Eleições na Rússia : O Partido Comunista ganha força na Rússia
O PC ganha força na Rússia
Diante de um quadro de incertezase insatisfações na Rússia de hoje, longe de estar morto e sepultado, o velho PartidoComunista dá sinais de vida, surpreende ao conquistar uma expressiva quantidadede votos nas últimas eleições parlamentares e se afirma como principal frentede oposição à, até então soberana, Rússia Unida, do todo poderoso primeiro-ministro Vladimir Putin.
Leia a seguir o texto de VivianOswald, que ilustra bem a situação atual da Rússia.
Velhos comunistas ressurgem na Rússia
Fortalecimento do PCmostra insatisfação e sentimentos contraditórios em relação à situaçãoatual do país
Um mês antes da eleição que fez oPartido Comunista da Federação Russa (KPRF, em russo) praticamenteressurgir das cinzas, a tradicional Praça Pushkin, na capital, amanheceucercada de policiais. Eles vigiavam a manifestação marcada para aquelesábado frio, em que os comunistas iam se aglomerando. A julgar pelas 300pessoas ali reunidas, ninguém imaginaria que 20 anos após a desintegração daUnião Soviética, os velhos comunistas voltariam a se destacar nas urnas,com 20%dos votos para a Câmara baixa, e nas ruas, como uma das principaispartes envolvidas nos protestos contra o governo. Eles seconverteram, na prática, naprincipal força opositora ao poderosoprimeiro-ministro Vladimir Putin. Os comunistas, a nostalgia e a insatisfaçãoque cercam a Rússia atual são o tema da primeira reportagem de umasérie que O GLOBO publica nesta semana mostrandoos desafios enfrentadospelo país duas décadas depois do anúncio, em 25 de dezembro de 1991,de que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a URSS, não existia mais.
Os comunistas surpreenderam os institutos de pesquisa de opinião e o próprioKremlin, que sempre tratou o partido como uma espécie deoposição domesticada e inofensiva. Mas com um discurso que prega a voltada URSS, eles começam a incomodar. Mais do que num projeto de retornoao passado os russos votaram nos comunistas em um sinal de protesto.
- Eu e todos os meus amigos votamos neles. São os únicos que ainda conseguemjuntar um número significativo de votos. É a nossa forma de dizer não ao queestá aí — disse ao GLOBO o professor universitário Boris Andreevitch.
O público jovem na praça ainda era minguado. Russos de mais idade,soviéticos pela maneira de pensar e de vestir, carregavam medalhas econdecorações da época do regime. A grande bandeira vermelha com afoice e o martelo só não convencia o transeunte de uma volta aopassado por destoar dos anúncios capitalistas.
Até as eleições de 4 de dezembro, os comunistas eram praticamente o único grupoa ter permissão para realizar os seus encontros nas praças da cidade.Resta saber se terão agora o mesmo tratamento. Após os resultados, o pleitopara presidente, em março próximo, promete um pouco mais de emoção, emboratodos considerem que já esteja ganho por Putin.
Mais uma vez, o eterno líder do PC, Gennady Andreevitch Ziuganov,disputará as eleições presidenciais. Será sua quarta tentativa. Mas aos 67anos, Ziuganov não soube se reinventar. Com um discurso antiquado, oex-professor de matemática é considerado pouco carismático e poucoespontâneo ao falar em público. O candidato, no entanto, desta vez pode sebeneficiar do descontentamento das ruas.
- Eu e meus amigos vamos votar nele para protestar, mas ele não é a caradaRússia - disse a escritora Maria Polytaeva.
Os comunistas tomam o microfone e interrompem as velhas marchas para se queixarda atual situação econômica. O fato é que o fim da União Soviética despertasentimentos contraditórios. Enquanto uns acreditam que há motivos paracomemorar sua desintegração, outros não escondem o desânimo e admitem sentirfalta da velha URSS, ou, pelo menos, das garantias que o Estado socialistaoferecia, ainda que o preço a se pagar pelo benefício tenha sido alto. Cercade 28% da população gostariam de voltar atrás e reconstruir a União Soviética,segundo a pesquisa do instituto VTsIOM.
- Há muita nostalgia, mas todos sabem que não é possível voltar atrás. Os maisnovos nem sabem o que era. A juventude é alienada e apolítica. Só quer saber deganhar dinheiro. Antes, os jovens queriam ser astronautas, sociólogos, físicos.Hoje, só querem ser businessmen, banqueiros e financistas — disse IgorFescinenko, 79 anos, repórter de TV na União Soviética, hoje consultore professor.
A insatisfação está relacionada ao fato de que a economia e a vida políticapassaram a andar em círculos. Nem mesmo após uma década crescendo a umamédia de 7% ao ano, o país conseguiu reduzir a suadependência do petróleo. Para o último exvice- premier da URSS,Vladimir Scherbakov, hoje presidente da União dos Industriaisda Rússia, o país mudou para melhor:
- A Rússia entrou para a economia global. Podemos encontrar detudo aqui. Se compararmos a evolução do saláriomédio na Rússia e nas outras ex-repúblicas, vemos que houveum incremento importante, praticamente dobrou.
