Nazismo: A “Cadela de Buchenwald” e sua coleção de tatuagens
...um compêndio humano de maldade e iniquidade infinita, que regeu sadicamente o campo de concentração de Burchenwald ao mesmo tempo em que dava rédeas a suas paixões: uma coleção de tatuagens extirpadas e objetos fabricados com despojos humanos
Ilse Koch (nascida Ilse Köhler) e seu sorriso matador.
Fotograma do documentário de Billy Wilder sobre Buchenwald com a compilação de relíquias encontradas na casa dos Koch.
Ilse antes de conhecer seu marido e ingressar no partido nazista.
Várias das tatuagens "humanas" utilizadas como evidência no julgamento contra Ilse Koch.
Julgamento de Ilse Koch. Agosto de 1947.
Uma das última fotos de Ilse Kock.
Do site Metamorfose Digital
Dizia o Marquês de Sade que a crueldade, longe de ser um vício, é o primeiro sentimento que a natureza imprime em nós. São a educação e o adestramento que nos tornam racionalmente bondosos. Educação que não teve uma tal de Ilse Koch -pensa numa mulher ruim-, um compêndio humano de maldade e iniquidade infinita, que regeu sadicamente o campo de concentração de Burchenwald ao mesmo tempo em que dava rédeas a suas paixões: uma coleção de tatuagens extirpadas e objetos fabricados com despojos humanos.
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Ilse Koch (nascida Ilse Köhler) e seu sorriso matador.
Pouco se sabe da infância e adolescência desta infame personagem; alimentado a posteriori por falsos filmes e lendas do movimento sádico e fantasioso, próprias de fábulas adolescentes. No entanto, sim há dados tão objetivos quanto oficiais fruto da documentação escrita e fotográfica dos processos jurídicos que investigaram o holocausto e dos depoimentos de seus protagonistas. A coleta não foi fácil, mas sim ajudou a decifrar a verdadeira e cruel paixão da senhorita Ilse Koch.
Ilse Koch nasceu no seio de uma família de classe média em Dresden, no início do século XX. Não há dados para confirmar uma educação privilegiada na Universidade da Tortura. Simplesmente era uma garota normal que viveu a Alemanha do pós-guerra e tropeçou com a maldade quando supostamente apenas pretendia sair da pobreza de uma vida desgraçada.
Ilse Koch nasceu no seio de uma família de classe média em Dresden, no início do século XX. Não há dados para confirmar uma educação privilegiada na Universidade da Tortura. Simplesmente era uma garota normal que viveu a Alemanha do pós-guerra e tropeçou com a maldade quando supostamente apenas pretendia sair da pobreza de uma vida desgraçada.
Fotograma do documentário de Billy Wilder sobre Buchenwald com a compilação de relíquias encontradas na casa dos Koch.
Aos 15 anos, após estudar contabilidade, começou a dirigir os nichos nacional-socialistas para, como secretária, pôr a prova sua formação. E digo "colocar a prova" porque a beleza da então garota cativou o imaginário romântico e conciliábulo de mais de um oficial das SS, atalhando o atroz destino da "Ruiva de Buchenwald".
Num desses encontros programados, a senhorita Ilse, encontrou sua forma na crueldade mais veemente. Era 1934 quando conheceu Karl Otto Koch, o sanguinário coronel e posteriormente primeiro comandante do campo de concentração de Buchenwald, com quem se casou dois anos depois passando rapidamente da condição de "proletária" de vestido rasgado à de "burguesa" de primeira fila.
Num desses encontros programados, a senhorita Ilse, encontrou sua forma na crueldade mais veemente. Era 1934 quando conheceu Karl Otto Koch, o sanguinário coronel e posteriormente primeiro comandante do campo de concentração de Buchenwald, com quem se casou dois anos depois passando rapidamente da condição de "proletária" de vestido rasgado à de "burguesa" de primeira fila.
Ilse antes de conhecer seu marido e ingressar no partido nazista.
Ela começou como secretária nos escritórios do campo para logo participar em suas primeiras aventuras sádico-monstruosas. Evidentemente adestrada pela sutileza de seu mestre e coronel em prazeres terrenais.
"Ela era uma mulher muito bonita de cabelos longos e vermelhos, mas com o suficiente sangue frio para dar um tiro na testa de qualquer preso em qualquer momento. Ela tinha em mente fabricar um pequeno lustre de pele humana, e num dia no 'Appellplatz' ordenou que todos irássemos a camisa. Os que tinham tatuagens foram levados ante ela, para que escolhesse os que mais gostasse. Esses presos morreram e com suas peles fizeram abajures para ela. Também utilizaram polegares mumificados como interruptores..."
