Osvaldo Bertolini: Agora quem dá a bola é o governo
Do Blog O Outro Lado da Notícia
Saída de Ricardo Teixeira da CBF representou uma vitória do Palácio do Planalto e inaugurou uma nova fase no diálogo com a Fifa. Mas, de olho na Copa, o governo quer mais do que apenas voltar para o jogo
Octávio Costa e Michel Alecrim, na IstoÉO DONO DA BOLA
Afinado com Dilma, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, trabalha
para acabar de vez com a influência de Ricardo Teixeira na CBF
Com ar olímpico e jeito de quem não tem nada com isso, publicamente o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, trata a troca do comando na CBF como um episódio neutro. “A mudança na entidade não altera nossos planos”, diz ele. Mas este não é um jogo que está zero a zero. A renúncia de Ricardo Teixeira na segunda-feira 12, depois de comandar por 23 anos o futebol brasileiro, foi comemorada como uma vitória no governo. Um golaço. Prova disso foi que, quatro dias depois, já sem o cartola em campo, foi muito bem-sucedida a reunião, no Palácio do Planalto, do presidente da Fifa, Joseph Blatter, com a presidenta Dilma Rousseff, o ministro Aldo Rebelo, mais o ex-jogador Ronaldo Fenômeno, representante do COL (o comitê local da Copa) e Pelé, na condição de embaixador da Copa. Após o encontro, os participantes trocaram juras de amor eterno e promessas de que, de agora em diante, haverá uma cooperação estreita entre todos. A sensação no Planalto é de que a tabelinha entre o governo e a Fifa vinha sendo atrapalhada por um ente, no caso a CBF de Ricardo Teixeira, que tinha péssimo relacionamento com ambos. A julgar pelas declarações de Blatter, aos poucos as barreiras estão sendo removidas. Ao fim do encontro, em que a CBF foi colocada para escanteio, ele afirmou estar “muito feliz” com a conversa, que durou mais de uma hora. Segundo Blatter, a presidenta garantiu que toda a infraestrutura da Copa será entregue à Fifa em tempo hábil. “A reunião foi excelente”, disse ele.
O governo, no entanto, não quer apenas voltar ao jogo. Para o Palácio do Planalto, a simples substituição de Teixeira por José Maria Marin não resolveu o problema político nas relações com a CBF. Foi de Dilma a ideia de não convidar Marin para o encontro com a Fifa, numa forma de sinalizar que as mudanças ainda não atendem às pretensões governistas. O governo acredita que o esquema montado por Teixeira, que não agrada à presidenta, continuou intacto e as decisões ainda sofrerão interferências do ex-presidente. Na avaliação de Dilma, para desmontar antigos vícios será necessário fazer a substituição completa no comando e na equipe da CBF. A influência de Ricardo Teixeira no órgão que comandou por mais de duas décadas ainda é considerada um obstáculo para as pretensões do governo de assumir as rédeas da organização da Copa em parceria com a Fifa. Para o governo, um fiasco na Copa não seria um fracasso da CBF ou do comitê local, mas de todo o País. Também por isso, Dilma sonha em ter alguém de confiança e capaz no comando da entidade e da organização do evento.
O governo, no entanto, não quer apenas voltar ao jogo. Para o Palácio do Planalto, a simples substituição de Teixeira por José Maria Marin não resolveu o problema político nas relações com a CBF. Foi de Dilma a ideia de não convidar Marin para o encontro com a Fifa, numa forma de sinalizar que as mudanças ainda não atendem às pretensões governistas. O governo acredita que o esquema montado por Teixeira, que não agrada à presidenta, continuou intacto e as decisões ainda sofrerão interferências do ex-presidente. Na avaliação de Dilma, para desmontar antigos vícios será necessário fazer a substituição completa no comando e na equipe da CBF. A influência de Ricardo Teixeira no órgão que comandou por mais de duas décadas ainda é considerada um obstáculo para as pretensões do governo de assumir as rédeas da organização da Copa em parceria com a Fifa. Para o governo, um fiasco na Copa não seria um fracasso da CBF ou do comitê local, mas de todo o País. Também por isso, Dilma sonha em ter alguém de confiança e capaz no comando da entidade e da organização do evento.
