domingo, 6 de agosto de 2017

Oitenta anos depois, T-34 continua pronto para briga



Por gerações sucessivas, o T-34 tornou-se um ícone da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial. Desde que partiu em linha reta pelos paralelepípedos da Praça Vermelha para deter o avanço nazista nos arredores de Moscou, em 1941, essa lendária máquina de guerra raramente descansou.


Tanque foi recentemente usado por combatentes pró-Rússia no leste da Ucrânia Foto: RIA Nóvosti
Tanque foi recentemente usado por combatentes pró-Rússia no leste da Ucrânia Foto: RIA Nóvosti
Quando os soviéticos T-34 chegaram a Berlim, em 1945, os dias de luta desse tanque de batalha podiam até parecer estar quase no fim. Mas a "noz", como era chamado pelas tripulações devido à forma hexagonal de sua torre, estava apenas começando sua odisseia pelos conflitos mundiais.
Ao longo de mais de cinco décadas, essa máquina de guerra iria ressoar pelas areias do Egito, pela selva cubana, pela savana de Angola, e muito além. Hoje, ainda pode ser encontrada nos arsenais do Vietnã, Guiné, Guiné-Bissau, Iêmen, Coreia do Norte, República do Congo, Cuba, Laos, Mali e Namíbia. Tendo lutado contra os Estados Unidos e seus aliados na Coreia do Sul e Cuba, a linhagem americana do T-34 é, no entanto, menos conhecida.
O tanque evoluiu a partir do modelo leve BT soviético (tanque bystrokhodny/tanque de alta velocidade) da década de 1930, que era, por sua vez, derivado do tanque americano M1931 Christie. Introduzido à União Soviética como um exemplar sem torre sob a designação de "trator agrícola", o Christie e suas variantes espanholas forneceram posteriores a base para o projetista soviético Mikhail Kochkin.
Nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial, Kochkin trabalhou intensamente no T-34, combinando armadura robusta e poder de fogo pesado, e paralelamente preservando o desempenho na estrada e facilidade de produção e manutenção. O lote inaugural desses tanques deveria ser revisado por Iossef Stálin em Moscou, no dia 17 de março de 1940, depois de percorrer 1.250 milhas rumo à capital. Era uma decisão arriscada de Kochkin conduzir os tanques através de áreas públicas, já que a polícia secreta NKVD poderia achar que a ação revelava segredos de Estado. Mas os tanques chegaram dentro do prazo e sem nenhum incidente grave - os veículos foram levados por uma rota secreta através das florestas, campos e terrenos acidentados. Impressionado com o que viu, Stálin carinhosamente apelidou o tanque de "andorinha", dando início ao seu ciclo de vida.
O triunfo inicial foi marcado, entretanto, pela morte de Kochkin. Aos 42 anos, o projetista contraiu uma pneumonia durante a árdua viagem para Moscou e não se recuperou. O "pai adotivo" do tanque foi o engenheiro e projetista de tanques Aleksandr Morozov - o homem que finalmente enviou o T-34 para combate, e acabou adaptando-o para enfrentar novos e cada vez mais temíveis adversários alemães no campo de batalha.

