terça-feira, 29 de julho de 2014

Imprensa Golpista: Reinaldo Azevedo e a direita delirante


http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br/
Por Guilherme Boulos, no siteOutras Palavras:

A direita brasileira já foi melhor. Teve nomes como Roberto Campos e José Guilherme Merquior entre seus quadros, formulando sobre teoria econômica e política internacional. Naquele tempo, a direita recorria a argumentos, além do porrete. Hoje restou apenas o porrete, aplicado a esmo sem maiores requintes de análise.

Impressiona o baixo nível intelectual dos representantes da direita no debate público nacional. Não elaboram, não buscam teoria nem referências. Não fazem qualquer esforço para interpretar seriamente a realidade. Apenas atiram chavões, destilando preconceitos de senso comum e ódio de classe.

Reinaldo Azevedo é hoje o maior representante dessa turma. Com 150 mil acessos diários em seu blog mostra que há um nicho de mercado para suas estripulias. Ao lado dele tem gente como Rodrigo Constantino, aquele que se orgulha das viagens a Miami e se despontou como legítimo defensor dos sacoleiros da Barra da Tijuca.

Antes os intelectuais de direita iam fazer estudos em Paris. Agora vão comprar roupas em Miami. Sinal dos tempos e das mentes.

Dispostos a tudo para fazer barulho no debate público, mas sem substância em suas análises, aproximam-se frequentemente de um discurso delirante.

Reinaldo Azevedo jura que o governo petista quer construir o comunismo no Brasil. E vejam, ele não está falando do Lula de 1989, mas do governo do PT de 2003 a 2014. Sim, o mesmo que garantiu lucros recordes aos bancos e empreiteiras na última década. Que manteve as bases da política econômica conservadora e que nem sequer ensaiou alguma das reformas populares historicamente defendidas pela esquerda. Neste governo que, com muito esforço, pode ser apresentado como reformista, ele enxerga secretas intenções socializantes. Certamente com o apoio da Odebrecht e de Katia Abreu. Só no delírio…

Para ele, João Goulart é que era golpista em 64. Os black blocs são amigos do ministro Gilberto Carvalho. E as pessoas só são favoráveis às faixas exclusivas de ônibus por medo de serem acusadas de elitistas. Ah sim, sem esquecer que a mídia brasileira – a começar pelas Organizações Globo – é controlada sistematicamente pela esquerda.

Ele baba, ele xinga. Ofende os fatos e fantasia perigos. Lembra, embora com menos poesia, dom Quixote atacando os moinhos de vento.

A pérola mais recente é escabrosa: Israel seria vítima do marketing internacional do Hamas. No momento em que o mundo vê a olhos nus centenas de palestinos serem massacrados na Faixa de Gaza, ele denuncia uma conspiração internacional de mídia contra o Estado de Israel. Encontrou eco no também direitista delirante Luis Felipe Pondé, em artigo na Folha de S.Paulo.

Teoria da conspiração vá lá, até pode ter seu charme; mas, como dizia Napoleão, entre o sublime e o ridículo há apenas um passo. Reinaldo Azevedo e seus sequazes já atravessaram faz tempo esta fronteira.

De fato, os textos que têm se prestado a publicar acerca do genocídio na Palestina já superaram o ridículo. Chegaram ao cinismo. Dizer que as crianças mortas na Faixa de Gaza são marketing é uma afronta do mesmo nível da deputada sionista que defendeu o extermínio em série das mulheres palestinas para impedir a procriação. É apologia covarde ao genocídio e ao terrorismo de Estado.

A direita se diferencia da esquerda, dentre outras coisas, pela análise dos fatos. Mas não por criar fatos ou ignorá-los. Ao menos quando tratamos de uma direita séria.

No caso de Reinaldo Azevedo e dos seus, estamos num outro campo. Não é apenas a direita. É uma direita delirante. A psiquiatria clínica é clara: negação dos dados da experiência, somada a uma reconstrução da realdade pela fantasia chama-se delírio. Aqui há ainda o agravante da fixação em temas recorrentes. PT, movimentos populares e mais uns dois ou três.

