Máximo Gorki, o escritor da revolução proletária


Do Portal Vermelho

  
Para Gorki “não existem ideias fora do homem”, que é o “criador de todas as coisas, o criador de milagres e o futuro senhor de todas as forças da natureza. As mais belas coisas deste mundo são as criadas pelo trabalho, por hábeis mãos, e todos os nossos pensamentos e nossas ideias nascem do processo do trabalho”.

Filho de uma serva e de um rebocador de barcos no rio Volga, Gorki nasceu em 16 de março de 1868 e foi batizado como Aleksei Maksimovitch Pechkov. Desde os 10 anos teve que trabalhar para viver: foi descarregador no porto, jardineiro, corista de teatro, ajudante de sapateiro, pintor de ícones, vendedor de frutas, ferroviário e, sobretudo, padeiro.

Sem frequentar escolas, tudo o que aprendeu lhe foi ensinado pelo que chamou ironicamente de “minhas universidades”: a vida.

Pechkov adotou o pseudônimo de Gorki (significa “amargo”) em Tifilis, ao publicar sua primeira novela, em 1892. Considerado o maior escritor soviético, Gorki vai além do realismo tradicional e, escritor eminentemente proletário, abriu uma nova fase na literatura, dando continuidade ao grande realismo burguês do século XIX, de Balzac, Stendhal e Flaubert. Ele inaugurou um realismo de tipo novo, que alguns chamaram de “socialista”. O povo pobre e marginalizado é o personagem central de sua obra.

O “realismo socialista” tornou-se referência oficial - à revelia de Gorki – no I Congresso de Escritores Soviéticos (1934), sob a batuta de Alexei Zdanov, que se tornou desde então num verdadeiro autocrata da cultura soviética. Naquele congresso, Zdanov fez um discurso, baseado num esrito de Gorki, e usado amplamente como base para a edificação da doutrina estética oficial do realismo socialista.

Para Gorki, a luta titânica de seu povo e sua conscientização no conflito contra o czarismo, pela paz e contra o capitalismo, é o tema permanente. Ele está presente, por exemplo, em um de seus livros mais importantes, A Mãe (1906), cuja ação se passa na revolução malograda de 1905. E, por isso mesmo, se destinava a não deixar esmorecer o ímpeto popular. “Esse livro vem precisamente a tempo”, comentou Lênin, o líder da Revolução Russa.

A confiança na revolução, dirigida pelo partido dos operários, não transparece apenas na literatura de Gorki. Foi uma característica essencial de sua personalidade, que cedo o levou aos grupos revolucionários e ao marxismo. Na juventude, conheceu deportados e degredados políticos e soube que existia gente que lutava para transformar aquele mundo de miséria, pobreza, opressão e imensa exploração. Ele próprio foi vítima de prisões e perseguições.

Sua atividade literária ligou-se intimamente à luta política e revolucionária. Um verso de “O anunciador da tempestade” (Cantemos a loucura dos bravos) virou verdadeiro apelo revolucionário a iluminar sua obra. Em 1903, já era um escritor de renome, se aproximou dos bolcheviques, aprofundando sua diferença em relação aos intelectuais liberais.

Em 1905, publicou, no diário bolchevique A Vida Nova suas “notas sobre o espírito pequeno burguês”, onde denunciou a vacilação e ridicularizou o comodismo e subjetivismo dessa camada social. Sua atividade contra o governo czarista o levou ao exílio, que só terminou com a Revolução Russa de 1917. Buscou animar a vida intelectual, principalmente com a atividade cultural dos operários e do povo. Após a Revolução, em 1918, tornou-se Comissário do Povo para a Melhoria das Condições de Existência dos Cientistas.

Em 1921 adoeceu e, por insistência de Lênin, foi tratar-se no exterior, voltando à URSS em 1928, sendo então muito homenageado. O contato com a obra do regime socialista, que lançava as bases de uma vida nova para o povo russo, fez Gorki lançar-se ainda com mais vigor na defesa dos interesses do proletariado revolucionário.

O romancista passou a compor obras autobiográficas e de reminiscências, que muitos consideram aquilo que de melhor ele escreveu. Dedicou-se também a animar os jovens autores soviéticos, “atira-se para essa corrente literária que não cessa de aumentar, lê manuscritos, prefacia, corrige, explica, discute linha por linha e, não conseguindo responder a cada um, escreve cartas coletivas dirigidas a grupos” de escritores operários, registrou Nina Gourfinkel no livro Gorki.

Gorki dedicou-se à defesa e edificação de uma vida nova fazendo aquilo em que era mestre, escrevendo e ensinando a escrever. Numa longa carta para escritores estrangeiros, em 1932, ele falou da força operária na criação de novas formas de vida e fez uma pergunta que completa aquela sua profissão de fé no homem citada no início deste artigo: “De que lado estão vocês, os mestres da cultura? Com a força operária da cultura, pela criação de formas novas de vida, ou contra essa força, pela conservação da casta de espoliadores irresponsáveis, da casta podre da cabeça aos pés, que continua agindo em virtude da lei da inércia?”

Gorki havia conquistado o direito de colocar esta questão central da cultura de nosso tempo de maneira tão inequívoca. Sua vida e sua obra o autorizavam a isso.

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