Crédito: Kurt Glass, prisioneiro jardineiro dos Koch e testemunha nos julgamentos de Dachau de 1947.
O tema dos abajures e lustres de pele humana é um dos mais controversos do estranho currículo da "Bruxa de Buchenwald" ou "Cadela de Buchenwald", como foi batizada por seus subjugados. Conquanto aparecem nas fotos dos objetos apreendidos dos Koch durante a liberação do campo, as provas do relatório forense que fizeram para verificar e confirmar a origem humana das peles como peritagem judicial nos processos de Dachau, só incluíram três pedaços de uma das tatuagens extirpadas mais famosas; motivo pelo qual não havia evidências científicas, senão visuais e de aspecto, que comprovassem as mórbidas amostras.
Durante a libertação do campo o próprio diretor Billy Wilder realizou um documentário sobre o estado e os objetos encontrados ali. A imagem (segunda fotografia) da mesa com os trapos de peles com tatuagens, as cabeças dissecadas e um abajur de pele humana deu a volta ao mundo e converteu-se em símbolo da barbárie.
Durante a libertação do campo o próprio diretor Billy Wilder realizou um documentário sobre o estado e os objetos encontrados ali. A imagem (segunda fotografia) da mesa com os trapos de peles com tatuagens, as cabeças dissecadas e um abajur de pele humana deu a volta ao mundo e converteu-se em símbolo da barbárie.
Várias das tatuagens "humanas" utilizadas como evidência no julgamento contra Ilse Koch.
A senhora Koch costumava despojar sua crueldade curtindo seu corpo cru ariano em obscenos banhos diários de vinho importado da Ilha da Madeira, enquanto a poucos metros seus "escravos" sobreviviam afundando seus pronunciados omoplatas nas podres camas de campanha. Mas logo descobriu que era o exercício de sua sádica hierarquia o que a tornava subjetivamente mais "bela". Todos os dias se misturava por surpresa entre os esquálidos prisioneiros para açoitá-los e burlar de seu aspecto físico enquanto dilatava pupilas e acelerava involuntariamente o pulso dos coitados.
Ilse tinha a seu cargo 22 mulheres das SS e mais de 500 prisioneiras de confiança que colaboravam no controle de suas rotinas. Muitos dos reclusos fizeram depoimentos arrepiantes sobre a opressão sistêmica no campo:
Ilse tinha a seu cargo 22 mulheres das SS e mais de 500 prisioneiras de confiança que colaboravam no controle de suas rotinas. Muitos dos reclusos fizeram depoimentos arrepiantes sobre a opressão sistêmica no campo:
"O Dr. Konrad Morgen me chamou, quando fazia uma investigação, para que me declarasse como testemunha. Por suposto evitei fazer uma declaração incriminatória porque sabia que se eu fizesse seria condenado irremediavelmente a morte. Em particular, ele me perguntou se a Senhora Koch tinha satisfeito seus perversos desejos comigo -ela tinha o costume de ordenar que o prisioneiro mostrasse o pênis e então o golpeava fortemente com um pequeno pau- para minha sorte pude responder que não..."
Kurt Dietz em "O moço de Koch".
Além de seu eterno fascínio pelo couro humano, que a levou a colecionar retalhos quadrados com os melhores desenhos arrancados depois de uma injeção de fenol de seus escravos; segundo os depoimentos, a senhora Koch desfrutava atiçando os cães para que agoniassem as reclusas grávidas só pelo prazer de vê-las gritar e correr com dificuldade. Ademais adorava dirigir orgias lésbicas com as esposas de todos os oficiais do campo convertendo o prazer e a dor em hábitos dominantes de sua intensa existência.
A melhor evidência que demonstra os atrofiados comportamentos dos Koch é um documento interno das SS dirigido à enfermaria do campo para frear a publicidade dos abusos, atrocidades e excessos que eram cometidos nos processos de confissão e extorsão dos internos. O próprio coração da barbárie pedia clemência e prudência a seus próprios soldados doutrinados. Suplicando também que não exibissem os troféus de pele humana.
A melhor evidência que demonstra os atrofiados comportamentos dos Koch é um documento interno das SS dirigido à enfermaria do campo para frear a publicidade dos abusos, atrocidades e excessos que eram cometidos nos processos de confissão e extorsão dos internos. O próprio coração da barbárie pedia clemência e prudência a seus próprios soldados doutrinados. Suplicando também que não exibissem os troféus de pele humana.
