Clã Nordestino- o som da Revolução (Rap Nacional)
A termo RAP significa rhythm and poetry (Ritmo e Poesia ou Revolução Através das Palavras). O RAP surgiu na Jamaica na década de 1960. Este gênero musical foi levado pelos jamaicanos para os Estados Unidos, através do DJ Kool Herc, mais especificamente para os bairros pobres de Nova Iorque, no começo da década de 1970. Jovens de origens negra e espanhola, em busca de uma sonoridade nova, deram um significativo impulso ao RAP.
O rap tem uma batida rápida e acelerada. Sua letra vem como discurso, a música traz muita informação e pouca melodia, por isso é um estilo musical particularmente vinculado e associado ao protesto. As letras de rap têm como tema principal a vida, as dificuldades e angústias dos moradores dos bairros mais pobres das grandes cidades. O cenário rap é acrescido de danças com movimentos rápidos e malabarismos corporais. O break, por exemplo, é um tipo de dança relacionada ao rap. O cenário urbano do rap é formado ainda por um visual repleto de grafites nas paredes e vias públicas.
Quando o movimento Hip-Hop começou a tomar forma, a população negra dos EUA já tinha um longo histórico de lutas contra a opressão, e há tempos vinha utilizando a música e as rádios para resistir à exploração que era imposta pela maioria Branca. Nos anos 60, o país foi sacudido por uma série de tumultos raciais, vinculados e condicionados, claro, pela estrutura de classe da sociedade norte-americana (um dos mais conhecidos ocorreu no Gueto de Watts, em 1964). O rap oferecia uma grande oportunidade para os jovens negros e pobres expressarem seus sentimentos e descontentamento, pois para exercê-lo não era preciso praticamente nada que envolvesse tecnologia: o fundamental era a criatividade do artista.
O período de início do rap foi de enorme efervescência política nos EUA em que os pobres, sobretudo negros, se mobilizaram enormemente em busca de direitos democráticos, igualdade, liberdade e contra a guerra do Vietnã que levava milhares de jovens negros à morte. O mundo conheceu destacados líderes saídos do “gueto”, destacadamente Malcom X e o Partido dos Panteras Negras. O rap, nesse momento e pelas características que descrevemos acima, foi utilizado como uma verdadeira arma a serviço do povo.
Clã Nordestino e a revolta do povo brasileiro
O Clã Nordestino inicialmente era formado por Preto Ghóez, Lamartine, Nando, Lílian e DJ Juarez, e tem uma sonoridade que une misturas de RAP com ritmos tradicionais do Maranhão - estado dos integrantes do Clã - como Tambor de Crioula, Reggae e Bumba-meu-boi. Foi criado em 1998.
Com músicas voltadas a exprimir o sentimento de indignação da juventude com o sistema vigente, Clã Nordestino é um exemplo concreto de produção artística feita do povo para o povo.
Clã Nordestino tem um álbum, lançado em 2003, intitulado “A Peste Negra do Nordeste”, que significa que suas rimas de transformação e ódio de classe se disseminarão pela periferia como uma verdadeira peste, incontrolável, incurável, porém esta peste não trará a morte e sim a vida.
Um dos principais integrantes do grupo, Preto Ghóez, morreu em 2004, vítima de um acidente de carro. Após a morte de Ghóez o Clã Nordestino não produziu nenhum álbum, apesar de continuar trabalhando em algumas músicas isoladamente.
Alguns trechos de músicas do Clã Nordestino:
Como o povo sabe sua situação de vida apenas pode ser transformada com união e luta para derrubada dos poderosos e libertação dos oprimidos, o Clã Nordestino canta:
“Despertando a consciência negra aqui do Rio/ A minha palavra tem a força de uma bala de fuzil/ Na luta de classes eu enxergo o Brasil/ Que nada seja de ninguém/ Que prevaleça o bem/ Aos que tem tudo, nada/ Aos que tem nada, tudo/ Clã Nordestino mudou minha visão de mundo.” (Manifesto).
