Não me calarei”, diz deputada comunista ameaçada de morte e estupro“
POR RODRIGO RODRIGUES
Autora dos projetos de lei que anulam os mandatos dos presidentes do regime militar e revisa a lei da Anistia para torturadores do serviço público, há cerca de um mês a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) vem recebendo sistemáticas ameaças de morte e estupro pela internet.
As ameaças tornaram-se mais frequentes depois que a deputada apresentou na Procuradoria Geral da República (PGR) uma representação para que o governo federal não invista dinheiro de propaganda estatal no canal SBT, em virtude da defesa que a apresentadora Rachel Sheherazade fez da violência contra infratores.
Até agora foram contabilizadas cerca de vinte e-mails anônimos de ameaças recebidos através da página da parlamentar no Facebook e no e-mail pessoal dela. A pá de cal veio, contudo, nesta quinta-feira (10), quando um homem montado numa motocicleta fotografou a casa da deputada no Rio de Janeiro em plena luz do dia.
Temendo pela própria segurança, Jandira Feghali acionou a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público (MP), solicitando investigação desses casos e punição dos responsáveis.
“Essas ameaças não me calam. Pelo contrário, reafirmam ainda mais as minhas convicções em defesa da liberdade e da defesa dos Direitos Humanos”, diz a parlamentar. “Ameaçar também é crime. Se essas pessoas têm a coragem de partir para esse vale tudo, terão agora que ter a coragem de enfrentar a Justiça e as leis”, completa.
O inquérito da PF para investigar as ameaças contra a deputada foi aberto de imediato, segundo a polícia, e o primeiro procedimento deve ser a descoberta da origem dos IPs (endereços de onde partiram as mensagens de ameaça).
Para Jandira Feghali, essas mensagens são oriundas de um “grupo menor de reacionários”, que, segundo ela, “perderam o debate público em defesa dos horrores da Ditadura”:
“Ninguém pode se esconder atrás do anonimato para praticar crimes. Não me surpreendo com essas ameaças porque esse mesmo grupo defende os agentes da repressão, a tortura, a morte de gente inocente e a execução de pessoas cujo crime foi apenas discordar da posição política do Estado”, afirma.
Sobre a representação na PGR contra a apresentadora do SBT que fora afastada na bancada do “SBT Brasil” por conta das opiniões polêmicas, a deputada comunista diz que não é a favor da censura e nem do afastamento da jornalista da emissora.
“Não pedi que ela fosse afastada e nem sou a favor da censura. O que não pode é o Estado financiar um programa que defende abertamente a violência e o enfrentamento, colocando diversas vidas em risco. Uma emissora de TV é concessão pública. Não se pode usar esse espaço para transformar o País numa barbárie”, comenta a deputada do PCdoB.
Questionada sobre se as ameaças de morte deixaram a família dela apreensiva e podem fazê-la desistir do trabalho na Câmara dos Deputados em Brasília, Jandira Feghali é incisiva:
“Ameaça é o último recurso daqueles que não aceitam a derrota pelo debate legítimo. Não me calarei porque isso só incentiva mais para que eu continue no caminho da defesa das minorias. Minha família se preocupa, mas sabe que só o enfrentamento e a denúncia pública trazem mudanças nessa mentalidade onde a violência é a moeda de debate”, argumenta a deputada.
Essa não é a primeira vez que um parlamentar do PCdoB recebe ameaças pela internet. No mês passado, a deputada Manuela Dávila (PCdoB-RS) e Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) também acionaram o MP para que mensagens ameaçadoras fosse investigadas. Os casos ainda estão sob investigação.
No vídeo abaixo, Jandira Feghali comenta a representação contra o SBT na PGR, motivo que levou ao acirramento das ameaças, segundo a parlamentar.
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