Manuela D'Ávila fala sobre participação da mulher na política
Aos 30 anos e sem filhos, a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), pré-candidata à Prefeitura de Porto Alegre, vive um dilema recorrente entre mulheres que tentam conciliar a vida profissional e a maternidade. “Como vai ser quando eu tiver filho?”, pergunta. E, em seguida, responde: “Não sei como eu vou fazer”. Para a deputada, as dificuldades não são de gênero, mas sim impostas pela sociedade, em que os “ambientes institucionais ainda são masculinos”.
Enquanto em todo País a tendência é de aumento do número de candidatas nas capitais em 2012, em Porto Alegre essa participação vai sofrer uma redução com relação às últimas eleições municipais, em 2008. Com a desistência da ministra Maria do Rosário (PT), da Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres, e com o impedimento da ex-deputada Luciana Genro (PSOL), que não pode ser candidata por ser filha do governador gaúcho, Tarso Genro (PT), a única mulher que deverá concorrer à prefeitura da capital gaúcha será Manuela.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista que a deputada Manuela D’Ávila concedeu ao iG em Porto Alegre, por telefone.
iG: Em 2012, a tendência é que o número de candidatas mulheres aumente no País. Em Porto Alegre, no entanto, esse número pode cair. O que poderia explicar isso?
Manuela D’Ávila: Aqui em Porto Alegre a redução (do número de candidatas mulheres à prefeitura) é bem pontual. Em 2008, nós éramos quatro. No ano que vem, só eu. A coisa aqui é muito concreta, é mais factual. A Rosário (ministra Maria do Rosário, do PT) já disse que não será candidata. Eles (o PT) vão decidir entre dois deputados estaduais (Raul Pont e Adão Villaverde). E a ex-deputada federal Luciana Genro (do PSOL) não pode ser candidata porque o pai é o governador (do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, do PT). A participação das mulheres aqui é difícil, tanto é que nunca tivemos uma prefeita mulher em Porto Alegre.
iG: Como você enxerga a participação feminina na política no Congresso?
MD: No movimento social, no movimento estudantil, no movimento sindical, por exemplo, as mulheres já são maioria. O grande aumento de participação é no Executivo, por uma mudança de padrão que partiu da presidenta Dilma, que nomeou mulheres. Já no Legislativo, tivemos um aumento residual. Isso revela os limites, a real face para a mulher ocupar espaço de poder. Grandes partidos ainda têm dificuldade de indicar mulheres. Essa é a dificuldade de empoderamento da mulher.
iG: A falta de experiência política das mulheres é um empecilho?
MD: Não acho que seja isso. Fora da política institucional, as mulheres e os homens têm a mesma experiência. Em um concurso, por exemplo, para trabalhar no Ministério Público, a maior parte dos aprovados é mulher. Num concurso, as pessoas aferem (habilidades) sob as mesmas condições. Na política institucional, temos menos mulheres ocupando menos espaço que homens. É uma deformação política. Na vida real, elas já ocupam espaço.
iG: Como as mulheres que já estão na política, como você, podem ajudar na diminuição dessa desigualdade?
MD: A desigualdade se faz por pequenas coisas. Por exemplo, a dificuldade no mercado de trabalho. A mulher cuida de todo mundo: do filho, do marido, do vizinho. É ela quem mais marca consultas no Sistema Único de Saúde (SUS). Ela marca consulta para todo mundo. É ela que cuida. Onde ela vai deixar o filho, por exemplo, para ir trabalhar? O que dificulta é a vida real. A dificuldade é do cotidiano. Não é uma questão de gênero, é uma questão de sociedade. Para fazer política, não é do dia para noite. Primeiro, tu vira militante política, tem uma jornada dupla de trabalho. Imagina como é ter uma jornada uma tripla? Imagina como vai ser o dia que eu tiver filho?
iG: Como vai ser o dia em que você tiver um filho?
MD: Não sei como vou fazer. Onde o filho poderia morar? Em Brasília ou Porto Alegre? Se eu fosse prefeita, seria mais fácil. Mas eu não sei. Não estou respondendo à sua pergunta por que eu ainda não encontrei minha solução. Não crio filho? Com os homens é mais fácil. Para o homem isso talvez não seja uma dúvida colocada. Isso não acontece só comigo, acontece com muitas mulheres. A sociedade e esses ambientes institucionais ainda são masculinos. Quantas mulheres no Congresso passam por isso?
Fonte: iG
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