Igreja Universal: Pelo que você luta? (Contra o Golpe)

Os discursos ouvidos nas ruas pediam o impeachment e até golpe militar



Barulhos insistentes de panelas, vaias e xingamentos ouvidos em diversos bairros do Brasil, no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, deram fim à calmaria típica de uma noite de domingo. Nos televisores, a presidente Dilma Rousseff (PT) discursava em pronunciamento oficial. Nas janelas e varandas, cidadãos demonstravam insatisfação a qualquer palavra proferida pela dirigente. A comoção contrária ao governo, naquele momento, era o prenúncio de uma agitação ainda maior que se instalaria no País pelas próximas semanas.
Durante os dias que seguiram, chamados e convites para uma manifestação nacional foram disseminados pelas redes sociais com eficiência. A pauta? Combate à corrupção. Diante das repercussões da Operação Lava Jato, que investiga esquema de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobrás e grandes empreiteiras, a população resolveu clamar por um país mais justo. Para isso, decidiu sair às ruas no último dia 15, uma semana após o episódio dos inflamados panelaços.
Será que os brasileiros estão mais conscientes e mais ativos politicamente? Segundo a avaliação do historiador e doutor em ciência política André Pereira, o momento é de uma polarização ideológica mais clara. “O que nós temos neste momento não é uma população de uma maneira geral mais ativa e sim uma situação de conflito aberto entre concepções. Devido a uma série de fatores, como corrupção e medidas duras do governo, setores mais conservadores da sociedade estão particularmente mais ativos.”
Os preparativos para o encontro marcado em várias cidades manteve-se acalorado em áreas virtuais como o microblog Twitter ou em eventos do Facebook. Usadas como ferramentas articuladoras de opiniões e, também, como território para debates, as redes sociais abriram espaço para os pontos de vista mais distintos.

