucionario Neue Rheinisches Zeitung, mas também já publicara, com Engels, o Manifesto Comunista. E, nessa continuidade em sua filosofia prática, Marx reconhecia o valor autônomo e de consolidação teórica deA Ideologia alemã de 1845-1846.
“Durante o verão (de 1845)” – recorda Jenny Westphalen, esposa, corretora e copista de Marx – “Engels elaborou com Karl uma crítica à filosofia alemã. O estímulo externo foi o surgimento de Der Einzige und sein Eigentum [aprox. “O ego e o seu próprio” (NTs)] (de Max Stirner). Acabou sendo obra volumosa e seria publicada na Westfalia.”[22] Numa autointerpretação do Marx maduro, o famoso Vorwort à Zur Kritik der Politischen Ökonomie [Prefácio à Crítica da Economia Política] de 1859, fica clara a enorme importância atribuída ao passo teórico dado entre 1844-1846 e em especial o papel que aí desempenhava A Ideologia Alemã:

“Comecei em Paris a investigação [da anatomia da sociedade civil], prosseguindo em Bruxelas, para onde havia emigrado como consequência da ordem de expulsão do Sr. Guizot. O resultado geral que obtive e que, uma vez obtido, serviu de fio condutor dos meus estudos, pode ser assim formulado brevemente. Na produção social de sua existência, os homens estabelecem determinadas relações, necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção (Produktionsverhältnisse) que correspondem a um determinado estado evolutivo de suas forças (...). O modo de produção da vida material determina (bedingen) o processo social, político e intelectual da vida em geral. (...) Com Friedrich Engels, com quem tenho mantido constante intercâmbio epistolar de ideias (...) e também quando se estabeleceu em Bruxelas na primavera de 1845, resolvemos elaborar conjuntamente a oposição de nossos pontos de vista contra o ponto de vista ideológico da filosofia alemã, ou, de fato, acertar contas com nossa antiga consciência filosófica. Este propósito levou-se a cabo na forma de uma crítica à filosofia pós-hegeliana. O manuscrito, dois grossos volumes in-octavo, já havia chegado havia muito tempo ao local onde devia ser editado, na Westfalia, quando recebemos a notícia de que uma mudança de condições não permitia a impressão. Deixamos o manuscrito entregue à roedora crítica dos ratos, ainda de melhor grado porque já alcançáramos nosso objetivo principal: compreendermos, nós mesmos (Selbstverständigung), a questão.”[23]

Resulta claro e evidente que esta ruptura, esta nova Ansicht [visão], este revolucionário ponto de vista, só pode ser entendido em sua magnitude, se compreendermos o significado de A Ideologia alemã. Em suma: si voltamos ao “futuro anterior” do próprio Marx. [Continua]

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NOTAS

[1] A conhecida como “primeira crise do marxismo”, hoje quase completamente esquecida, foi iniciada por um artigo do advogado G. Masaryk nos números 177-179 do jornal vienense Die Zeit, no qual o autor simplesmente constatava as diferenças teórico-práticas internas na social-democracia alemã e austríaca, em especial entre os pais fundadores e seus epígonos, concluindo que tais diferenças deviam-se ao caráter eclético do próprio marxismo, sistema sincrético; e que Das Kapital não passava de mera transcrição, em termos econômicos, do Fausto de Göethe. Da crise “no” marxismo da social-democracia de língua alemã, reformistas como Bernstein et altri, sem mais nem menos, extraíram uma crise “do” marxismo.

[2] LABRIOLA, Antonio. Discorrendo di socialismo e di filosofia, carta II (esp.) “Socialismo y Filosofía”, Madrid: Alianza editorial, 1969, p. 41, com tradução e prólogo de Manuel Sacristán.

[3] SOREL, Georges. “Préface” in LABRIOLA, Antonio. Essais sur la conception matérialiste de l'histoire, Paris: V. Giard & E. Brière, libraires-éditeurs, 1897, pp. 1-20.

[4] LABRIOLA, Antonio, ibidem, p. 41.