“Burguesia, parasita/Não tem sexo, não tem cor, não tem religião/Mas Preto Ghoéz Ladrão descreve seu destino/ Pede borracha gringo/ Quebrou na quebrada no domingo/ Sorria burguês cínico/ Pro veneno periférico não existe antiofídico, dia fatídico/ Para nós linchá-lo é um dever cívico (...)/ Bate no peito, tem orgulho de dizer/ Que é de família pobre/ Que é de origem humilde/ Eu faço votos que esse verme cruze comigo/ Cara a cara, olho no olho/ Mão no cano, eu não me engano, eu não vacilo/ Eu sou mais eu, sistema/ Frente a frete eu sou problema.” (Eu sou mais eu).
E, na última de seu álbum, Clã Nordestino traz uma linda canção chamando o povo para o caminho da luta de classes pela fraternidade de todos os oprimidos do mundo:
“Vamos todos cantar essa linda canção/ Regar a vida/ E entender porque somos todos irmãos/ Um só planeta, uma só família/ Amizade, poesia, resistência, nossa trilha/ Sonhar o sonho dos “loucomunistas”/ E embarcar na locomotiva da figa / Temos um sol, somos um só/ A soma do que somos há de transformar/ Tudo isso num mundo melhor/ Desde as planíces dos Serengeti, na Tanzânia/ Aos pequenos rios da Floresta Amazônica/ Aos pequenos casebres/ Que escrevem a saga nordestina/ Aos prantos das mães palestinas/ O inimigo é o mesmo/ Então não atire a esmo/ O bem contra o mal/ O riso contra a mais-valia/ Uma sociedade livre contra o modo de produção capitalista/ Se a Revolução fosse um jardim/ Clã Nordestino era uma flor/ Se a Revolução fosse um jardim/ Clã Nordestino era uma flor/ De pé raça poderosa que permeia todo este planeta/ De pé vamos cantar mais uma vez/ Uma vez mais/ Dizem que somos poucos/ Mas somos poucos em muitos lugares/ Então somos muitos/ A cada um de nós compete uma coisa/ Propagar o amor no coração da humanidade/ E quebrar o gelo da hipocrisia e da maldade/ Arrebentar de vez com as algemas da mais-valia e da opressão/ E cantar com uma só voz/ A canção que faz florescer um jardim/ De uma manhã melhor/ Eu sei que você sofre e eu também/ Eu sei que você quer mudar e eu também/ Então vamos juntos, nos unir/ Contra quem destrói o jardim/ Se a Revolução fosse um jardim/ Clã Nordestino era uma flor/ Se a Revolução fosse um jardim/ Clã Nordestino era uma flor/ Não importa se você é preto, branco/ Não importa se você é europeu ou latino-americano/ Não importa se você é judeu, ateu, cristão ou mulçumano/ A igualdade é palavra de ordem/ A união é o que nos leva daqui por diante/ Para construirmos um mundo melhor só depende de nós/ Se a Revolução fosse um jardim/ Clã Nordestino era uma flor/ Se a Revolução fosse um jardim/ Clã Nordestino era uma flor”. (Revolução).
“Burguesia, parasita/Não tem sexo, não tem cor, não tem religião/Mas Preto Ghoéz Ladrão descreve seu destino/ Pede borracha gringo/ Quebrou na quebrada no domingo/ Sorria burguês cínico/ Pro veneno periférico não existe antiofídico, dia fatídico/ Para nós linchá-lo é um dever cívico (...)/ Bate no peito, tem orgulho de dizer/ Que é de família pobre/ Que é de origem humilde/ Eu faço votos que esse verme cruze comigo/ Cara a cara, olho no olho/ Mão no cano, eu não me engano, eu não vacilo/ Eu sou mais eu, sistema/ Frente a frete eu sou problema.” (Eu sou mais eu).
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