Um delírio em si é inofensivo. O problema é quando começa a juntar adeptos, movidos por ódio, preconceitos e mentiras. É assim que nascem os movimentos fascistas. Quem defende extermínio higienista em Gaza também deve defendê-lo no Complexo do Alemão ou em Paraisópolis.

Reinaldo Azevedo certamente ainda não representa um risco político real, mas o crescimento de seus seguidores é um sintoma preocupante da intolerância e desapego aos fatos que ameaçam o debate público no Brasil.

* Texto publicado originalmente na coluna de Guilherme Boulos na “Folha de S.Paulo”

FHC só tem credibilidade na mídia


Por Altamiro Borges

FHC deixou o governo, no final de 2002, com um dos piores índices de popularidade da história dos presidentes da República do Brasil. Até hoje, ele é detestado pelos brasileiros. Recente pesquisa do instituto Datafolha apontou que 57% dos entrevistados não votariam, “de jeito nenhum”, num candidato indicado por ele. Mesmo assim, a mídia nativa morre de amores pelo “príncipe da Sorbonne” – o responsável pela implantação do regressivo e destrutivo receituário neoliberal no país, que desmontou o Estado, a nação e o trabalho nos seus oito anos de triste reinado. Neste final de semana, dois veículos da velha imprensa – a revista IstoÉ e o jornal Estadão – voltaram a dar generosos espaços para o ex-presidente.

No Estadão de domingo (27), em entrevista aos jornalistas Alexa Salomão, Gabriel Manzano e Ricardo Grinbaum, o grão-tucano tentou vender a imagem de um político preocupado com a qualidade de vida dos brasileiros. Que o digam os milhões de demitidos e os que perderam renda e direitos trabalhistas durante seu governo. Egocêntrico e vaidoso, ele ainda acha que a “marca” da sua gestão foi a da estabilização da economia. Já a marca da presidente Dilma, esbraveja, seria a de “uma espécie de cabra cega”, em que “nada está funcionando muito bem”. Mas o principal alvo do tucano, numa típica crise de ressentimento e inveja, é o ex-presidente Lula. “Ele é hegemônico, quer tomar conta de tudo”, choraminga.

Já na revista IstoÉ, que foi às bancas no fim de semana, FHC foi ainda mais venenoso. Afirmou que “há uma fadiga em relação ao governo” e que “o PT perdeu a credibilidade”. Na entrevista ao repórter Sérgio Pardellas, ele criticou a mídia, que dá muito espaço à presidenta (sic), o Congresso Nacional, “que ficou muito confinado a ele próprio”, e os sindicatos e movimentos sociais, que foram “aparelhados”. Apesar destes obstáculos, o ex-presidente aposta na unidade tucana – “o PSDB nunca tinha conseguido isso e estamos alcançando agora; uma harmonização grande entre São Paulo e Minas” – e mostra-se confiante numa vitória eleitoral em outubro próximo: 

“A CHANCE DE GANHAR aumentou. Claro que o aumento da possibilidade de vitória do Aécio decorre dos outros fatores que já elencamos, como o mal-estar no país, o cansaço, os erros de condução da política econômica e, mais recentemente, a quebra de confiança do empresariado no governo... Acho que o eleitor está disposto a ouvir o outro lado porque há uma ruptura de confiança, a economia piorou, há um cansaço e uma fadiga de material. Por isso, considero agora que é provável a vitória do PSDB e de Aécio”. Tanto na entrevista do Estadão como na da IstoÉ, os jornalistas evitaram perguntas mais apimentadas. Nesta última, ainda se falou do “mensalão mineiro” e no “aecioporto”. A resposta foi curiosa.