FIM DE UMA ERA
Estilo centralizador de Ricardo Teixeira desagradava
ao governo, que fez de tudo para apeá-lo da CBF
“Não adianta o Ricardo Teixeira sair e permanecer dando ordens na CBF pelo telefone”, diz uma fonte do governo. A presidenta Dilma Rousseff jamais demonstrou simpatia pelo ex-presidente da CBF. Nas palavras de um assessor, ela sempre tratou de deixar claro que não tolerava sua figura. A presidenta escancarou seu desagrado em relação a Teixeira na cerimônia de sorteio das chaves da Copa do Mundo, no Rio de Janeiro. Teixeira tentou sentar a seu lado, mas ela preferiu ficar entre Pelé e o presidente da Fifa, Joseph Blatter. Aos olhos de Dilma, Teixeira tinha uma atitude pouco republicana. Punha acima de tudo os interesses da CBF e até mesmo seus negócios privados, em detrimento da causa maior, que era a organização eficiente da Copa de 2014. Além do isolamento, Dilma deu demonstrações tácitas do seu descontentamento. Escolheu Pelé, por exemplo, para embaixador plenipotenciário da Copa de 2014, quando se sabia que o Rei é um desafeto de longa data do cartola. Também fez fortes críticas à entrevista de Ricardo Teixeira em que ele afirmou que tinha plenos poderes para mudar os rumos da organização da Copa, nomeando quem quisesse. Dilma considerou as declarações arrogantes e incompatíveis com a posição de presidente da CBF.
Para pôr um ponto final e definitivo na influência de Teixeira na CBF, Dilma conta com o apoio dos dirigentes de clubes, muitos dos quais insatisfeitos com a condução da entidade, e do Congresso. Para o deputado José Rocha (PT-BA), recém-eleito presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara, José Maria Marin terá de adotar uma postura diferente da do antecessor se quiser lograr êxito na CBF. “Ele (Marin) me ligou no dia da posse e pediu uma reunião informal com os membros da comissão, já na próxima quarta-feira. Um gesto simples que pode indicar uma mudança radical em relação à gestão de Teixeira”, afirmou o deputado. Na reunião com Marin, Rocha espera tratar dos principais itens da agenda da organização da Copa e marcar uma audiência pública para o dia 11 de abril. Já os dirigentes de clubes pressionam para ter mais voz ativa na CBF. A diluição desse poder, antes centralizado no comandante da entidade, também interessa ao governo. Por isso, o Palácio do Planalto acredita que os dirigentes e o governo podem jogar juntos. A principal queixa dos times da Primeira Divisão é com relação à intensa jornada de jogos. O presidente do Grêmio, Paulo Odone, explica: “Os jogadores mal terminam suas férias e já têm partidas pela frente. Mal dá para se preparar.” No ano passado, o Vasco chegou a jogar três partidas numa única semana em outubro.
ALIANÇA
Com a CBF colocada para escanteio, Dilma Rousseff e Joseph
Blatter trocam elogios em reunião e prometem atuar em parceria
O governo também vai ampliar as cobranças por uma maior transparência nas contas da CBF por conta das cifras que movimenta. E, nesse caso, também conta com o apoio de dirigentes e parlamentares da chamada bancada da bola. Em seu último balanço, de 2010, a entidade apresentou lucro líquido de R$ 83 milhões. “A CBF é uma entidade privada, mas deve satisfação ao povo brasileiro, sim. Deveria colocar tudo na internet. Despesas e receitas”, exige o deputado federal Romário (PSB-RJ). Para o Palácio do Planalto, o baixinho Romário, acostumado a fazer a diferença nos gramados, pode ajudar a desequilibrar esse jogo também fora das quatro linhas.
BOLA DIVIDIDA
Novo presidente da CBF, José Maria Marin, já assume a
entidade pressionado por governo, parlamentares e clubes
www.blogdocarlosmaia.blogspot.com Carlos Maia
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