Netinho: “A população de São Paulo quer coisa nova”
Do Portal Vermelho
“As periferias continuam sofrendo o que elas sofriam. A gente tem uma São Paulo toda desenvolvida, com toda a infraestrutura no grande centro, e uma periferia que está agonizando há muitos anos”. Assim o pré-candidato a prefeito de São Paulo, Netinho de Paula (PCdoB), em entrevista ao jornal Valor Econômico, justifica sua candidatura: “a população quer coisa nova”.
“Nós não consideramos fazer parte da base aliada” de Kassab/ Foto: Claudio Belli - Valor
Vereador da cidade de São Paulo, Netinho teve 7,7 milhões de votos, sendo 2 milhões na capital, na eleição para o Senado em São Paulo, em 2010. Respaldado pelo apoio popular e a intenção de 10% dos paulistanos — frente a 30% de Serra (PSDB), 19% de Russomano (PRB) e 3% de Fernando Haddad (PT), segundo dados da pesquisa Data Folha de março — o comunista é taxativo: a candidatura à Prefeitura de São Paulo está de pé.
Para juntar esforços e construir uma terceira via na cidade, contra a bipolarização da disputa entre PT e PSDB na capital paulista, Netinho diz que estão em curso conversas com o PMDB, do deputado federal Gabriel Chalita, e com o PRB, de Celso Russomano. O grupo vai se reunir na semana que vem para avaliar possíveis alianças.
Apesar de participar do governo de Gilberto Kassab (PSD), o vereador não se intimida em fazer críticas à atual gestão e ressalta: “nós não consideramos fazer parte da base aliada”. Com exceção da Secretaria Especial de Articulação para a Copa do Mundo de 2014 (Secopa), “em todas as outras questões nós não fomos sequer chamados a participar ou opinar. É por esse motivo que nós não consideramos fazer parte da base aliada”.
Leia a íntegra da entrevista concedida ao jornalista Cristian Lein no Valor:
Valor: Em setembro, o senhor nos dizia que até o governador Geraldo Alckmin havia procurado o seu apoio para a eleição municipal e avisava: "Netinho, o café está esfriando..." Afinal, vocês desistiram de tomar o café?
Netinho de Paula: Nós tivemos de fato uma aproximação, que a gente não pôde aprofundar na época em função da indecisão que havia no cenário político aqui em São Paulo, inclusive qual caminho que tomaria o partido do prefeito Gilberto Kassab. Mas acho que esta será uma eleição sui generis.
Valor: Por que sui generis?
Netinho: Porque os partidos estão dispostos a manter suas candidaturas pelo menos no primeiro turno.
Valor: Por quê?
Netinho: Exatamente para quebrar essa bipolarização. Os partidos cansaram de ser apenas uma linha auxiliar. Estão dispostos a trabalhar sua bancada de vereadores e sua visão em relação à cidade.
Valor: O senhor diria que a sua candidatura está mais próxima do PT ou do PSDB?
Netinho: O PCdoB tem lado. Nós nunca tivemos nenhuma proximidade em termos de candidatura com o PSDB.
Valor: Mas o senhor disse que tem lado. É o do PT então?
Netinho: Não, esse lado é o lado do povo de São Paulo. Quando é do lado do PT nós apoiamos o PT. Como a gente tem o nosso lado, a gente quer pôr as nossas visões. A imprensa age como se só existissem dois lados possíveis de disputar a eleição em São Paulo.
Valor: Mas o senhor, no ano passado, ressaltava o papel do PSD como um articulador dessa terceira via, e, no entanto, o próprio prefeito Gilberto Kassab manteve a polarização ao anunciar apoio ao ex-governador José Serra. Como o PCdoB faz parte do governo Kassab, não há uma aproximação com os tucanos?