Para FHC, o julgamento midiático no STF de ex-dirigentes petistas “arranhou muito” a imagem do partido. “O PT perdeu credibilidade. O Lula não perdeu popularidade naquele momento, não sei hoje”. Já no que se refere ao “mensalão mineiro”, o ex-presidente reconhece que o caso “teve pouca repercussão”. Quanto ao “aecioporto”, ele despistou: “O Aécio explicou que a construção se fez em área já desapropriada e pertencente ao Estado de Minas e que seu tio-avô contesta o valor da desapropriação. Se é isso, qual a acusação? Se há denúncia, que haja apuração, mas não creio que isso arranhe a candidatura”. A IstoÉ, porém, não deixou de bajular o ex-presidente. 

“Aos 83 anos, mais de uma década depois de deixar o Planalto e sem qualquer pretensão política, ele se comportou, durante as duas horas de entrevista, como uma figura pública capaz de fazer análises objetivas do momento do País”.

*****

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Imprensa Golpista: Por que o tiro sai pela culatra


Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

Cautelosamente, os jornais brasileiros começam a interpretar o quadro mais amplo das pesquisas de intenção de voto, colocando em perspectiva alguns fatos que foram vinculados recentemente às escolhas do eleitorado. Manifesta-se na imprensa uma necessidade de entender por que razão a vantagem da presidente Dilma Rousseff sobre seus principais adversários se mantém praticamente incólume, contrariando as expectativas criadas pela maioria dos analistas a cada rodada de consultas.

A pergunta por trás desse esforço é a seguinte: como é que ela continua na liderança, com grande potencial para vencer no primeiro turno, se quase tudo que se noticiou ao longo dos últimos meses deveria ter induzido a uma queda na sua aprovação?

Uma das respostas vem junto com a própria pergunta: quanto mais se fala de um candidato, mais conhecido ele se torna. Se o cidadão não enxergar uma grande diferença entre eles, e se a situação geral não produz um desejo massivo e radical de mudanças, a tendência é que o nome mais conhecido acabe se consolidando na mente dos eleitores.

Ainda que predomine nos principais jornais do país um viés negativo na abordagem dos assuntos mais relevantes sempre que se referem ao governo de Dilma Rousseff, é preciso considerar, ao mesmo tempo, que os tradicionais mediadores da comunicação social se tornam menos influentes quanto mais cresce o uso das mídias digitais. É legítimo considerar, portanto, que a mensagem centralizada das mídias tradicionais tem se tornado marginal no amplo sistema de informações da sociedade hipermediada.

Uma análise interessante sobre o assunto foi produzida pelo colunista José Roberto de Toledo, publicada na edição de segunda-feira (28/7) do Estado de S.Paulo. Ele observa que um terço dos eleitores vivem em domicílios beneficiados por algum programa social do governo federal, mas a escolha da presidente pelas famílias que não recebem nenhuma bolsa ou auxílio é quase igual, em termos proporcionais, o que o faz concluir que o apoio a Dilma Rousseff vem de uma aprovação geral à política social por parte da população como um todo.

Jornalismo e bobagens

Por outro lado, pode-se acrescentar à análise do colunista outras visões sobre o noticiário e seu esperado efeito nas escolhas dos eleitores. Por exemplo, se formos considerar a versão pessimista que a imprensa vem apresentando sobre a situação econômica do país, teremos que confrontar esse viés com a percepção da sociedade sobre sua própria circunstância e relativizar a influência da imprensa.

Os indicadores de confiança e otimismo mostrados pelas pesquisas não confirmam a expectativa criada pelos jornais – o que indica, claramente, que a maioria da população discorda da visão homogênea da imprensa. Não é difícil constatar que esse viés do jornalismo brasileiro não se constrói com um olhar amplo sobre a economia como um todo: o noticiário econômico da imprensa nacional se faz com a perspectiva de uma minoria, exatamente o mesmo público visado pelo desastrado comentário divulgado recentemente por analistas do banco Santander.

O comunicado oficial do banco espanhol, condicionando lucros futuros de investidores a uma eventual queda das intenções de voto na presidente Dilma Rousseff, representa um microcosmo do ideário que predomina na imprensa.

