Fale-me sobre política que direi quem tu és...-Memórias de Um Alienado – Parte 3
Memórias de Um Alienado – Parte 3 Fale-me sobre política que direi quem tu és...
Por André Lux
Dando sequência às minhas "Memórias de Um Alienado" (clique aqui para ler a
depois que deixei de ser um papagaio da direita e fui conscientemente para
a esquerda.
A primeira conseqüência é positiva. Trata-se, claro, de deixar de ser um boçal
A primeira conseqüência é positiva. Trata-se, claro, de deixar de ser um boçal
alienado convicto que fica dado palpite em tudo quanto é assunto sem
entender nada do que está sendo dito – só para fazer de conta que entende
ou então, pior, para irritar “esquerdistas”. Quando você passa a ter consciência
das coisas e “sai da Matrix”, percebe que é muito melhor ficar quieto escutando
o que os outros tem a dizer.
Isso me ensinou grandes lições que todo boçal alienado convicto não conhece,
Isso me ensinou grandes lições que todo boçal alienado convicto não conhece,
tais como: ser humilde, saber ouvir, entender que quanto mais você aprende
mais percebe que nada sabe e que não conseguir admitir tudo isso é coisa de
gente fraca e covarde.
Agora vem o lado ruim. O problema de você sair da direita e ir para a esquerda,
Agora vem o lado ruim. O problema de você sair da direita e ir para a esquerda,
especialmente quando ainda é adolescente, é o choque de perceber quanta
gente que antes dizia te adorar vai começar a tratá-lo como o se fosse o
belzebu em pessoa! Comigo não foi diferente.
Familiares, amigos e conhecidos, que antes apertavam minhas bochechas,
Familiares, amigos e conhecidos, que antes apertavam minhas bochechas,
davam tapinhas nas costas e me elogiavam quando eu concordava com o que
diziam, de repente passaram a me xingar e agredir só porque ousei defender
o Lula ou o Fidel Castro. Assim, de “menininho querido da titia” me transformei
“naquele moleque perdido que sofreu lavagem cerebral dos comunistas”. E de
nada adianta você tentar dizer que ninguém fez lavagem cerebral em você,
muito pelo contrário: antes é que faziam...
Comigo foi assim. Lembro até hoje do dia que, depois de deixar de ser um
Comigo foi assim. Lembro até hoje do dia que, depois de deixar de ser um
papagaio da direita, cheguei em casa e resolvi falar sobre política com meu pai
– coisa que nunca tinha feito antes. Imaginem a cena. Eu, com 18 anos, todo
empolgado querendo falar com meu velho sobre aquelas coisas novas que
tinha aprendido, de repente sendo tratado com um trapo sujo e repelente!
Sim, foi isso que aconteceu. Foi só eu falar todo ingênuo que ia votar no
Lula e pronto. Só faltou me dar um sopapo na orelha!
E com minha mãe não foi diferente. Nem com o vizinho, que de velinho
E com minha mãe não foi diferente. Nem com o vizinho, que de velinho
simpático e bonachão, transformou-se num clone do Adolf Hitler assim
que eu falei bem do “sapo barbudo”! Meus amigos de infância então,
nem preciso dizer o que aconteceu, preciso? Óbvio: foi só eu falar da
minha nova ideologia que começaram todos a me ridicularizar e repetir
aquelas papagaiadas “para irritar esquerdista”...
Foi nessa época que aprendi uma coisa triste. As pessoas só revelam mesmo quem realmente são e o que pensam quando falam de política. O sujeito pode ser o mais bonzinho do mundo, fã de Beatles, Pinky Floyd e dos filmes de Walt Disney, amante da paz e da natureza, mas na hora que começa a falar de política transforma-se, como aquele meu vizinho, numa cópia mal feita do Hitler e passa a vomitar preconceitos, elitismo, racismo, homofobia, ignorância e outras nojeiras que deveriam deixar qualquer pessoa com bom senso envergonhada. E olha que estou falando aqui de pessoas de classe média, que tiveram acesso a tudo do bom e do melhor em relação a
estudo e cultura!
Nem preciso dizer que, daquela época em diante, perdi muitos “amigos”
Nem preciso dizer que, daquela época em diante, perdi muitos “amigos”
e deixei de ser o “queridinho” de muitos familiares, que passaram a me
hostilizar ou me irritar constantemente com provocações baratas e ridículas.
Por que eu não percebia o quanto aquelas pessoas eram rancorosas, odiosas
e preconceituosas antes, perguntava-me. A resposta é simples: porque antes
não falávamos de política, exceto talvez para repetir um ou outro jargão idiota
da direita, do tipo “detesto política” ou “político é tudo igual”.
E tem gente, incluindo familiares e amigos, que ainda fazem isso comigo até hoje.
E tem gente, incluindo familiares e amigos, que ainda fazem isso comigo até hoje.
Nem preciso dizer também que, depois das duas vitórias do Lula e da ascensão
de políticos como Chávez, Evo Morales e afins, tudo ficou ainda pior e até
aqueles que conseguiam disfarçar um pouco melhor seus ódios perderam
completamente o controle!
Depois de todas essas experiências, criei uma máxima que, infelizmente,
Depois de todas essas experiências, criei uma máxima que, infelizmente,
continua valendo até agora: “Fale-me sobre política que direi quem tu és”...
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