Netinho: A gente precisa entender em que moldes o PCdoB fez parte da base do prefeito. O prefeito, tratando do assunto da Copa na cidade de São Paulo, quis ter uma proximidade com o partido que sempre esteve à frente disso no ministério. Para ter as informações mais ágeis e ter no município de São Paulo a expertise que o PCdoB implantou no governo federal. Foi isso que nos aproximou. Então, fazer parte da base aliada foi uma parte pontual, circunstancial. Portanto, a gente tem toda autonomia para dizer que não é um alinhamento automático. O Kassab mantém esse trato que ele tem com o Serra, e o PT está buscando as alternativas de aliança deles, e nós, com toda autonomia que o PCdoB tem, estamos batalhando para buscar os aliados para manter nossa candidatura.
Valor: Esta autonomia significa um discurso mais oposicionista em relação ao prefeito?
Netinho: Nós fomos ouvidos, nesse último ano em que fizemos parte da base aliada, com relação ao assunto esporte. Em todas as outras questões nós não fomos sequer chamados a participar ou opinar. É por esse motivo que nós não consideramos fazer parte da base aliada. As subprefeituras estão sem poder. Há uma maneira centralizadora de poder na cidade. Isso não é bom. Na visão que a gente tem de como anda a saúde, o transporte, a educação, as nossas críticas são as mesmas de sempre.
Valor: O senhor reclama desde o ano passado da relação ruim com o PT. Ela melhorou, o senhor foi procurado?
Netinho: Não, não fui procurado. Tenho relações estreitas com alguns vereadores aqui, também com o ex-senador e ministro [da Educação] Aloizio Mercadante, mas a direção nacional tem mantido diálogos constantes. Aqui na capital é que não fomos procurados para dialogar e tentar algum tipo de aproximação.
Valor: O senhor não foi procurado pelo Fernando Haddad?
Netinho: O Haddad procurou o presidente do partido, o Renato [Rabelo], que em um jantar disse a ele: "Olha, desejo boa sorte, mas nós vamos ter candidato". Acho que a postura do PT é até correta, de respeito, que entende que o momento é do PCdoB ter uma candidatura. Até por respeito eles não têm feito nenhum tipo de pressão.
Valor: Mas o apoio do PT em cidades como Florianópolis, onde o PCdoB tem nome competitivo, não poderia levar seu partido a retirar a candidatura em São Paulo?
Netinho: É só você pensar o interesse que tem uma cidade como São Paulo e Florianópolis, se tem sentido uma coisa dessa. O PCdoB decidiu que nas principais capitais do país ele vai ter candidatura majoritária. É por isso que vai investir muito na campanha da Angela [Albino], em Florianópolis; da Manuela [D'Ávila], em Porto Alegre; do Netinho, aqui em São Paulo, também em Salvador. São prefeituras estratégicas para o crescimento do partido. O PCdoB tomou uma decisão de não agir mais a reboque.
Valor: Por outro lado, a lógica de uma eleição majoritária é o afunilamento das candidaturas. O que favorece essa fragmentação em São Paulo é, por exemplo, a disputa na base aliada federal?
Netinho: Eu diria que é o marasmo político dos últimos 20 anos na capital. A troca de candidatos praticamente não aconteceu. A população quer coisa nova. E é isso que têm demonstrado as pesquisas dos partidos. Esgotou só [haver] dois modelos de raciocínio, que puderam participar, e que não deram conta das situações caóticas da cidade. As periferias continuam sofrendo o que elas sofriam. A gente tem uma São Paulo toda desenvolvida, com toda a infraestrutura no grande centro, e uma periferia que está agonizando há muitos anos.
Valor: A entrada de Serra na disputa reflete esse modelo de nomes velhos?
Netinho: Acho que sim. Ele compõe esse campo que continua trabalhando na cidade de São Paulo nos últimos 20 anos, seja no governo, seja na prefeitura.
Valor: Que nota o senhor daria para a era Serra/Kassab na prefeitura nos últimos oito anos?
Netinho: Nota 6.