Os jornais genéricos não escrevem para a sociedade, mas para um pequeno conjunto de investidores, de renda mais alta mas não necessariamente vinculados a atividades produtivas. As editorias de economia e negócios do Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e o Globo destoam, escancaradamente, daquilo que apresentam os diários especializados, como o Valor Econômico e o DCI, que costumam abordar as questões econômicas de maneira mais ampla e equilibrada.

Observe-se, por exemplo, a reportagem publicada no sábado (26/7) pelo Estado, com título destacado ao lado da manchete: “Petrobras amplia gastos em publicidade em meio a crise”. A reportagem não resiste a um questionamento básico: praticamente todas as grandes empresas concentraram os investimentos publicitários no primeiro semestre, por causa da Copa do Mundo. A Petrobras tem mais razões para isso, porque sua publicidade fica limitada durante o período eleitoral.

Bobagens como essa explicam, em parte, por que o noticiário negativo não afeta a grande massa de eleitores.

domingo, 27 de julho de 2014

Poemas de Vladimir Maiakovski. O poeta que era todo coração.

Poem














A Esperança

Vladimir Maiakovski
Injeta sangue no meu coração, enche-me até o bordo das veias! Mete-me no crânio pensamentos! Não vivi até o fim o meu bocado terrestre , sobre a terra não vivi o meu bocado de amor. Eu era gigante de porte, mas para que este tamanho? Para tal trabalho basta uma polegada. Com um toco de pena, eu rabiscava papel, num canto do quarto, encolhido, como um par de óculos  dobrado dentro do estojo. Mas tudo que quiserdes eu farei de graça: esfregar, lavar, escovar, flanar, montar guarda. Posso, se vos agradar, servir-vos de porteiro. Há, entre vós, bastante porteiros? Eu era um tipo alegre, mas que fazer da alegria, quando a dor é um rio sem vau? Em nossos dias, se os dentes vos mostrarem não é senão para vos morder ou dilacerar. O que quer que aconteça, nas aflições, pesar... Chamai-me! Um sujeito engraçado pode ser útil. Eu vos proporei charadas, hipérboles e alegorias, malabares dar-vos-ei em versos. Eu amei... mas é melhor não mexer nisso. Te sentes mal?
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A Blusa Amarela

Vladimir Maiakovski
Do veludo de minha voz Umas calças pretas mandarei fazer. Farei uma blusa amarela De três metros de entardecer. E numa Nevski mundial com passo pachola Todo dia irei flanar qual D.Juan frajola. Dexai a terra gritar amolengada de sono: “Vais violar as primaveras verdejantes!” Rio-me, petulante, e desafio o sol! “Golto de me pavonear pelo asfalto brilhante!” Talvez seja porque o céu está tão celestial! E a terra engalanada tornou-se minha amante Que lhes ofereço versos alegres como um carnaval Agudos e necessários como um estilete pros dentes. Mulheres que amais minha carcaça gigante E tu, que fraternalmente me olhas, donzela. Atirai vossos sorrisos ao poeta Que, como flores, eu os coserei À minha blusa amarela!

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A flauta vertebrada

Vladimir Maiakovski
A todos vocês, que eu amei e que eu amo, ícones guardados num coração-caverna, como quem num banquete ergue a taça e celebra, repleto de versos levanto meu crânio. Penso, mais de uma vez: seria melhor talvez pôr-me o ponto final de um balaço. Em todo caso eu hoje vou dar meu concerto de adeus. Memória! Convoca aos salões do cérebro um renque inumerável de amadas. Verte o riso de pupila em pupila, veste a noite de núpcias passadas. De corpo a corpo verta a alegria. esta noite ficará na História. Hoje executarei meus versos na flauta de minhas próprias vértebras.
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A propósito disto