A própria presidente Dilma usou o Twitter para opinar. “Valorizo muito o fato de que, hoje, no Brasil, as pessoas podem se manifestar livremente e não podemos aceitar qualquer tipo de violência que impeça esse direito. Sou a favor da democracia. Espero que amanhã o Brasil prove a sua maturidade democrática”, declarou em seu perfil oficial, no dia 14.
Manipulação
A insistente e ampla divulgação midiática dos desafios enfrentados pela presidência acirrou os ânimos. O fator “indignação” tomou conta de muitos brasileiros e foi suficiente para levar às ruas milhões de pessoas. A Rede Globo alterou a programação e não poupou esforços para se dedicar à cobertura do “evento histórico”. No canal Globo News, as imagens permaneceram na tela durante todo o dia. Aos olhos do telespectador, tudo parecia muito passivo e coerente.
Quem mudou de canal ou acompanhou as manifestações pela internet, pode conferir uma realidade bem diferente do recorte exibido pela Globo. A hastag #GloboGolpista permaneceu por tempo significativo entre os assuntos mais comentados e mostrou que os internautas não estão alheios à manipulação televisiva. Muitos se lembraram de episódios marcantes, como o envolvimento da emissora com a ditadura militar (1964-1985), e a parcialidade no debate político entre os candidatos Lula e Collor, nas eleições presidenciais de 1989.
A hashtag repercutiu em diversos países. Um artigo em inglês publicado no portal da TV Telesur destacou que a Rede Globo esteve envolvida em esforços para acusar Dilma Roussef. O artigo ressaltou que a emissora recebeu diversas críticas por tentar vincular a imagem da presidente a escândalos de corrupção.
As redes sociais também estão sendo utilizadas para organizar uma manifestação contra a Globo no próximo dia 1º de abril, em frente aos prédios da emissora no País. Não por acaso, a data escolhida foi o “Dia da Mentira”.
Fora intervenção
Não faltou quem defendesse que as manifestações foram pacíficas, mas foi difícil esconder ou camuflar o ódio e as agressões disparadas em imagens, faixas e cartazes. Discursos tão raivosos quanto violentos foram vistos por todo o Brasil. Os insatisfeitos com a atual gestão ofereciam, em grande maioria, duas soluções para o fim da corrupção: o impeachment ou a intervenção militar.
Para André Pereira, que é professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), a grande imprensa noticiou de maneira sensacionalista as informações sobre a Operação Lava Jato, estimulando o ódio da população, e isso culminou com uma “explosão emocional”. Ele explica que as duas soluções não devem acontecer. “Alguns defendem um golpe de estado, o que chega a ser crime, conforme o Artigo 23, II, da Lei 7.170, de 1983. Outros defendem um impeachment. Algo que está totalmente fora de possibilidade em termos jurídicos até este momento, pois não há provas contra a presidente no exercício do atual mandato, que começou em janeiro de 2015.”
O advogado Marcos Pereira relembra que ainda não houve julgamento e, portanto, ainda não há culpados. “Por enquanto, os nomes trazidos a público encontram-se na condição de investigados. Alguém só pode ser considerado culpado quando o processo chega ao fim. Esse é um cuidado que precisa ser tomado pela imprensa, que são os olhos e ouvidos na nação, e da própria população, que merece fazer juízo de valor baseada em fatos concretos.”
O regime militar, por mais de duas décadas, aprisionou, torturou e matou milhares de pessoas. A repressão era generalizada, os meios de comunicação eram censurados e você, certamente, não estaria lendo matérias como esta. Será que vale a pena servir em uma bandeja a democracia conquistada?
O cientista político Carlos Novaes afirma que desejar golpe militar é algo irresponsável. “Quem pede a volta dos militares ou não sabe do que está falando, é simplesmente ignorante e irresponsável, ou está certo de que disporá de meios para preservar a si mesmo e a seus interesses contra os de todos os demais, que buscam fazê-lo pela via democrática”, completa. 
Novaes também ressalta que clamar por impeachment não é um caminho coerente. “O impeachment levaria à presidência o Michel Temer, que é do PMDB, especialista em 50 anos nas rotinas empestadas desse Congresso que só faz trair a representação popular. Dependendo das razões para o impeachment, Temer iria junto e, então, Eduardo Cunha, que é Presidente da Câmara dos Deputados, assumiria. O que não chega a ser uma boa notícia para quem quer combater a corrupção”, afirma.
Dilma culpada?
Será que a saída de Dilma Rousseff seria a solução para o fim da corrupção? O problema está na política como um todo e não apenas na presidência. “As pessoas tendem a concentrar na presidência da República suas expectativas e frustrações, pois é mais fácil, mais visível e não precisa pensar muito. Na verdade, o problema está mesmo é no Congresso”, opina o cientista político Carlos Novaes.
Para o professor André Pereira, a base social é formada por pessoas conservadoras, sem militância, que também discordam de várias ações do governo. “O que ocorre é que esta base está sendo estimulada a identificar apenas a presidente e o seu partido como os únicos responsáveis pelos escândalos de corrupção, quando outros partidos da base de apoio também estão sendo citados.”
André Pereira explica que, para combater a corrupção, é preciso discutir suas raízes e propor meios para que elas sejam alteradas. “Então, onde devemos atacar? Na própria natureza do sistema político. Demonizar uma pessoa ou um partido não ajuda no debate e pode abrir espaço para grupos radicais perigosos, como alguns com perfil neonazista. É necessário que sejamos capazes de agir dentro das normas democráticas que tanto custaram para serem conquistadas.”
O apoio da Globo à ditadura militar
O apoio das Organizações Globo à ditadura é histórico e conhecido por todos. A própria instituição, por meio do jornal O Globo, assumiu que apoiou editorialmente o golpe de 1964. Ao longo dos mais de 20 anos, a empresa da família Marinho foi conivente com a censura, torturas, violência e mortes ocorridas nesse período tão doloroso da história do País. A liberdade de imprensa não existia. O voto direto, muito menos. Com os militares no poder, quantos perderam a vida? Quantos viveram sem direitos?
Em texto publicado em agosto de 2013, O Globo confirma o que todos já sabiam. “Naquele contexto, o golpe, chamado de ‘Revolução’, termo adotado pela Globo durante muito tempo, era visto como a única alternativa para manter no Brasil uma democracia. O Globo não tem dúvidas de que o apoio a 1964 pareceu aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa, visando ao bem do país”. E completa: “A lembrança é sempre um incômodo para o jornal, mas não há como refutá-la. É História.” 
A ditadura chegou ao fim em 1985. Há três décadas, milhões de brasileiros lutaram por eleições livres e pela consolidação da democracia. Depois de tantas batalhas, não é coerente retroceder.

Comentários

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http://www.universal.org/noticia/2015/03/29/pelo-que-voce-luta--32542.html

leia também:

Comunistas: PCdoB propõe frente pelo Brasil, a democracia e o governo Dilma


Comentários

  1. "Demonizar uma pessoa ou um partido não ajuda no debate e pode abrir espaço para grupos radicais perigosos, como alguns com perfil neonazista. É necessário que sejamos capazes de agir dentro das normas democráticas que tanto custaram para serem conquistadas.”

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