terça-feira, 9 de junho de 2015

Aécio é prisioneiro da ultra-direita


Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Quem acompanhou a movimentação tucana nas últimas semanas viu, como se registrou aqui há mais de um mês, que os sinais da “guerra surda” do tucanato são cada vez mais audíveis.

A matéria da Folha, hoje, sobre a intenção do senador tucano de lançar um “manifesto” é uma tentativa – mais uma – de equilibrar-se entre a extrema-direita que se aglutinou à sombra de sua candidatura e a “realpolitik” de um partido político real, com pretensões de poder, como é o PSDB.

Parte cada vez maior do PSDB percebe que a aventura “coxinha”, cada vez mais radicalizada e isolada, pode (e, provavelmente, vai) empolgar uma parcela do eleitorado, mas que se atirar de cabeça nela é suicídio.

Mais claro não poderia ser o artigo de Fernando Henrique Cardoso, ontem:

“A oposição de hoje será governo amanhã. Portanto, não deve escorregar para o populismo e, sim, apontar caminhos (…)”, disse ele, criticando a adesão tucana à pauta irresponsável que Eduardo Cunha e Renan Calheiros usam para enfraquecer Dilma.

Aécio diz que vai propor uma “carta de princípios”, mas sabe que que, na política, os fins é que costumam contar para a direita.

Precisa, apesar dos xingamentos que já recebe, manter-se como nome palatável para a ultra-direita.

Senão, apeado do governo de Minas e enfrentando Geraldo Alckmin e o poder de São Paulo, será um general sem tropas, abandonado até – como ameaça ser - pelo “marechal” - sem votos, mas com prestígio nos círculos tucanos - FHC.

Ao mesmo tempo, tem de lidar com uma bancada – parte tucana, parte DEM, parte em partidos pequenos – ávida pelos holofotes do “trabalhador” Eduardo Cunha, que parece se dedicar a procurar tudo que esteja em tramitação na Câmara e possa causar desgaste a Dilma para levar imediatamente a voto.

Mas Aécio, de outro lado, também detém um poder imenso sobre o partido, porque acabou por se tornar o mais identificado líder do tucanato e conta com a força inercial do processo eleitoral de 2014.

Alckmin, Serra terão, como na frase célebre, de engoli-lo na presidência do partido e na liderança formal dos tucanos.

Fazer diferente seria um sinal inaceitável para um segmento de oposição que criaram, fundado num ódio irracional a qualquer coisa que não apenas se aproxime do Governo ou do PT mas com espasmos de brutalidade, autoritarismo e elitismo inacreditáveis.

É bom lembrar o que se pergunta em Lucas, 6,39:

“Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois no buraco?”

Advertência válida para os que, do outro lado, não compreendem o que está em jogo e acham que política se faz meramente com vontades.

Um comentário:

  1. Aécio diz que vai propor uma “carta de princípios”, mas sabe que que, na política, os fins é que costumam contar para a direita.

    Precisa, apesar dos xingamentos que já recebe, manter-se como nome palatável para a ultra-direita.

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