[5] Em 1975, Sacristán projetou uma edição crítica em espanhol da obra escolhida de Marx e Engels em 68 volumes, com o título de Obras completas de Marx e Engels (OME), sob o selo de Editorial Grijalbo. Desse projeto, só 11 volumes viram a luz, dentre os quais as traduções de Sacristán de O Capital, livros 1 e 2 e o Anti-Duhring. Sacristán dizia com razão, sobre publicar o Marx desconhecido que “quando me encarregaram de começar a traduzir as obras de Marx e Engels (que por certo foram suspensas, porque já não há mercado suficiente) era justo que me pedissem um Capital, porque, se traduziam obras completas, claro que também editariam O Capital. Mas o que, na minha opinião, estava errado, era entenderem que a primeira coisa a publicar, imediatamente, teria de ser O Capital. Entendo que, antes, teriam de publicar a parte inédita, a saber, o epistolário completo. Não me atrevo a dizer que eles, que são comerciantes, não tenham razão, mas a situação é absurda.” (In ARNAL, López, S.; DE LA FUENTE, P. Acerca de Manuel Sacristán, Barcelona: Destino, 1996, p. 168. Sobre a figura decisiva de Sacristán, ver ARNAL, López, S., “Aristas esenciales de un pensador poliédrico (I). Manuel Sacristán (1925-1985), a los 25 años de su fallecimiento”. In: Papeles de relaciones ecosociales e cambio global, n. 109, 2010, pp. 23-44.

[6] Tradução de uma seleção da edição de MARX, K.; ENGELS, F., Werke, editada por Dietz Verlag de Berlin-DDR, segundo a versão de 1958; em palavras de Roces: “Esta edição, que não é das obras completas (MEGA), mas das Obras Fundamentais (Werke), constará de vinte e tantos volumes. Já se publicaram dois, da juventude de Marx e de Engels; publicaram-se os três tomos das Teorias da Mais-valia. Agora aparecerão O Capital e os escritos econômicos menores e também a nova edição dos Grundrisse.” Sobre a figura de Roces: RIVAYA, Benjamín, “Comunismo e compromiso intelectual: Wenceslao Roces”. In Papeles de la FIM, n. 14, Fundación de Investigaciones Marxistas, Madrid, 2000. Roces foi pioneiro, ao fundar e dirigir uma empresa de difusão marxista ainda na IIa. República espanhola, a “Biblioteca Carlos Marx” da Editorial Cenit, da qual chegaram a publicar-se dez volumes grandes, entre os quais o primeiro tomo de O Capital em dois volumes e o Anti-Dühring de Engels.

[7] Remetemos o leitor à nossa crítica à centésima milésima tentativa de tratar Marx e Engels como cachorro morto, do físico Mario Bunge: “O Dr. Bunge sobre Engels. Los escombros ideológicos do Neopositivismo”, on-line em Rebelión:http://www.rebelion.org/noticia.php?id=98168

[8] ESSBACH, Wolfgang. Die Bedeutung Max Stirners für die Genese des historischen Materialismus (1978) , u.d.T. Gegenzüge, Materialis, Frankfurt am Main, 1982.

[9] Balibar, por exemplo, assinala, rápida e erradamente, que “em 1845, Marx, refugiado em Bruxelas, trabalhava em colaboração com Engels na elaboração de uma concepção filosófica materialista da istória, da qual quer fazer a base de um socialismo proletário autônomo (“Tesis sobre Feuerbach, A Ideologia Alemana, manuscritos publicados tras a muerte de Marx e Engels”)”. In: BALIBAR, Étienne. Cinco Ensayos de Materialismo Histórico, Barcelona: Editorial Laia, 1976, p. 20. Malgré lui: não só se equivoca ao considerá-las obra independentes, mas também no momento em que foram publicadas, muito antes da morte de Engels e Marx. Em momento algum Engels ou Marx utilizan, nesses anos, nem o termo “concepção filosófica materialista da História”, nem “socialismo proletário autônomo”.

[10] O caso do célebre filósofo liberal britânico Isaiah Berlin, o qual, em livro de encomenda sobre Marx, escreve, sobre A Ideologia Alemã, o seguinte: “Stirner é demoradamente discutido. Sob o título de ‘São Max”, é perseguido ao longo de 500 páginas de sarcasmo grosseiro e insultos”. In: Karl Marx: His Life and Environment, Thornton Butterworth, London, 1939, Chapter VI, “Historical Materialism”, p. 143. Berlin erra até no ano da composição: “A exposição mais extensa da teoria acontece num trabalho que compôs com Engels em 1846, intitulado Ideologia Alemã” (ibidem, p. 118).

[11] DOHM, Bernhard; TAUBERT, Inge. “Engels über den roten Becker. Ein unbekannter Brief von Friedrich Engels”, In:Beiträge zur Geschichte der Arbeiterbewegung. 1973, Heft 5, pp. 807-814.

[12] MARX, Karl. Gesammelte Aufsatze von Karl Marx, herausgegeben von Hermann Becker. I. Heft, Koln, 1851. O conteúdo dessa primeira edição de escritos de Marx encontra-se em MARX, Karl; ENGELS, Friedrich, Werke, Artikel, Entwrfe Juli 1849 bis Juni 1851, Abt. 1: Werke, Artikel, Entwürfe, Bd. 10, Akademie Verlag, Berlin, 1977, pp. 493-497. Tratava-se do primeiro volume projetado; o segundo nunca foi publicado, porque Becker foi preso dia 19/6/ 1851, acusado de ser comunista e conspirar contra o estado; foi julgado no famoso processo dos comunistas (Kölner Kommunistenprozess), em 1852, e condenado a cinco anos de cárcere. Vide carta de Becker a Marx de dezembro de 1850. In: AA.VV. Der Bund der Kommunisten. Dokumente und Materialen. Band 2, Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1982, Dokumente 570, pp. 357-358.