Outros afirmam que os ganhos limitam-se ao consumo.
- O que adianta ter tudo, se não tenho dinheiro para comprar nada? —reclama a funcionária pública Natalia Borisovna.
Parte dos russos vê naquele 25 de dezembro de 1991 o mesmo que Putinchamou de “uma grande catástrofe geopolítica”. Da União Soviética àatual Rússia, há uma diferença de cinco milhões de quilômetros quadrados —território dos outros 14 países que nasceram pós-desintegração - oequivalente a duas Argentinas. A sensação geral é de perda de território, amaior da História contemporânea.
Desigualdade em alta e lugar na lanterna entre os Brics
Poucos comemoram a data. A agência Itar-Tass faz uma silenciosa homenagem comfotos na entrada do prédio, atraindo um ou outropedestre. Na Biblioteca Lênin, escondida em umcorredor do terceiro andar, há uma exibição com fotos-legendas quecontam a história da instituição no período de 1917 a 1991.
Em geral, só os oposicionistas falam abertamente no assunto. Nosite do PC, há um manifesto e um cartaz sobre os “20 anos sem aURSS”. Em um dos textos, o grupo diz que estas duas décadas foram, paraa Rússia, “um caminho de dificuldades sem fim”. “Agora, às nossasdificuldades se soma a crise econômica mundial. Quanto tempoa Rússia ainda vai precisar para resolver os seus profundosproblemas?”, pergunta o texto.
A estabilidade econômica pós-década de 90 é o que vem sustentando asituação. Mas os salários dos aposentados não acompanharam a bonança.Tampouco o fizeram a saúde e a educação, que perderam em qualidade e têmobrigado os russos a desembolsar cada vez mais por algo que supostamentedeveria ser gratuito. Em 2008, logo após a crise financeira global, o país aindaconseguiu crescer 5,2%, mas despencou 7,9% em 2009,ficando na lanterna dos Brics (os emergentesBrasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Voltou acrescer 4% em 2010, mas continuou sem se modernizar.
As desigualdades nesse país que tanto pregou o socialismo também vêm crescendo.Os 120 mil milionários estão cada vez mais distantes da camada mais pobre dapopulação. Tudo isso justifica o clima de insatisfação,manifestado nas urnas no último domingo, com aredução do apoio ao partido Rússia Unida, de Putin, e oindício de que a campanha para sua volta à Presidência não será tranquila.
http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/selecao-diaria-de-noticias/midias-nacionais/brasil/o-globo/2011/12/11/velhos-comunistas-ressurgem-na-russia
http://oglobo.globo.com/mundo/fortalecimento-do-pc-mostra-insatisfacao-na-atual-russia-3426258
Leia a seguir o texto de VivianOswald, que ilustra bem a situação atual da Rússia.
Velhos comunistas ressurgem na Rússia
Fortalecimento do PCmostra insatisfação e sentimentos contraditórios em relação à situaçãoatual do país
Um mês antes da eleição que fez oPartido Comunista da Federação Russa (KPRF, em russo) praticamenteressurgir das cinzas, a tradicional Praça Pushkin, na capital, amanheceucercada de policiais. Eles vigiavam a manifestação marcada para aquelesábado frio, em que os comunistas iam se aglomerando. A julgar pelas 300pessoas ali reunidas, ninguém imaginaria que 20 anos após a desintegração daUnião Soviética, os velhos comunistas voltariam a se destacar nas urnas,com 20%dos votos para a Câmara baixa, e nas ruas, como uma das principaispartes envolvidas nos protestos contra o governo. Eles seconverteram, na prática, naprincipal força opositora ao poderosoprimeiro-ministro Vladimir Putin. Os comunistas, a nostalgia e a insatisfaçãoque cercam a Rússia atual são o tema da primeira reportagem de umasérie que O GLOBO publica nesta semana mostrandoos desafios enfrentadospelo país duas décadas depois do anúncio, em 25 de dezembro de 1991,de que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a URSS, não existia mais.
Os comunistas surpreenderam os institutos de pesquisa de opinião e o próprioKremlin, que sempre tratou o partido como uma espécie deoposição domesticada e inofensiva. Mas com um discurso que prega a voltada URSS, eles começam a incomodar. Mais do que num projeto de retornoao passado os russos votaram nos comunistas em um sinal de protesto.
- Eu e todos os meus amigos votamos neles. São os únicos que ainda conseguemjuntar um número significativo de votos. É a nossa forma de dizer não ao queestá aí — disse ao GLOBO o professor universitário Boris Andreevitch.
O público jovem na praça ainda era minguado. Russos de mais idade,soviéticos pela maneira de pensar e de vestir, carregavam medalhas econdecorações da época do regime. A grande bandeira vermelha com afoice e o martelo só não convencia o transeunte de uma volta aopassado por destoar dos anúncios capitalistas.
Até as eleições de 4 de dezembro, os comunistas eram praticamente o único grupoa ter permissão para realizar os seus encontros nas praças da cidade.Resta saber se terão agora o mesmo tratamento. Após os resultados, o pleitopara presidente, em março próximo, promete um pouco mais de emoção, emboratodos considerem que já esteja ganho por Putin.
