Sete verdades sobre o conflito na Síria
Os EUA e seus aliados árabes (principalmente o Catar e a Arábia Saudita) são os grandes culpados, por terem armado, financiado e treinado os combatentes fundamentalistas, usados como bucha de canhão no plano de Washington (formulado alguns anos antes) de se livrar de Assad, último remanescente da velha onda de governantes árabes nacionalistas, tais como Kadafi na Líbia e Saddam Hussein no Iraque.
Homs, Siria, 24 de dezembro de 2016. Foto:Omar Sanadiki/Reuters
Por Igor Fuser, no jornal Brasil de Fato:
Com a melhor das intenções e a maior inocência, muitos brasileiros com posições progressistas têm se deixado levar pelas informações deformadas sobre a situação na Síria que nos chegam por meio da mídia pró-imperialista. A isso se soma a postura delirante de certos grupos de ultraesquerda que tomam partido, naquele conflito, exatamente do mesmo lado que os Estados Unidos, a Otan e os terroristas psicopatas do Estado Islâmico, espalhando pelas redes sociais, de forma acrítica, as versões dos propagandistas do Império. Uma polêmica se instala em setores da esquerda brasileira a partir de uma falsa questão: apoiar ou não o regime de Bashir Assad.
Em relação a isso é importante, antes de qualquer coisa, desconstruir a fraude maniqueísta veiculada pela mídia, que reduz um conflito extremamente complexo a um jogo de videogame onde se situam, de um lado, os “rebeldes” do bem, acompanhados dos civis indefesos que os apoiam, e do outro, os carniceiros do governo sírio, com seus russos desalmados.
Resumidamente, alguns pontos devem ficar claros, para que se entenda corretamente o que está acontecendo na Síria.
1. Não existe uma “revolução síria”. Se, no início, em 2011, havia forças políticas sinceramente interessadas em democratizar o país, elas há muito tempo desapareceram de cena, engolidas pelo que é na realidade uma rebelião étnico-religiosa, conservadora, de caráter islâmico fundamentalista.
2. Os EUA e seus aliados árabes (principalmente o Catar e a Arábia Saudita) são os grandes culpados, por terem armado, financiado e treinado os combatentes fundamentalistas, usados como bucha de canhão no plano de Washington (formulado alguns anos antes) de se livrar de Assad, último remanescente da velha onda de governantes árabes nacionalistas, tais como Kadafi na Líbia e Saddam Hussein no Iraque.
3. O regime de Assad é de fato uma ditadura (numa região onde é preciso procurar com uma lupa para encontrar, aqui e ali, algum fiapo de democracia), mas é um regime laico, tolerante em relação à diversidade étnico-religiosa do país, defensor dos direitos da mulher, e independente do ponto de vista geopolítico. Sua sobrevivência, no atual contexto, é a única garantia de manutenção da integridade política e territorial da Síria diante da estratégia imperialista de implodir e fracionar, sempre que possível, os Estados nacionais com potencial de se contrapor à hegemonia estadunidense, em qualquer região do mundo. É o que já fizeram na Iugoslávia, no Iraque, na Líbia.
4. Uma grande parcela da população síria (a maioria, talvez) está do lado de Assad, certamente não porque sinta amor por esse governante, mas porque a derrota dos fanáticos islâmicos é o único meio de pôr fim à carnificina e ao caos, restabelecendo um mínimo de paz.
5. A Rússia teve e tem um papel positivo no conflito, impedindo que – ao menos desta vez – os Estados Unidos usem diretamente a força militar para impor sua vontade no Oriente Médio. A derrota dos EUA na Síria favorece a perspectiva de um mundo multipolar, com mais espaço para os projetos de emancipação humana do que um império estadunidense.
6. A ampla maioria dos combatentes anti-Assad são ligados a organizações terroristas como a Al Qaeda e o Estado Islâmico – grupos incompatíveis com os valores da civilização universalmente aceitos, o que inclui não apenas a democracia e os direitos humanos, mas também a preservação do patrimônio histórico e cultural. Quem apoia os “rebeldes sírios" (muitos dos quais nem sírios são) endossa também a destruição, entre outras coisas, dos monumentos arquitetônicos de Palmira, um tesouro da humanidade.
7. As versões de que o exército sírio está massacrando civis nas áreas controladas pelos “rebeldes”, praticando genocídio e estupros em massa, são comprovadamente mentirosas e fazem parte de uma campanha da mídia pró-imperialista para deslegitimar qualquer acordo que inclua a permanência de Assad (ainda que se estabeleçam eleições gerais) e para respaldar uma intervenção militar da Otan e dos regimes árabes mais reacionários. Isso agravaria ainda mais o conflito e destruiria a Síria de uma vez por todas, tornando a tragédia humanitária infinitamente mais grave.