Desde que estreou na Segunda Guerra, tanque participou dos principais conflitos mundiais Foto: wikipedia.org
Em dezembro de 1943, o T-34-85 entrou em ação com uma nova torre e uma arma de 85 milímetros, que o levou à vitória em 1945. O T-34-85 continuou a ser a espinha dorsal das forças soviéticas até meados dos anos 1950, e também serviu como uma plataforma de treinamento para as tripulações até a década de 1970. O veículo nunca foi formalmente tirado de serviço.
Sua maior implantação pós-Segunda Guerra Mundial foi na Coreia, quando o tanque despontou contra os antigos aliados americanos da URSS. Como o terreno montanhoso da Coreia impedia batalhas de tanques em massa, eles eram usados ​​em pequenos grupos, muitas vezes com resultados imprevisíveis.
A primeira luta entre o T-34-85 e o tanque americano M24 aconteceu em 10 de julho de 1950, durante a batalha de Taejon. Os canhões americanos de 75 mm se mostraram ineficazes contra a blindagem frontal soviética, e dois tanques norte-americanos foram rapidamente eliminados. O encontro só se voltou contra os norte-coreanos depois de a infantaria dos EUA usar bazucas de 3,5 polegadas para destruir sete tanques T-34.
A maré negativa cresceu ainda mais com a implantação do americano M26 Pershing em 17 de agosto de 1950, quando o canhão deste veículo despachou três T-34s logo no primeiro confronto entre os tanques de batalha. Apesar da igualdade técnica, as tripulações mais bem treinadas e preparadas dos Estados Unidos rapidamente superaram os norte-coreanos, que até o final daquele ano perderam quase 100 T-34-85s no combate entre tanques, e duas vezes mais quando atingidos por aviões e bazucas. Enquanto isso, os tanques norte-coreanos destruíram apenas 34 veículos dos EUA.
Embora o T-34-85 tenha se deparado com adversários a sua altura, como é o caso do americano Pershing e do M46 Patton, ele ainda superava o M24 Chaffee, um derivado do M4A3E8 Sherman que transportava um armamento melhor. O tanque de fabricação soviética ganhou as manchetes novamente em abril de 1961, durante a derrota das forças contrarrevolucionárias cubanas na Baía dos Porcos.
Armado com dez Sherman e 20 carros blindados M8, as forças invasoras apoiadas pelos EUA nocautearam um T-34 do governo cubano, logo depois de romper sua cabeça de praia (termo militar para se referir a uma área conquistada em litoral inimigo). As forças cubanas pessoalmente comandadas por Fidel Castro partiram com a primeira coluna de T-34, nocauteando dois Sherman durante o contra-ataque na área de chegada. Vitórias isoladas à parte, o T-34 cada vez mais mostrava a sua idade avançada contra as futuras gerações de tanques de batalha.
Durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, o Egito perdeu 251 T-34-85s, quase um terço de suas perdas totais de tanques. Por ironia do destino, o T-34 também lutou ao lado de seus antigos inimigos alemães da Segunda Guerra Mundial, o PzKpfw.IV e o StuG.III, nas forças sírias envolvidas no conflito. Se os tanques israelenses obtiveram uma vitória clara sobre a frente egípcia, a proporção de perdas no fronte sírio favoreceu os árabes, que perderam um total de 73 tanques T-34-85, T-54 e PzKpfw.lV contra 160 tanques israelenses destruídos. Este foi o último conflito no Oriente Médio em que o T-34 atuou como um tanque de guerra.
Mas o veículo ainda entrou em ação em conflitos posteriores elementos de disparo imóveis ou convertido em canhões autopropulsados​​. Também voltou a ter destaque durante a invasão turca no Chipre, em 1974, quando 32 T-34-85s gregos foram capazes de deter o avanço de 200 tanques turcos M47/48. Os gregos perderam 12 tanques, incluindo os quatro que foram abandonados, contra 19 Pattons destruídos.
O T-34 lutou ainda na Guerra Civil Angolana, onde as unidades cubanas armadas com o tanque soviético ajudaram a repelir os invasores da África do Sul e do Zaire. Enfim, a vigorosa máquina de combate deixou a sua marca na guerra civil dos Balcãs, lutando por em ambos lados como um item do legado das forças armadas iugoslavas.
Até mesmo hoje em dia, quando o T-34 parece restrito a museus e livros de história, esse veículo não descansa. O tanque foi supostamente visto em ação neste ano, quando combatentes pró-Rússia no leste da Ucrânia removeram pelo menos um exemplar de exibição do seu pedestal, que, após uma revisão rápida, foi levado ao combate mais uma vez.

Aleksandr Korolkov é doutor em Ciências Históricas.

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