Vladimir Maiakovski
A Fé Distendei vossa espera o quanto quiserdes - tão clara, duma clareza tão alucinante é minha visão que, dir-se-ia, bastava o tempo de liquidar esta rima, para, grimpando ao longo do verso, entrar numa vida maravilhosa. Eu não preciso indagar o que e como. Vejo-o,nítido, até os último detalhes, no ar, camada sobre camada, como pedra sobre pedra. Vejo erguer-se, fulgurando no pináculo dos séculos, isento de podridões ou poeiras, o laboratório das ressurreições humanas. Eis o calmo químico, a vasta fronte franzida em meio à experiência . Num livro, “Toda a Terra”, procura ele um nome. “O Século Vinte...vejamos, a quem ressuscitar? A Maiakóvski talvez... Não, busquemos matéria mais interessante! Não era bastante belo esse poeta”. Será então minha vez de gritar daqui mesmo, desta página de hoje: “Pára, não folheies mais! É a mim que deves ressuscitar!”
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Adultos

Vladimir Maiakovski
Os adultos fazem negócios. Têm rublos nos bolsos. Quer amor? Pois não! Ei-lo por cem rublos! E eu, sem casa e sem tecto, com as mãos metidas nos bolsos rasgados, vagava assombrado. À noite vestis os melhores trajes e ides descansar sobre viúvas ou casadas. A mim Moscou me sufocava de abraços com seus infinitos anéis de praças. Nos corações, nos relógios bate o pêndulo dos amantes. Como se exaltam as duplas no leito do amor! Eu, que sou a Praça da Paixão, (1 ) surpreendo o pulsar selvagem do coração das capitais. Desabotoado, o coração quase de fora, abria-me ao sol e aos jactos d’água. Entrai com vossas paixões! Galgai-me com vossos amores! Doravante não sou mais dono de meu coração! Nos demais - eu sei, qualquer um o sabe - O coração tem domicílio no peito. Comigo a anatomia ficou louca. Sou todo coração - em todas as partes palpita. Oh! Quantas são as primaveras em vinte anos acesas nesta fornalha! Uma tal carga acumulada torna-se simplesmente insuportável. Insuportável não para o verso de veras.
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E então, que quereis?

Vladimir Maiakovski
Fiz ranger as folhas de jornal abrindo-lhes as pálpebras piscantes. E logo de cada fronteira distante subiu um cheiro de pólvora perseguindo-me até em casa. Nestes últimos vinte anos nada de novo há no rugir das tempestades. Não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes? O mar da história é agitado. As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas.
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Eu

Vladimir Maiakovski
Eu à poesia só permito uma forma: concisão, precisão das fórmulas matemáticas. Às parlengas poéticas estou acostumado, eu ainda falo versos e não fatos. Porém se eu falo “A” este “a” é uma trombeta-alarma para a Humanidade. Se eu falo “B” é uma nova bomba na batalha do homem.
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Fragmentos - 1

Vladimir Maiakovski
Me quer? Não me quer? As mãos torcidas os dedos despedaçados um a um extraio assim tira a sorte enquanto no ar de maio caem as pétalas das margaridas Que a tesoura e a navalha revelem as cãs e que a prata dos anos tinja seu perdão penso e espero que eu jamais alcance a impudente idade do bom senso.
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O poeta pede ao seu amor que lhe escreva

Vladimir Maiakovski
Amor de minhas entranhas, morte viva, em vão espero tua palavra escrita e penso, com a flor que se murcha, que se vivo sem mim quero perder-te. O ar é imortal. A pedra inerte nem conhece a sombra nem a evita. Coração interior não necessita o mel gelado que a lua verte. Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias, tigre e pomba, sobre tua cintura em duelo de kordiscos e açucenas. Enche, pois, de palavras minha loucura ou deixa-me viver em minha serena noite da alma para sempre escura.
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O que aconteceu

Vladimir Maiakovski
Mais do que é permitido, mais do que é preciso, como um delírio de poeta sobrecarregando o sonho: a pelota do coração tornou-se enorme, enorme o amor, enorme o ódio. Sob o fardo, as pernas vão vacilantes. Tu o sabes, sou bem fornido, entretanto me arrasto, apêndice do coração, vergando as espáduas gigantes. Encho-me dum leite de versos e, sem poder transbordas, encho-me mais e mais.
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Poemas de Vladimir Maiakovski

