A perseguição a José de Abreu e Tico Santa Cruz na CPI da Lei Rouanet. Por Mauro Donato



Postado em 18 Sep 2016
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José de Abreu
José de Abreu

O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM) protocolou um requerimento convocando o ator José de Abreu e o músico Tico Santa Cruz para prestarem depoimentos na CPI da Lei Rouanet.
A notícia causou revolta em José de Abreu que, no entanto, viu como uma boa oportunidade para “desmoralizar esse mito de que a Lei Rouanet é uma espécie de bolsa-família para artistas”. Ele hoje vive na França, mas o deputado Sóstenes  não se faz rogado: “A CPI tem recursos para fazer uma investigação se necessário até na China, vamos convocá-lo sim! Se necessário tenho convicção que até a Polícia Federal vá buscá-lo, não vamos brincar de CPI”.
Segundo o “Estadão”, além de José de Abreu, a CPI da Lei Rouanet quer convocar também o cantor Tico Santa Cruz para explicar um incentivo ao Detonautas. A banda teria arrecadado um milhão de reais para uma turnê.
“Estou à disposição de todos os deputados, senadores, todos os parlamentares que queiram me convidar para a CPI. Tenho visto links que não sei se são fakes ou verdadeiros, mas eu vejo que já circula isso na rede e como não tenho absolutamente nada a dever estou à disposição de todos. Basta que me chamem, na hora que quiserem para esclarecer essa questão. Agora, deixo um aviso àqueles que estão me acusando e dizendo que usei dinheiro da Lei Rouanet: caso fique comprovado, porque obviamente eu não recebi nenhum centavo, que não participei, quero saber se os senhores que estão espalhando esses boatos por aí terão a dignidade e coragem para pedirem desculpas para mim depois. Então estou no aguardo. Detonautas nunca recebeu dinheiro da Lei Rouanet, nosso projeto foi arquivado. Temos tudo documentado, os contratos com o Pronac, tudo”, desabafou o músico em um vídeo na sua página em rede social.
Tico Santa Cruz já havia declarado no início deste ano que o Detonautas teve um projeto aprovado pela Lei Rouanet em 2013, mas que não foi captado, mesmo assim o boato se espalhou e a banda sofreu desgaste em sua imagem.
“Quando você tem 300 pessoas repetindo isso no mesmo lugar – internet – é difícil reverter essa situação. As pessoas acham que eu recebo dinheiro do governo, que eu sou bancado pela Lei, que a Lei Rouanet é um pagamento mensal feito pelo governo. Beira o ridículo”, disse.
Tico Santa Cruz nega, mas mesmo que tivesse se utilizado da Lei Rouanet, qual o problema? A lei não existe, não está aí para incentivar e fomentar a cultura? Por que a lei se tornou um sinônimo de ‘falcatruas petralhas’? Para o cretino de plantão, Lei Rouanet é o modus operandi do Chico Buarque. Nunca é demais lembrar que a Fundação Roberto Marinho ou o Itaú estão entre os 15 maiores captadores desse recurso.
Pelo andar do carruagem, estamos de volta ao macarthismo. A perseguição é evidente. Não é coincidência que os dois artistas tenham sido chamados. São dos mais combativos ao golpe, enfrentam seus opositores sempre que abordados daquele modo ríspido característico da direita raivosa, nunca esconderam suas posições. Segundo Tico, o Detonautas tem sido boicotado desde que ele tornou clara sua posição contra o impeachment da presidente. É o preço por não ser omisso, algo que os os artistas do mainstream, os que circulam pelos palcos das grandes emissoras, os que têm suas músicas inseridas em novelas dos canais que ajudaram no golpe não sabem nem querem saber.
Terminado todo o processo que consolidou o impeachment de Dilma Rousseff, a caça às bruxas parece ter dado início e o deputado Sóstenes Cavalcante (que presidiu a comissão especial do Estatuto da Família, é pastor da Assembléia de Deus, Tesoureiro da Frente Parlamentar Evangélica e ‘parça’ do vanguardista Silas Malafaia) vem com sangue nos olhos. Artistas que se cuidem. O nosso McCarthy está à solta.

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Sobre o Autor
Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

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