Julgamento de Ilse Koch. Agosto de 1947.
Durante os julgamentos de Nuremberg de 1945 apresentaram como evidências duas "cabeças reduzidas" (tsantsa) confiscadas na direção do campo de Buchenwald, outra das atrocidades auspiciada pela família Koch e executada pela direção do departamento de Patologia’ às ordens do Dr. Erich Wagner, um falso cientista e oficial das SS encarregado dos sujos trabalhos de despojos e retalhamentos.
Mas já antes, em 1941, o casal Koch teve que render contas ante um tribunal das SS -dirigido pelo Dr. Konrad Morgen- por crueldade excessiva e desonra. O próprio Karl foi condenado, mais tarde, por fraude na administração de fundos do Terceiro Reich ao desviar o dinheiro confiscado dos prisioneiros para suas próprias contas. Demonstraram também que o coronel mandou assassinar o médico e seu assistente para evitar que divulgassem o diagnóstico de sua indigna condição: ele tinha sífilis. O Terceiro Reich podia até aceitar a peçonha do sadismo, mas não a malversação de suas próprias riquezas e o exercício da justiça subjetiva. Foi executado em 5 de Abril de 1945, uma semana antes dos aliados libertarem o campo. A senhora Koch livrou-se e foi exonerada por hierarquia. Por enquanto.
Depois da liberação do campo, "A bruxa ruiva" foi julgada e condenada a prisão perpétua no processo de Dachau por um tribunal americano. Sua pena foi comutada em 1948 pelo general Lucius D. Clay a 4 anos de prisão por não existirem provas contundentes que relacionassem os objetos encontrados com sua conduta doentia, provocando um escândalo internacional. Também não confiaram no valor dos depoimentos realizados pelos prisioneiros nem no famoso diário forrado com pele desaparecido. Nunca foi encontrado.
Mas já antes, em 1941, o casal Koch teve que render contas ante um tribunal das SS -dirigido pelo Dr. Konrad Morgen- por crueldade excessiva e desonra. O próprio Karl foi condenado, mais tarde, por fraude na administração de fundos do Terceiro Reich ao desviar o dinheiro confiscado dos prisioneiros para suas próprias contas. Demonstraram também que o coronel mandou assassinar o médico e seu assistente para evitar que divulgassem o diagnóstico de sua indigna condição: ele tinha sífilis. O Terceiro Reich podia até aceitar a peçonha do sadismo, mas não a malversação de suas próprias riquezas e o exercício da justiça subjetiva. Foi executado em 5 de Abril de 1945, uma semana antes dos aliados libertarem o campo. A senhora Koch livrou-se e foi exonerada por hierarquia. Por enquanto.
Depois da liberação do campo, "A bruxa ruiva" foi julgada e condenada a prisão perpétua no processo de Dachau por um tribunal americano. Sua pena foi comutada em 1948 pelo general Lucius D. Clay a 4 anos de prisão por não existirem provas contundentes que relacionassem os objetos encontrados com sua conduta doentia, provocando um escândalo internacional. Também não confiaram no valor dos depoimentos realizados pelos prisioneiros nem no famoso diário forrado com pele desaparecido. Nunca foi encontrado.
"Ela começou a fazer caminhadas entre os prisioneiros e a desfrutar açoitando seus órgãos sexuais ela mesma. Tratava pior quem considerava mais feio. Era a esposa do comandante e ninguém fazia nenhuma objeção. Com o tempo optou por fabricar roupas, lustres ou carteiras com peles humanas de suas vítimas..."
Promotora do julgamento contra Ilse Koch. 1951.
Só quatro dias depois que foi colocada em liberdade que o senado norte-americano iniciou uma nova investigação e processou de novo Ilse Koch, condenando-a a prisão perpétua em 1951 novamente. Em 1967 a "Puta de Buchewand" se suicidou pendurando-se com lençóis em um presídio bávaro em Aichach sem mostrar arrependimento nenhum e após escrever um bilhete:
- "Não há outra saída para mim, a morte é a única libertação."
- "Não há outra saída para mim, a morte é a única libertação."
Uma das última fotos de Ilse Kock.
Cinco peças de pele tatuadas provenientes do campo Buchenwald são conservadas hoje no "National Museum of Health and Medicine" de Washington. Três foram identificadas como amostras humanas e a outra está pendente de verificação. Outra peça conservada no "Arquivo Nacional" foi catalogada como parte de um lustre pelo padrão de corte e os buracos equidistantes de suas bordas. Mas não há provas fidedignas de que esse tenha sido seu cruel destino.
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