Vladimir Maiakovski
Nos demais, todo mundo sabe o coração tem moradia certa, fica bem aqui no meio do peito mas comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração.
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Poemas de Vladimir Maiakovski

Vladimir Maiakovski
Tanto pior... Gosta-se, afinal, da própria dor. Vejamos...Amo também os bichos - vós os criais, em vossos parques? Pois, tomai-me para guarda dos bichos. Gosto deles. Basta-me ver um desses cães vadios, como aquele de junto à padaria, um verdadeiro vira-lata! e no entanto, por ele, arrancaria meu próprio fígado: Toma, querido, sem cerimónia, come
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Adolescente

Vladimir Maiakovski
A juventude de mil ocupações. Estudamos gramática até ficar zonzos. A mim me expulsaram do quinto ano e fui entupir os cárceres de Moscou. Em nosso pequeno mundo caseiro brotam pelos divãs poetas de melenas fartas. Que esperar desses líricos bichanos? Eu, no entanto, aprendi a amar no cárcere. Que vale comparado com isto a tristeza dos bosques de Boulogne? Que valem comparados com isto suspirosante a paisagem do mar? Eu, pois, me enamorei da janelinha da cela 103 da "oficina de pompas fúnebres". Há gente que vê o sol todos os dias e se enche de presunção. "Não valem muito esses raiozinhos" dizem. Eu, então, por um raiozinho de sol amarelo dançando em minha parede teria dado todo um mundo.
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Blusa Fátua

Vladimir Maiakovski
Costurarei calças pretas com o veludo da minha garganta e uma blusa amarela com três metros de poente. pela Niévski do mundo, como criança grande, andarei, donjuan, com ar de dândi. Que a terra gema em sua mole indolência: “Não viole o verde de as minhas primaveras!” Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência: “No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!” Não sei se é porque o céu é azul celeste e a terra, amante, me estende as mãos ardentes que eu faço versos alegres como marionetes e afiados e precisos como palitar dentes! Fêmeas, gamadas em minha carne, e esta garota que me olha com amor de gêmea, cubram-me de sorrisos, que eu, poeta, com flores os bordarei na blusa cor de gema!
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Clamo

Vladimir Maiakovski
Levantei-me como um atleta, levei-o como um acrobata, como se levam os candidatos ao comício, como nas aldeias se toca a rebate nos dias de incêndio. Clamava: “Aqui está, aqui! Tomai-o!” Quando este corpanzil se punha a uivar, as donas disparando pelo pó, pelo barro ou pela neve, como um foguete fugiam de mim. - “Para nós, algo um tanto menor, algo assim como um tango...” Não posso levá-lo e carrego meu fardo. Quero arremessá-lo fora e sei, não o farei. Os arcos de minhas costelas não resistem. Sob a pressão range a caixa torácica.
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Escárnios

Vladimir Maiakovski
Desatarei a fantasia em cauda de pavão num ciclo de matizes, entregarei a alma ao poder do enxame das rimas imprevistas. Ânsia de ouvir de novo como me calarão das colunas das revistas esses que sob a árvore nutriz escavam com seus focinhos as raízes.
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Estrela

Vladimir Maiakovski
Escutai! Se as estrelas se acendem será por que alguém precisa delas? Por que alguém as quer lá em cima? Será que alguém por elas clama, por essas cuspidelas de pérolas? Ei-lo aqui, pois, sufocado, ao meio-dia, no coração dos turbilhões de poeira; ei-lo, pois, que corre para o bom Deus, temendo chegar atrasado, e que lhe beija chorando a mão fibrosa. Implora! Precisa absolutamente duma estrela lá no alto! Jura! Que não poderia mais suportar essa tortura de um céu sem estrelas! Depois vai-se embora, atormentado, mas bancando o gaiato e diz a alguém que passa: "Muito bem! Assim está melhor agora, não é? Não tens mais medo, hein?" Escutai, pois! Se as estrelas se acendem é porque alguém precisa delas. É porque, em verdade, é indispensável que sobre todos os tetos, cada noite, uma única estrela, pelo menos, se alumie.
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Garoto