[13] MEHRING, E., Franz. Karl Marx: Die Geschichte seines Lebens, 1918, p. 209. Esp. Carlos Marx. Historia de su Vida, México: Editorial Grijalbo, 1957, p. 227-228.

[14] Textual: “Marx's Arbeiten sind theils in besonderen Flugschriften, theils in periodischen Schriften erschienen, jetzt aber meistens gar nicht mehr zu bekommen, wenigstens im Buchhandel ganz vergriffen. Der Herausgeber glaubt deßhalb, dem Publikum einen Dienst zu erweisen, wenn er mit Bewilligung des Verfassers diese Arbeiten, welche gerade ein Decennium umfassen, zusammenstellt und wieder zugänglich macht. [...] Der erste Band wird Marx's Beiträge zu den ‘Anekdota’ von Ruge, der (alten) ‘Rheinischen Zeitung’ (namentlich über Preßfreiheit, Holzdiebstahlsgesetz, Lage der Moselbauern usw.), den ‘deutsch-französischen Jahrbüchern’, dem ‘Westf. Dampfboote’, dem ‘Gesellschaftsspiegel’ usw. und eine Reihe von Monographien enthalten, die vor der Märzrevolution erschienen, aber leider noch heute passen.” In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich, ibidem, p. 496.

[15] É o segundo artigo público conhecido de Marx, escrito entre janeiro e fevereiro de 1842, aparecido anonimamente (“De um renano”) como artigo nos Anekdota…, tomo I, ano 1843. A revista era órgão puro da esquerda hegeliana, sob a direção de Arnold Ruge. Agora, em MARX, Karl; ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1976. pp. 3-25. Esp. MARX, Karl, Escritos de Juventud, FCE, México, 1982, pp. 149-169.

[16] Quer dizer, o artigo “Luther als Schiedsrichter zwischen Strauß und Feuerbach” (“Lutero, árbitro entre Strauss e Feuerbach”), escrito em janeiro de 1842 e publicado anonimamente (“Alguém que não é berlinense”) nos Anekdota…, tomo II, 1843. Agora em en: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1976, pp. 26-27. Esp. MARX, Karl, Escritos de Juventud, FCE, México, 1982, pp. 147-148.

[17] Gesellschaftsspiegel. Organ zur Vertretung der besitzlosen Volksklassen und zur Beleuchtung der gesellschaftlichen Zustände der Gegenwart era revosta de tendência (wahrsozialistischen) político-teórica de intervenção nas classes trabalhadoras e de coinvestigação da questão social. Foi editada entre 1845-1846 na região natal de Engels, Elberfeld. Vide SILBERNER, Edmund, “Der ‘Kommunistenrabbi’ und der ‘Gesellschaftsspiegel’”. In Archiv für Sozialgeschichte, (1963), Band 3, pp. 87-102. Marx contribuiu com um artigo sobre o suicídio no capitalismo, em 1846: “Peuchet: Vom Selbstmord”. In Gesellschaftsspiegel; zweiter Band, Heft VII, Elberfeld, Januar 1846, pp. 14-26. Agora em MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx-Engels Gesamtausgabe, MEGA, I Abt., Band 3, Moskau-Berlin, 1932, pp. 391-407. Em esp. Marx, Karl; Sobre o Suicidio, ed. e tradução a cargo de Nicolás González Varela, Montesinos, Mataró (no prelo). Sobre o artigo de Marx, nos permitimos remeter o leitor a nosso artigo on-line: “Karl Marx en Bruselas (1845-1848): suicidio e cuestión femenina en o Capitalismo” (http://www.rebelion.org/noticias/2006/10/38534.pdf).

[18] Escrito en francês entre dezembro de 1846 e abril de 1847: Misère de la philosophie. Réponse à la philosophie de la misère de M. Proudhon, C.G. Vogler, Brüssel-A. Frank, Paris, 1847. (...) A melhor tradução ao espanhol ainda é Miseria de la Filosofía, Buenos Aires: Editorial Signos, 1970.

[19] In: ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1976, pp. 5–530.

[20] Vide carta de Lassalle a Marx de 26/6/1851 e suas conversas com o editor Scheller, de Düsseldorf.

[21] ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1971, pp. 397-423. Esp. Trabajo Asalariado y Capital, Barcelona: Ed. Nova Terra, 1970.