Mais uma vez, o eterno líder do PC, Gennady Andreevitch Ziuganov,disputará as eleições presidenciais. Será sua quarta tentativa. Mas aos 67anos, Ziuganov não soube se reinventar. Com um discurso antiquado, oex-professor de matemática é considerado pouco carismático e poucoespontâneo ao falar em público. O candidato, no entanto, desta vez pode sebeneficiar do descontentamento das ruas.
- Eu e meus amigos vamos votar nele para protestar, mas ele não é a caradaRússia - disse a escritora Maria Polytaeva.
Os comunistas tomam o microfone e interrompem as velhas marchas para se queixarda atual situação econômica. O fato é que o fim da União Soviética despertasentimentos contraditórios. Enquanto uns acreditam que há motivos paracomemorar sua desintegração, outros não escondem o desânimo e admitem sentirfalta da velha URSS, ou, pelo menos, das garantias que o Estado socialistaoferecia, ainda que o preço a se pagar pelo benefício tenha sido alto. Cercade 28% da população gostariam de voltar atrás e reconstruir a União Soviética,segundo a pesquisa do instituto VTsIOM.
- Há muita nostalgia, mas todos sabem que não é possível voltar atrás. Os maisnovos nem sabem o que era. A juventude é alienada e apolítica. Só quer saber deganhar dinheiro. Antes, os jovens queriam ser astronautas, sociólogos, físicos.Hoje, só querem ser businessmen, banqueiros e financistas — disse IgorFescinenko, 79 anos, repórter de TV na União Soviética, hoje consultore professor.
A insatisfação está relacionada ao fato de que a economia e a vida políticapassaram a andar em círculos. Nem mesmo após uma década crescendo a umamédia de 7% ao ano, o país conseguiu reduzir a suadependência do petróleo. Para o último exvice- premier da URSS,Vladimir Scherbakov, hoje presidente da União dos Industriaisda Rússia, o país mudou para melhor:
- A Rússia entrou para a economia global. Podemos encontrar detudo aqui. Se compararmos a evolução do saláriomédio na Rússia e nas outras ex-repúblicas, vemos que houveum incremento importante, praticamente dobrou.
Outros afirmam que os ganhos limitam-se ao consumo.
- O que adianta ter tudo, se não tenho dinheiro para comprar nada? —reclama a funcionária pública Natalia Borisovna.
Parte dos russos vê naquele 25 de dezembro de 1991 o mesmo que Putinchamou de “uma grande catástrofe geopolítica”. Da União Soviética àatual Rússia, há uma diferença de cinco milhões de quilômetros quadrados —território dos outros 14 países que nasceram pós-desintegração - oequivalente a duas Argentinas. A sensação geral é de perda de território, amaior da História contemporânea.
Desigualdade em alta e lugar na lanterna entre os Brics
Poucos comemoram a data. A agência Itar-Tass faz uma silenciosa homenagem comfotos na entrada do prédio, atraindo um ou outropedestre. Na Biblioteca Lênin, escondida em umcorredor do terceiro andar, há uma exibição com fotos-legendas quecontam a história da instituição no período de 1917 a 1991.
Em geral, só os oposicionistas falam abertamente no assunto. Nosite do PC, há um manifesto e um cartaz sobre os “20 anos sem aURSS”. Em um dos textos, o grupo diz que estas duas décadas foram, paraa Rússia, “um caminho de dificuldades sem fim”. “Agora, às nossasdificuldades se soma a crise econômica mundial. Quanto tempoa Rússia ainda vai precisar para resolver os seus profundosproblemas?”, pergunta o texto.
A estabilidade econômica pós-década de 90 é o que vem sustentando asituação. Mas os salários dos aposentados não acompanharam a bonança.Tampouco o fizeram a saúde e a educação, que perderam em qualidade e têmobrigado os russos a desembolsar cada vez mais por algo que supostamentedeveria ser gratuito. Em 2008, logo após a crise financeira global, o país aindaconseguiu crescer 5,2%, mas despencou 7,9% em 2009,ficando na lanterna dos Brics (os emergentesBrasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Voltou acrescer 4% em 2010, mas continuou sem se modernizar.
As desigualdades nesse país que tanto pregou o socialismo também vêm crescendo.Os 120 mil milionários estão cada vez mais distantes da camada mais pobre dapopulação. Tudo isso justifica o clima de insatisfação,manifestado nas urnas no último domingo, com aredução do apoio ao partido Rússia Unida, de Putin, e oindício de que a campanha para sua volta à Presidência não será tranquila.
http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/selecao-diaria-de-noticias/midias-nacionais/brasil/o-globo/2011/12/11/velhos-comunistas-ressurgem-na-russia
http://oglobo.globo.com/mundo/fortalecimento-do-pc-mostra-insatisfacao-na-atual-russia-3426258
carlos maia wwwblogdocarlosmaia.blogspot.com
Os bandidos comunistas na Rússia, são como os bandidos comunistas no Brasil, dá para carega-los num caminhão! Onde tem eleições livres, os bandidos comunistas nunca chegam ao poder!
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