Em relação a isso é importante, antes de qualquer coisa, desconstruir a fraude maniqueísta veiculada pela mídia, que reduz um conflito extremamente complexo a um jogo de videogame onde se situam, de um lado, os “rebeldes” do bem, acompanhados dos civis indefesos que os apoiam, e do outro, os carniceiros do governo sírio, com seus russos desalmados.
Resumidamente, alguns pontos devem ficar claros, para que se entenda corretamente o que está acontecendo na Síria.
1. Não existe uma “revolução síria”. Se, no início, em 2011, havia forças políticas sinceramente interessadas em democratizar o país, elas há muito tempo desapareceram de cena, engolidas pelo que é na realidade uma rebelião étnico-religiosa, conservadora, de caráter islâmico fundamentalista.
2. Os EUA e seus aliados árabes (principalmente o Catar e a Arábia Saudita) são os grandes culpados, por terem armado, financiado e treinado os combatentes fundamentalistas, usados como bucha de canhão no plano de Washington (formulado alguns anos antes) de se livrar de Assad, último remanescente da velha onda de governantes árabes nacionalistas, tais como Kadafi na Líbia e Saddam Hussein no Iraque.
3. O regime de Assad é de fato uma ditadura (numa região onde é preciso procurar com uma lupa para encontrar, aqui e ali, algum fiapo de democracia), mas é um regime laico, tolerante em relação à diversidade étnico-religiosa do país, defensor dos direitos da mulher, e independente do ponto de vista geopolítico. Sua sobrevivência, no atual contexto, é a única garantia de manutenção da integridade política e territorial da Síria diante da estratégia imperialista de implodir e fracionar, sempre que possível, os Estados nacionais com potencial de se contrapor à hegemonia estadunidense, em qualquer região do mundo. É o que já fizeram na Iugoslávia, no Iraque, na Líbia.
4. Uma grande parcela da população síria (a maioria, talvez) está do lado de Assad, certamente não porque sinta amor por esse governante, mas porque a derrota dos fanáticos islâmicos é o único meio de pôr fim à carnificina e ao caos, restabelecendo um mínimo de paz.
5. A Rússia teve e tem um papel positivo no conflito, impedindo que – ao menos desta vez – os Estados Unidos usem diretamente a força militar para impor sua vontade no Oriente Médio. A derrota dos EUA na Síria favorece a perspectiva de um mundo multipolar, com mais espaço para os projetos de emancipação humana do que um império estadunidense.
6. A ampla maioria dos combatentes anti-Assad são ligados a organizações terroristas como a Al Qaeda e o Estado Islâmico – grupos incompatíveis com os valores da civilização universalmente aceitos, o que inclui não apenas a democracia e os direitos humanos, mas também a preservação do patrimônio histórico e cultural. Quem apoia os “rebeldes sírios" (muitos dos quais nem sírios são) endossa também a destruição, entre outras coisas, dos monumentos arquitetônicos de Palmira, um tesouro da humanidade.
7. As versões de que o exército sírio está massacrando civis nas áreas controladas pelos “rebeldes”, praticando genocídio e estupros em massa, são comprovadamente mentirosas e fazem parte de uma campanha da mídia pró-imperialista para deslegitimar qualquer acordo que inclua a permanência de Assad (ainda que se estabeleçam eleições gerais) e para respaldar uma intervenção militar da Otan e dos regimes árabes mais reacionários. Isso agravaria ainda mais o conflito e destruiria a Síria de uma vez por todas, tornando a tragédia humanitária infinitamente mais grave.
Tenho pra mim que tanto a invasão do Iraque (2003) como o apoio do Ocidente à Primavera Árabe foram graves erros que tornaram a situação no Médio Oriente ainda mais caótica, trazendo mais problemas com o terrorismo tanto para a Europa quanto para os Estados Unidos. Até perto das Olimpíadas no Rio houve um grupo de malucos querendo fazer atentados, mas que o Ministério da Justiça conseguiu impedir a tempo de cometerem qualquer assassinato de inocentes. A meu ver, nem todos estão preparados para a democracia e a liberdade que temos não faz parte da cultura desses povos muçulmanos. Por isso, na primeira Guerra do Golfo (1991), o Bush Pai foi mais sensato quando resolveu manter Saddam no poder, coisa que o filho preferiu ignorar. Pois o Pentágono sabia muito bem da necessidade daquele ditador nacionalista e sunita para controlar um país de maioria xiita ao sul e de curdos ao norte. Agora com o Trump, apesar de não simpatizar com ele, suponho que tanto os EUA quanto a OTAN deverão se afastar dos conflitos na Síria e ainda na Ucrânia, significando uma vitória para Putin. Mas se esse for o preço para o mundo ter paz e a Europa deixar de ser destino dos refugiados, então que assim seja. Antes o regime duro de Assad, com prisões dos opositores, do que esses fundamentalistas e terroristas se expandirem prejudicando o bem estar da população. A essa altura, o que menos os sírios querem é derrubar o ditador, mas terem paz e reconstruírem o país. Daqui um século, quem sabe surgirá um anseio legítimo ao voto e à democracia?!
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