O terrorismo na Noruega, a mídia e o ódio religioso

Nilton Bobato *


O matador em série da Noruega e o atendado a bomba em Oslo servem novamente para demonstrar como a grande mídia se porta diante da construção de uma tese de que os muçulmanos são inimigos e os demais não são bem assim. Todas as ações armadas realizadas por muçulmanos são tratadas imediatamente como ações terroristas. As ações do assassino da direita norueguesa são tratadas como ataques ou atentados.

No site Terra: “Autor de ataque verá juiz sem presença da imprensa”. Autor do ataque. Na Veja On Line: “Número de mortos do duplo ataque pode ser menor que o anunciado”. Duplo ataque. No UOL: “Juiz decreta prisão preventiva de norueguês que realizou atentados”. Norueguês que realizou atentados.

A Revista IstoÉ, que circula desde domingo, dia 24, foi mais longe, vinculou os atentados a supostas ameaças da Al Qaeda. “Terror em Oslo: ameaçada pela Al Qaeda, a Noruega sofre série de ataques com vários mortos”. Observem que na matéria, quando se imaginava que poderia ser um ataque da Al Qaeda, a revista trata como “Terror em Oslo”. Na segunda-feira, dia 25 de julho, no site da revista já se muda para a linha geral: “Termina primeira audiência com atirador norueguês”. Atirador norueguês.

É visível que a mídia optou no caso norueguês em não utilizar a palavra terrorista, usada sempre para ataques de alguma organização que se identifique como muçulmana ou islâmica. Toda a mídia usou os termos atirador, ataques, autor de atentados ou outros similares, procurando dar a clara conotação de que os atentados na Noruega não devem ser enquadrados na mesma lista dos similares que se identifiquem como islâmicos.

Nada disso é por acaso. Já tratamos desta visão neste espaço e o Vermelho vem denunciando com frequência essa subordinação da mídia nacional a campanha insidiosa da visão norte-americana de um processo que pretende usar todos os meios para construir o ódio religioso.

Repito aqui o trecho do texto autoria de PETER BLAIR e KHATARINA GARCIA, veiculado em 17 de fevereiro deste ano de 2011: “O Congresso dos Estados Unidos autorizou a Casa Branca a dobrar os valores aprovados no orçamento de 2011 para gastos relativos a propaganda e meios de comunicação contra líderes que contrariam os interesses dos EUA no mundo, como é o caso de Muammar Khadafy, Mahmoud Ahmednejad, Hugo Chavez, Evo Morales, Rafael Correa, Raul Castro, Daniel Ortega, Cristina Krischner, Fernando Lugo, Kim Jo II. Os recursos devem ser usados na compra de espaço na mídia dos países governados por estes líderes em jornais, rádios, revistas e redes de televisão, que devem sempre se referir aos mesmos como ditadores e receberem sempre orientação dos Adidos de Imprensa nos respectivos países ou senão houver relações diplomática com estes, pelos agentes da CIA no país. O orçamento total do projeto é de hum bilhão de dólares e só para o Brasil foram destinados 120 milhões para esse tipo de ação.

Retirada do site WikiLeaks, correspondência da Embaixada Americana no Brasil, de dezembro de 2009: “A posição do Brasil na questão da “difamação de religiões” na comissão de Direitos Humanos da ONU reflete a conciliação entre as objeções do país à ideia (objeções baseadas num conceito do que sejam Direitos Humanos) e o desejo de não antagonizar os países da Organisation of the Islamic Conference (OIC) com os quais tenta construir relações e que o Brasil vê como importante conjunto de votos a favor de o Brasil conseguir assento permanente no CSONU. À luz da argumentação a favor da abstenção do Brasil, proponho abordagem de quatro braços, envolvendo aproximação com os altos escalões do Ministério de Relações Exteriores; uma visita a Brasília, para pesquisar meios de trabalhar com o governo do Brasil, nessa e noutras questões de direitos humanos; outros governos que possam conversar com o governo do Brasil; e uma campanha mais intensa pela mídia e mobilizando comunidades religiosas a favor de não se punir quem difame religiões.

Devem estar comemorando as ações realizadas na Noruega.

* Vereador do PCdoB em Foz do Iguaçu (PR), membro do Conselho Nacional de Política Cultural, professor e escritor.

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