Valor: Qual a possibilidade de haver uma aliança entre as siglas médias, da base aliada federal? A informação é que isso estaria sendo incentivado pelo PSDB para enfraquecer o PT.
Netinho: Nós temos conversado com frequência com Chalita, também com Celso Russomanno. Nós três entendemos que uma terceira via é necessária. Nós não concordamos - também com o Paulinho da Força (PDT) - que estas candidaturas enfraquecem o PT. As pessoas veem nestas figuras e nestes partidos inclusive muita semelhança com a linha de raciocínio do PT. E também não acho que isso favorece o Serra. Eu acho que a cidade está muito desacreditada com relação ao José Serra, pelas maneiras com que ele agiu com a Prefeitura de São Paulo, quando foi candidato a prefeito, por ele ter trocado várias vezes e deixado a prefeitura, o governo - nada terminou.
Valor: Serra está desacreditado?
Netinho: Eu acredito.
Valor: Quando a conversa com Chalita e Russomanno se iniciou?
Netinho: Já há tempos. A gente tem se encontrado, não só nos eventos. A gente se fala por telefone, conversa. A gente acredita que a candidatura de um e de outro tem que se manter.
Valor: Foi criado um grupo?
Netinho: Não vou dizer que foi criado um grupo constituído de direito, mas de fato.
Valor: Os três já se reuniram num mesmo local?
Netinho: Ainda não. Mas temos para a semana que vem a ideia de nos reunirmos.
Valor: Onde seria?
Netinho: A gente ainda não definiu. O Celso estava vendo com o Chalita. Isso foi uma coisa que eu propus. Para discutir e pautar o debate da cidade. Para a coisa não ficar como da outra vez [na eleição presidencial de 2010] querendo discutir sobre aborto. Para discutir a cidade.
Valor: Estes quatro partidos poderiam se coligar numa chapa só?
Netinho: Podem existir alguns quesitos: grau de conhecimento, intenção de voto, ou seja, a pesquisa pode ser definidora para isso, e condição de manter uma candidatura. Agora o que está em discussão, com a iniciativa desses partidos de se juntarem para conversar um pouco sobre a cidade, é a intenção de mostrar uma terceira via.
Valor: Seria uma chapa da base aliada federal, mas sem o PT.
Netinho: O PT não quis fazer isso com a gente antes de constituir uma candidatura. O PT definiu que tinha um candidato, sem levar em consideração os nomes da base aliada. Passou por cima inclusive da [então pré-]candidata Marta Suplicy, que estava muito bem avaliada. E que já fazia um diagnóstico de que Serra seria candidato.
Valor: Se a Marta fosse o nome do PT a aliança seria mais fácil?
Netinho: Eu acho que sim. Seria mais fácil não só pela experiência dela, de ter enfrentado um candidato como José Serra, mas pela intenção de voto. Mas isso não foi discutido com a gente.
Valor: Qual é o ponto fraco da administração Kassab?
Netinho: Ele não descentralizou o poder. A cidade continua sendo olhada sobre o gabinete de um secretário. Tirar o poder da subprefeitura é enfraquecer uma ação mais rápida, principalmente nas periferias.
Valor: Qual é o ponto forte?
Netinho: O governo Kassab conseguiu ter com a sociedade uma interlocução quando ele age com a questão da cidade limpa.
Valor: Em que ele deixou mais a desejar em termos de políticas públicas?
Netinho: O governo Gilberto Kassab não conseguiu tratar do trânsito da cidade, por exemplo. Vai ficar marcado como um governo que, infelizmente, beneficiou e lutou pelo transporte individual. Na educação, o déficit de creches ele pegou como um problema e não conseguiu avançar. Quanto à drogadição, nos oito anos dessa gestão Serra/Kassab a Cracolândia estava ali. Ela foi tocada neste ano e de maneira equivocada. Aí entra toda uma ação, talvez, de marketing, que foi desesperada.
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