[22] Westhpalen, Jenny; “Kurze Umrisse eines bewegten Lebens”. In: AA. VV. Mohr und General. Erinnerungen an Marx und Engels, Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1964, p. 192.

[23] ENGELS, Friedrich; Werke. Band 1; (Karl) Dietz Verlag, Berlin-DDR, 1971, p. 8 e 10. Esp. MARX, Karl.Contribución al a Crítica de la Economia Política, México: Siglo XXI, 1980, p. 4 e 6.

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* Em português do Brasil: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich, A ideologia alemã. Crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas. [1845-1846] Trad.: Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano. Prefácio: Emir Sader. São Paulo: Boitempo Editorial. 2007, 616 p.
** Nesse endereço, vê-se imagem do folheto para as livrarias das primeiras obras completas de Karl Marx, redigido pelo editor Hermann Becker, Colônia, 1851.
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Ideologia AlemãChega às livrarias a aguardada edição integral de A ideologia alemã, de Karl Marx e Friedrich Engels. Traduzida diretamente do alemão para o português por Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Martorano, com texto final de Rubens Enderle, a edição da Boitempo tem introdução escrita por Emir Sader e supervisão editorial de Leandro Konder, um dos maiores estudiosos do marxismo no Brasil. Além disso, será a versão mais fiel aos originais deixados pelos autores, pois a primeira no mundo traduzida a partir da inovadora Mega-2.
Essa nova edição cuidadosa, que se tornará referência para todos os interessados nos escritos de Marx e Engels, foi feita dentro da tradição de rigor com os livros desses autores estabelecida pela Boitempo. A editora já lançou cinco das obras dos dois filósofos, todas traduzidas do original e sob a supervisão de reconhecidos especialistas.
A ideologia alemã é considerada por muitos estudiosos a obra de filosofia mais importante de Marx e Engels. Escrita entre os anos 1845-1846, representa a primeira exposição estruturada da concepção materialista da história e é o texto central dos autores acerca da religião. Nela eles concluem um acerto de contas com a filosofia de seu tempo – tanto com a obra de Hegel como com os chamados “hegelianos de esquerda”, entre os quais Ludwig Feuerbach. Esse ajuste passou antes pelos Manuscritos econômico-filosóficos, por A sagrada família, por A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, para alcançar em A Ideologia alemã sua primeira formulação articulada como método próprio de análise.
A crítica – quase toda em tom sarcástico – dos dois filósofos ridiculariza o idealismo alemão e articula as categorias essenciais da dialética marxista (como trabalho, modo de produção, forças produtivas, alienação, consciência), constituindo assim um novo corpo teórico. A tradução dos capítulos I e II, respectivamente dedicados à polêmica com Feuerbach e Bruno Bauer, baseia-se na edição da Mega-2 (Marx-Engels Gesamtausgabe), texto que foi antecipado no Marx-Engels Jahrbuch. Nessa nova edição, os manuscritos de Marx e Engels aparecem em sete seções, ordenadas cronologicamente, e são reproduzidos tal como foram deixados pelos autores. A nova organização do volume revoluciona a forma como até então A ideologia alemã foi lida e interpretada, principalmente no que diz respeito a seu primeiro capítulo, que Marx e Engels deixaram inacabado.
Fora da Alemanha, é a primeira vez que as sete partes do manuscrito de Marx e Engels sobre Feuerbach são apresentadas ao leitor como textos independentes, em sua fragmentação originária, sem sofrer as montagens mais ou menos arbitrárias que os diversos editores (desde a edição de Riazanov, em 1926) imputaram à obra.
Esse tratamento editorial esmerado levou à descoberta de que Marx e Engels, até o fim de 1845, não haviam concebido o plano de escrever A ideologia alemã, pelo menos não com esse título. Foi a partir de um artigo de Marx intitulado “Contra Bruno Bauer” que, em novembro de 1845, nasceram os manuscritos que, meses mais tarde, dariam corpo ao projeto inacabado de A ideologia alemã. Esse artigo, inédito no Brasil, compõe a nova edição da Boitempo Editorial, assim como uma série de anexos (apêndice, índices, cronologia, notas filológicas) preparados especialmente para esta publicação e atualizados com base nos mais recentes estudos sobre essa fundamental obra.
 
Ficha técnica do livroTítulo: A ideologia alemã
Título original: Die Deutsche Ideologie
Tradução: Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Martorano
Texto final: Rubens Enderle
Introdução: Emir Sader
Orelha e supervisão editorial: Leandro Konder
Ilustração de capa: Loredano
ISBN: 978-85-7559-073-7
Páginas: 616
Formato: 16X 23cm
Preço: 69,00
Editora: Boitempo