Vladimir Maiakovski
Fui agraciado com o amor sem limites. Mas, quando garoto, a gente preocupada trabalhava e eu escapava para as margens do rio Rion e vagava sem fazer nada. Aborrecia-se minha mãe: "Garoto danado!" Meu pai me ameaçava com o cinturão. Mas eu, com três rublos falsos, jogava com os soldados sob os muros. Sem o peso da camisa, sem o peso das botas, de costas ou de barriga no chão, torrava-me ao sol de Kutaís até sentir pontadas no coração. O sol assombrava: "Daquele tamaninho e com um tal coração! Vai partir-lhe a espinha! Como, será que cabem nesse tico de gente o rio, o coração, eu e cem quilómetros de montanhas?"
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Fragmentos - 2

Vladimir Maiakovski
Passa da uma você deve estar na cama Você talvez sinta o mesmo no seu quarto Não tenho pressa Para que acordar-te com o relâmpago de mais um telegrama.
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Fragmentos - 3

Vladimir Maiakovski
O mar se vai o mar de sono se esvai Como se diz: o caso está enterrado a canoa do amor se quebrou no quotidiano Estamos quites Inútil o apanhado da mútua dor mútua quota de dano.
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Fragmentos - 4

Vladimir Maiakovski
Passa de uma você deve estar na cama À noite a Via Láctea é um Oka de prata Não tenho pressa para que acordar-te com relâmpago de mais um telegrama como se diz o caso está enterrado a canoa do amor se quebrou no quotidiano Estamos quites inútil o apanhado da mútua do mútua quota de dano Vê como tudo agora emudeceu Que tributo de estrelas a noite impôs ao céu em horas como esta eu me ergo e converso com os séculos a história do universo.
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Fragmentos - 5

Vladimir Maiakovski
Sei o puldo das palavras a sirene das palavras Não as que se aplaudem do alto dos teatros Mas as que arrancam caixões da treva e os põem a caminhar quadrúpedes de cedro Às vezes as relegam inauditas inéditas Mas a palavra galopa com a cilha tensa ressoa os séculos e os trens rastejam para lamber as mãos calosas da poesia Sei o pulso das palavras parecem fumaça Pétalas caídas sob o calcanhar da dança Mas o homem com lábios alma carcaça.
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Impossível

Vladimir Maiakovski
Sozinho não posso carregar um piano e menos ainda um cofre-forte. Como poderia então retomar de ti meu coração e carregá-lo de volta? Os banqueiros dizem com razão: “Quando nos faltam bolsos, nós que somos muitíssimo ricos, guardamos o dinheiro no banco”. Em ti depositei meu amor, tesouro encerrado em caixa de ferro, e ando por aí como um Creso contente. É natural, pois, quando me dá vontade, que eu retire um sorriso, a metade de um sorriso ou menos até e indo com as donas eu gaste depois da meia-noite uns quantos rublos de lirismo à toa.
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Não acabarão nunca com o amor

Vladimir Maiakovski
Não acabarão nunca com o amor, nem as rusgas, nem a distância. Está provado, pensado, verificado. Aqui levanto solene minha estrofe de mil dedos e faço juramento: Amo firme, fiel e verdadeiramente.
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Tu

Vladimir Maiakovski
Entraste. A sério, olhaste a estatura, o bramido e simplesmente adivinhaste: uma criança. Tomaste, arrancaste-me o coração e simplesmente foste com ele jogar como uma menina com sua bola. E todas, como se vissem um milagre, senhoras e senhorias exclamaram: - A esse amá-lo? Se se atira em cima, derruba a gente! Ela, com certeza, é domadora! Por certo, saiu duma jaula! E eu júbilo esqueci o julgo. Louco de alegria saltava como em casamento de índio, tão leve, tão bem me sentia.


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